Ciclista entregador de comida


De leitura, anda lento. O livro de contos fantásticos do século xix, selecionados por Calvino, revela-se tedioso. Há poucos contos realmente interessantes. O fantástico é, muita vez, inexplicável, e os contos resultam insatisfatórios, aquele gosto de inconclusos. É bom ter fama para ganhar dinheiro fazendo uma antologia qualquer, Calvino deve ter apreciado, não deve ter sido muita grana mas o esforço também não deve ter sido grande.

Nos dias comuns da cidade pobre... todas as cidades brasileiras são paupérrimas, é evidente em qualquer olhada que se lance sobre elas, veja-se uma foto qualquer de cidade brasileira e já se reconehcerá uma cidade brasileira: lixo, postes, muros de tijolos sem revestimento, fios, fios, fios, calçadas quebradas e inexistentes. A riqueza no Brasil é obrigada a andar de helicóptero para não ver a merda em que estamos metidos.

Nos dias comuns da cidade pobre, legião de entregadores de comida para cima e baixo, norte, sul e os outros pontos. Daria até pena, mas Leo evita ter pena de qualquer, qualquer qualquer, coisa, gente, gato, guarda sua pena para si mesmo. Noite, passa um ciclista entregador de comida, passa empurrando a bicicleta, o pneu traseiro furado, a bicicleta era um siri, um loré, estas palavras, ambas, usadas para descrever uma bicicleta detonada, no fim da vida, não adianta procurar nos dicionários, eles ignoram o idioma do nordeste. Aí o cara é um entregador de comida, ganha uma miséria de uns trocados, carrega aquele mondrongo nas costas, usa uma bicicleta fodida, e o pneu ainda acha de furar. Dá vontade de sentar na beira da calçada e chorar, como diz que fez um amigo , em um dia particularmente difícil. O ciclista foi para casa, parece, entrou por uns becos, deu por encerrado o dia de trabalho mal pago.