terça-feira, 27 de abril de 2021

Shakespeare, Claude Mourthé

Shakespeare, Claude Mourthé, 2007, 240 páginas, tradução de Paulo Neves, L&PM. Início: 20/04/2021 – Fim: 25/04/2021. Nota 2 (Regular).



Como tudo que se refere ao Bardo de Avon está envolto em névoa, este é um livro repleto de “talvez”, “possivelmente”, e muitas ilações não fundamentadas. William Shakespeare nasceu em 23 de abril de 1564 e morreu, aos cinquenta e dois anos, em 23 de abril de 1616. 

O que se sabe sobre Shakespeare é pouco e embasado em alguns documentos. Tem-se o batismo; o casamento aos dezoito anos; o nascimento dos filhos, Suzanna e os gêmeos Judith e Hamnet; a morte de Hamnet aos onze anos; a morte dos pais do Bardo; o casamento das filhas; os sonetos e suas peças; sua participação no mundo do teatro; as casas que comprou; sua morte em Stratford-upon-Avon. 

Isso é praticamente tudo. Quase todo o resto é suposição. 

Decorre que este livro traz as informações básicas, um panorama de Londres na época elisabetana, e muita imaginação sobre a vida do Bardo. Também discorre sobre muitas das peças, inclusive com longas citações de trechos relevantes. O autor nos diz quanto custava a entrada do teatro, um penny, e o salário diário de um trabalhador, seis pence. As sessões transcorriam entre as três e as seis da tarde e o ambiente do teatro era aquela confusão que a gente assiste em alguns filmes de época. 

É um livro interessante, lê-se rapidamente, mas não há muita informação a ser dita sobre a vida de Shakespeare. Melhor assim. O essencial do Bardo é o que ele escreveu. 

Resumo. 

Uma graciosa cidadezinha: mostra a cidade de Stratford.

Controle de identidade: informações biográficas documentadas.

Os anos obscuros: não se sabe o que WS fez entre o casamento e as primeiras peças em Londres. O autor dá uma pincelada nas vidas de Henrique VIII (1491 – 1547) e sua filha Elizabeth (1533 – 1603).

My gentle Shakespeare: a peste fecha os teatros, William retorna a Stratford e publica poesias.

Uma rainha de teatro: o teatro elisabetano e as peças mais sombrias de Shakespeare.

Todos em cena: os teatros rudimentares, o povo e a classe média, os trajes e o raro cenário.

Um teatro nacional e popular: as companhias, os lucros, as inimizades entre autores, a pirataria dos textos.

Uma jornada na vida do Bardo: o autor imagina como seria um dia comum na vida de Shakespeare.

Shakespeare e as mulheres: somente perguntas e talvez isso, talvez aquilo.

Teatro do ambíguo: ambiguidades sexuais nas peças do Bardo.

Sonetos no ponto culminante: os 154 sonetos de Shakespeare, alguns deles eróticos.

Cor da pele: sobre Otelo e Shylock

Ser ou não ser Hamlet: sobre esta peça.

O teatro e o infinito: continua a discorrer sobre Hamlet.

Shakespeare e o sobrenatural: as feiticeiras em Macbeth, os fantasmas das peças.

Os mistérios de Londres: capítulo inútil sobre maçonaria e sociedades secretas; ilações. A tempestade.

Fugindo do barril de pólvora: o atentado fracassado de Guy Fawkes; Shakespeare retorna a Stratford.

Uma morte alegre: o autor se refere a Shakespeare como velho, mas o Bardo só tinha 52 anos; o autor imagina que a morte dele se deu após uma noite de farra com amigos.

Posteridade de Shakespeare: as montagens das peças, os filmes.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Utopia é uma distopia

Utopia, Thomas More, 1516, 216 páginas, tradução de Denise Bottmann, Penguin Companhia. Lido entre 06/04/2021 e 16/04/2021. Nota 2 (Regular).



Thomas More nasceu em 1478, foi conselheiro de Henrique VIII, negou-se a rejeitar o catolicismo, foi preso na Torre de Londres, declarado traidor e decapitado. Depois de uns quatrocentos anos, foi transformado em santo. Certamente, não valeu a pena perder a cabeça para virar santo. E hoje, a briguinha entre católicos e anglicanos é nada: são seitas amiguinhas. O grande interesse das religiões é influência, poder e dinheiro. Tolo é aquele que perde a cabeça para defender crenças infantis e aquele que se mete na briga dos poderosos. Religião, política e futebol é somente grana, briga de cachorro grande: os aficionados são bucha de canhão. 

O livro. 

A ilha de Utopia é uma distopia. 

Isto é o mais espantoso para quem, como eu, nunca havia lido o livro de More. O pouco que eu sabia do livro se misturava a um pouco de imaginação. Eu imaginava uma ilha onde a vida seria um paraíso na terra, tudo funcionaria, todos felizes. Ora, o que é que se imagina como uma utopia? 

Thomas More criou a palavra utopia, cujo significado original em grego, “lugar nenhum”, se expandiu para “lugar ou sociedade ideal, de completa felicidade e harmonia entre os indivíduos”. Mas temos também como sinônimo de utopia: quimera, fantasia, fábula. 

Daí, que o leitor ingênuo vai ler a Utopia de More e se depara com uma sociedade distópica, um lugar onde “se vive em condições de extrema opressão”. Talvez, para More, a ilha de Utopia seja um lugar ideal para viver. É uma visão ingênua e distorcida do autor. 

Desse modo, curiosamente, Thomas More criou, ao mesmo tempo a utopia e a distopia. Vou listar aqui algumas das características principais que fazem da ilha de Utopia um péssimo lugar para viver (cabe observar, antes, que a ilha de Utopia é um tipo de comunismo: não há dinheiro nem comércio, tudo é de todos, e todos são vigiados). 

Características distópicas da ilha de Utopia: 

- Moradores da cidade e do campo são obrigados a mudar de lugar periodicamente entre as localidades.

- Dentro da cidade em que habitam, os moradores são obrigados a mudar de casa a cada dez anos.

- O dia e as atividades cotidianas são rigidamente determinadas, inclusive o parco lazer, a hora de dormir e a quantidade de horas de sono.

- Escravos fazem as tarefas “sujas”; somente as mulheres cozinham.

- Os habitantes são deslocados de acordo com a necessidade do estado, caso haja sub ou superpopulação em algum lugar.

- Todos são vigiados por todos, e os jovens são especialmente vigiados.

- Para viajar, é preciso autorização e data de retorno.

- Uma vez por mês, as esposas devem se ajoelhar diante dos maridos para confessar os pecados. Deduz-se que os maridos não têm pecados porque não existe o mesmo dever para eles.

 

Portanto, vê-se que a Utopia de Thomas Mores nada tem de utopia; é, sim, uma sociedade militaresca, rígida, fanática, ortogonal.

 

Segue o resumo dos pontos principais do livro. 

Livro 1 

O autor viaja e passa por Bruges e Antuérpia. Conhece um homem que se chama Rafael Hitlodeu (fornecedor de absurdos, em grego). Português, Hitlodeu se juntou a Américo Vespúcio – não se fala de Colombo – e viajou por Ceilão, Calicute e pela América. Na América imaginada pelo autor, Hitlodeu visitou numerosas vilas e países. Ensinou o uso da bússola aos “americanos”. 

Havia monstros em todos os lugares e no oceano, mas Hitlodeu quer mesmo é contar sobre os utopianos. Utopia fica na região equatorial. Mas antes de iniciar a narração, Thomas More diz a Hitlodeu que este, com seu conhecimento, deveria assessorar reis e príncipes. Hitlodeu discorda e demonstra que não funcionaria. Descreve uma longa conversa na casa do arcebispo de Canterbury: discutem sobre a pena de morte para ladrões, os ricos, a propriedade, o ócio, o desperdício, a exploração pelos proprietários de terras, guerras, a falta de terras para o povo. A sociedade cria ladrões para depois puni-los por o serem. A solução de Hitlodeu para os ladrões é colocá-los para trabalhar, como escravos, para o bem coletivo. 

Thomas More insiste que Hitlodeu deveria ser conselheiro de príncipes. Hitlodeu dá exemplos de que não daria certo. É inútil sugerir conselhos para os governantes. A filosofia não tem lugar entre os príncipes. Os sábios têm razão em se afastar dos assuntos públicos. 

“Se eu propusesse leis justas a um rei e tentasse extirpar as fontes do mal dentro de si, pensas que eu não seria sumariamente expulso ou convertido em motivo de ridículo?” 

Hitlodeu prega o estado com um mínimo de leis e tudo igualmente dividido. More diz que não é possível viver onde tudo é comunal. Hitlodeu diz que só voltou de Utopia “para revelar esse novo mundo”. Utopia: uma revelação (portanto, apocalipse, em grego). 

Livro 2 

A ilha de Utopia tem a forma da lua crescente, com uma enorme baía. Seu nome anterior era Abraxas (sigla grega que junta as iniciais dos “sete planetas” conhecidos). A ilha era ligada ao continente, mas Utopo realizou a obra de separação, cortando o istmo. A descrição que Hitlodeu vai fazer sugere um lugar rígido, militaresco, ortogonal, restrito, em todos os aspectos. 

A ilha conta com 54 cidades semelhantes, porque planejadas da mesma forma. A capital é Amaurota (cidade ilusória, sem grego). Moradores da cidade e moradores do campo mudam de lugar periodicamente. Organização social rigorosa. Não há comércio. 

Amaurota fica à margem do rio Anidro (anidro significa sem água). Há água doce e fresca. Em nenhum momento, Thomas More se preocupou com o esgotamento sanitário. A cidade é cercada por muralhas. Há um riacho dentro da muralha, fontes e cisternas, para o caso de sítio. As ruas são ortogonais e tem largura de 600 metros. As portas são automáticas (!), abrem e fecham sem toque humano. 

Os moradores trocam de casa a cada dez anos. Cada casa cultiva, no quintal, vinhas, frutas, legumes. Todas as casas são iguais e com três pavimentos. Os telhados são planos (completamente inadequado para regiões equatoriais de muita chuva). 

As cidades são divididas em quatro distritos. Governador é cargo vitalício. O Senado decide questões públicas. Os conflitos privados são raríssimos. Os ofícios são poucos: tecelagem, alvenaria, metalurgia, carpintaria. Nota-se que o autor esqueceu diversos ofícios essenciais, alguns citados depois, como a medicina e a agricultura. 

Todas as roupas são iguais e adaptadas a frio e a calor (tecnologia de ponta que ainda não alcançamos). Cada família costura sua própria roupa. As mulheres assumem profissões mais leves. Os filhos adotam a profissão dos pais. Se quiserem outra profissão, devem ser adotados por outra família. São seis horas de trabalho por dia; de nove às doze, e de duas às cinco da tarde. Às oito da noite, todos deitam para dormir durante oito horas. 

O tempo livre não deve ser usado para o ócio. Há palestras públicas antes do amanhecer. Depois do jantar, há uma hora de recreio, com música e conversa e uns jogos chatos. (Resta saber qual é o tempo livre: as famílias devem costurar, cuidar de suas hortas, trabalhar em seus ofícios e seguir os horários estritos impostos.) 

A manutenção das edificações é feita permanentemente. A roupa de trabalho dura sete anos. Sobre ela, usa-se um manto para a vida social, de uma única cor para todos. Os mantos duram dois anos. Cada casa abriga dez a dezesseis adultos. Quando há cidade subpovoadas, transferem-se habitantes de outras cidades para lá. Se há superpopulação na ilha, transferem-se habitantes para colônias no continente, seguindo as mesmas leis da ilha. Se faltar gente na ilha, aqueles da colônia são repatriados. 

Aqueles que recusam as normas, são expulsos. Se forem um grupo, estabelece-se uma guerra contra aqueles rebeldes. 

Nos depósitos e feiras, os cidadãos podem pegar o que precisarem, sem pagamento. Animais são mortos e a carne tratada fora da cidade por escravos. Refeições são feitas em conjunto em salas comunais. As tarefas “sujas” são realizadas por escravos. As mulheres cozinham os alimentos. As crianças e adolescentes comem em pé e em silêncio. As pessoas jovens comem nas mesas misturadas com os mais velhos para coibir atitudes inadequadas. Durante as refeições, leituras de tema moral que suscitam conversas respeitáveis. Os hospitais e os médicos são pefeitos. 

Para viajar, é necessário obter licença e especificar data de retorno. Viajante sem licença é detido e punido. Não existem tabernas, bares e bordéis. Encontros furtivos não são permitidos; a vigilância pública garante o comportamento adequado. O lazer não pode ser indecoroso. 

A exportação de excedentes gera riqueza que é usada quando as guerras se fazem necessárias. A maior parte do exército é de mercenários. Ouro e prata são usados para fazer urinóis e grilhões para prisioneiros. A ilha tem pérolas e diamantes. 

A religião é grave, severa, rígida, soturna. Acreditam na alma imortal e na bondade de deus. Só se admite o prazer bom e honesto. A razão conduz a deus. (Essa parte é cheia de baboseiras religiosas). “Aquelas coisas não naturais não contribuem para a felicidade”. O prazer verdadeiro é contemplar a verdade com a esperança em alegrias futuras. O prazer físico é, por exemplo, esvaziar os intestinos e fazer filhos. Os utopianos têm opiniões únicas; todos concordam. “O que faço é descrever, não defender”, diz Hitlodeu. 

O clima de Utopia não é grande coisa mas, contraditoriamente, as safras são abundantes e os rebanhos férteis. Os escravos são gente do próprio povo. Se a doença é incurável e torturante, recomendam a eutanásia. Essa ideia é excelente. Entretanto, o suicídio é desonroso: o corpo é jogado no pântano. Idade mínima para casamento: 18 anos, mulheres; 22 anos, homens. O sexo antes do casamento recebe severa punição; os infratores ficam proibidos de casar. Os pretendentes são apresentados nus. 

O adultério é crime, a reincidência é punida com a morte. Divórcio permitido. Os maridos podem castigar as esposas e os filhos. Há pouquíssimas leis (isso é fantasioso). Não há advogados; o juiz protege a parte mais fraca. Homens e mulheres fazem treinamento militar. Na visão de Hitlodeu, guerras e relações internacionais são muito simples. Os mercenários são do povo zapoleta: soldados perfeitos. 

As armaduras são sólidas e ágeis. Há várias religiões; cultuam o Sol, a Lua, Mitra, mas muitos adotaram o cristianismo. Não há conflitos religiosos, mas o ateísmo é proibido, não se pode acreditar que a alma morre e que somos governados pelo acaso. A morte é feliz por causa da vida após a morte. Alguns acreditam que as almas dos mortos circulam entre os vivos. Os antepassados mortos protegem os vivos. Eles rezam por milagres. 

As esposas se ajoelham diante dos maridos para confessar os pecados. Os sacerdotes usam trajes feitos com plumagens de pássaros. Só há dois dias não úteis por mês: o último e o primeiro. Hitlodeu pontua, por fim, que a sociedade dos nobres e aristocratas é injusta, composta por parasitas e bajuladores. A república é uma conspiração dos ricos. Cristo não consegue impor sua autoridade por causa de uma besta: a soberba. 

Thomas More diz a Hitlodeu que as leis e costumes de Utopia são absurdos, especialmente a vida comunal e a abolição do dinheiro, mas que ele gostaria de ver algumas das características de Utopia nas “nossas cidades”.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

O diabo no corpo, Raymond Radiguet, 1923

O diabo no corpo, Raymond Radiguet, 1923, 136 páginas, tradução de Paulo César de Souza, Penguin Companhia. Lido entre 29/03/2021 e 06/04/2021. Nota 2 (Regular).



Não gostei. O narrador é jovem e imaturo, cruel, possessivo, infantil, despótico. Todavia, real, incongruente. Um jovem desagradável. 

Diz-se que personagens ricos em contradições são mais reais. Sim, é verdade. Todavia, não significa que um tal personagem despertará a empatia do leitor. Pode despertar, pode não despertar. O leitor, por vezes, pode torcer pelo sucesso de um personagem despótico, imaturo. No caso do narrador deste livro, que faz tudo errado, só me deu vontade de que o livro terminasse logo. 

Há que destacar que o narrador sem nome é muito real: não tem certeza se ama; quando longe, sente saudade; quando perto, quer estar só; mente em excesso; tem ciúme, exerce a crueldade contra Marthe, que ele sabe dominada. 

De todo modo, ambos são extremamente jovens e envolvidos em uma situação complicada na qual, em princípio, não desejariam estar. Dezesseis e dezenove anos. 

Só conhecemos de Marthe aquilo que o narrador diz. Por um lado subjugada, submissa, amorosa. Por outro lado, desafia as convenções, os pais e, de certo modo, mais silencioso, desafia o marido que está na guerra. Mente, também, para todos e para o amante. 

O pai do narrador é personagem interessante. Dúbio, varia entre tentar impor sua autoridade e em deixar que o filho escolha o caminho. 

O final da novela, do tipo “tudo está bem quando acaba bem”, me fez detestar, ainda mais, o narrador: tudo fica bem para ele, não para Marthe. 

Cabem três observações, ainda. 

No romance, a Grande Guerra é algo aparentemente distante, e é uma época satisfatória para o jovem narrador. Há uma desestruturação do “normal”, da escola, da autoridade dos pais, durante os anos da guerra. Fora da escola, o narrador lê cem livros em dois anos. 

Fora do romance, Radiguet, que teve vida curtíssima, quando adolescente manteve um relacionamento escandaloso com uma mulher mais velha e casada, o marido dela na guerra, Radiguet com quatorze anos, ela com vinte e quatro. O fato é saboroso, mas não torna o livro melhor. 

O posfácio conta como o autor conheceu Jean Cocteau: “Eles se conheceram em junho de 1919, em uma matinê poética organizada por Max Jacob em memória de Apollinaire, vitimado pela gripe espanhola seis meses antes.” Tempos que se parecem com os nossos, agora.

 

Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco.

Resumo.

Quando o narrador tinha doze anos, apaixonou-se por uma menina da escola. Enviou uma carta para ela. Os pais da menina entregaram a carta ao diretor. O narrador passou a estudar em casa. Em 1913 e 1914, leu duzentos livros. Começou a guerra e todos exultavam, vinho e flores para os soldados. O atentado de Sarajevo como fenômeno premonitório. Em 14 de julho de 1914, uma criada em surto sobe ao teto da casa onde trabalha e depois de muitas horas pula. O narrador desmaia nos braços do pai. O estranho período da guerra e a poesia das coisas. Três anos de guerra se passaram, brincadeiras e travessuras com garotas: favores miúdos mútuos. 

Em 1917, ele conheceu a garota Marthe, dezoito anos, ele quinze anos. Ela era noiva de um soldado que a proibia de ler certos livros, Baudelaire por exemplo. A felicidade é egoísta. O narrador foi visitar Marthe, ela havia saído com o noivo. Um mês depois, indo para a escola, encontrou-a por acaso na Bastilha, passearam e ele a acompanhou nas compras de roupas e móveis para a nova casa, influenciando as escolhas dela. Começou a faltar aulas, queria liberdade. O amigo René foi expulso por faltar aulas também. Ele acredita que também seria expulso e avisou ao pai, disse que queria pintar. Não queria fazer nada da vida, tinha o espírito livre. Não havia sido expulso e chegou a carta de matrícula. 

Marthe casada e só, o marido Jacques na guerra. O narrador a visita diversas vezes até que fazem sexo, ele dezesseis, ela dezenove, crianças. Ele conta mentiras em casa para ficar na casa dela. Tem a chave da casa. Ele inventa um passeio que possibilite passar a noite com Marthe. Os pais descobrem a mentira. Marthe é um pouco mais madura que o narrador, mas só um pouco. A relação deles é recheada de imaturidade, infantilidades e, da parte dele, de ciúme, despotismo e crueldade. O escândalo silencioso, os amigos se afastam. 

Marthe vai passar algum tempo na casa dos pais. O marido passa algumas licenças com ela. Tudo é provisório, um castelo de areia. O marido doente é ignorado por ela. Marthe grávida, vai dizer que o bebê é do marido. Mais uma licença do marido de Marthe, o narrador quer esquecê-la, mas fica ansioso por cartas. Ciumento, tenta proibir o banho de mar dela. 

Cena terrível, o narrador estupra Svea, amiga de Marthe, na casa de Marthe. Os amantes passam uma temporada idílica na casa dos pais de Marthe que estavam fora. Sonho romântico, efêmero, ciúme do passado de Marthe. A mãe dele vê o relacionamento como tragédia, o pai é dúbio. A mãe de Marthe desaprova, mas tenta apoiar a filha no que for possível. Os pais do marido desaprovam a esposa. Todos parecem pensar, ou querer acreditar, que o filho é do marido. 

Depois de passar três dias com Marthe, o narrador não quer dormir em casa, ela não quer que ele fique, decidem ir para um hotel em Paris. Noite fria e chuva, ele uma criança medrosa, voltam para a casa dela. Ele é cruel, insano. Marthe fica doente depois daquela noite de chuva. O médico recomenda repouso absoluto, ela vai para a casa dos pais. 

Fim da guerra. Nasce o bebê, prematuro. Marthe coloca o nome do narrador no bebê. Não se veem mais. Marthe morre. Meses depois, o marido visita a casa do narrador, em visita ao pai dele, para ver aquarelas de Marthe. Diz que ela morreu chamando o nome do bebê. O bebê é tudo para Jacques. Para o cruel narrador, tudo ficou bem: “compreendi que afinal a ordem se estabelece por si mesma em torno das coisas. Não acabava de saber que Marthe havia morrido chamando por mim, e que meu filho teria uma existência razoável?” 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Livros lidos em março 2021



Lidos em MARÇO 2021 – (36 livros lidos até março de 2021)

1 – O caderno rosa de Lori Lamby, Hilda Hilst, 86 páginas

2 – Doze contos peregrinos, Gabriel García Márquez, 256 páginas, tradução de Eric Nepomuceno

3 – O sol é para todos, Harper Lee, 349 páginas, tradução de Beatriz Horta

4 – O tempo desconjuntado, Philip K. Dick, 267 páginas, tradução de Braulio Tavares

5 – Livro de Josué, 33 páginas, tradução da Bíblia de Jerusalém

6 – Livro de Judite, 18 páginas, tradução da Bíblia de Jerusalém

7 – Matadouro-Cinco, Kurt Vonnegut, 228 páginas, tradução de Daniel Pellizzari

8 – Estamos todos completamente transtornados, Karen Joy Fowler, 331 páginas, tradução de Geni Hirata

9 – Antônio e Cleópatra, William Shakespeare, 174 páginas, tradução de Beatriz Viégas-Faria

10 – Juízes, 36 páginas, tradução da Bíblia de Jerusalém

11 – O fim da eternidade, Isaac Asimov, 256 páginas, tradução de Susana Alexandria

12 – Livro de Ester, 15 páginas, tradução da Bíblia de Jerusalém

13 – A escrava Isaura, Bernardo Guimarães, 176 páginas



Lidos em FEVEREIRO 2021

1 – Medeia, Eurípides, 98 páginas, tradução Mário da Gama Kury.

2 – O conto da aia, Margaret Atwood, 368 páginas, tradução Ana Deiró.

3 – A tempestade, William Shakespeare, 116 páginas, tradução Beatriz Viégas-Faria.

4 – O Senhor das Moscas, William Golding, 217 páginas, tradução Geraldo Galvão Ferraz

5 – A outra volta do parafuso, Henry James, 199páginas, tradução Paulo Henriques Britto

6 – A fazenda dos animais, George Orwell, 133 páginas, tradução de Paulo Henriques Britto

7 – Vida querida, Alice Munro, 316 páginas, tradução de Caetano Galindo

8 – Pequeno-burgueses, Maksim Górki, 190 páginas, tradução de Lucas Simone

9 – Kindred, Octavia E. Butler, 424 páginas, tradução de Carolina Caires Coelho

10 – Noite na taverna, Álvares de Azevedo, 73 páginas

11 – Piquenique na estrada, Arkádi Strugátski e Boris Strugátski, 320 páginas, tradução de Tatiana Larkina



Lidos em JANEIRO 2021

1. Mrs. Dalloway – Virginia Woolf (leitura iniciada em dezembro), 228 páginas

2. 1Q84, volume 3 – Haruki Murakami,469 páginas

3. Macbeth – William Shakespeare, 133 páginas

4. Mundo Fantasmo – Braulio Tavares, 125 páginas

5. O amante – Marguerite Duras, 128 páginas

6. Deuteronômio, 48 páginas

7. Drácula – Bram Stoker, 638 páginas

8. A espinha dorsal da memória – Braulio Tavares, 223 páginas

9. Le Horla – Guy de Maupassant, 35 páginas

10. Bartleby, o escriturário – Herman Melville, 95 páginas

11. O colecionador – John Fowles, 343 páginas

12. Lady Macbeth do distrito de Mtzensk – Nikolai Leskov, 95 páginas