Doze contos peregrinos, Gabriel García Márquez, 1992

Doze contos peregrinos, Gabriel García Márquez, 1992, 256 páginas, tradução de Eric Nepomuceno, Record. Lido entre 24/02/2021 e 03/03/2021. Nota 3 (Bom). 

Não é dos melhores GGM, mas vale a pena. O prólogo é muito bom porque conta da elaboração das histórias, do ofício de escrever, além de narrar um sonho belo e angustiante de GGM. Quanto aos contos, a maior parte é boa, alguns são excepcionais, uns poucos são irrelevantes. O resultado é uma obra irregular, de muitos altos e alguns baixos. Às vezes, dá a impressão de um ajuntamento aleatório de papéis guardados. 

Entretanto, os contos excelentes fazem valer a pena a leitura.



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Resumo dos contos.

Boa viagem, senhor presidente. Genebra. É um conto que não se decide entre contar a história do velho ex-presidente deposto ou do casal de imigrantes Homero Rey e Lázara. É injusto que o casal dispense o maior cuidado ao ex-presidente, como a um filho, e não seja, de algum modo, recompensado. A escolha dos nomes, Homero e Lázara, é de certo modo óbvia, porque o ex-presidente faz uma longa viagem de ida e volta, Odisséia, e tenta a ressuscitação em seu país natal. 

A santa. Muito bom. Roma. A história do pai que passa a morar em Roma para conseguir a canonização da filha. A menina morrera aos sete anos e, onze anos depois, o corpo continuava intacto e, o mais fantástico, sem peso. 

O avião da bela adormecida. No avião entre Paris e Nova York. É uma espécie de leve homenagem ao livro de Kawabata, “A casa das belas adormecidas”. 

Me alugo para sonhar. Havana, Viena e Barcelona. História de uma mulher que é contratada para sonhar e interpretar os próprios sonhos. Pablo Neruda a conhece e sonha com ela; no sonho dele, ela está sonhando com Neruda. A mulher conta ao narrador que sonhou com Neruda e que, no sonho, Neruda sonhava com ela. Referências a Borges. 

Só vim telefonar. Muito bom e tristíssimo. Barcelona. O carro da personagem quebrou e ela vai a um lugar tentar telefonar. O lugar é um hospício; a mulher é confundida com uma paciente e é internada. 

Assombrações de agosto. Arezzo. Irrelevante. Faz pensar em Poe. 

Maria dos Prazeres. Muito bom. Barcelona. História de uma velha prostituta que se prepara para a morte. A mulher é brasileira amazonense e o final é surpreendente. 

Dezessete ingleses envenenados. Mediano. Nápoles. Uma velha e piedosa senhora vinda da América Latina, meio perdida em Nápoles, quer ir à Roma ver o papa. O final é angustiante pois a situação da senhora não se conclui. 

Tramontana. Fraco. Barcelona e Cadaqués. O vento tramontana deixa as pessoas loucas. Duas mortes acontecem devido ao vento. 

O verão feliz da senhora Forbes. Mediano. Ilha de Pantelana na Sicília. Dois irmãos aos cuidados de uma governanta nazista. A governanta inferniza a vida dos irmãos com disciplina férrea, embora seja uma hedonista. 

A luz é como a água. Muito bom. Madri. Conto absolutamente fantástico. Crianças que navegam na luz. 

O rastro do teu sangue na neve. Muito bom e tristíssimo. Paris A viagem de núpcias se torna tragédia; o jovem marido, infantil e infantilizado, perdido frente às circunstâncias que não sabe enfrentar. Desencontros, acasos terríveis. O fantástico de um ferimento de espinho de rosa que não para de sangrar.