Livro de Josué, Bíblia de Jerusalém

Livro de Josué, Bíblia de Jerusalém, 33 páginas, 24 capítulos, Paulinas. Início: 08/02/2021 – Fim: 03/03/2021.



O livro de Josué encerra o ciclo da história dos hebreus desde o início até a invasão das terras de Canaã. A narrativa contada nos cinco livros do Pentateuco somente se encerra aqui, em Josué; de fato, fala-se até em um Hexateuco, incluindo Josué.

Moisés morre antes da invasão de Canaã. Josué, sucessor de Moisés é quem lidera o povo nômade durante a invasão e a fixação naquelas terras. 

De forma geral, o que se apreende dos seis livros é a origem do mundo e dos israelitas, o pacto de Iahweh com aquele povo, e a fixação no Egito (Gênesis); a saída do Egito e a vida nômade em terras difíceis, desérticas (Êxodo); recenseamentos, agruras, pestes e deslocamentos do povo nômade, e a enxurrada de novas e antigas normas (Levítico e Números); uma condensação das novas leis e rememoração da trajetória nômade, e a preparação para a invasão de Canaã, com a morte do líder (Deuteronômio); e por fim, a invasão, as carnificinas, a divisão das terras e a fixação do povo nômade na terra invadida (Josué). 

A mitologia dos hebreus tenta justificar os massacres, a carnificina, a invasão, as guerras, por meio da lenda de que um deus (o deus dos deuses) concedeu terras mais férteis ao povo nômade. De fato, aquele povo nômade cresceu o olho nas terras férteis de outros povos e, depois de muito penar como pastores, invadiram com fúria sanguinária a terra de Canaã. Eles tentaram antes, pelo sul (Êxodo) e não conseguiram, então conseguiram pelo oeste, cruzando o rio Jordão. 

As pestes e doenças também são explicadas por meio da mitologia: há uma peste, é porque o povo errou feio com o deus; daí, seguem-se rituais e incensos. Quando a peste acaba por motivos naturais, é claro que foi intercessão do deus. Da mesma forma, normas básicas de higiene são justificadas como mandamentos divinos. Também as derrotas nas batalhas são castigo por erros cometidos. Tudo simplório, comum em povos semicivilizados. 

Em Josué, os tópicos mais curiosos são os seguintes: 

- ao final da campanha militar, Iahweh não cumpriu a promessa de dar todas as terras. Iahweh havia definido bem definidozinho, em Êxodo, as terras que pertenceriam aos hebreus. Todavia, as terras que eles ocuparam foram muito menos que o prometido. 

- o povo desobedeceu em tudo as ordens mosaicas e de Iahweh: fez pactos com povos de Canaã e não destruiu-exterminou toda a gentalhada – na visão de Iahweh – que ocupava aquelas terras. 

- as estratégias militares de Israel são bem descritas: o cerco, o falso ataque e uma armadilha, os ataques aos cavalos para enfraquecer os inimigos. 

- eu desconhecia a lenda de que Iahweh também abriu as águas do Jordão para que os israelitas passassem. A lenda deve ter surgido para reforçar o papel de Josué como sucessor de Moisés. 

- algumas tribos israelitas denominam Iahweh de “deus dos deuses’, o que indica a aceitação de um politeísmo ao modo grego, Iahweh como um tipo de Zeus. 

- a reunião das tribos que Josué promove antes de morrer: as tribos deveriam decidir se ficavam com Josué e adoravam a Iahweh, ou se iam para outros deuses. É tão “moderna” e inusitada essa liberdade de culto.

 

Resumo. 

Depois da morte de Moisés, o povo de Israel acampa na margem do rio Jordão antes de iniciar a travessia e invadir Canaã. É uma invasão, é guerra e violência. As tribos israelitas de aquém Jordão têm a obrigação de ajudar na invasão. 

Josué enviou dois espiões a Jericó. Ele foram acolhidos pela prostituta Raab que os escondeu dos guardas do rei de Jericó. Ela combinou de salvá-los desde que Israel a poupasse, com sua família, quando da invasão. A fama violenta de Israel precedia a invasão. 

Na margem do Jordão. A Arca segue na frente, entra no rio e o rio para de correr: uma massa de água se acumula rio acima. O povo atravessa o rio sem água. Iahweh ordenou recolher doze pedras do leito seco do Jordão. Enquanto a Arca ficou no rio, a água ficou retida acima. Israel possuía quarenta mil guerreiros armados. 

Israel acampou a leste de Jericó. As doze pedras foram erigidas: um lugar de culto e de memória. O lugar se chamava Guilgal, “círculo de pedras”. 

Os povos de Canaã temem os israelitas. Em Guilgal, faz-se a circuncisão do povo e uma Páscoa; eles comem os frutos da terra e finda o maná. Teofania: Josué vê o “chefe do exército de Iahweh” com a espada desembainhada. 

Cerco a Jericó. Descrição simbólica do sítio à cidade. Sete sacerdotes com a Arca e sete trombetas e todo o povo contornam a cidade fortificada durante seis dias. No sétimo dia, contornam a cidade sete vezes, emitem um grito de guerra e “as muralhas caem”. De fato, um cerco desses leva muito tempo, meses até. Não há registro arqueológico de que as muralhas de Jericó tenham caído nessa época. Invasão de Jericó. 

Tudo foi destruído, assassinato de todos os habitantes, exceto Raab e sua família. É uma evidente desobediência à ordem que Iahweh deu a Moisés: quando entrassem em Canaã, matassem todos. Os espiões não teriam autorização para fazer combinações. Ouro, prata e bronze e objetos anexados ao tesouro de Iahweh (na verdade, tesouro dos sacerdotes porque Iahweh não precisa de ouro e prata). 

Um certo Acã ficou com objetos valiosos para si. O povo foi castigado quando Josué mandou uma tropa de três mil guerreiros para lutar contra o povo da localidade de Hai e a tropa perdeu a batalha. Josué fez um escarcéu enorme com Iahweh (ai, por que fomos derrotados, ai, ai, ai). Iahweh ordenou descobrir quem ficou com objetos do tesouro e queimá-lo. O povo pegou Acã e sua família, apedrejou e matou a todos. Seria Acã realmente culpado? E matar toda a família é justo para Iahweh? Foi erigido um monte de pedras sobre os restos mortais de Acã e sua família. 

Há diversas incoerências de quantidade. Relata-se que Josué enviou trinta mil guerreiros contra Hai, depois fala-se em cinco mil. Inicialmente, dizia-se que Hai era pequena e fácil de derrotar; no fim, mataram doze mil em Hai. 

A estratégia de Josué contra Hai foi atacar com um pequeno grupo, fugir para ser perseguido, outra parte maior de guerreiros invadem e queimam Hai e os dois grupos apertam os guerreiros de Hai no meio. Mataram todos, destruíram tudo, enforcaram o rei de Hai. 

Depois da carnificina, como sempre: orações, um altar para Iahweh, leitura do Deuteronômio, blá-blá-blá. Iahweh gosta de carnificina e os israelitas são um povo sanguinário e violento. 

Assustados, os povos de Canaã iniciam uma coalizão contra Israel. Israel faz um pacto com Gabaon, contra as recomendações da lei de Moisés de não fazer pacto com nenhuma tribo de Canaã. Para disfarçar, os líderes de Israel dizem que foram ludibriados por Gabaon. Um grupo se fez passar por mensageiros de um povo distante e fez o pacto; depois se descobriu que eles eram dali, vizinhos, o povo de Gabaon. Boa desculpa. 

Cinco reis se unem contra Gabaon Jerusalém, Hebron, Jarmut, Laquis, Eglon. Parece Senhor dos Anéis. Os reis sitiaram Gabaon. Israel acorreu em socorro de Gabaon, marchou à noite e atacou de surpresa, e derrotou os cinco reis. Para ter mais tempo de batalha, Josué ordenou que o sol parasse de se mover. Iahweh “obedeceu” a Josué, está escrito. 

Descreve-se então as cidades conquistadas pelo sanguinário povo de Israel: Maceda, Lebna, Laquis, Gazer, Eglon, Hebron, Dabir, que são cidades do sul. 

Formou-se uma coalizão das cidades do norte, com um exército numeroso como areia na praia, com cavalos e carros de combate, comandados pelo de rei de Hasor. Israel venceu mesmo sem dispor de cavalos e carros porque conseguiu cortar os jarretes dos cavalos e queimar os carros. (Escavações arqueológicas mostram que a cidade de Hasor foi incendiada e destruída). Conquista de Hasor, extermínio, morticínio, guerra sem paz. 

Terminou a conquista e “a terra descansou da guerra”. Várias terras não foram conquistadas, ao contrário do que disse Iahweh. Os filisteus, por exemplo, não foram derrotados. O filisteus eram povo marítimo, velejadores, ocupavam o litoral e eram inimigos permanentes de Israel. 

Hebron foi designada para Caleb, ele a conquistou. Os enacim, povo de alta estatura foram derrotados. Hebron se chamava Cariat-Arbe e era dividida em quatro bairros de acordo com os clãs. Caleb tinha 85 anos quando conquistou Cariat-Arbe e Cariat-Séfer (ou Dabir). Otoniel comandou o ataque a Dabir e casou com Acsa, filha de Caleb. 

As ordens de Moisés não foram seguidas e várias tribos não foram expulsas de Canaã. Josué ordenou que a tribo de José desmatasse a encosta de uma montanha, para ocupá-la e conquistar as terras dos cananeus, povo mais forte e que dispunha de carros de ferro. 

Divisão das terras entre as tribos. Terras para Josué: a cidade de Tamnat-Saará na montanha de Efraim. Novamente, as especificações sobre as cidades de refúgio. Estabelecem-se cidades para os levitas. 

O versículo 21, 43 é mentira porque diz que Iahweh entregou todas as terras que prometeu. Ora, diversos povos, por exemplo os filisteus, jamais foram conquistados. Os israelitas não obtiveram todas as terras que Iahweh e Moisés prometeram. 

Os guerreiros das tribos de além Jordão (Rubens, Gad e Manassés) foram autorizados a voltar para suas terras. No retorno, eles construíram um altar na margem do Jordão. Israel se preparou para uma guerra contra eles porque era proibido fazer esse altar. Só poderia haver um altar. Rubens, Gad e Manassés dizem que Iahweh é o “deus dos deuses”, um evidente politeísmo, e explicam que não era um altar para holocaustos, era somente um altar “memorial”, um altar testemunho, E acalmam-se os ânimos. 

Josué velho faz um discurso com aquele teretetei de sempre, o Egito, Moisés, o deserto. Discurso contraditório porque diz que ainda restam tribos inimigas a expulsar mas também afirma que Iahweh entregou tudo o que prometeu. 

Depois, Josué promove uma esquisita reunião das tribos em Siquém: é para escolher se as tribos vão acompanhar o povo de Josué e ficar com Iahweh ou se vão escolher outros deuses. Que bom que havia essa opção. Cuidado, diz Josué, Iahweh é um deus ciumento. As tribos não têm medo e confirmam que vão ficar com Iahweh. 

Josué, sucessor de Moisés, morre aos 110 anos, enterrado em Tamnat-Saará. Morre o sacerdote Eleazar, filho de Aarão. Enterram-se os ossos de José. Encerra-se o ciclo do Êxodo.