sexta-feira, 4 de julho de 2025

Cicloviagem Recife – Barra de São Miguel (AL) – 333 km

 


Antes eu não gostava do meu aniversário. Depois que comecei a fazer viagens de bicicleta no período dessa famigerada data, passei a gostar muito. No ano de 2025, fiz mais uma cicloviagem de aniversário que descrevo a seguir. 

“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.”

 

Amyr Klink.


Dia 1 – Sábado, 28 de junho de 2025.

De Recife até São José da Coroa Grande (PE): 144 km.

Os dias que antecederam a viagem foram de muita chuva na região. No sábado, eu pretendia partir às cinco da manhã, mas a chuva me fez sair às 5:40. Acordei às 4:30, tomei o café da manhã, preparei tudo para descer ao térreo, mas vinha uma chuvada, passava, vinha outra. Desci, coloquei a bagagem na bicicleta dobrável aro 20 Dahon e ainda esperei um pouco. A chuva estava fraca mas não passava, então decidi sair com chuva mesmo. Parafraseando Amyr Klink, o pior que pode acontecer a uma viagem é não partir. Pedalei com chuva, entre fininha e mais grossa, até o bairro de Piedade, quando começou a amainar. Primeira parada foi na Ponte do Paiva, com 30 km pedalados: fotografia, nublado, sem chuva.

 Segui pela ciclovia do Paiva, passei as praias de Itapuama e Enseada dos Corais. Em Enseada, um cachorro correu atrás de mim, latindo; parei e corri atrás dele, latindo, o covarde fugiu. Entrei pela PE-28 que cruza a Mata do Zumbi, estreita e sem acostamento, mas foi tranquilo. Segui, então, pela PE-09, a excelente rodovia pedagiada que leva até Nossa Senhora do Ó e Porto de Galinhas. A ciclovia de Porto está péssima, esburacada e alagada. Fiz breve parada em Porto e continuei para Serrambi e Toquinho. Em Toquinho, peguei o barco que faz a travessia para Barra de Sirinhaém. Dali, segui por rodovia até o Píer de Guadalupe, onde nem sempre tem barco para travessia. Quando cheguei, não havia barco. Um homem em uma lancha estava esperando clientes que haviam marcado um passeio com ele. Então, ele aceitou me levar até a outra margem do rio, que já é a localidade de Carneiros. Como a maré estava seca, fui pedalando pela margem do rio, passei a superestimada igrejinha – é só uma igreja na beira da praia, mas tem fila para tirar foto – e aquela praia é péssima, cheia de pedras e misturada com rio.

 Segui pela praia, o sol estava forte, aproveitei para tomar um banho de mar com roupa e tudo. Entrei para o centro de Tamandaré, onde comprei biscoitos e água. Subi pela PE-76, entrei na Reserva de Saltinho e segui pela PE-60 – com uma breve parada para água de coco em Barreiros. Mais adiante, um grupo de três ciclistas se juntou a mim: eles vinham de Pitimbu e iam para Maragogi – de uma vez! Um pedal de aproximadamente 270 km! Cheguei, enfim, à Pousada Vivenda Oriente, em São José da Coroa Grande; eram cerca de 15:30h. Poucos minutos depois, meu filho Mateus chegou também. Ele fez o percurso de motocicleta e nós combinamos de nos encontrar nas pousadas, no final do dia.

 Então, pedimos umas Heineken e comidinhas para relaxar na área da piscina da pousada. À noite, fomos comer pizza na Cia da Macaxeira, acompanhada por um vinho verde.

Um dos barcos que fazem a travessia Toquinho – Barra de Sirinhaém


Praia de rio, na travessia Guadalupe - Carneiros



Dia 2 – Domingo, 29 de junho de 2025.

De São José da Coroa Grande (PE) até Paripueira (AL): 121 km.

Um desvio imprevisto fez a rota aumentar em 30 km. Depois do café da manhã, apertei alguns parafusos do bagageiro que estavam folgados, preparei a bagagem e parti às 8:20h. Estava nublado e logo começou a chuviscar e chover. De fato, foi o dia todo de chuva, às vezes forte, às vezes fraquinha. Segui pela rodovia AL-101, passando por Maragogi e Japaratinga. Atravessei de barquinho para Porto de Pedras e continuei na AL-101. Passei por Porto da Rua e São Miguel dos Milagres. Nesse trecho, a estrada está péssima, toda esburacada, e com a chuva, ainda pior. Em Barra de Camaragibe, sempre há barquinhos para fazer a travessia para as praias do Morro e Carro Quebrado. Entretanto, quando cheguei no ponto de embarque, não havia barco e algumas pessoas da área informaram que, por ser feriado de São Pedro, o serviço não funcionava. Isso me obrigou a seguir pela AL-101 que faz um longo desvio do litoral.

(Recordei a primeira viagem de bicicleta que fiz nessa rota, com meu amigo Jorge, há muitos e muitos anos. A gente não tinha mapa nem gps nem planejamento; nem sabíamos das rotas alternativas mais próximas do litoral, seguindo por rodovias mais movimentadas e perigosas: naquela vez, também não havia barco em Barra de Camaragibe, tampouco hospedagem, e tivemos que subir. Só que já era final da tarde e terminou que só conseguimos hospedagem em São Luís do Quitunde, aonde chegamos de noite.)

Então, dessa vez, também subi para Passo de Camaragibe – essa estrada é muito bonita, com morros, florestas, pastagens e o rio Camaragibe. Muitas subidas, mas sem dificuldade para mim, subi todas apenas com as oito marchas da dobrável. Mais adiante, entrei em São Luís do Quitunde para rever a rua onde nos hospedamos naquela primeira viagem. Depois de São Luís, desci para o litoral, passando por Barra de Santo Antônio e, por fim, chegando ao destino em Paripueira. Mateus havia passado por mim logo depois de Quitunde e já estava na Pousada Praia dos Corais. Chuva forte ainda e o jeito foi pedir uma entrega de pizza.

Pronto para partir em São José da Coroa Grande


Travessia de barquinho de Japaratinga para Porto de Pedras e a balsa para veículos



Dia 3 – Segunda-feira, 30 de junho de 2025.

De Paripueira (AL) até Barra de São Miguel (AL): 68 km.

Amanheceu chuviscando e o jeito foi partir assim mesmo, às 8:40h, depois do café da manhã. Segui pela AL-101, acompanhado pelo chuvisco constante até Jacarecica; ali começa uma ciclovia que a seguir continua pela beira-mar, adentrando Maceió, passando por Jatiúca, Ponta Verde e Pajuçara. A ciclovia está péssima, sem manutenção, e alagada por conta das chuvas. Na altura da praia da Avenida, entrei na cidade para visitar pela primeira vez, depois de décadas, a casa em que minha família morou por dois anos (1975-1976), na Rua Formosa. Dei uma breve olhada na fachada, que mudou muito, e nas casas de alguns amigos da época; também fui até a frente da escola em que eu e meus irmãos havíamos estudado. Voltei para a avenida e continuei a rota, passando sem novidades pela Praia do Francês e, enfim, adentrando Barra de São Miguel. Mateus já me esperava no bar/restaurante da Pousada Sete Mares. Acertamos a estadia, almoçamos e, logo chegaram Eliane, Elis e nosso neto Ravi, que vieram de Recife, de carro. A chuva havia passado e ainda fomos na praia nessa tarde.

Nos dois dias seguintes, 1 e 2 de julho, aproveitamos a praia e a pousada, e final de mais uma cicloviagem de aniversário.

Mateus passando por mim na chuva


Barra de São Miguel - Alagoas

Barra de São Miguel - Alagoas

Barra de São Miguel - Alagoas