Antes eu não gostava do meu aniversário. Depois que comecei a fazer viagens de bicicleta no período dessa famigerada data, passei a gostar muito. No ano de 2025, fiz mais uma cicloviagem de aniversário que descrevo a seguir.
“Um homem precisa
viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV.
Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um
dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para
desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem
sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para
quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não
simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não
vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.”
Amyr Klink.
Dia 1 – Sábado, 28 de junho de 2025.
De Recife até São José da Coroa
Grande (PE): 144 km.
Os dias que antecederam a viagem foram de muita chuva na região. No sábado, eu pretendia partir às cinco da manhã, mas a chuva me fez sair às 5:40. Acordei às 4:30, tomei o café da manhã, preparei tudo para descer ao térreo, mas vinha uma chuvada, passava, vinha outra. Desci, coloquei a bagagem na bicicleta dobrável aro 20 Dahon e ainda esperei um pouco. A chuva estava fraca mas não passava, então decidi sair com chuva mesmo. Parafraseando Amyr Klink, o pior que pode acontecer a uma viagem é não partir. Pedalei com chuva, entre fininha e mais grossa, até o bairro de Piedade, quando começou a amainar. Primeira parada foi na Ponte do Paiva, com 30 km pedalados: fotografia, nublado, sem chuva.
Um dos barcos que
fazem a travessia Toquinho – Barra de Sirinhaém |
Praia de rio, na
travessia Guadalupe - Carneiros |
Dia 2 – Domingo, 29 de junho de 2025.
De São José da Coroa Grande (PE) até Paripueira (AL): 121 km.
Um desvio imprevisto fez a rota aumentar em 30 km. Depois do café da manhã, apertei alguns parafusos do bagageiro que estavam folgados, preparei a bagagem e parti às 8:20h. Estava nublado e logo começou a chuviscar e chover. De fato, foi o dia todo de chuva, às vezes forte, às vezes fraquinha. Segui pela rodovia AL-101, passando por Maragogi e Japaratinga. Atravessei de barquinho para Porto de Pedras e continuei na AL-101. Passei por Porto da Rua e São Miguel dos Milagres. Nesse trecho, a estrada está péssima, toda esburacada, e com a chuva, ainda pior. Em Barra de Camaragibe, sempre há barquinhos para fazer a travessia para as praias do Morro e Carro Quebrado. Entretanto, quando cheguei no ponto de embarque, não havia barco e algumas pessoas da área informaram que, por ser feriado de São Pedro, o serviço não funcionava. Isso me obrigou a seguir pela AL-101 que faz um longo desvio do litoral.
(Recordei a primeira viagem de bicicleta que fiz nessa rota, com meu amigo Jorge, há muitos e muitos anos. A gente não tinha mapa nem gps nem planejamento; nem sabíamos das rotas alternativas mais próximas do litoral, seguindo por rodovias mais movimentadas e perigosas: naquela vez, também não havia barco em Barra de Camaragibe, tampouco hospedagem, e tivemos que subir. Só que já era final da tarde e terminou que só conseguimos hospedagem em São Luís do Quitunde, aonde chegamos de noite.)
Então, dessa vez, também subi para Passo
de Camaragibe – essa estrada é muito bonita, com morros, florestas, pastagens e
o rio Camaragibe. Muitas subidas, mas sem dificuldade para mim, subi todas
apenas com as oito marchas da dobrável. Mais adiante, entrei em São Luís do
Quitunde para rever a rua onde nos hospedamos naquela primeira viagem. Depois
de São Luís, desci para o litoral, passando por Barra de Santo Antônio e, por
fim, chegando ao destino em Paripueira. Mateus havia passado por mim logo
depois de Quitunde e já estava na Pousada Praia dos Corais. Chuva forte ainda e
o jeito foi pedir uma entrega de pizza.
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Pronto para partir
em São José da Coroa Grande |
Travessia de
barquinho de Japaratinga para Porto de Pedras e a balsa para veículos |
Dia 3 – Segunda-feira, 30 de junho de 2025.
De Paripueira (AL) até Barra de São Miguel (AL): 68 km.
Amanheceu chuviscando e o jeito foi partir assim mesmo, às 8:40h, depois do café da manhã. Segui pela AL-101, acompanhado pelo chuvisco constante até Jacarecica; ali começa uma ciclovia que a seguir continua pela beira-mar, adentrando Maceió, passando por Jatiúca, Ponta Verde e Pajuçara. A ciclovia está péssima, sem manutenção, e alagada por conta das chuvas. Na altura da praia da Avenida, entrei na cidade para visitar pela primeira vez, depois de décadas, a casa em que minha família morou por dois anos (1975-1976), na Rua Formosa. Dei uma breve olhada na fachada, que mudou muito, e nas casas de alguns amigos da época; também fui até a frente da escola em que eu e meus irmãos havíamos estudado. Voltei para a avenida e continuei a rota, passando sem novidades pela Praia do Francês e, enfim, adentrando Barra de São Miguel. Mateus já me esperava no bar/restaurante da Pousada Sete Mares. Acertamos a estadia, almoçamos e, logo chegaram Eliane, Elis e nosso neto Ravi, que vieram de Recife, de carro. A chuva havia passado e ainda fomos na praia nessa tarde.
Nos dois dias seguintes, 1 e 2 de julho, aproveitamos a praia e a pousada, e final de mais uma cicloviagem de aniversário.![]() |
Barra de São Miguel - Alagoas |
Barra de São Miguel - Alagoas |
Barra de São Miguel - Alagoas |