quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

as putas daqui



no dia se repete
café almoço e café de novo
banho xadrez arte será?
alguma arte pouquinho diarte

as putas daqui
tem de todo preço
tem de 5 reais
aqui no centro da cidade
nas praças e ruas quando ficam
maisdesertas

tem as universitárias de 200 reais
e se você for besta ou turista
tem até de 500 reais

meus olhos doem
sonho que caso com uma gorda
não uma gordinha
uma gordona
e a casa tem dois andares
e isso nada significa

os acasos e os não-significados
são intermináveis

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

neste momento



neste momento
os dias passam indiferenciados
a noite chega cedo
ainda com a luz da tarde já é noite

durmo em mim para amanhecer mais rápido

este momento de espera
de dias perdidos
como água

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

marisamonte

marisamonte
entrevista de marisa monte no jornal
em vídeo na internet

ela ajeita a roupa
ela se coça
ela fala com as mãos

a camisa branca de tecido fino
anda para a frente do corpo

ela puxa a camisa na altura dos ombros
para trás

ela fala de
pernambuco powder factory

as mãos definem espaços
a insuficiência da linguagem

ela se coça
ela ajeita a roupa

três vezes em sete minutos

parece arte



parece arte contemporânea.

contemporary art?

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

estritamente

(drawing by paulorafael)

dias brancos
passaram poraqui
na cidade de santo antônio
cidades de santos

(tudo já foi dito)
eu já disse que esta cidade
tem ruas infinitas

rara
é a catedral que interrompe uma rua
interrompe a passagem do olhar
rara

as ruas são infinitas
até onde o olhar alcança
partindo da margem suja do rio
em direção ao continente

cidades de santos
ruas de santos

a catedral que interrompe
divide a rua em duas
santa luzia e santo amaro
pra que tanto santo meudeus?

o desenho geométrico da cidade
como é assim
faço percursos geométricos
na cidade

estritamente

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

festa infinita


(drawing by paulorafael)

sonhei horas
sonhei durante horas
o sonho pareceu durar horas
fiquei cansado
acordei de ressaca do sonho
foi difícil levantar

uma festa que não acabava
festa infinita
casa enorme
aquilo que os jornais chamam de mansão
a casa enorme pertence ao meu amigo
que não tem uma casa enorme
agora tem no sonho
pergunto-me porque ele tem agora essa casa
pergunto-me porque a festa
a casa mansão
dois salões que me lembro
jardins
carros de rico

eu andava pelos salões pela festa
comia bebia
lembro que a festa degenera
gente nua
eu nu às vezes
às vezes vestido
ela estava comigo

ela passa por mim
no meio do salão da festa
no salão da direita olhando a casa de frente
passa no salão enrolada em uma toalha
como saindo do banho
cabelos molhados
eu sentado em um sofá lendo
a chamo

festa infinita
acordo de ressaca

uma imensa bancada
pia ou tanque
abro a conexão que leva
a água para o esgoto
a água sai de enxurrada
na água escovo os dentes
no meio da festa dos convidados
ternos pretos smokings

escovo os dentes
na água que sai por baixo da bancada
tudo imenso no sonho
salões casa bancada a festa que não acaba
e um amor imenso que me invade
uma saudade

acordo de ressaca da festa
que não houve ou há
acordo com saudade
ela que se move como saindo do banho
difícil acordar levantar sair da cama
fim

no aeroporto

(artwork: josé pedro croft)

no aeroporto
o atraso do vôo
o avião atrasou

por sorte
na minha mochila o meu xadrez pequeno
(tudo definido em pronomes possessivos)

o meu xadrez pequeno
echec chess tem duzentos anos
e poucos
de madeira e furos para fixar as peças
ela me deu de presente de natal
quando havia natal
naquele tempo

e no aeroporto
o filho que ela me deu
o avião com atraso
e o xadrez
jogamos uma partida

ganhei do filho dela
no aeroporto
tarde de domingo
muito tarde too late