quinta-feira, 31 de março de 2011

Mapas

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Não acredito nesse negócio de fases de um artista qualquer. O artista vai fazendo suas coisas, repetindo algumas das quais gosta e, depois, alguém olhando de fora diz que vê agrupamentos, fases, ou sei lá mais o quê. Nos dias que correm - e como correm - tenho gostado de fazer coisas com método, com repetição, com vagar. Nessa mistura, entram os mapas de um atlas velho que comprei em sebo. Separo as páginas, retirando da encadernação e vou fazendo qualquer coisa por cima dessas absurdas divisões de países. É claro, sabemos, o mundo não faz sentido, é absurdo em si.
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quarta-feira, 30 de março de 2011

Açude

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Nos dias que correm, meu trabalho (de ganhar dinheiro) me leva todos os dias para o bairro de Dois Irmãos. Vou de bicicleta. A estrada que passa pelo Açude de Apipucos é estreita, e naquele trecho os motoristas estão sempre desesperados, exasperados, sei lá o quê. É que ali é o último pedacinho que eles podem dar uma corridinha nos seus automóveis, pois logo depois começa o engarrafamento para entrar na rodovia BR-101. Se eu quiser, de bicicleta, olhar para o Açude, devo parar em uma sombra, pois pedalando não dá. A água, assim em grande quantidade, espelho do céu, é sempre um espetáculo.
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terça-feira, 29 de março de 2011

Dias comuns de trabalho

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Acordo, trabalho para ganhar dinheiro, depois o trabalho de arte, depois, depois. Não gosto da palavra trabalho para a ação de fazer arte. Qual usar, então? Fazendo algo de arte com mapas (e tinta acrílica), coletando e colando soldadinhos de plástico, desenhos vez em quando. Dias comuns.
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terça-feira, 22 de março de 2011

Bernardo

(A grande onda fora de Kanagawa - Katsushika Hokusai)
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"Viver é não pensar", diz Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa. E ainda mais: "A vida é absolutamente irreal, na sua realidade directa; os campos, as cidades, as idéias, são coisas absolutamente fictícias, filhas da nossa complexa sensação de nós mesmos".

Na minha vida irreal, desci para almoçar (pela escada) e lá fora estava o sol pesado, penetrante, mórbido do nordeste do Brasil, distribuindo cânceres a todos os atrevidos. Um rapaz adolescente passa segurando uma sombrinha (de mulher) para se proteger do sol. No restaurante em que almoço todos os dias, nos últimos dias temos a companhia de um jesus de cabelos brancos. Um hippie extemporâneo? Saio do restaurante para a irrealidade branca do sol e fotografo janelas que queriam ser góticas.
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segunda-feira, 21 de março de 2011

Praia surf sol areia domingo

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Minha bicicleta pedala todo dia,
segunda, terça, quarta, mais.
Eita, ela não pedalou domingo.
Areia e sol e céu, mar forte ondas, domingo.
(Passei na rua da União e chutei o busto de Manuel Bandeira)
Tereza.
Ascenso.

sábado, 19 de março de 2011

Mesa de trabalho

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Minha humilde mesa de trabalho com alguns trabalhos em andamento, mapas e soldadinhos.
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sexta-feira, 18 de março de 2011

Ki-grampão

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eu simplesmente a-do-rei essa embalagem de grampos para cabelo. primeiro, é brasileira, nada dessas porcarias chinesas. depois eh totalmente ingenua, naif. ki-grampão.... e tem uma exclamação enorme. e a mulher cheia de bobs nos cabelos tem um grampo preso no dedo!!! e o aviso: com bolinhas protetoras - adoro bolinhas protetoras. por fim: é um produto Anamaria, o que garante a qualidade!
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segunda-feira, 14 de março de 2011

Super protegida

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Uma bicicleta super protegida que encontrei por aí, com fitinhas de Nossa Senhora da Conceição, corrente e coração.
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domingo, 13 de março de 2011

Bicicletando

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Depois de carnavalizar bastante em Olinda... Eu tenho o vício ou o vírus do carnaval. Então, depois do carnaval, eu e meu amigo Jorge seguimos de bicicleta para Bonito, interior de Pernambuco. Da minha casa até o hotel lá em Bonito são cerca de 140km. Levamos cerca de dez horas para fazer o trajeto, nosso ritmo é lento, não é competição, com muitas paradas para fotos e para lanches. No dia seguinte ao da viagem, pedalamos pela região, por estradas de barro e visitamos algumas das muitas cachoeiras de Bonito. Na foto acima, estamos em Pombos, onde fizemos nossa primeira parada na viagem de ida.
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Jorge passando pela ponte da "nova" BR-232.
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Pedalando pelas estradas de barro da região e contornando a imensa e bela Pedra do Rodeadouro.
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Uma das ladeiras mais íngremes que encontramos pelo caminho, com alguns trechos absolutamente im-pedaláveis, pelo menos para minhas pernas.
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Chegamos na cachoeira Véu de Noiva e fizemos a descida pela lateral da cachoeira. Se você olhar bem, verá  uma pessoa na parte de baixo da foto, o que pode dar uma noção da altura da queda dágua.
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Aqui uma foto dos corajosos fazendo rappel na cachoeira Véu de Noiva.
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Uma cachoeira menorzinha, mas onde se toma um excelente banho de água frígida. Cachoeira da Pedra Redonda.
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quinta-feira, 3 de março de 2011

Missing / Desaparecida

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Embora a cidade respire carnaval, é carnaval para todos os lados, ruas decoradas e interditadas, blocos pipocando aqui e ali sem mais, hoje interrompi minha sequência de fotos de carnaval. Eu passando de bicicleta perto do zoológico de Dois Irmãos e parei para fotografar essa casa azul antiga que pertence à companhia de águas. Quando me aproximei, vi esse cartaz no poste. A moça está desaparecida, alguém a ama e procura por ela. Como pode uma pessoa desaparecer? É fácil? É difícil? É inexplicável? Esse cartaz tem algo de arte contemporânea, tem algo de poético, uma tristeza poética, penso.
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quarta-feira, 2 de março de 2011

Carnaval elétrico


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O carnaval ter sido esse ano em março, tornou a espera mais ansiosa para a populaçao. a populaçao anseia esquecer seus males. em olinda, desde janeiro que os domingos sao entopidos de gente. eu estive domingo no bloco tá maluco. ta maluco eh um bloco que por nao suportar mais o aperto geral dos dias oficiais, so sai somente no domingo antes de carnaval. é necessário nesse tempo, ver que existem dois (muito mais que dois vc diria) tipos de gente quando se fala em carnaval: ha a juventude dourada - meninos e meninas que nao tem a minima noçao de carnaval nem de nada mesmo e que se balangam ao ritmo de qualquer bosta que toque, desculpa para se beijar e beber (e pouco trepar pois o medo de doença assola essa geraçao) e o outro grupo eh aquele que canta a juventude dourada de capiba, gente que gosta de carnaval, de bloco, de seguir o bloco. eu que sempre estou dentro e fora do carnaval ao mesmo tempo, e que alimento tambem uma relaçao de amor e odio com a cidade de olinda, no meu primeiro dia de carnaval, comecei a enxergar varias epifanias: em varias musicas e trechos de musicas em que se ve no rosto das pessoas um momento sublime de compreensao mutua, praise the lord,......dizendo bem que no recife tem o carnaval melhor do meu brasil.... entre tantos outros trechos em que os rostos se aproximam de uma experiencia, se nao divina, pelo menos de extrema uniao simbolica com outros seres humanos. o hino de pernambuco tambem epifanico, o bom sebastiao, tambem, musica mulheres e flores e etc. deveria ser criada a AVEC,  associaçao dos velhos carnavais, onde so entraria quem soubesse cantar na integra os versos completos dessas musicas, inclusive aqueles versos cuja metrica nao cabe nos compassos (collins aldrin e armstrong entre eles). em alguns momentos, deixei ate de contemplar a epifania para somar minha voz e emoçao a ela. houve, domingo, como sempre ha, epifanias sonoras, de bumbos (alfaias melhor dizendo),  quando meu grupo de maracatu de branquelo favorito, o baquenambuco, faz o seu crescendo e os bum bum dos bumbos vai subindo e todo mundo se sente elevado (quase tudo entre aspas), e a felicidade final nos rostos quando da bumbada final. talvez para irritar os puristas, começamos por chamar a orquestra de banda, a perguntar para que lado ia aquela flamula la na frente, o estandarte, que depois passamos a chamar de flagelo em alusão aos famosos flabelos dos blocos de véia, e por fim quando os blocos passavam na ladeira da prefeitura e tocavam ceroula, obrigatoriamente diga-se, nós falavamos da casa de cadela, em lugar de cabela. alias, te digo que se vc ainda nao apertou a mao de cabela, aproveite e faça isso logo pois nao dou mais que dois anos de vida para ele, está cada vez mais magro e doente. no terreno das epifanias olindenses, cabela ja tem cheiro de santidade. resta ainda dizer que encontrei uma interessantissima combinaçao que - apesar de ter sido fundado em 2005, eu so conheci domingo. foi o congobloco, eh um bloco que sai do mercado eufrasio e que colocou entre os chocalhos e as alfaias uma ruma de metais, e o som que eles fazem eh algo muito legal, algo que parece assim carimbó ou sei lá que nao sou david byrne. fica muito legal os metais na levada do maracatu. agora, vc tem que ficar perto dos metais pois se vc ficar depois, nas alfaias, elas apagam os metais completamente. perguntei a tres pessoas do bloco quando ele sai no carnaval e obtive portanto... tres respostas diferentes. Isso eh parte da epifania? nao sei.
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terça-feira, 1 de março de 2011

As ruas escondem e revelam

(as ruas escondem e revelam arte)
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Qualquer pessoa que goste um pouquinho de bicicletas está chocado, assustado, impressionado com a covardia que aquele motorista de Porto Alegre fez ao lançar seu belo carro preto em alta velocidade sobre dezenas de ciclistas que seguiam em marcha lenta e pacificamente.
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Eu vi há tempos o lançamento do livro de David Byrne, Diários de Bicicleta, eu não pensava em comprar, mas quando vi na Livraria Cultura, gostei e comprei. Mas o que ele escreve sobre bicicletas e cidades, é o mesmo que eu, meu amigo Jorge Waquim, Rogério Leite, escrevemos quase cotidianamente, apenas como ele é Byrne, ele conseguiu publicar. Em termos de olhar a cidade a partir do guidão da bicicleta, o olhar dele é o mesmo nosso. Boas observações e comentários sobre as cidades que ele visita com sua bike. Mas quando ele tenta falar sobre política - sobre o ambiente político de determinado local, o livro fica muito, muito superficial. Acho até que dá pra pensar que nossa, minha e de quem escreve sobre cidades e bicicletas, visão de mundo sobre outras culturas é mais intensa e perceptiva que a dele, uma visão muito estadunidense, apesar dele ser escocês, que mora e vive em Novyork há muitos e muitos anos. 
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Aqui no Recife, quando vou a primeira vez em algum lugar, às vezes evito ir de bicicleta pois aqui, nunca se sabe se vai ter um lugar pra colocar a bicicleta, então eu vou a primeira vez fazer a sondagem. Além disso, eu noto que os administradores das coisas aqui, dos prédios públicos e privados, eles são carrocratas, e então quando eles vão percebendo aumento na quantidade de motos e de bicicletas estacionadas no prédio "deles" então eles vão tecendo novas leis proibindo isso e aquilo. Parece ser uma delícia ter poder para proibir qualquer coisa. Já vi isso acontecer várias vezes aqui por onde ando. 
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Hoje, indo para a Universidade Rural de bicicleta e olhando o mundo da mesma maneira que David Byrne e Rogério Leite, da mesma maneira que o povo que anda de bicicleta olha. Em Recife, tou notando muito mais gente andando de bicicleta, indo para o trabalho e a escola, com capacete, e muito mais gente com capacete. Penso que isso é fruto dos muitos grupos de pedalar a noite. Vai dando um faniquito nas pessoas e elas aprendem que podem andar de dia também e usar a bici como meio de tranporte. Indo para a universidade hoje, claro, há varias trechos bem engarrafados, com duas fileiras de carros parados e a bicicleta vai passando no meio deles, suave e silenciosa. Quando cheguei no largo do zoológico de Dois Irmãos, em lugar de seguir com os carros, segui na direção tranquila do zoo, e pude parar em uma sombra e olhar um prédio antigo e belo e azul que pertence à companhia de águas. Parei, desci da bici, fotografei. Bicicleta sempre me espanta pela sua capacidade de conectar a gente com a cidade. O caminhar pela cidade também faz isso. Precisamos de cidades mais humanas, mais dedicadas ao cidadão e não ao petróleo e ao carro. Chover no molhado.