Bater perna, flanar, comer

Uma vida não basta para conhecer esta cidade. Ela sempre surpreende e impressiona. Mesmo o já-visto chama para ser visto novamente. E o objeto já-visto em um horário é diferente em outro, o objeto visto em uma estação do ano é diferente em outra. Ruas, igrejas, monumentos mudam ao longo do dia e são diferentes à noite, com a iluminação. Ruas, parques e praças são diferentes na primavera, outono e inverno. Como é possível passar pela enésima vez por Notre-Dame e não se impressionar, e não perceber que há figuras na fachada que nunca se viu ainda? Demônios, reis de Israel e anjos que passaram despercebidos de outras vezes. 

Brincando de morar em Paris (mas o morador de Paris tem que trabalhar, em geral). Acordo, desço para comprar frutas, cereal e croissants. As ruas tem diversas boulangeries (padarias) e pequenos mercadinhos, bares, cafés e restaurantes. Depois do café da manhã, hoje, decidimos sair apenas para flanar, uma das artes parisienses por natureza. A outra importante arte parisiense é a arte de viver em pequenos espaços. Apartamentos, restaurantes, supermercados, tudo é pequeno e apertado. Descemos a Rue Oberkampf e passeamos pelo Marais, chegando ao Hotel de Ville. O Marais é inesgotável, e eu sempre me perco nas ruas labirínticas. Se perder é a melhor maneira de encontrar Paris. 

Chegamos à Notre-Dame e parece que é o primeiro olhar. Mesmo no frio, uma enorme fila para subir e ver as gárgulas. A fila de entrar na igreja, por outro lado, estava grande mas é bastante rápida, em geral. Encontramos uma vila de Natal do outro lado do Sena, flanamos pelas ruas do Quartier Latin. Muitas galerias de arte, algumas com arte contemporânea, mas a maioria com pintura figurativa. Seguimos até Saint-German des Prés, outra vila de Natal, descemos em direção ao Sena, atravessamos o Louvre, passamos pela Rue de Rivoli e seguimos pela Rue Saint Honoré. 

Paris tem algumas ruas muito mais belas e cheias de vida que outras. As minhas ruas preferidas: Saint-André des Arts, Mouffetard, Montorgueil.

Perto da Madeleine, entramos em restaurante, italiano novamente. Uma mesa para dois. O dono perguntou se preferíamos uma mesa ali ou embaixo. Descemos para a cave. Salas de tijolo abobadadas e passagens menores que nossa altura. Não é para claustrofóbicos. Pedimos algumas modalidades de tagliatele e vinho italiano. Quase todo restaurante simples de Paris oferece uma boa comida. Quase não dá para e decepcionar. Comemos bem e voltamos a caminhar. A gente pretendia ir ao Museu Jacquemart-André, mas estava ficando tarde e a exposição de Fra Angelico pede tempo para ser apreciada. Decidimos ir ver as luzes dos grandes magazines, Printemps e Lafayette. Bela iluminação e vitrines e um mundo de gente passando para dar uma olhada.  Começou uma chuvinha fina e persistente, voltamos para nosso apartamento provisório. No caminho de volta, conhecemos a Passage des Panoramas. Paris tem várias passagens que são ruas internas cheias de lojas, galerias internas às edificações, com lojinhas e restaurantes.