Dicas sobre comer e beber na França.

Dicas sobre comer e beber na França.

É muito difícil comer mal na França. Geralmente, em qualquer lugar a comida vai ser boa. Reuni aqui algumas observações que podem ajudar quem vai pela primeira vez para o país. Todas essas observações são do tipo "em geral" e, é claro, que podem acontecer outras e as mais diversas situações.

1 - Em geral, ao chegar em um restaurante, você não deve ir se sentando em qualquer mesa. Deve-se esperar o garçon ("serveur") e pedir uma mesa - para duas, para quatro pessoas, como for. Muitas vezes, o garçon vai perguntar se é para beber ou para comer ("pour boire ou pour manger?"), pois há mesas específicas para uma ou outra situação.

2 - Na França, o menu não se chama menu. O menu se chama "carte". Os pratos estão listados na "carte" e, se quiser ver os vinhos, você pede a "carte des vins".

3 - Todo restaurante tem a obrigação de afixar seus preços em local visível, do lado de fora do estabelecimento. Portanto, você não será surpreendido pelos preços.

4 - Do lado de fora, você encontrará ainda um quadro negro com uma das seguintes opções: o "menu du jour", a "formule du jour" ou o "plat du jour". O "menu du jour" se compõe de entrada + prato principal + sobremesa ("entrée + plat + dessert). A "formule du jour" se compõe de entrada + prato principal ou prato principal + sobremesa, à sua escolha. O "plat du jour" é apenas o prato principal. Essas opções são, em geral, mais baratas que pedir um prato da "carte".

5 - Na França e na Europa em geral, os restaurantes tem a obrigação de servir água gratuitamente. Claro que será água da torneira e também está claro que essa água é boa e potável. Em geral, os garçons trazem logo a água e o pão - ambos gratuitos. Mas o viajante sedento pode ir logo pedindo "un carrafe d'eau", uma garrafa de água. Durante a refeição, você pode pedir mais pão, se quiser, e continua sendo gratuito, e de excelente qualidade.

6 - Os atendentes devem sempre ser chamados de monsieur e madame. Na verdade, todas as pessoas com quem você entrar em contato na França devem ser chamadas de monsieur e madame. Nunca peça nada diretamente, sempre introduza suas perguntas e pedidos com "bonjour, si'l vous plaît monsieur", bom dia, por favor senhor. A educação que falta aos brasileiros é muito apreciada nos países civilizados.

7 - Em relação à comida, eu aconselho o seguinte: se arrisque, experimente de tudo, peça o prato sem mesmo compreender inteiramente do que é feito, experimente as comidas famosas - mesmo que seja para saber que não gosta delas, deixe que a comida seja uma surpresa.

8 - Comidas que quase sempre aparecem nas "cartes": "magret du canard" (peito de pato), "confit du canard" (a carne do pato em conserva), "saumon" (salmão), "daurade" (dourado), "thon" (atum), "jambon" (presunto), "agneau" (cordeiro) e assim por diante. Se você ouviu falar de alguma comida famosa, experimente, peça. Por exemplo, "bouillabaisse" (sopa de peixes), "cassoulet" (feijão branco com porco, pato e linguiça), "boeuf borguignon" (carne de boi cozida). Há também cortes de carnes (assadas) como o "faux fillet" e o "entrecôte". Em geral, todos os restaurantes tem excelentes saladas e deliciosas sobremesas.

9 - Na França, os lugares que servem comida podem se chamar "bistrot", "restaurant", "brasserie" e mais um monte de nomes. Há pequenas diferenças entre eles, mas isso não é uma ciência exata. Em geral, os bistrots são pequenos restaurantes, mais simples, uma comida caseira - e mais baratos. Os "restaurants" são maiores, com maior diversidade de opções e quantidade de mesas - e um pouco mais caros. As "brasseries" são restaurantes populares, grandes e mais baratos que os "restaurants". Mas você pode encontrar pequenos "restaurants" e grandes "bistrots" e todas as combinações possíveis. Como já disse, isso não é uma ciência.

10 - Eu sempre prefiro comer nos pequenos "bistrots" ou "restaurants". O atendimento é mais amigável e mais tranquilo. E de preferência, em ruas menos turísticas, por dentro dos bairros, que é onde os habitantes locais frequentam.

11 - Em geral, a hora do almoço vai de 12h às 13:30h e a hora do jantar vai de 19h às 21:30h. Não adianta chegar depois desses horários que não vai haver almoço ou jantar. É comum ver turistas chegando em restaurantes depois do horário, até mesmo sentando nas mesas, e sendo delicadamente informados de que não serão atendidos. Nas grandes cidades, você pode encontrar um horário mais estendido, especialmente em brasseries.

12 - O vinho. Na minha humilde opinião, a França é o lugar mais descomplicado para se tomar vinho. Vinho bom, barato e sem frescura. Há tanta oferta que, dificilmente, você vai conseguir tomar o mesmo vinho duas vezes. Cada restaurante tem uma carta diferente. Os supermercados tem enormes seções de vinhos. Os pequenos mercadinhos de esquina tem grandes seções de vinhos. Nos bistrots, em geral, se você pedir uma garrafa qualquer, o atendente vai trazer a garrafa, tirar a rolha e deixar que você mesmo se sirva - sem aquele ritual bobo de experimentar primeiro. Nos restaurantes maiores, em geral vai ter o ritual bobo. Mas em qualquer deles, se você é um especialista e acha que o vinho não está adequado, pode devolver sem problemas.

13 - O vinho tinto ("vin rouge") sempre vai vir na temperatura ambiente - mesmo que seja verão ou um dia quente de primavera ou outono. Vinho tinto não é resfriado. O rosé e o branco virão para a mesa resfriados levemente. Mas apenas levemente. Assim como as cervejas que são sempre apenas resfriadas. Gelar os líquidos tira deles o sabor. Em geral, na Europa, nada é muito quente ou muito frio, pois se perde o sabor.

14 - Uma excelente opção de preço e sabor nos restaurantes é pedir um "pichet de vin rouge", por exemplo. O "pichet" é uma jarra de vinho, em geral de meio litro (você pede um pichet de "cinquante", ou seja de cinquenta centilitros, a França usa muito mais o centilitro (cl) do que o mililitro, ml). Pode-se pedir também um "demi pichet", que significa o meio litro. O vinho que vem no pichet é um vinho mais barato, que provavelmente foi comprado em maior quantidade pelos proprietários, às vezes diretamente do produtor em forma de barril ou em caixas. Na minha pouca experiência, bebi muitos pichet du vin rouge e todos eram de boa qualidade. Claro que o pichet é bem mais barato que pedir uma garrafa (une bouteille).

15 - Quanto a pedir ou comprar uma garrafa de vinho, você verá que há infinitas denominações de origem controlada (aoc) que sequer ouvimos falar no Brasil. Nosso conhecimento da produção de vinhos francesa é limitadíssima. Toda região, toda cidade, todo lugarzinho escondido tem sua própria produção. E nós conhecemos apenas uma pequeniníssima parte desse todo. Experimente, se arrisque, é muito difícil encontrar um vinho ruim. Um amigo francês diz que devemos evitar apenas os vinhos que custam (no supermercado) abaixo dos cinco euros. De qualquer modo, boas escolhas são os cotes du rhone, cotes de beaune, minervois, bergerac, bourgogne, bordeaux e etc e etc.

16 - Crepes. Crepe na França se chama "gallete". A galette é feita com trigo sarraceno (sarrasin), escuro, e é salgado - com presunto, queijo e o que mais inventarem. O crêpe é feito com trigo comum, clarinho, e é doce.

17 - Se você cansar da comida francesa, sempre há as casas de massas italianas. Observe que, na Europa, uma pizza é para uma pessoa, cada um escolhe a sua, e geralmente a massa é bem fininha - nada das massas grossas e grosseiras feitas no Brasil.

18 - Se você quiser apenas um café ou copo de vinho (un verre du vin) ou uma cerveja (une bière pression), lembre-se que é mais barato beber no balcão do que nas mesas.

19 - É raro encontrar algo como um self-service na França. Entretanto, se você quiser, em algum momento, encher o bucho, pode experimentar a rede Flunch (só nas grandes cidades francesas). Há vários Flunch em Paris, por exemplo, inclusive um junto ao Centre Georges Pompidou. O Flunch funciona da seguinte forma: você escolhe um tipo de carne, peixe ou ave e os acompanhamentos podem ser repetidos quantas vezes você quiser. Os acompanhamentos são legumes, purê, tomates, batatas fritas, arroz, penne, etc. Se quiser sobremesa, salada, café e vinho, é pago por fora. O sistema é de bandejão: você pega uma bandeja, coloca o que quer, escolhe o prato principal, paga, e depois se serve dos acompanhamentos.

20 - Uma opção semelhante em Paris é o restaurante do BHV. O BHV (Bazar du Hotel de Ville) é uma grande loja que fica junto à prefeitura da cidade (Hotel de Ville). No quinto andar do BHV há um restaurante que funciona em sistema parecido com o do Flunch, mas sem a opção de repetir indefinidamente. A vista do restaurante para o Hotel de Ville é bem legal.

21 - Se você quiser apenas um café com um salgado ou uma torta, procure pelas ruas que sempre há de encontrar estabelecimentos semelhantes a uma pequena padaria das nossas, com pequenas mesinhas e que servem vários tipos de cafés e tortas e pães. Não são padarias, pois as boulangeries (padarias) vendem apenas pão. Pães deliciosos, em geral. Os supermercados, como o Monoprix, por exemplo, vendem comidas prontas e frescas que podem ser aquecidas em um microondas no próprio supermercado e consumidas em balcões, ou em alguma pracinha por perto. É muito comum ver as pessoas comendo em bancos de praça. Se o tempo estiver bom, muita gente faz piqueniques nos parques, praças e margens dos rios (vinho, pães e queijos no cardápio).