terça-feira, 23 de março de 2021

O fim da eternidade, Isaac Asimov, 1955

O fim da eternidade, Isaac Asimov, 1955, 256 páginas, tradução de Susana Alexandria, Aleph. Início: 11/03/2021 – Fim: 22/03/2021. Nota 3 (Bom).  

Uma boa ficção científica sobre viagens no tempo e como pequenas mudanças no passado podem alterar a realidade presente e futura. 



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Asimov faz o leitor entrar já no meio dos acontecimentos, sem saber onde está, em que época, quem são aquelas pessoas. Aos poucos, o leitor vai conhecendo melhor o que fazem aqueles personagens e o que é a Eternidade. As pessoas que trabalham na Eternidade são chamados “os Eternos”, mas eles são seres humanos comuns que envelhecem e morrem. A Eternidade é como uma empresa ou fundação que organiza a vida humana ao longo dos séculos. A Eternidade é como um tubo, de elevador ou de metrô, que conduz o Eterno, por meio de uma cápsula, até qualquer ponto no Tempo, acima e abaixo, ao infinito. Os Eternos vivem nessa estrutura física, com quartos, salas de reunião, escritórios, bibliotecas. 

Os Eternos podem ver e acessar qualquer parte do Tempo e, inclusive, fazer pequenas modificações em determinada situação que vai resultar em grandes alterações no futuro. Não há futuro ou passado para os Eternos: eles denominam tempo-acima e tempo-abaixo. 

A teoria para conseguir esse meio de locomoção através do Tempo foi descoberta no século 24, por um tal de Mallansohn, mas somente no século 27 começaram as viagens no Tempo e a instituição Eternidade. A imensa energia necessária para alimentar essa “estrutura” é obtida por meio do Sol de milhões de anos no futuro, quando a nossa estrela se tornou uma Nova. 

A Eternidade cuida das trocas comerciais entre os séculos e cuida para que a humanidade tenha uma vida melhor, modificando algo em determinado tempo e lugar que vai resultar em um futuro melhor. 

O personagem principal, Andrew Harlan, é um Técnico, aquela pessoa dentro da Eternidade encarregada de fazer a menor modificação possível para obter o melhor resultado possível. Harlan nasceu no século 95, trabalha na estrutura da Eternidade e não pode voltar ao seu século ou ter uma vida normal. 

Harlan “mora” no século 575 (ou seja, na “estação do metrô” da Eternidade com porta para aquele século). Ao fazer um trabalho no século 482, ele conhece Noÿs Lambent e se apaixona pela primeira vez, Daí em diante, a Eternidade começa a degringolar. 

Um bom livro que não dá vontade de largar. Algumas situações são previsíveis. A pior parte é o machismo de Asimov, que não deve ser creditado somente a ele, mas à época em que ele viveu. 

Sempre me espanta que esses caras da FC imaginem tanta situação futurística, viagens espaciais, colonizações, viagens no tempo, mas só consigam imaginar mulheres dependentes e objetos sexuais. Mesmo nesse contexto, Noÿs Lambent consegue ser um pouco menos submissa que outras personagens de FC. 

Resumo. 

Capítulo 1. Técnico. 

Andrew Harlan embarca no século 575 para o século 2456. Ele nasceu no século 95. Ele está executando um plano do qual não sabemos nada. Ele é Técnico na Eternidade, tem 32 anos. Recebido pelo Sociólogo Kantor Voy. O Sociólogo calculou uma MMN, Mudança Mínima Necessária para alterar algum aspecto negativo do futuro que exigia a morte de doze pessoas. Harlan achou uma MMN em que bastava deslocar um recipiente de lugar com o mesmo resultado, a RMD, Resposta Máxima Desejada. Para não revelar o erro de Kantor Voy, Harlan pede um favor em troca: informação sobre um mapeamento de vida e uma mudança de realidade no século 482; isso é irregular. A MMN que Harlan vai fazer é para diminuir a quantidade de viciados; alterando a realidade para que isso aconteça, resulta também que não existirá um determinado tipo de naves espaciais no século 2481. Harlan pediu a Voy o mapeamento da vida de uma certa Noÿs Lambent. Harlan sabe que ele tem o poder de destruir a Eternidade. 

Capítulo 2. Observador. 

Harlan recorda sua formação. Foi escolhido aos 15 anos para ir à Eternidade. Os humanos comuns são chamados de Tempistas porque vivem no Tempo. Na Eternidade, há três classes de “funcionários”, os Aprendizes, os Observadores e os Especialistas. Entre os Especialistas há os Técnicos, os Computadores, os Sociólogos e outros. Depois de passar pela fase de Aprendiz, Harlan foi designado para ser Observador no século 482. Harlan é aficionado por História Primitiva, a história antes da entrada em funcionamento da Eternidade. Ele não gosta do século 482, que é hedonista e matriarcal. Seus relatórios chamam a atenção de um famoso Computador, Labam Twissell, que faz parte do Conselho Temporal. Twissell leva Harlan para ser seu Técnico particular. 

Capítulo 3. Aprendiz. 

Harlan “mora” na Eternidade, na “estação” do século 575. Ele recebe a missão de ensinar o Aprendiz Cooper tudo que for possível sobre História Primitiva. A primeira tarefa de Harlan como Técnico é fazer uma MMN, emperrar a embreagem (!) de um veículo no século 223; isso faz com que uma guerra no século 224 deixe de acontecer. Harlan se sente mal porque personalidades foram modificadas, pessoas morreram antes ou depois do que na realidade anterior, livros não foram escritos; mas a Eternidade guarda cópias desses livros que deixaram de existir. Mallansohn foi o inventor do Campo Temporal. Os Séculos Ocultos são aqueles entre 70 mil e 150 mil. Sem explicação, os Eternos não conseguem entrar nesses séculos. Depois do 150 mil, há diversas formas de vida, mas não há mais humanos. 

Capítulo 4. Computador. 

Há uma crise no século 482 e Harlan é chamado para observar. Ele conhece Noÿs Lambent, uma bela mulher Tempista que trabalha com o Computador Finge. A Eternidade é machista, só homens trabalham lá. Harlan vê a Eternidade como um mosteiro. Finge diz que há um propósito na presença de Noÿs. Ela deixa Harlan abalado. Ele nunca teve uma namorada e antipatiza com ela. Os Eternos podem requisitar uma mulher Tempista “para as finalidades óbvias”. Finge ordena que Harlan vá morar algum tempo na casa de Noÿs para melhor estudar o século 482. 

Capítulo 5. Tempista. 

O século 482 apresenta uma distribuição desigual da riqueza, mas os Eternos não querem corrigir isso. Harlan tenta evitar Noÿs mesmo morando na casa dela. Noÿs fica temerosa porque enquanto passou somente um mês na Eternidade, lá no Tempo se passaram três meses. Harlan também não sabe explicar. Harlan é obrigado a ir a uma festa com Noÿs. Depois, a sós com Noÿs, conversa, bebida, ela tem 27 anos. Uma mulher saindo Tempo traz dez vezes mais probabilidade de distorcer a Realidade. Sexo entre os dois. Harlan acha que descobriu um terrível segredo (?). 

Capítulo 6. Mapeador de vida. 

Um mês depois daquela noite, que é onde começa o primeiro capítulo, Harlan está no 2451. Ele entra no Tempo e muda um recipiente de lugar. No 2486, deixam de existir naves espaciais. Harlan: De que servem as viagens espaciais? Neron Feruque é o Mapeador. Tempistas não sabem sobre as Mudanças de Realidade. Na casa de Noÿs, um mês antes, Harlan com raiva de ter que fazer uma mudança de realidade no século 482 porque Noÿs mudaria, esqueceria dele, ou deixaria de existir. O Mapeador não vê Noÿs na futura Realidade do 482, mas também não a vê na anterior. Mistério. 

Capítulo 7. Prelúdio do crime. 

Harlan envia seu relato para Finge. Este reclama que Harlan não relatou tudo que aconteceu, faltam os “interlúdios” amorosos com Noÿs. Harlan avisa que quer se unir a Noÿs. Finge diz que após a Mudança de Realidade, Noÿs não vai querer saber de Harlan. Os Tempistas do 482 acreditam que os Eternos são realmente eternos, e que as mulheres que se unem aos Eternos se tornam, também, imortais. Por isso, Noÿs teve interesse em se unir a Harlan. Quando houver a Mudança de Realidade, os Tempistas não acreditarão mais nessa bobagem. Harlan e Noÿs foram cobaias naquele experimento. Harlan tenta agredir Finge. Decide cometer um crime para ficar com Noÿs. 

Capítulo 8. Crime. 

Harlan volta ao século 482 e tira Noÿs de lá. Ela percebeu que os Eternos não são eternos, mas fez sexo com ele porque talvez se tornasse imortal, e porque gostou dele e teve peninha. Harlan deixou Noÿs nas instalações do século oculto 111.394; não há Eternos lá, mas tem de tudo para viver. Harlan explicou sobre as Mudanças de Realidade e que elas são necessárias para o bem da humanidade, como por exemplo evitar guerras atômicas. Noÿs não vai mudar porque está fora da próxima mudança no 482. Ele vai descobrir como seria Noÿs no futuro 482 e ela voltaria para lá disfarçada. 

Capítulo 9. Interlúdio. 

Harlan volta ao seu 575. O Computador Twissell diz, misteriosamente, que Harlan acertou na mosca. Harlan sente que Noÿs está ligada aos Séculos Ocultos. Ele procurou uma Mudança que tivesse falha e que ele pudesse usar em uma chantagem. Questionamentos: se alguém é levado para a Eternidade e na Realidade original da pessoa ocorre uma Mudança, vai existir um análogo daquele que foi levado na nova Realidade? Harlan questiona se não estaria em um hospício sonhando com tudo aquilo. Com Noÿs no século oculto; ela diz que ele ficou bom em sexo; ele diz que o mérito é da professora. Harlan foi mais uma vez à casa de Noÿs no 482 e percebeu a presença de outra pessoa. 

Capítulo 10. Encurralado! 

Harlan errou os controles e foi à casa dela duas vezes no mesmo momento; então, ele viu a ele mesmo na casa. Harlan foi ao século 2451 (capítulo 1) para chantagear e conseguir a informação de que Noÿs não existe na nova Realidade do 482. Quando tenta ir para o século oculto onde ela está, a cápsula não passa do cem mil. Harlan vai até Finge e o ameaça. Finge diz que o Conselho Pan-Temporal sabe tudo sobre as atividades ilegais de Harlan, ele estava sendo vigiado. Finge não bloqueou o túnel. 

Capítulo 11. Círculo completo. 

Harlan volta o 575, procura Twissell e não o encontra. Noite difícil: “outros usos para uma mulher em cativeiro”. É acordado para comparecer a uma reunião do subcomitê do Conselho. Perguntas sobre os paradoxos das viagens no tempo. Sennor afirma que a Realidade não permite os paradoxos, não acontecem paradoxos em viagens no tempo. Harlan fica só com Twissell. Diz que descobriu que Mallansohn não poderia ter criado o Campo Temporal no século 24 porque precisaria da matemática do século 27. Deduziu que o Aprendiz Cooper irá ao 24 para ensinar a matemática necessária a Vikkor Mallansohn. Twissell diz que ele chegou bem perto da verdade. O Aprendiz Cooper é Mallansohn. 

Capítulo 12. O início da eternidade. 

Mallansohn deixou memórias, um volume que só poderia ser aberto por Computadores da Eternidade, três séculos depois. As memórias contavam que Cooper, nascido no século 78, treinado em matemática por Twissell, em História Primitiva por Harlan, foi enviado ao 24 para ensinar Mallansohn. Levou dois anos para encontrar Mallansohn; este evoluía lentamente na matemática e morreu. Cooper assumiu a identidade de Mallansohn e construiu o Campo Temporal. Somente três séculos depois foram criadas as equações matemáticas. Um círculo temporal. Nas memórias, Cooper não falava nada sobre as cápsulas de deslocamento na Eternidade. Depois que Cooper partir será a liberdade. Harlan pensa que pode destruir a Eternidade. Vão para uma sala com uma esfera, uma cápsula bem maior que o normal, para levar Cooper. Viagens espaciais são necessárias? Twissell mostra a nova cápsula e a sala de controle. Tranca Harlan na sala de controle. 

Capítulo 13. Além do ponto de partida no tempo-abaixo. 

Cooper irá para o 24, ano 2317. Últimas instruções para Cooper. Harlan se compara a Sansão; ingenuidade do autor. Envia-se a cápsula com Cooper, Twissell acha que tudo funcionou. Mas Harlan queimou os circuitos e enviou Cooper para bem antes do 24. Não haverá mais Eternidade. 

Capítulo 14. O crime anterior. 

Twissell conversa com Harlan no intuito de convencê-lo a ajudar na localização e resgate de Cooper. O Conselho não sabe das ilegalidades cometidas por Harlan, somente Twissell. Este conta seu próprio crime a Harlan: Twissell teve uma mulher no 575, ela ficou grávida, teve um bebê e morreu. Twissell ajudou na criação do bebê, com dinheiro. Viajou no tempo e conheceu o filho com 34 anos. Depois, fez uma Mudança de Realidade e o menino nasceu novamente, mas com deficiências. Culpa. 

Capítulo 15. Busca através do Primitivo. 

A alteração de ter enviado Cooper para o século errado é reversível. Harlan acha que o enviou para 1938. Ele procura algum anúncio nas revistas do século 20 que possa ser um recado de Cooper. Harlan encontra o anúncio, mas exige a presença de Noÿs e fala da barreira nos cem mil. Twissell vai com Harlan e consegue passar do cem mil, não havia barreira. 

Capítulo 16. Os séculos ocultos. 

Twissell imagina que a humanidade evoluída dos séculos ocultos não queiram a interferência dos Eternos e conseguem impedir a entrada e a até a passagem deles. Resgate de Noÿs e voltam para o 575. O anúncio de Cooper contém um desenho de bomba atômica em 1932, anacronismo. Harlan irá com Noÿs resgatar Cooper. 

Capítulo 17. Fechando o círculo. 

Harlan está com a mente perturbada. Preparação para ir ao século 20. Pretendem contactar Cooper pela caixa postal do anúncio. Desembarcam no Primitivo, 1932, junto à caverna de Cooper. Harlan encontra dinheiro deixado por Cooper na caverna. Noÿs percebe que Harlan está mudado. Ele desconfia dela. A barreira dos cem mil condicionou o comportamento dele, a intenção dele de destruir a Eternidade. Foi tudo planejado pelo pessoal dos séculos ocultos. Noÿs pertence aos séculos ocultos. Harlan ameaça bater nela; é chocante isso hoje. Ameaça matá-la “para proteger a Eternidade”, ele que antes pensava em destruir a Eternidade. 

Capítulo 18. O início da infinidade. 

Noÿs diz que ele quer matá-la porque se sente traído. As pessoas do século de Noÿs perceberam a existência da Eternidade e as mudanças provocadas. Sem a Eternidade, haveria o Estado Básico da Realidade. A Eternidade faz mudanças para ter mais segurança. Eles bloquearam os séculos ocultos para não sofrerem as alterações. A humanidade tentou se espalhar pela galáxia, mas o atraso causado pela Eternidade fez com que os planetas já estivessem dominados por outras civilizações. A humanidade definhou. A Eternidade provocou isso, com usa moderação, nada em excesso, segurança. Ao eliminar os desastres, eliminam-se as superações, os triunfos. Sem a Eternidade, a humanidade se desenvolveria e se espalharia pela galáxia com a energia atômica. Noÿs analisou diversas realidades e escolheu a única em havia Harlan. Quer viver com ele em 1932. Filhos e netos e alcançar as estrelas. 

 

Observações: 

Esse final traz duas curiosidades. 

O final demonstra que a Realidade em que vivemos foi alterada por Noÿs e Harlan. Na “Realidade verdadeira”, aquilo que Noÿs chama de “Estado Básico”, a energia nuclear só começou a ser usada no século 30. Noÿs quer fazer uma pequena alteração para que a energia nuclear comece a ser usada em 1945 e, assim, fazer a humanidade evoluir mais rápido para as viagens espaciais. Cabe questionar a falta de ética, ou empatia, do autor, ao sugerir que vale a pena matar centenas de milhares de pessoas em troca de viagens espaciais. 

O outro ponto – que até poderia resultar em uma continuação – é que, além de Harlan e Noÿs, o Aprendiz Cooper também ficou em 1932. E como ele é, também, Mallansohn, ele pode tentar desenvolver o tal Campo Temporal que deu início à Eternidade. Era necessário tapar esse furo na história; imaginar que Harlan e Noÿs tentarão convencer Cooper a não iniciar o Campo Temporal. E se Cooper for um fã da Eternidade, talvez resulte uma luta de vida e morte. 

sexta-feira, 19 de março de 2021

Estamos todos completamente transtornados, Karen Joy Fowler, 2013

Estamos todos completamente transtornados, Karen Joy Fowler, 2013, 331 páginas, tradução de Geni Hirata, Rocco. Início: 07/03/2021 – Fim: 18/03/2021. Nota 2 (Regular). 



Este livro é quase bom, mas os defeitos me fazem classificá-lo como regular. Eu esperava mais do livro. O enredo prometia mais: uma família que criava uma chimpanzé como filha. 

Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Entretanto, há muita dispersão e personagens fracos e antipáticos, como, por exemplo, Harlow. Não é um livro difícil de ler, é agradável e a leitura flui, mas não me prendeu como eu pensava que faria. 

Narrado em primeira pessoa por Rose. Ela foi criada até os cinco anos com uma irmã de mesma idade. Acontece que a irmã era uma chimpanzé. Os pais eram professores universitários e dedicavam-se a estudos com primatas. De repente, sem aviso, a chimpanzé desaparece. De fato, a chimpanzé estava se tornando agressiva – ou acharam isso – e ela foi vendida para um laboratório. Isso desestruturou toda a família, inclusive Lowell, o irmão mais velho de Rose. 

A família fica degringolada para sempre. Paralelamente à história, Rose aproveita para discorrer sobre a maldade com os animais, especialmente em pesquisas e laboratórios. 

Vale a pena a leitura, mas não é indispensável. Não cotejei com o original, mas me pareceu que a tradução tem muitas falhas. 

 

Resumo. 

Parte 1 

Capítulo 1. Harlow faz uma quebradeira na lanchonete da faculdade. Califórnia, 1996. 

Capítulo 2. Rosemary Cooke vai presa com a doida Harlow. O pai e a moça da lanchonete a livram das acusações. A irmã e o irmão dela estão desaparecidos há 17 e 10 anos, respectivamente. 

Capítulo 3. Dia de Ação de Graças em família, em Bloomington, Indiana. A mãe entrega a Rose os diários que escreveu. 

Capítulo 4. A mala com os diários é extraviada. 

Capítulo 5. Com cinco anos, Rose foi mandada para a casa dos avó. Fugiu. 

Capítulo 6. O irmão dela a procurou na Califórnia, mas não a encontrou. Entregaram a ela a mala errada. 

Parte 2 

Capítulo 1. Em 1979, depois da fuga da casa da avó, o pai a leva de volta para a nova casa. A mãe está doente, trancada no quarto. A irmã desapareceu, o irmão está solto pela rua. 

Capítulo 2. O filho favorito. 

Capítulo 3. A mãe está deprimida, a avó cuida mais ou menos da casa. 

Capítulo 4. Rose, Lowell e Russell foram até a antiga casa na fazenda. 

Capítulo 5. A irmã de Rose, Fern, era uma chimpanzé fêmea criada com ela e o irmão, como humana. Russell foi preso por invadir e fazer uma festa na casa da fazenda. 

Capítulo 6. A mãe volta ao normal. Lowell não se conforma com separação de Fern. 

Capítulo 7. Lembranças de Fern. O jardim da infância. 

Parte 3 

Capítulo 1. O impacto da perda de Fern sobre a família. 

Capítulo 2. Psicóloga para Lowell. Dificuldades no jardim da infância.

Capítulo 3. Lowell foge de casa para sempre. Acontece um incêndio criminoso em um laboratório veterinário na Universidade da Califórnia Davis. O FBI procura Lowell. 

Capítulo 4. Com 15 anos, Rose descobre que Fern foi enviada para um laboratório veterinário em Dakota e tratada como um animal. 

Capítulo 5. Rose na faculdade em Davis, sem amigos. Passa mal ao ver o filme “O homem da máscara de ferro”. 

Capítulo 6. Rose pesquisa sobre o incêndio no laboratório veterinário perpetrado por uma Frente de Libertação Animal. Harlow abre a mala errada que havia sido entregue a Rose. 

Capítulo 7. Aula sobre violência aborda o comportamento de chimpanzés e bonobos; Rose sente-se mal. 

Parte 4 

Capítulo 1. Em 2012, Rose pesquisa sobe chimpanzés criados com humanos. 

Capítulo 2. Rose vai para a farra com Harlow e Reg, muito álcool e pílulas. 

Capítulo 3. Flashes da noite de farra;; é levada para a delegacia. 

Capítulo 4. Em casa, ainda “ligada”, Rose recorda a noite em que Lowell a levou para conhecer o jardim de uma mansão. 

Capítulo 5. Rose sai para procurar a bicicleta e o boneco de ventríloquo que perdeu na farra. Enquanto isso, Lowell vai à casa dela e sai para comer crepe com Harlow. 

Capítulo 6. Rose encontra Lowell e Harlow na creperia. Em casa, Lowell passa a noite com Harlow. De madrugada, vai com Rose para um café. 

Capítulo 7. Quando fugiu de casa, Lowell foi ver Fern no laboratório veterinário em Dakota. Ela havia sido vendida para outra universidade. Foi um desastre. 

Parte 5 

Capítulo 1. Lowell conta que Rose obrigou os pais decidirem entre Fern e ela. Rose não se lembrava disso. Lowell vai embora. 

Capítulo 2. O irmão pareceu um pouco maluco. Instável. 

Capítulo 3. Lowell contou sobre experiências e tratamentos terríveis com animais. Nota ruim na prova de Sosa. 

Capítulo 4. Rose conta a Harlow que Lowell é um terrorista doméstico em defesa dos animais. Rose é levada para uma delegacia. 

Capítulo 5. Isolada em uma cela, Rose começa a lembrar o que aconteceu entre ela e Fern. 

Capítulo 6. Rose pegou um gatinho que mamava na mãe e deu a Fern. Fern estraçalhou o gatinho. Rose correu para chamar Lowell. Não encontraram mais nem a mãe nem os outros gatinhos. Rose disse a sua mãe que estava com medo de Fern. A macaca foi levada embora. 

Capítulo 7. Rose foi solta. Havia sido presa porque Harlow e Ezra arrombaram o laboratório de primatas da universidade. 

Parte 6 

Capítulo 1. Natal com os pais. Conta sobre o reencontro com Lowell e a culpa pela separação de Fern. 

Capítulo 2. Pais de Harlow. Visita Ezra na prisão. 

Capítulo 3. Namoro breve com Reg. Morte do pai em 1998. 

Capítulo 4. Recupera os diários da mãe. 

Capítulo 5. Diários da mãe são publicados, lembranças da infância das duas. Rose em 2012, mora em Dakota do Sul com a mãe e perto de Fern, que está no Centro de Comunicação de Primatas. Rose é professora de jardim da infância e visita o Centro com alunos, frequentemente. Fern aparentemente reconheceu Rose e a mãe; ela é a líder do grupo de seis chimpanzés. O Centro necessita sempre de dinheiro. Os diários, como livro para crianças, arrecada dinheiro para o Centro. 

Capítulo 6. Incertezas sobre a memória dos chimpanzés. 

Capítulo 7. Lowell foi preso como terrorista, ele pretendia um ataque ao Sea World; sua cúmplice fugiu; ele está incomunicável há três meses. O livro termina com a recordação da primeira visita de Rose a Fern, no Centro, a troca de sinais e de olhares entre as duas.

quinta-feira, 18 de março de 2021

Doze contos peregrinos, Gabriel García Márquez, 1992

Doze contos peregrinos, Gabriel García Márquez, 1992, 256 páginas, tradução de Eric Nepomuceno, Record. Lido entre 24/02/2021 e 03/03/2021. Nota 3 (Bom). 

Não é dos melhores GGM, mas vale a pena. O prólogo é muito bom porque conta da elaboração das histórias, do ofício de escrever, além de narrar um sonho belo e angustiante de GGM. Quanto aos contos, a maior parte é boa, alguns são excepcionais, uns poucos são irrelevantes. O resultado é uma obra irregular, de muitos altos e alguns baixos. Às vezes, dá a impressão de um ajuntamento aleatório de papéis guardados. 

Entretanto, os contos excelentes fazem valer a pena a leitura.



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Resumo dos contos.

Boa viagem, senhor presidente. Genebra. É um conto que não se decide entre contar a história do velho ex-presidente deposto ou do casal de imigrantes Homero Rey e Lázara. É injusto que o casal dispense o maior cuidado ao ex-presidente, como a um filho, e não seja, de algum modo, recompensado. A escolha dos nomes, Homero e Lázara, é de certo modo óbvia, porque o ex-presidente faz uma longa viagem de ida e volta, Odisséia, e tenta a ressuscitação em seu país natal. 

A santa. Muito bom. Roma. A história do pai que passa a morar em Roma para conseguir a canonização da filha. A menina morrera aos sete anos e, onze anos depois, o corpo continuava intacto e, o mais fantástico, sem peso. 

O avião da bela adormecida. No avião entre Paris e Nova York. É uma espécie de leve homenagem ao livro de Kawabata, “A casa das belas adormecidas”. 

Me alugo para sonhar. Havana, Viena e Barcelona. História de uma mulher que é contratada para sonhar e interpretar os próprios sonhos. Pablo Neruda a conhece e sonha com ela; no sonho dele, ela está sonhando com Neruda. A mulher conta ao narrador que sonhou com Neruda e que, no sonho, Neruda sonhava com ela. Referências a Borges. 

Só vim telefonar. Muito bom e tristíssimo. Barcelona. O carro da personagem quebrou e ela vai a um lugar tentar telefonar. O lugar é um hospício; a mulher é confundida com uma paciente e é internada. 

Assombrações de agosto. Arezzo. Irrelevante. Faz pensar em Poe. 

Maria dos Prazeres. Muito bom. Barcelona. História de uma velha prostituta que se prepara para a morte. A mulher é brasileira amazonense e o final é surpreendente. 

Dezessete ingleses envenenados. Mediano. Nápoles. Uma velha e piedosa senhora vinda da América Latina, meio perdida em Nápoles, quer ir à Roma ver o papa. O final é angustiante pois a situação da senhora não se conclui. 

Tramontana. Fraco. Barcelona e Cadaqués. O vento tramontana deixa as pessoas loucas. Duas mortes acontecem devido ao vento. 

O verão feliz da senhora Forbes. Mediano. Ilha de Pantelana na Sicília. Dois irmãos aos cuidados de uma governanta nazista. A governanta inferniza a vida dos irmãos com disciplina férrea, embora seja uma hedonista. 

A luz é como a água. Muito bom. Madri. Conto absolutamente fantástico. Crianças que navegam na luz. 

O rastro do teu sangue na neve. Muito bom e tristíssimo. Paris A viagem de núpcias se torna tragédia; o jovem marido, infantil e infantilizado, perdido frente às circunstâncias que não sabe enfrentar. Desencontros, acasos terríveis. O fantástico de um ferimento de espinho de rosa que não para de sangrar.

terça-feira, 16 de março de 2021

Antônio e Cleópatra, William Shakespeare, 1607

Antônio e Cleópatra, William Shakespeare, 1607, 174 páginas, tradução de Beatriz Viégas-Faria, L&PM. Início: 09/03/2021 – Fim: 12/03/2021. Nota 3 (Bom). 



A história de Otávio, Antônio e Cleópatra, na visão romantizada de Shakespeare. 

A peça retrata a época em que o império romano era governado pelo triunvirato composto por Antônio, Otávio e Lépido. 

Antônio dominava a parte oriental do império romano e vivia com Cleópatra no Egito. A mulher de Antônio, Fúlvia, iniciou uma guerra contra Otávio, em Roma, querendo atrair Antônio de volta. Fúlvia perdeu a guerra e morreu doente pouco depois. Antônio volta a Roma para negociar com Otávio (o futuro Augusto César). Como sinal de reconciliação entre ambos, Antônio aceita se casar com a irmã de Otávio, Otávia. O casamento dura oito anos. Mas Otávio e Antônio se desentendem novamente, e Antônio vai de vez para os braços de Cleópatra, abandonando Otávia. 

Otávio inicia uma campanha militar contra Antônio. Na Grécia, durante a batalha naval de Áccio, Cleópatra foge do confronto com a frota egípcia e Antônio, enlouquecido, vai atrás dela em seu navio, abandonando sua frota e seu exército no fragor da batalha. 

Otávio se dirige ao Egito para combater o casal de amantes. Durante as batalhas, Antônio se mata. Cleópatra iria ser levada em triunfo por Otávio, mas ela se mata antes.



A peça reconta fatos históricos, embora ainda hoje restem dúvidas sobre alguns pontos. De todo modo, um defeito da peça é fazer parecer que tudo aquilo aconteceu em sequência, de forma rápida e encadeada. Não foi assim; por exemplo, Antônio ficou casado com Otávia durante oito anos, e Otávio só foi ao Egito um ano depois da batalha de Áccio. 

Para mim, o que mais se destaca na peça é a ambiguidade de Cleópatra e a instabilidade emocional e a flutuação de emoções de Antônio. Em dado momento, Cleópatra é um rouxinol para Antônio; no momento seguinte, é uma rameira. A Cleópatra da peça é ambígua quando a tragédia se aproxima: parece gostar de Antônio e, ao mesmo tempo, parece tentar se salvar da catástrofe. 

Como sempre acontece em Shakespeare, a peça tem diversos momentos cômicos e sarcásticos, principalmente ligados ao personagem Enobarbus, auxiliar de Antônio. Apesar das falas irônicas, Enobarbus tem um final trágico: ele deserta das tropas de Antônio, passa-se para o lado de Otávio, mas se arrepende e se mata. 

Antônio revela-se um personagem fraco, um indivíduo que não consegue se desvencilhar da paixão excessiva por Cleópatra. O ponto mais baixo de sua trajetória é abandonar seus comandados durante a batalha de Áccio para seguir a egípcia. 

Um dos trechos mais curiosos da peça acontece quando o Bardo fala da própria peça. Ao descobrir que será levada prisioneira para ser exibida em triunfo por Otávio em Roma, Cleópatra diz a uma de suas servas: 

“Cleópatra: Agora, Iras, o que pensas disso? Tu, uma boneca egípcia a ser exibida em Roma tanto quanto eu. Escravos, trabalhadores quaisquer, de aventais gordurosos, réguas e martelos irão nos erguer no ar para que todos nos vejam. No mau hálito deles, vamos sentir o cheiro de comida barata; seremos obrigadas a respirar naquela nuvem quente do bafo dos plebeus que nos cercam. 

Iras: Que os deuses não permitam uma coisa dessas! 

Cleópatra: Não, Iras, isso é certo. Litores lascivos e insolentes vão pensar que somos rameiras, e maus poetas vão escrever baladas ruins sobre nós. Os bons comediantes, de improviso, põem nossa história no palco e apresentam “Orgias de Alexandria”. Antônio será representado bêbado, e eu vou assistir à Cleópatra esganiçada de um rapazote, toda a minha majestade em pose de puta.” 

 

Resumo.

 

Ato 1

 

Cena 1. Egito. Antônio ignora mensagens de Roma, fascinado por Cleópatra. Ela demonstra raiva por ele e pela esposa dele.

 

Cena 2. Egito. Brincadeiras entre os servos. Antônio recebe a mensagem de que Sexto Pompeu ameaça o triunvirato e de que Fúlvia morreu, e decide voltar à Roma.

 

Cena 3. Egito. Antônio comunica a Cleópatra a necessidade da viagem.

 

Cena 4. Roma. Otávio e Lépidus preocupam-se com Pompeu e com a ausência de Antônio, enfeitiçado pela cigana. “Antônio não pode de modo algum desculpar-se por seus estigmas quando somos nós que suportamos todo o peso de sua leveza.”

 

Cena 5. Egito. Cleópatra recebe notícias de Antônio.

 

Ato 2

 

Cena 1. Sicília. Pompeu e Menas discutem sobre o confronto com Roma. “Ignorantes de quem somos, muitas vezes nós imploramos pelo que nos será danoso, coisa que as forças sábias nos negam para nosso próprio bem; então descobre-se que saímos lucrando ao não serem atendidas as nossas preces.”

 

Cena 2. Roma. Antônio e Otávio esclarecem os conflitos entre eles. Lépidus é mero acompanhante. Acerta-se o casamento de Antônio com Otávia, irmã de Otávio. Sobre Cleópatra: “Sabe-se que as coisas mais vis tornam-se atraentes nela, e os santos sacerdotes abençoam-na quando ela se mostra uma devassa.”

 

Cena 3. Roma. Um adivinho alerta Antônio sobre o perigo de ficar junto a Otávio César.

 

Cena 4. Roma. Lépidus se despede de generais que vão para o combate.

 

Cena 5. Egito. Cleópatra é informada acerca do casamento de Antônio.

 

Cena 6. Sicília. Acordo entre o triunvirato e Pompeu: este fica com a Sicília e a Sardenha e pagará um tributo a Roma.

 

Cena 7. Sicília. Comemoração no barco de Pompeu. Todos bêbados, cantam e dançam.

 

Ato 3

 

Cena 1. Ventídio derrota os partos.

 

Cena 2. Roma. Despedida de Antônio e Otávia que partem para Atenas.

 

Cena 3. Egito. Mensageiro descreve Otávia para Cleópatra, caprichando nos defeitos.

 

Cena 4. Atenas. Otávia vai para Roma intermediar as brigas entre Otávio e Antônio.

 

Cena 5. Atenas. Notícias de que Otávio derrotou Pompeu e aprisionou Lépidus.

 

Cena 6. Roma. Otávio recebe a irmã e diz que ela foi rejeitada por Antônio, que se reuniu à rameira do Egito e prepara-se para combater contra Roma.

 

Cena 7. Áccio. Antônio e Cleópatra combatem Otávio no mar. Antônio foi aconselhado a lutar em terra.

 

Cena 8 e 9. Áccio. Ordens para os combates.

 

Cena 10. Áccio. Cleópatra foge com seus navios e Antônio a segue. “Nunca antes se violou assim a experiência, a virilidade, a honra!”

 

Cena 11. Egito. Antônio apresenta variações de comportamento. Perdeu o rumo e a honra, mas pede amor, vinho e comida.

 

Cena 12. Otávio manda dizer a Cleópatra que a privilegiará desde que expulse ou mate Antônio.

 

Cena 13. Antônio diz a Otávio que quer um combate singular. Um mensageiro de Otávio explica a proposta dele para Cleópatra; ela parece aceitar. Antônio vê parte da cena e manda açoitar o mensageiro. Antônio elogia Otávia, “joia rara de mulher” e arrepende-se de estar com a rameira. Muda de humor e quer festejar com Cleópatra.

 

Ato 4

 

Cena 1. Otávio prepara o exército para a batalha.

 

Cena 2. Antônio e suas flutuações de humor. Festa e vinho.

 

Cena 3. Alguns soldados desertam de Antônio.

 

Cena 4. Antônio veste-se para a batalha.

 

Cena 5. Enobarbo desertou e Antônio envia para ele as arcas e tesouro que deixou.

 

Cena 6. Otávio ordena que os desertores sejam colocados na frente do exército. Enobarbo recebe seu tesouro e envergonha-se.

 

Cena 7. As tropas de Antônio se saem melhor na batalha.

 

Cena 8. Antônio volta para a cidade e comemora com Cleópatra, seu “rouxinol”.

 

Cena 9. Enobarbo se mata.

 

Cena 10. A batalha agora se desenrola em terra e no mar.

 

Cena 11. Otávio orienta o exército.

 

Cena 12. Antônio mostra valentia e depois desanima. Vê a esquadra se entregar a Otávio, por causa da “egípcia imunda”, “puta, três vezes puta”. Diz que “a bruxa tem que morrer, ela me vendeu ao jovem romano”.

 

Cena 13. Cleópatra se tranca no mausoléu e manda dizer a Antônio que se matou.

 

Cena 14. Antônio tenta se matar, mas fica agonizando. Recebe o aviso de que Cleópatra está viva e é levado até ela.

 

Cena 15. Antônio morre e Cleópatra pensa em se matar.

 

Ato 5

 

Cena 1. Otávio é avisado da morte de Antônio, que lamenta, e manda avisar a Cleópatra que o destino dela será decidido com honra e cortesia.

 

Cena 2. O enviado de Otávio evita que Cleópatra se mate. Otávio visita Cleópatra. Ela entrega a Otávio uma lista de seus tesouros, mas descobre-se que ela escondeu a outra metade. Ela descobre que será levada como uma presa do triunfo de Otávio. Cleópatra diz que sua história será encenada no palco, com toda a sua majestade em “pose de puta”. Um camponês traz um cesto com serpentes para a rainha. Cleópatra se mata, suas ajudantes também. Antônio prepara o funeral dos dois.

sábado, 6 de março de 2021

Livro de Josué, Bíblia de Jerusalém

Livro de Josué, Bíblia de Jerusalém, 33 páginas, 24 capítulos, Paulinas. Início: 08/02/2021 – Fim: 03/03/2021.



O livro de Josué encerra o ciclo da história dos hebreus desde o início até a invasão das terras de Canaã. A narrativa contada nos cinco livros do Pentateuco somente se encerra aqui, em Josué; de fato, fala-se até em um Hexateuco, incluindo Josué.

Moisés morre antes da invasão de Canaã. Josué, sucessor de Moisés é quem lidera o povo nômade durante a invasão e a fixação naquelas terras. 

De forma geral, o que se apreende dos seis livros é a origem do mundo e dos israelitas, o pacto de Iahweh com aquele povo, e a fixação no Egito (Gênesis); a saída do Egito e a vida nômade em terras difíceis, desérticas (Êxodo); recenseamentos, agruras, pestes e deslocamentos do povo nômade, e a enxurrada de novas e antigas normas (Levítico e Números); uma condensação das novas leis e rememoração da trajetória nômade, e a preparação para a invasão de Canaã, com a morte do líder (Deuteronômio); e por fim, a invasão, as carnificinas, a divisão das terras e a fixação do povo nômade na terra invadida (Josué). 

A mitologia dos hebreus tenta justificar os massacres, a carnificina, a invasão, as guerras, por meio da lenda de que um deus (o deus dos deuses) concedeu terras mais férteis ao povo nômade. De fato, aquele povo nômade cresceu o olho nas terras férteis de outros povos e, depois de muito penar como pastores, invadiram com fúria sanguinária a terra de Canaã. Eles tentaram antes, pelo sul (Êxodo) e não conseguiram, então conseguiram pelo oeste, cruzando o rio Jordão. 

As pestes e doenças também são explicadas por meio da mitologia: há uma peste, é porque o povo errou feio com o deus; daí, seguem-se rituais e incensos. Quando a peste acaba por motivos naturais, é claro que foi intercessão do deus. Da mesma forma, normas básicas de higiene são justificadas como mandamentos divinos. Também as derrotas nas batalhas são castigo por erros cometidos. Tudo simplório, comum em povos semicivilizados. 

Em Josué, os tópicos mais curiosos são os seguintes: 

- ao final da campanha militar, Iahweh não cumpriu a promessa de dar todas as terras. Iahweh havia definido bem definidozinho, em Êxodo, as terras que pertenceriam aos hebreus. Todavia, as terras que eles ocuparam foram muito menos que o prometido. 

- o povo desobedeceu em tudo as ordens mosaicas e de Iahweh: fez pactos com povos de Canaã e não destruiu-exterminou toda a gentalhada – na visão de Iahweh – que ocupava aquelas terras. 

- as estratégias militares de Israel são bem descritas: o cerco, o falso ataque e uma armadilha, os ataques aos cavalos para enfraquecer os inimigos. 

- eu desconhecia a lenda de que Iahweh também abriu as águas do Jordão para que os israelitas passassem. A lenda deve ter surgido para reforçar o papel de Josué como sucessor de Moisés. 

- algumas tribos israelitas denominam Iahweh de “deus dos deuses’, o que indica a aceitação de um politeísmo ao modo grego, Iahweh como um tipo de Zeus. 

- a reunião das tribos que Josué promove antes de morrer: as tribos deveriam decidir se ficavam com Josué e adoravam a Iahweh, ou se iam para outros deuses. É tão “moderna” e inusitada essa liberdade de culto.

 

Resumo. 

Depois da morte de Moisés, o povo de Israel acampa na margem do rio Jordão antes de iniciar a travessia e invadir Canaã. É uma invasão, é guerra e violência. As tribos israelitas de aquém Jordão têm a obrigação de ajudar na invasão. 

Josué enviou dois espiões a Jericó. Ele foram acolhidos pela prostituta Raab que os escondeu dos guardas do rei de Jericó. Ela combinou de salvá-los desde que Israel a poupasse, com sua família, quando da invasão. A fama violenta de Israel precedia a invasão. 

Na margem do Jordão. A Arca segue na frente, entra no rio e o rio para de correr: uma massa de água se acumula rio acima. O povo atravessa o rio sem água. Iahweh ordenou recolher doze pedras do leito seco do Jordão. Enquanto a Arca ficou no rio, a água ficou retida acima. Israel possuía quarenta mil guerreiros armados. 

Israel acampou a leste de Jericó. As doze pedras foram erigidas: um lugar de culto e de memória. O lugar se chamava Guilgal, “círculo de pedras”. 

Os povos de Canaã temem os israelitas. Em Guilgal, faz-se a circuncisão do povo e uma Páscoa; eles comem os frutos da terra e finda o maná. Teofania: Josué vê o “chefe do exército de Iahweh” com a espada desembainhada. 

Cerco a Jericó. Descrição simbólica do sítio à cidade. Sete sacerdotes com a Arca e sete trombetas e todo o povo contornam a cidade fortificada durante seis dias. No sétimo dia, contornam a cidade sete vezes, emitem um grito de guerra e “as muralhas caem”. De fato, um cerco desses leva muito tempo, meses até. Não há registro arqueológico de que as muralhas de Jericó tenham caído nessa época. Invasão de Jericó. 

Tudo foi destruído, assassinato de todos os habitantes, exceto Raab e sua família. É uma evidente desobediência à ordem que Iahweh deu a Moisés: quando entrassem em Canaã, matassem todos. Os espiões não teriam autorização para fazer combinações. Ouro, prata e bronze e objetos anexados ao tesouro de Iahweh (na verdade, tesouro dos sacerdotes porque Iahweh não precisa de ouro e prata). 

Um certo Acã ficou com objetos valiosos para si. O povo foi castigado quando Josué mandou uma tropa de três mil guerreiros para lutar contra o povo da localidade de Hai e a tropa perdeu a batalha. Josué fez um escarcéu enorme com Iahweh (ai, por que fomos derrotados, ai, ai, ai). Iahweh ordenou descobrir quem ficou com objetos do tesouro e queimá-lo. O povo pegou Acã e sua família, apedrejou e matou a todos. Seria Acã realmente culpado? E matar toda a família é justo para Iahweh? Foi erigido um monte de pedras sobre os restos mortais de Acã e sua família. 

Há diversas incoerências de quantidade. Relata-se que Josué enviou trinta mil guerreiros contra Hai, depois fala-se em cinco mil. Inicialmente, dizia-se que Hai era pequena e fácil de derrotar; no fim, mataram doze mil em Hai. 

A estratégia de Josué contra Hai foi atacar com um pequeno grupo, fugir para ser perseguido, outra parte maior de guerreiros invadem e queimam Hai e os dois grupos apertam os guerreiros de Hai no meio. Mataram todos, destruíram tudo, enforcaram o rei de Hai. 

Depois da carnificina, como sempre: orações, um altar para Iahweh, leitura do Deuteronômio, blá-blá-blá. Iahweh gosta de carnificina e os israelitas são um povo sanguinário e violento. 

Assustados, os povos de Canaã iniciam uma coalizão contra Israel. Israel faz um pacto com Gabaon, contra as recomendações da lei de Moisés de não fazer pacto com nenhuma tribo de Canaã. Para disfarçar, os líderes de Israel dizem que foram ludibriados por Gabaon. Um grupo se fez passar por mensageiros de um povo distante e fez o pacto; depois se descobriu que eles eram dali, vizinhos, o povo de Gabaon. Boa desculpa. 

Cinco reis se unem contra Gabaon Jerusalém, Hebron, Jarmut, Laquis, Eglon. Parece Senhor dos Anéis. Os reis sitiaram Gabaon. Israel acorreu em socorro de Gabaon, marchou à noite e atacou de surpresa, e derrotou os cinco reis. Para ter mais tempo de batalha, Josué ordenou que o sol parasse de se mover. Iahweh “obedeceu” a Josué, está escrito. 

Descreve-se então as cidades conquistadas pelo sanguinário povo de Israel: Maceda, Lebna, Laquis, Gazer, Eglon, Hebron, Dabir, que são cidades do sul. 

Formou-se uma coalizão das cidades do norte, com um exército numeroso como areia na praia, com cavalos e carros de combate, comandados pelo de rei de Hasor. Israel venceu mesmo sem dispor de cavalos e carros porque conseguiu cortar os jarretes dos cavalos e queimar os carros. (Escavações arqueológicas mostram que a cidade de Hasor foi incendiada e destruída). Conquista de Hasor, extermínio, morticínio, guerra sem paz. 

Terminou a conquista e “a terra descansou da guerra”. Várias terras não foram conquistadas, ao contrário do que disse Iahweh. Os filisteus, por exemplo, não foram derrotados. O filisteus eram povo marítimo, velejadores, ocupavam o litoral e eram inimigos permanentes de Israel. 

Hebron foi designada para Caleb, ele a conquistou. Os enacim, povo de alta estatura foram derrotados. Hebron se chamava Cariat-Arbe e era dividida em quatro bairros de acordo com os clãs. Caleb tinha 85 anos quando conquistou Cariat-Arbe e Cariat-Séfer (ou Dabir). Otoniel comandou o ataque a Dabir e casou com Acsa, filha de Caleb. 

As ordens de Moisés não foram seguidas e várias tribos não foram expulsas de Canaã. Josué ordenou que a tribo de José desmatasse a encosta de uma montanha, para ocupá-la e conquistar as terras dos cananeus, povo mais forte e que dispunha de carros de ferro. 

Divisão das terras entre as tribos. Terras para Josué: a cidade de Tamnat-Saará na montanha de Efraim. Novamente, as especificações sobre as cidades de refúgio. Estabelecem-se cidades para os levitas. 

O versículo 21, 43 é mentira porque diz que Iahweh entregou todas as terras que prometeu. Ora, diversos povos, por exemplo os filisteus, jamais foram conquistados. Os israelitas não obtiveram todas as terras que Iahweh e Moisés prometeram. 

Os guerreiros das tribos de além Jordão (Rubens, Gad e Manassés) foram autorizados a voltar para suas terras. No retorno, eles construíram um altar na margem do Jordão. Israel se preparou para uma guerra contra eles porque era proibido fazer esse altar. Só poderia haver um altar. Rubens, Gad e Manassés dizem que Iahweh é o “deus dos deuses”, um evidente politeísmo, e explicam que não era um altar para holocaustos, era somente um altar “memorial”, um altar testemunho, E acalmam-se os ânimos. 

Josué velho faz um discurso com aquele teretetei de sempre, o Egito, Moisés, o deserto. Discurso contraditório porque diz que ainda restam tribos inimigas a expulsar mas também afirma que Iahweh entregou tudo o que prometeu. 

Depois, Josué promove uma esquisita reunião das tribos em Siquém: é para escolher se as tribos vão acompanhar o povo de Josué e ficar com Iahweh ou se vão escolher outros deuses. Que bom que havia essa opção. Cuidado, diz Josué, Iahweh é um deus ciumento. As tribos não têm medo e confirmam que vão ficar com Iahweh. 

Josué, sucessor de Moisés, morre aos 110 anos, enterrado em Tamnat-Saará. Morre o sacerdote Eleazar, filho de Aarão. Enterram-se os ossos de José. Encerra-se o ciclo do Êxodo.