Lispector & Woolf

Isabel Castellar:

No conto “A imitação da rosa”, do livro “Laços de família”, Lispector, Clarice, percebe-se que a personagem principal, uma mulher, teve algum tipo de crise, da qual se recuperara e, naquele momento, “as pessoas felizmente ajudavam a fazê-la sentir que agora estava “bem”.” Ela achava contraditórios os conselhos do médico porque, por um lado, dizia que não deixasse o estômago vazio, isso causa ansiedade, tomasse um copo de leite entre as refeições, o que ela fazia religiosamente, mesmo sem ansiedade; por outro, o médico dizia que não forçasse nada, que tudo viria com naturalidade; então, ela tentava tomar o copo de leite obrigatório com naturalidade. No entanto, a contemplação de um buquê de rosas fez a “crise” voltar, aquele “algo” voltou, e ela disse ao marido “não pude impedir”, e ela se tornou “luminosa e inalcançável”, “alerta e tranquila como num trem. Que já partira.”

E eu pensei: “a vida de esposa e dona de casa é mesmo enlouquecedora”.

Curiosamente, em Mrs. Dalloway, Woolf, Virginia, a gente encontra o personagem Septimus, que “havia dito: ‘Vou me matar’, e isso era algo horrível de se dizer.” A mulher de Septimus não quer que o vejam, eles estão na rua, e o leva para um parque, porque “é melhor esconder o fracasso.” Passa um avião e a mulher: “Veja, Septimus, veja!, exclamou. Pois o dr. Holmes havia recomendado que procurasse desviar a atenção do marido (que no fundo não tinha nada de grave e estava só um pouco descompensado) para coisas que o afastassem de suas preocupações.” Acontece que todas as árvores, folhas e galhos estavam iluminados e acenavam para Septimus. Todavia, ele não queria enlouquecer, ele tentava fechar os olhos para não ver mais nada e não conseguia. E a esposa não aguentava mais: “Para ela , melhor seria que ele estivesse morto! Não conseguia ficar sentada a seu lado quando ele ficava com esse olhar tão fixo, sem vê-la, que tornava tudo terrível”.

E eu pensei: “a vida de maridos e esposas é mesmo enlouquecedora”.