sexta-feira, 19 de março de 2021

Estamos todos completamente transtornados, Karen Joy Fowler, 2013

Estamos todos completamente transtornados, Karen Joy Fowler, 2013, 331 páginas, tradução de Geni Hirata, Rocco. Início: 07/03/2021 – Fim: 18/03/2021. Nota 2 (Regular). 



Este livro é quase bom, mas os defeitos me fazem classificá-lo como regular. Eu esperava mais do livro. O enredo prometia mais: uma família que criava uma chimpanzé como filha. 

Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Entretanto, há muita dispersão e personagens fracos e antipáticos, como, por exemplo, Harlow. Não é um livro difícil de ler, é agradável e a leitura flui, mas não me prendeu como eu pensava que faria. 

Narrado em primeira pessoa por Rose. Ela foi criada até os cinco anos com uma irmã de mesma idade. Acontece que a irmã era uma chimpanzé. Os pais eram professores universitários e dedicavam-se a estudos com primatas. De repente, sem aviso, a chimpanzé desaparece. De fato, a chimpanzé estava se tornando agressiva – ou acharam isso – e ela foi vendida para um laboratório. Isso desestruturou toda a família, inclusive Lowell, o irmão mais velho de Rose. 

A família fica degringolada para sempre. Paralelamente à história, Rose aproveita para discorrer sobre a maldade com os animais, especialmente em pesquisas e laboratórios. 

Vale a pena a leitura, mas não é indispensável. Não cotejei com o original, mas me pareceu que a tradução tem muitas falhas. 

 

Resumo. 

Parte 1 

Capítulo 1. Harlow faz uma quebradeira na lanchonete da faculdade. Califórnia, 1996. 

Capítulo 2. Rosemary Cooke vai presa com a doida Harlow. O pai e a moça da lanchonete a livram das acusações. A irmã e o irmão dela estão desaparecidos há 17 e 10 anos, respectivamente. 

Capítulo 3. Dia de Ação de Graças em família, em Bloomington, Indiana. A mãe entrega a Rose os diários que escreveu. 

Capítulo 4. A mala com os diários é extraviada. 

Capítulo 5. Com cinco anos, Rose foi mandada para a casa dos avó. Fugiu. 

Capítulo 6. O irmão dela a procurou na Califórnia, mas não a encontrou. Entregaram a ela a mala errada. 

Parte 2 

Capítulo 1. Em 1979, depois da fuga da casa da avó, o pai a leva de volta para a nova casa. A mãe está doente, trancada no quarto. A irmã desapareceu, o irmão está solto pela rua. 

Capítulo 2. O filho favorito. 

Capítulo 3. A mãe está deprimida, a avó cuida mais ou menos da casa. 

Capítulo 4. Rose, Lowell e Russell foram até a antiga casa na fazenda. 

Capítulo 5. A irmã de Rose, Fern, era uma chimpanzé fêmea criada com ela e o irmão, como humana. Russell foi preso por invadir e fazer uma festa na casa da fazenda. 

Capítulo 6. A mãe volta ao normal. Lowell não se conforma com separação de Fern. 

Capítulo 7. Lembranças de Fern. O jardim da infância. 

Parte 3 

Capítulo 1. O impacto da perda de Fern sobre a família. 

Capítulo 2. Psicóloga para Lowell. Dificuldades no jardim da infância.

Capítulo 3. Lowell foge de casa para sempre. Acontece um incêndio criminoso em um laboratório veterinário na Universidade da Califórnia Davis. O FBI procura Lowell. 

Capítulo 4. Com 15 anos, Rose descobre que Fern foi enviada para um laboratório veterinário em Dakota e tratada como um animal. 

Capítulo 5. Rose na faculdade em Davis, sem amigos. Passa mal ao ver o filme “O homem da máscara de ferro”. 

Capítulo 6. Rose pesquisa sobre o incêndio no laboratório veterinário perpetrado por uma Frente de Libertação Animal. Harlow abre a mala errada que havia sido entregue a Rose. 

Capítulo 7. Aula sobre violência aborda o comportamento de chimpanzés e bonobos; Rose sente-se mal. 

Parte 4 

Capítulo 1. Em 2012, Rose pesquisa sobe chimpanzés criados com humanos. 

Capítulo 2. Rose vai para a farra com Harlow e Reg, muito álcool e pílulas. 

Capítulo 3. Flashes da noite de farra;; é levada para a delegacia. 

Capítulo 4. Em casa, ainda “ligada”, Rose recorda a noite em que Lowell a levou para conhecer o jardim de uma mansão. 

Capítulo 5. Rose sai para procurar a bicicleta e o boneco de ventríloquo que perdeu na farra. Enquanto isso, Lowell vai à casa dela e sai para comer crepe com Harlow. 

Capítulo 6. Rose encontra Lowell e Harlow na creperia. Em casa, Lowell passa a noite com Harlow. De madrugada, vai com Rose para um café. 

Capítulo 7. Quando fugiu de casa, Lowell foi ver Fern no laboratório veterinário em Dakota. Ela havia sido vendida para outra universidade. Foi um desastre. 

Parte 5 

Capítulo 1. Lowell conta que Rose obrigou os pais decidirem entre Fern e ela. Rose não se lembrava disso. Lowell vai embora. 

Capítulo 2. O irmão pareceu um pouco maluco. Instável. 

Capítulo 3. Lowell contou sobre experiências e tratamentos terríveis com animais. Nota ruim na prova de Sosa. 

Capítulo 4. Rose conta a Harlow que Lowell é um terrorista doméstico em defesa dos animais. Rose é levada para uma delegacia. 

Capítulo 5. Isolada em uma cela, Rose começa a lembrar o que aconteceu entre ela e Fern. 

Capítulo 6. Rose pegou um gatinho que mamava na mãe e deu a Fern. Fern estraçalhou o gatinho. Rose correu para chamar Lowell. Não encontraram mais nem a mãe nem os outros gatinhos. Rose disse a sua mãe que estava com medo de Fern. A macaca foi levada embora. 

Capítulo 7. Rose foi solta. Havia sido presa porque Harlow e Ezra arrombaram o laboratório de primatas da universidade. 

Parte 6 

Capítulo 1. Natal com os pais. Conta sobre o reencontro com Lowell e a culpa pela separação de Fern. 

Capítulo 2. Pais de Harlow. Visita Ezra na prisão. 

Capítulo 3. Namoro breve com Reg. Morte do pai em 1998. 

Capítulo 4. Recupera os diários da mãe. 

Capítulo 5. Diários da mãe são publicados, lembranças da infância das duas. Rose em 2012, mora em Dakota do Sul com a mãe e perto de Fern, que está no Centro de Comunicação de Primatas. Rose é professora de jardim da infância e visita o Centro com alunos, frequentemente. Fern aparentemente reconheceu Rose e a mãe; ela é a líder do grupo de seis chimpanzés. O Centro necessita sempre de dinheiro. Os diários, como livro para crianças, arrecada dinheiro para o Centro. 

Capítulo 6. Incertezas sobre a memória dos chimpanzés. 

Capítulo 7. Lowell foi preso como terrorista, ele pretendia um ataque ao Sea World; sua cúmplice fugiu; ele está incomunicável há três meses. O livro termina com a recordação da primeira visita de Rose a Fern, no Centro, a troca de sinais e de olhares entre as duas.

quinta-feira, 18 de março de 2021

Doze contos peregrinos, Gabriel García Márquez, 1992

Doze contos peregrinos, Gabriel García Márquez, 1992, 256 páginas, tradução de Eric Nepomuceno, Record. Lido entre 24/02/2021 e 03/03/2021. Nota 3 (Bom). 

Não é dos melhores GGM, mas vale a pena. O prólogo é muito bom porque conta da elaboração das histórias, do ofício de escrever, além de narrar um sonho belo e angustiante de GGM. Quanto aos contos, a maior parte é boa, alguns são excepcionais, uns poucos são irrelevantes. O resultado é uma obra irregular, de muitos altos e alguns baixos. Às vezes, dá a impressão de um ajuntamento aleatório de papéis guardados. 

Entretanto, os contos excelentes fazem valer a pena a leitura.



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Resumo dos contos.

Boa viagem, senhor presidente. Genebra. É um conto que não se decide entre contar a história do velho ex-presidente deposto ou do casal de imigrantes Homero Rey e Lázara. É injusto que o casal dispense o maior cuidado ao ex-presidente, como a um filho, e não seja, de algum modo, recompensado. A escolha dos nomes, Homero e Lázara, é de certo modo óbvia, porque o ex-presidente faz uma longa viagem de ida e volta, Odisséia, e tenta a ressuscitação em seu país natal. 

A santa. Muito bom. Roma. A história do pai que passa a morar em Roma para conseguir a canonização da filha. A menina morrera aos sete anos e, onze anos depois, o corpo continuava intacto e, o mais fantástico, sem peso. 

O avião da bela adormecida. No avião entre Paris e Nova York. É uma espécie de leve homenagem ao livro de Kawabata, “A casa das belas adormecidas”. 

Me alugo para sonhar. Havana, Viena e Barcelona. História de uma mulher que é contratada para sonhar e interpretar os próprios sonhos. Pablo Neruda a conhece e sonha com ela; no sonho dele, ela está sonhando com Neruda. A mulher conta ao narrador que sonhou com Neruda e que, no sonho, Neruda sonhava com ela. Referências a Borges. 

Só vim telefonar. Muito bom e tristíssimo. Barcelona. O carro da personagem quebrou e ela vai a um lugar tentar telefonar. O lugar é um hospício; a mulher é confundida com uma paciente e é internada. 

Assombrações de agosto. Arezzo. Irrelevante. Faz pensar em Poe. 

Maria dos Prazeres. Muito bom. Barcelona. História de uma velha prostituta que se prepara para a morte. A mulher é brasileira amazonense e o final é surpreendente. 

Dezessete ingleses envenenados. Mediano. Nápoles. Uma velha e piedosa senhora vinda da América Latina, meio perdida em Nápoles, quer ir à Roma ver o papa. O final é angustiante pois a situação da senhora não se conclui. 

Tramontana. Fraco. Barcelona e Cadaqués. O vento tramontana deixa as pessoas loucas. Duas mortes acontecem devido ao vento. 

O verão feliz da senhora Forbes. Mediano. Ilha de Pantelana na Sicília. Dois irmãos aos cuidados de uma governanta nazista. A governanta inferniza a vida dos irmãos com disciplina férrea, embora seja uma hedonista. 

A luz é como a água. Muito bom. Madri. Conto absolutamente fantástico. Crianças que navegam na luz. 

O rastro do teu sangue na neve. Muito bom e tristíssimo. Paris A viagem de núpcias se torna tragédia; o jovem marido, infantil e infantilizado, perdido frente às circunstâncias que não sabe enfrentar. Desencontros, acasos terríveis. O fantástico de um ferimento de espinho de rosa que não para de sangrar.

terça-feira, 16 de março de 2021

Antônio e Cleópatra, William Shakespeare, 1607

Antônio e Cleópatra, William Shakespeare, 1607, 174 páginas, tradução de Beatriz Viégas-Faria, L&PM. Início: 09/03/2021 – Fim: 12/03/2021. Nota 3 (Bom). 



A história de Otávio, Antônio e Cleópatra, na visão romantizada de Shakespeare. 

A peça retrata a época em que o império romano era governado pelo triunvirato composto por Antônio, Otávio e Lépido. 

Antônio dominava a parte oriental do império romano e vivia com Cleópatra no Egito. A mulher de Antônio, Fúlvia, iniciou uma guerra contra Otávio, em Roma, querendo atrair Antônio de volta. Fúlvia perdeu a guerra e morreu doente pouco depois. Antônio volta a Roma para negociar com Otávio (o futuro Augusto César). Como sinal de reconciliação entre ambos, Antônio aceita se casar com a irmã de Otávio, Otávia. O casamento dura oito anos. Mas Otávio e Antônio se desentendem novamente, e Antônio vai de vez para os braços de Cleópatra, abandonando Otávia. 

Otávio inicia uma campanha militar contra Antônio. Na Grécia, durante a batalha naval de Áccio, Cleópatra foge do confronto com a frota egípcia e Antônio, enlouquecido, vai atrás dela em seu navio, abandonando sua frota e seu exército no fragor da batalha. 

Otávio se dirige ao Egito para combater o casal de amantes. Durante as batalhas, Antônio se mata. Cleópatra iria ser levada em triunfo por Otávio, mas ela se mata antes.



A peça reconta fatos históricos, embora ainda hoje restem dúvidas sobre alguns pontos. De todo modo, um defeito da peça é fazer parecer que tudo aquilo aconteceu em sequência, de forma rápida e encadeada. Não foi assim; por exemplo, Antônio ficou casado com Otávia durante oito anos, e Otávio só foi ao Egito um ano depois da batalha de Áccio. 

Para mim, o que mais se destaca na peça é a ambiguidade de Cleópatra e a instabilidade emocional e a flutuação de emoções de Antônio. Em dado momento, Cleópatra é um rouxinol para Antônio; no momento seguinte, é uma rameira. A Cleópatra da peça é ambígua quando a tragédia se aproxima: parece gostar de Antônio e, ao mesmo tempo, parece tentar se salvar da catástrofe. 

Como sempre acontece em Shakespeare, a peça tem diversos momentos cômicos e sarcásticos, principalmente ligados ao personagem Enobarbus, auxiliar de Antônio. Apesar das falas irônicas, Enobarbus tem um final trágico: ele deserta das tropas de Antônio, passa-se para o lado de Otávio, mas se arrepende e se mata. 

Antônio revela-se um personagem fraco, um indivíduo que não consegue se desvencilhar da paixão excessiva por Cleópatra. O ponto mais baixo de sua trajetória é abandonar seus comandados durante a batalha de Áccio para seguir a egípcia. 

Um dos trechos mais curiosos da peça acontece quando o Bardo fala da própria peça. Ao descobrir que será levada prisioneira para ser exibida em triunfo por Otávio em Roma, Cleópatra diz a uma de suas servas: 

“Cleópatra: Agora, Iras, o que pensas disso? Tu, uma boneca egípcia a ser exibida em Roma tanto quanto eu. Escravos, trabalhadores quaisquer, de aventais gordurosos, réguas e martelos irão nos erguer no ar para que todos nos vejam. No mau hálito deles, vamos sentir o cheiro de comida barata; seremos obrigadas a respirar naquela nuvem quente do bafo dos plebeus que nos cercam. 

Iras: Que os deuses não permitam uma coisa dessas! 

Cleópatra: Não, Iras, isso é certo. Litores lascivos e insolentes vão pensar que somos rameiras, e maus poetas vão escrever baladas ruins sobre nós. Os bons comediantes, de improviso, põem nossa história no palco e apresentam “Orgias de Alexandria”. Antônio será representado bêbado, e eu vou assistir à Cleópatra esganiçada de um rapazote, toda a minha majestade em pose de puta.” 

 

Resumo.

 

Ato 1

 

Cena 1. Egito. Antônio ignora mensagens de Roma, fascinado por Cleópatra. Ela demonstra raiva por ele e pela esposa dele.

 

Cena 2. Egito. Brincadeiras entre os servos. Antônio recebe a mensagem de que Sexto Pompeu ameaça o triunvirato e de que Fúlvia morreu, e decide voltar à Roma.

 

Cena 3. Egito. Antônio comunica a Cleópatra a necessidade da viagem.

 

Cena 4. Roma. Otávio e Lépidus preocupam-se com Pompeu e com a ausência de Antônio, enfeitiçado pela cigana. “Antônio não pode de modo algum desculpar-se por seus estigmas quando somos nós que suportamos todo o peso de sua leveza.”

 

Cena 5. Egito. Cleópatra recebe notícias de Antônio.

 

Ato 2

 

Cena 1. Sicília. Pompeu e Menas discutem sobre o confronto com Roma. “Ignorantes de quem somos, muitas vezes nós imploramos pelo que nos será danoso, coisa que as forças sábias nos negam para nosso próprio bem; então descobre-se que saímos lucrando ao não serem atendidas as nossas preces.”

 

Cena 2. Roma. Antônio e Otávio esclarecem os conflitos entre eles. Lépidus é mero acompanhante. Acerta-se o casamento de Antônio com Otávia, irmã de Otávio. Sobre Cleópatra: “Sabe-se que as coisas mais vis tornam-se atraentes nela, e os santos sacerdotes abençoam-na quando ela se mostra uma devassa.”

 

Cena 3. Roma. Um adivinho alerta Antônio sobre o perigo de ficar junto a Otávio César.

 

Cena 4. Roma. Lépidus se despede de generais que vão para o combate.

 

Cena 5. Egito. Cleópatra é informada acerca do casamento de Antônio.

 

Cena 6. Sicília. Acordo entre o triunvirato e Pompeu: este fica com a Sicília e a Sardenha e pagará um tributo a Roma.

 

Cena 7. Sicília. Comemoração no barco de Pompeu. Todos bêbados, cantam e dançam.

 

Ato 3

 

Cena 1. Ventídio derrota os partos.

 

Cena 2. Roma. Despedida de Antônio e Otávia que partem para Atenas.

 

Cena 3. Egito. Mensageiro descreve Otávia para Cleópatra, caprichando nos defeitos.

 

Cena 4. Atenas. Otávia vai para Roma intermediar as brigas entre Otávio e Antônio.

 

Cena 5. Atenas. Notícias de que Otávio derrotou Pompeu e aprisionou Lépidus.

 

Cena 6. Roma. Otávio recebe a irmã e diz que ela foi rejeitada por Antônio, que se reuniu à rameira do Egito e prepara-se para combater contra Roma.

 

Cena 7. Áccio. Antônio e Cleópatra combatem Otávio no mar. Antônio foi aconselhado a lutar em terra.

 

Cena 8 e 9. Áccio. Ordens para os combates.

 

Cena 10. Áccio. Cleópatra foge com seus navios e Antônio a segue. “Nunca antes se violou assim a experiência, a virilidade, a honra!”

 

Cena 11. Egito. Antônio apresenta variações de comportamento. Perdeu o rumo e a honra, mas pede amor, vinho e comida.

 

Cena 12. Otávio manda dizer a Cleópatra que a privilegiará desde que expulse ou mate Antônio.

 

Cena 13. Antônio diz a Otávio que quer um combate singular. Um mensageiro de Otávio explica a proposta dele para Cleópatra; ela parece aceitar. Antônio vê parte da cena e manda açoitar o mensageiro. Antônio elogia Otávia, “joia rara de mulher” e arrepende-se de estar com a rameira. Muda de humor e quer festejar com Cleópatra.

 

Ato 4

 

Cena 1. Otávio prepara o exército para a batalha.

 

Cena 2. Antônio e suas flutuações de humor. Festa e vinho.

 

Cena 3. Alguns soldados desertam de Antônio.

 

Cena 4. Antônio veste-se para a batalha.

 

Cena 5. Enobarbo desertou e Antônio envia para ele as arcas e tesouro que deixou.

 

Cena 6. Otávio ordena que os desertores sejam colocados na frente do exército. Enobarbo recebe seu tesouro e envergonha-se.

 

Cena 7. As tropas de Antônio se saem melhor na batalha.

 

Cena 8. Antônio volta para a cidade e comemora com Cleópatra, seu “rouxinol”.

 

Cena 9. Enobarbo se mata.

 

Cena 10. A batalha agora se desenrola em terra e no mar.

 

Cena 11. Otávio orienta o exército.

 

Cena 12. Antônio mostra valentia e depois desanima. Vê a esquadra se entregar a Otávio, por causa da “egípcia imunda”, “puta, três vezes puta”. Diz que “a bruxa tem que morrer, ela me vendeu ao jovem romano”.

 

Cena 13. Cleópatra se tranca no mausoléu e manda dizer a Antônio que se matou.

 

Cena 14. Antônio tenta se matar, mas fica agonizando. Recebe o aviso de que Cleópatra está viva e é levado até ela.

 

Cena 15. Antônio morre e Cleópatra pensa em se matar.

 

Ato 5

 

Cena 1. Otávio é avisado da morte de Antônio, que lamenta, e manda avisar a Cleópatra que o destino dela será decidido com honra e cortesia.

 

Cena 2. O enviado de Otávio evita que Cleópatra se mate. Otávio visita Cleópatra. Ela entrega a Otávio uma lista de seus tesouros, mas descobre-se que ela escondeu a outra metade. Ela descobre que será levada como uma presa do triunfo de Otávio. Cleópatra diz que sua história será encenada no palco, com toda a sua majestade em “pose de puta”. Um camponês traz um cesto com serpentes para a rainha. Cleópatra se mata, suas ajudantes também. Antônio prepara o funeral dos dois.

sábado, 6 de março de 2021

Livro de Josué, Bíblia de Jerusalém

Livro de Josué, Bíblia de Jerusalém, 33 páginas, 24 capítulos, Paulinas. Início: 08/02/2021 – Fim: 03/03/2021.



O livro de Josué encerra o ciclo da história dos hebreus desde o início até a invasão das terras de Canaã. A narrativa contada nos cinco livros do Pentateuco somente se encerra aqui, em Josué; de fato, fala-se até em um Hexateuco, incluindo Josué.

Moisés morre antes da invasão de Canaã. Josué, sucessor de Moisés é quem lidera o povo nômade durante a invasão e a fixação naquelas terras. 

De forma geral, o que se apreende dos seis livros é a origem do mundo e dos israelitas, o pacto de Iahweh com aquele povo, e a fixação no Egito (Gênesis); a saída do Egito e a vida nômade em terras difíceis, desérticas (Êxodo); recenseamentos, agruras, pestes e deslocamentos do povo nômade, e a enxurrada de novas e antigas normas (Levítico e Números); uma condensação das novas leis e rememoração da trajetória nômade, e a preparação para a invasão de Canaã, com a morte do líder (Deuteronômio); e por fim, a invasão, as carnificinas, a divisão das terras e a fixação do povo nômade na terra invadida (Josué). 

A mitologia dos hebreus tenta justificar os massacres, a carnificina, a invasão, as guerras, por meio da lenda de que um deus (o deus dos deuses) concedeu terras mais férteis ao povo nômade. De fato, aquele povo nômade cresceu o olho nas terras férteis de outros povos e, depois de muito penar como pastores, invadiram com fúria sanguinária a terra de Canaã. Eles tentaram antes, pelo sul (Êxodo) e não conseguiram, então conseguiram pelo oeste, cruzando o rio Jordão. 

As pestes e doenças também são explicadas por meio da mitologia: há uma peste, é porque o povo errou feio com o deus; daí, seguem-se rituais e incensos. Quando a peste acaba por motivos naturais, é claro que foi intercessão do deus. Da mesma forma, normas básicas de higiene são justificadas como mandamentos divinos. Também as derrotas nas batalhas são castigo por erros cometidos. Tudo simplório, comum em povos semicivilizados. 

Em Josué, os tópicos mais curiosos são os seguintes: 

- ao final da campanha militar, Iahweh não cumpriu a promessa de dar todas as terras. Iahweh havia definido bem definidozinho, em Êxodo, as terras que pertenceriam aos hebreus. Todavia, as terras que eles ocuparam foram muito menos que o prometido. 

- o povo desobedeceu em tudo as ordens mosaicas e de Iahweh: fez pactos com povos de Canaã e não destruiu-exterminou toda a gentalhada – na visão de Iahweh – que ocupava aquelas terras. 

- as estratégias militares de Israel são bem descritas: o cerco, o falso ataque e uma armadilha, os ataques aos cavalos para enfraquecer os inimigos. 

- eu desconhecia a lenda de que Iahweh também abriu as águas do Jordão para que os israelitas passassem. A lenda deve ter surgido para reforçar o papel de Josué como sucessor de Moisés. 

- algumas tribos israelitas denominam Iahweh de “deus dos deuses’, o que indica a aceitação de um politeísmo ao modo grego, Iahweh como um tipo de Zeus. 

- a reunião das tribos que Josué promove antes de morrer: as tribos deveriam decidir se ficavam com Josué e adoravam a Iahweh, ou se iam para outros deuses. É tão “moderna” e inusitada essa liberdade de culto.

 

Resumo. 

Depois da morte de Moisés, o povo de Israel acampa na margem do rio Jordão antes de iniciar a travessia e invadir Canaã. É uma invasão, é guerra e violência. As tribos israelitas de aquém Jordão têm a obrigação de ajudar na invasão. 

Josué enviou dois espiões a Jericó. Ele foram acolhidos pela prostituta Raab que os escondeu dos guardas do rei de Jericó. Ela combinou de salvá-los desde que Israel a poupasse, com sua família, quando da invasão. A fama violenta de Israel precedia a invasão. 

Na margem do Jordão. A Arca segue na frente, entra no rio e o rio para de correr: uma massa de água se acumula rio acima. O povo atravessa o rio sem água. Iahweh ordenou recolher doze pedras do leito seco do Jordão. Enquanto a Arca ficou no rio, a água ficou retida acima. Israel possuía quarenta mil guerreiros armados. 

Israel acampou a leste de Jericó. As doze pedras foram erigidas: um lugar de culto e de memória. O lugar se chamava Guilgal, “círculo de pedras”. 

Os povos de Canaã temem os israelitas. Em Guilgal, faz-se a circuncisão do povo e uma Páscoa; eles comem os frutos da terra e finda o maná. Teofania: Josué vê o “chefe do exército de Iahweh” com a espada desembainhada. 

Cerco a Jericó. Descrição simbólica do sítio à cidade. Sete sacerdotes com a Arca e sete trombetas e todo o povo contornam a cidade fortificada durante seis dias. No sétimo dia, contornam a cidade sete vezes, emitem um grito de guerra e “as muralhas caem”. De fato, um cerco desses leva muito tempo, meses até. Não há registro arqueológico de que as muralhas de Jericó tenham caído nessa época. Invasão de Jericó. 

Tudo foi destruído, assassinato de todos os habitantes, exceto Raab e sua família. É uma evidente desobediência à ordem que Iahweh deu a Moisés: quando entrassem em Canaã, matassem todos. Os espiões não teriam autorização para fazer combinações. Ouro, prata e bronze e objetos anexados ao tesouro de Iahweh (na verdade, tesouro dos sacerdotes porque Iahweh não precisa de ouro e prata). 

Um certo Acã ficou com objetos valiosos para si. O povo foi castigado quando Josué mandou uma tropa de três mil guerreiros para lutar contra o povo da localidade de Hai e a tropa perdeu a batalha. Josué fez um escarcéu enorme com Iahweh (ai, por que fomos derrotados, ai, ai, ai). Iahweh ordenou descobrir quem ficou com objetos do tesouro e queimá-lo. O povo pegou Acã e sua família, apedrejou e matou a todos. Seria Acã realmente culpado? E matar toda a família é justo para Iahweh? Foi erigido um monte de pedras sobre os restos mortais de Acã e sua família. 

Há diversas incoerências de quantidade. Relata-se que Josué enviou trinta mil guerreiros contra Hai, depois fala-se em cinco mil. Inicialmente, dizia-se que Hai era pequena e fácil de derrotar; no fim, mataram doze mil em Hai. 

A estratégia de Josué contra Hai foi atacar com um pequeno grupo, fugir para ser perseguido, outra parte maior de guerreiros invadem e queimam Hai e os dois grupos apertam os guerreiros de Hai no meio. Mataram todos, destruíram tudo, enforcaram o rei de Hai. 

Depois da carnificina, como sempre: orações, um altar para Iahweh, leitura do Deuteronômio, blá-blá-blá. Iahweh gosta de carnificina e os israelitas são um povo sanguinário e violento. 

Assustados, os povos de Canaã iniciam uma coalizão contra Israel. Israel faz um pacto com Gabaon, contra as recomendações da lei de Moisés de não fazer pacto com nenhuma tribo de Canaã. Para disfarçar, os líderes de Israel dizem que foram ludibriados por Gabaon. Um grupo se fez passar por mensageiros de um povo distante e fez o pacto; depois se descobriu que eles eram dali, vizinhos, o povo de Gabaon. Boa desculpa. 

Cinco reis se unem contra Gabaon Jerusalém, Hebron, Jarmut, Laquis, Eglon. Parece Senhor dos Anéis. Os reis sitiaram Gabaon. Israel acorreu em socorro de Gabaon, marchou à noite e atacou de surpresa, e derrotou os cinco reis. Para ter mais tempo de batalha, Josué ordenou que o sol parasse de se mover. Iahweh “obedeceu” a Josué, está escrito. 

Descreve-se então as cidades conquistadas pelo sanguinário povo de Israel: Maceda, Lebna, Laquis, Gazer, Eglon, Hebron, Dabir, que são cidades do sul. 

Formou-se uma coalizão das cidades do norte, com um exército numeroso como areia na praia, com cavalos e carros de combate, comandados pelo de rei de Hasor. Israel venceu mesmo sem dispor de cavalos e carros porque conseguiu cortar os jarretes dos cavalos e queimar os carros. (Escavações arqueológicas mostram que a cidade de Hasor foi incendiada e destruída). Conquista de Hasor, extermínio, morticínio, guerra sem paz. 

Terminou a conquista e “a terra descansou da guerra”. Várias terras não foram conquistadas, ao contrário do que disse Iahweh. Os filisteus, por exemplo, não foram derrotados. O filisteus eram povo marítimo, velejadores, ocupavam o litoral e eram inimigos permanentes de Israel. 

Hebron foi designada para Caleb, ele a conquistou. Os enacim, povo de alta estatura foram derrotados. Hebron se chamava Cariat-Arbe e era dividida em quatro bairros de acordo com os clãs. Caleb tinha 85 anos quando conquistou Cariat-Arbe e Cariat-Séfer (ou Dabir). Otoniel comandou o ataque a Dabir e casou com Acsa, filha de Caleb. 

As ordens de Moisés não foram seguidas e várias tribos não foram expulsas de Canaã. Josué ordenou que a tribo de José desmatasse a encosta de uma montanha, para ocupá-la e conquistar as terras dos cananeus, povo mais forte e que dispunha de carros de ferro. 

Divisão das terras entre as tribos. Terras para Josué: a cidade de Tamnat-Saará na montanha de Efraim. Novamente, as especificações sobre as cidades de refúgio. Estabelecem-se cidades para os levitas. 

O versículo 21, 43 é mentira porque diz que Iahweh entregou todas as terras que prometeu. Ora, diversos povos, por exemplo os filisteus, jamais foram conquistados. Os israelitas não obtiveram todas as terras que Iahweh e Moisés prometeram. 

Os guerreiros das tribos de além Jordão (Rubens, Gad e Manassés) foram autorizados a voltar para suas terras. No retorno, eles construíram um altar na margem do Jordão. Israel se preparou para uma guerra contra eles porque era proibido fazer esse altar. Só poderia haver um altar. Rubens, Gad e Manassés dizem que Iahweh é o “deus dos deuses”, um evidente politeísmo, e explicam que não era um altar para holocaustos, era somente um altar “memorial”, um altar testemunho, E acalmam-se os ânimos. 

Josué velho faz um discurso com aquele teretetei de sempre, o Egito, Moisés, o deserto. Discurso contraditório porque diz que ainda restam tribos inimigas a expulsar mas também afirma que Iahweh entregou tudo o que prometeu. 

Depois, Josué promove uma esquisita reunião das tribos em Siquém: é para escolher se as tribos vão acompanhar o povo de Josué e ficar com Iahweh ou se vão escolher outros deuses. Que bom que havia essa opção. Cuidado, diz Josué, Iahweh é um deus ciumento. As tribos não têm medo e confirmam que vão ficar com Iahweh. 

Josué, sucessor de Moisés, morre aos 110 anos, enterrado em Tamnat-Saará. Morre o sacerdote Eleazar, filho de Aarão. Enterram-se os ossos de José. Encerra-se o ciclo do Êxodo.

sexta-feira, 5 de março de 2021

O tempo desconjuntado, Philip K. Dick, 1959

O tempo desconjuntado, Philip K. Dick, 1959, 267 páginas, tradução de Braulio Tavares, Suma. Início: 28/02/2021 – Fim: 04/03/2021. Nota 2 (Regular).

 


“O tempo desconjuntado”, título original “Time out of joint”. Para mim, os enredos de PKD possuem um tema interessante – um achado, uma iluminação – mas são mal desenvolvidos. É uma escrita preguiçosa a dele. 

Exemplo: “O homem do castelo alto”, como seriam os Estados Unidos se a Alemanha e Japão tivessem ganho a Segunda Guerra. Boa ideia para um livro, mas o desenvolvimento é fraco e mal alinhavado. 

Aqui, no “Tempo desconjuntado” é até melhor. 

O personagem Ragle Gumm começa a perceber que o seu mundo é falso. Estamos em 1959. A família de Ragle também percebe situações estranhas. Memórias de outra vida, objetos virtuais, transmissões de rádio esquisitas, revistas que mostram situações e fatos desconhecidos para eles. Ragle, sua irmã Margo, seu cunhado Victor e o filho deles, Sammy, vão aprofundando as investigações. Mas é Ragle quem quer mais intensamente descobrir a verdade, o mundo real. 

Vê-se que o filme “O show de Truman” derivou diretamente da história de PKD. 

Ragle Gumm ganha a vida resolvendo enigmas de um jornal, e ganha algum dinheiro com isso. Apesar da boa vida, ele se sente incomodado e percebe as incoerências, cada vez mais evidentes. Então, decide fugir da cidade e ver como é o mundo lá fora. 

Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Ragle descobre que o ano verdadeiro é 1998 e que a Terra e a Lua estão em guerra. A Lua ataca a Terra com mísseis e Ragle, por meio de uma capacidade estética e intuitiva, consegue indicar com grande margem de acerto onde os mísseis irão cair, diariamente. O concurso do jornal é um simulacro que diminui a tensão de Ragle naquele trabalho de vida e morte. Ele descobre também que, antes de ser confinado naquela falsa cidade e falsa vida, preparava-se para abandonar a Terra e aliar-se à Lua. A Terra (leia-se, os Estados Unidos) queria o isolacionismo e os colonos da Lua queriam as viagens espaciais e a colonização da galáxia. 

Então, temos um livro fácil de ler, instigante, mas com aquela preguiça característica de PKD. Nada é aprofundado, os personagens são rasos, a história é mal explicada. Deste modo, o capítulo final concentra, mal-amanhadamente, quase todas as “explicações”. 

Uma parte curiosa é o adultério consentido: não apenas a cidade é falsa, como também foi criada uma família falsa para Ragle. A “irmã” dele, Margo, descobre que não é a esposa verdadeira de Victor, e sim de Bill Black, o vizinho, que na verdade é um oficial encarregado de manter as coisas sobre controle. Bill é “casado” com June. Portanto, o oficial Black colocou a própria mulher para ser a esposa de Victor. Está implícito que tanto Margo quanto Bill devem ter exercido as competências sexuais de um casamento normal. 

As pessoas que vivem na cidade falsa, inclusive a falsa família de Ragle, sofreram algum tipo de procedimento cerebral para acreditar que aquilo é verdade. Será que Margo submeteu-se a isso por sua própria vontade? Ou Bill Black a meteu nisto sem anuência? Como as mulheres não valem nada para PKD, vai ver que foi sem sequer consultá-la. 

Isto, essa falta de importância das mulheres, é assustadora e intrigante nesse “luminares” da FC, como PKD e Bradbury: eles conseguem imaginar viagens espaciais, conseguem imaginar a vida em Marte e na Lua, conseguem questionar se o real é real, mas as mulheres continuam lavando pratos e fazendo o jantar. Não importa se é em Marte, na Lua, daqui a mil anos, a vida imaginada por eles é homens trabalhando e desejando mulheres, e mulheres cuidando da casa e dos filhos. 

Resumo. 

Capítulo 1. O leitor é apresentado à uma família: Victor e sua mulher Margo, o filho Sammy, e o irmão de Margo, Ragle Gumm. Ragle tem como ocupação decifrar um enigma diário de um jornal. Como acerta na maior parte das vezes, ganha prêmios em dinheiro e vive disso. Estamos em 1959. 

Capítulo 2. A família de Ragle recebe a visita dos vizinhos, June e Bill Black. Victor sente que há algo estranho no mundo. 

Capítulo 3. Ragle recebe a visita de Lowery, representante do jornal, que veio tirar dúvidas sobre as respostas ao enigma. Ragle vai à piscina com June Black e tenta beijá-la. Quando vai comprar uma cerveja, a barraca some e fica em seu lugar apenas um papel escrito “barraca de refrigerantes”. 

Capítulo 4. Esse sumiço de coisas já aconteceu seis vezes com Ragle. Sammy achou papéis semelhantes aos de Ragle nas ruínas. Ragle vai até lá e encontra uma lista telefônica e revistas estranhas. Ele pensa em deixar de participar do concurso do jornal. Ragle telefona para alguns números da lista esquisita, que não existem. 

Capítulo 5. Bill Black é avisado de Ragle tentou telefonar para os números da lista. Ele vai até a casa de Ragle. A família pergunta a Black sobre uma atriz desconhecida que viram nas revistas, Marilyn Monroe. Black fica com a lista e conversa com Lowery sobre tudo. 

Capítulo 6. Sammy tenta sintonizar transmissões de rádio. Ragle vai até a casa da senhora Keitelbein para reuniões da defesa civil. Victor desconfia ainda mais da realidade; consegue ver o ônibus oco, como se fosse apenas uma estrutura transparente. 

Capítulo 7. No clube de Sammy, eles captam estranhas transmissões de rádio que parecem falar de naves. Alguém fala de Ragle Gumm no rádio e ele decide fugir da cidade. Parece que alguém não quer que ele saia da cidade mas ele consegue alcançar a rodovia. 

Capítulo 8. Ragle é perseguido por um falso policial em motocicleta. Depois de despistar o policial e dirigir por trinta quilômetros, Ragle entra por uma estrada de terra, atola o carro, caminha e encontra uma casa. A mulher e o rapaz parecem com a família Keitelbein, mas são a família Kesselman. Eles abrigam Ragle. 

Capítulo 9. Ragle desconfia dos Kesselman e os tranca no armário. Descobre revistas de 1997. Os Kesselman fogem. Uma equipe chega para capturar Ragle. 

Capítulo 10. Ragle acorda em casa e não se recorda do que aconteceu. Margo diz que ele chegou bêbado. 

Capítulo 11. Ragle vai à reunião da Defesa Civil na casa dos Keitelbein. Estes mostram a ele uma maquete de uma fábrica. Ragle tenta entender o que está acontecendo. Vai ao supermercado e convida Victor para fugir com ele em um caminhão de abastecimento. 

Capítulo 12. Ragle e Victor pegam um caminhão e saem da cidade. Conseguem passar por barreiras e chegam a outra cidade. Abrigam-se com alguns jovens estranhamente vestidos. 

Capítulo 13. Ragle e Victor entram em uma farmácia e encontram a senhora Keitelbein. Há uma guerra entre a Terra e a Lua. Os Keitelbein são colonos na Lua. Ragle Gumm ia abandonar o lado da Terra e aliar-se à Lua. 

Capítulo 14. A Terra é isolacionista e a Lua quer investir em viagens espaciais e colonização. Os ataques da Lua são combatidos com a “intuição” de Ragle. Ele e Victor começam a recordar de tudo. Margo recebe Bill Black em sua casa. Ele explica a ela que aquilo tudo é cenário para a vida de Ragle. Na verdade, Margo é a esposa de Black, com quem tem dois filhos. Victor é pai Sammy com outra mulher. June não é esposa de Black. Victor vai voltar a cidade falsa. Ragle vai para a Lua, aliar-se aos colonos e a guerra vai acabar.

quinta-feira, 4 de março de 2021

Livro de Judite, Bíblia de Jerusalém

Livro de Judite, Bíblia de Jerusalém, 18 páginas, 16 capítulos. Releitura em 02/03/2021.


O Livro de Judite é uma fábula que conta a vitória dos hebreus sobre o poderio imensamente maior de um rei inimigo. Os personagens provavelmente não existiram na forma como aparecem neste conto, mas funcionam como símbolos. Os nomes, os lugares, nada bate com fatos históricos. O Livro de Judite é, pois, uma ficção disfarçada de verdade, com a intenção de vangloriar o povo israelita e o deus deste povo. Nem por isso deixa de ser uma história muito interessante de acompanhar e conhecer.
 

Resumo resumido: Israel é atacado pelo exército do general Holofernes, Judite seduz e degola o general, e os judeus vencem a batalha. 

Telas famosas resultaram desse conto: o tema da decapitação de Holofernes seduziu muitos artistas, entre os quais, Michelangelo da Caravaggio, Artemisia Gentileschi e Goya. As telas de Caravaggio (1599) e de Gentileschi (1620) são as mais impressionantes. O nosso Pedro Américo também pintou sua versão em 1880. 

Resumo. 

O livrinho de 18 páginas, em letra miúda, pode ser dividido em cinco partes: a) as guerras de Nabucodonosor, b) o cerco à cidade de Betúlia, c) a intervenção de Judite, d) Judite e Holofernes, e) a vitória dos israelitas. 

No conto, o rei Nabucodonosor inicia uma guerra contra o rei Arfaxad e o derrota. Depois da vitória, Nabucodonosor decide formar um grande exército de cento e vinte mil homens e enviá-lo para derrotar ou subjugar os povos que não haviam se aliado a Nabucodonosor contra Arfaxad. O comando do exército é entregue ao general Holofernes. O exército então descreve uma trajetória de vitórias e massacres e pilhagens. A seguir, Holofernes se aproxima das fronteiras de Israel, próximo da cidade fictícia de Betúlia, e oferece a paz aos israelitas em troca de aceitarem Nabucodonosor como rei e deus. Os israelitas decidem enfrentar o grande exército inimigo. 

Para invadir o país pela região de Betúlia é necessário passar em um estreito entre montanhas, e os israelitas contam com essa dificuldade para derrotar o exército de Holofernes. Este decide não travar uma batalha direta e sim sitiar a cidade e cortar o acesso às fontes de água. Depois de mais de um mês de cerco, o povo da cidade está fraco e morrendo. A população pede ao juiz e aos anciãos que aceitem a rendição, e estes pedem mais cinco dias de prazo: se Deus não interceder por Israel, eles se renderão. 

Judite, uma viúva bela e rica, vê nessa proposta do conselho de anciãos um desafio a Deus. Ela vai até o conselho e diz que não se deve impor prazos e condições a Deus, deve-se, sim, orar e confiar nele. Por outro lado, ela tem um plano e decide agir. Ela se propõe a descer até o acampamento de Holofernes e tentar resolver a situação. Judite então se prepara, intensificando sua beleza, com joias e ricas vestes, e com uma serva desce ao acampamento. Ela diz aos soldados que quer falar com o general para indicar a melhor forma de invadir a cidade, sem a perda de qualquer soldado. Holofernes aceita recebê-la em sua tenda e gosta da proposta dela, além de ficar encantado com a moça. 

Judite permanece alguns dias no acampamento até que Holofernes a convida para um banquete. Ele está seduzido pela beleza da moça e diz a seus oficiais que não deixará de se unir a uma mulher tão bela. Judite participa do banquete e Holofernes, animado, fica a sós com a moça no final da festa. Todavia, ele bebeu em demasia e adormece. Judite segura a cabeça do general pelos cabelos e, com dois golpes de um alfange, degola-o. Ela coloca a cabeça do general na bolsa de sua serva e sai da tenda: diz aos guardas que vai até a fonte de água fazer suas orações. 

Judite volta para Betúlia e mostra aos anciãos e ao povo a cabeça de Holofernes. A população se sente encorajada e prepara um ataque imediato ao acampamento. Quando os guardas anunciam o ataque dos israelitas e entram na tenda para acordar o general, encontram apenas o corpo decapitado de Holofernes. Isto desestrutura os oficiais e o exército, e eles debandam e são derrotados. O povo faz a pilhagem no acampamento e Judite recebe todas as riquezas da tenda de Holofernes. Em Betúlia, em Jerusalém e por todo o país há festas e danças. 

Judite vive até os cento e cinco anos e, acentua-se, nunca foi tocada por homem a não ser seu marido Manassés, quando era vivo. Antes de morrer, ela distribui suas riquezas entre os parentes. Ao morrer, é enterrada junto ao túmulo do marido. 

Alguns aspectos instigantes: 

Metade do conto narra as guerras de Nabucodonosor, a formação do exército, a campanha guiada por Holofernes e o cerco aos israelitas, e é de muito interesse, parece um livro ou filme épico, Senhor dos Anéis. 

É certo que as mitologias (grega, romana, judaica, cristã, budista, hindu) contêm elementos simbólicos misturados com algo de realidade (!) e de alguma tentativa de ensino (moral, ético). As quantidades, nas mitologias, são simbólicas, mas a fortaleza de Arfaxad impressiona. 

“Era o décimo-segundo ano do reinado de Nabucodonosor, que reinou sobre os assírios em Nínive, a grande cidade. Arfaxad reinava, então, sobre os medos, em Ecbátana. Em torno de Ecbátana, ele edificou muralhas com pedras talhadas de três côvados (um metro e meio) de largura e seis (três metros) de comprimento. A altura da muralha era de setenta côvados (35 metros), e a largura de cinquenta (25 metros). Sobre as portas dela, levantou torres de cem côvados de altura (50 metros) com bases de sessenta côvados (30 metros) de largura. Fez as portas dela com setenta côvados (35 metros) de altura e quarenta (20 metros) de largura, para a saída de seu potente exército e o desfile da cavalaria.” 

O exército chefiado pelo general Holofernes é imenso, 120 mil homens, fora cavalaria e as vivandeiras. Para comparação, o exército brasileiro tem cerca de 200 mil soldados. Imaginar a fortaleza de Arfaxad, o exército de Nabucodonosor em movimento, alimentando-se, arrasando, enchendo de cadáveres os rios, Nabucodonosor como o puro mal, isso, para mim, é muito mais instigante que Sauron, sociedade do anel... 

Disse Nabucodonosor a Holofernes: “Cobrirei toda a face da terra com os pés do meu exército e entregarei meus inimigos à pilhagem. Seus feridos encherão as ravinas, e toda torrente e todo rio, inundados, com seus cadáveres, transbordarão.” 

Judite, além da beleza natural, se fez sedutora: 

“Tirou o pano de saco que vestira, despojou-se do manto de sua viuvez, lavou-se, ungiu-se com ótimo perfume, penteou os cabelos, colocou na cabeça o turbante e vestiu a roupa de festa que usava enquanto vivia seu marido Manassés. Calçou sandálias nos pés, colocou colares, braceletes, anéis, brincos, todas as suas joias, embelezando-se a fim de seduzir os homens que a vissem.” 

Deste modo, Judite foi um cavalo de Troia às avessas: a cidade-fortaleza sitiada enviou aos sitiantes o “cavalo”. Judite encantou os soldados e uma tropa de cem deles a conduziu ao centro do acampamento. Se fosse um filme, ver-se-ia Judite em um carro com cavalos acompanhada por cem cavaleiros fazendo sua entrada bombástica no acampamento inimigo. 

Depois da vitória e da pilhagem ao acampamento, Judite é recebida em Betúlia de forma dionisíaca, como em um cortejo de bacantes: 

“Todas as mulheres de Israel correram para vê-la e organizaram um grupo de dança para festejá-la. Judite tomou em suas mãos tirsos e deu-os às mulheres que a acompanhavam. Judite e suas companheiras coroaram-se de oliveira. Depois, ela foi na frente de todo o povo e conduziu as mulheres na dança. Todos os homens de Israel, armados e coroados, acompanhavam-nas cantando hinos.” 

Tirso:bastão enfeitado com hera e pâmpanos, e rematado em forma de pinha, atributo de Baco e das bacantes, personagens da mitologia greco-romana.” 

Nota da Bíblia de Jerusalém: “Tais cortejos são bem conhecidos, mas os adornos com coroas de folhagem verde são um costume propriamente grego. Da mesma forma os tirsos, ramos ou bastões decorados com folhagem, só aparecem, na Bíblia, em 2Mc 10,7. Entretanto, havia o costume de agitar ramos para exprimir alegria (Lv 23,40).” 

Enfim, este é um conto delicioso que merece ser lido por suas qualidades literárias e simbólicas.

segunda-feira, 1 de março de 2021

Livros lidos em fevereiro 2021



1 – Medeia, Eurípides, 98 páginas, tradução Mário da Gama Kury.

2 – O conto da aia, Margaret Atwood, 368 páginas, tradução Ana Deiró.

3 – A tempestade, William Shakespeare, 116 páginas, tradução Beatriz Viégas-Faria.

4 – O Senhor das Moscas, William Golding, 217 páginas, tradução Geraldo Galvão Ferraz.

5 – A outra volta do parafuso, Henry James, 199páginas, tradução Paulo Henriques Britto.

6 – A fazenda dos animais, George Orwell, 133 páginas, tradução de Paulo Henriques Britto.

7 – Vida querida, Alice Munro, 316 páginas, tradução de Caetano Galindo.

8 – Pequeno-burgueses, Maksim Górki, 190 páginas, tradução de Lucas Simone.

9 – Kindred, Octavia E. Butler, 424 páginas, tradução de Carolina Caires Coelho.

10 – Noite na taverna, Álvares de Azevedo, 73 páginas.

11 – Piquenique na estrada, Arkádi Strugátski e Boris Strugátski, 320 páginas, tradução de Tatiana Larkina.

Total de livros lidos no ano: 23