Gilberto Dimenstein - Por que me sinto privilegiado

A Ford está desenvolvendo um carro tão sofisticado que, durante o congestionamento, ele dispensa o motorista daquele acelera e breca constantes. O Google criou o carro que dispensa motorista e até mostrou como um cego pode, com toda segurança, ficar ao volante. Mas o grande avanço em tecnologia --pelo menos tecnologia social-- é não usar o veículo privado.

O problema é que o carro não serve apenas para levar gente. É também símbolo de status --um jeito de parecer poderoso, rico, sensual, importante.

Daí o charme e o papel educativo do livro que será lançado nesta semana pelo jornalista Leão Serva, intitulado "Como viver bem em São Paulo sem carro". Num ano eleitoral, serve como subsídio para discutir uma cidade com mais qualidade de vida.

É uma coletânea de testemunhos de gente que poderia ter carro, mas prefere deixá-lo na garagem. Ou nem comprá-lo. E se sente bem.

Passa-se a imagem de que numa cidade sofisticada carro deveria ser usado com moderação, assim como bebida.

O livro pode parecer um tanto exótico em São Paulo, uma cidade carro-dependente. Mas é onde está o futuro.

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Tive o maior prazer em ser convidado para dar testemunho ao livro. Deixei de usar o carro em momentos especiais, faço meus trajetos de metrô, a pé ou de táxi. Não apenas me sinto mais saudável e menos estressado como economizo dinheiro. Sem contar o prazer de viver minha cidade, conversando com gente pelo caminho e descobrindo casos.

Sinceramente, sinto-me um privilegiado por não precisar do carro. Daí que defendo a proposta tão odiada pela maioria de cobrar pedágio urbano para o transporte público ter mais dinheiro.

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Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.