terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

O Senhor das Moscas, William Golding, 1954

O Senhor das Moscas, William Golding, 1954, 217 páginas, tradução de Geraldo Galvão Ferraz, Nova Fronteira. Início: 04/02/2021 – Fim: 07/02/2021. Nota 2 - Regular

(Escala:1 – Ruim, 2 – Regular, 3 – Bom, 4 – Ótimo, 5 – Obra-prima). 



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Um avião cai em uma ilha com um grupo de meninos de várias idades; nenhum adulto sobrevive. Alguns meninos tentam alguma organização. Todavia, há os muito pequenos, há os indolentes, e há os que não aceitam regras e se tornam violentos. A violência só aumenta, dois meninos são assassinados. No ápice da irracionalidade, os meninos são resgatados. 

Não gostei. Acho que a história é muito forçada. O autor quer demonstrar uma tese e constrói um canal: a água só vai conseguir correr por aquele canal da tese. 

A tese do autor é algo como a violência se sobrepõe à civilização; o irracional desbanca a racionalidade; a humanidade é naturalmente violenta; ou, mesmo crianças deixadas em condições precárias se tornam selvagens e assassinas. 

A tese pode ser correta, incorreta, parcialmente correta, não importa. É chato ler romance onde se quer comprovar a tese, porque o narrador força a situação. O autor quer provar que é do modo como ele pensa. Eu penso que, nem sempre, é do jeito que ele pensa. 

Como o autor forçou a narrativa? As crianças menores são medrosas e imaginam bichos. Um paraquedista morto cai no topo da montanha da ilha. Duas crianças vêem o paraquedista e seu paraquedas, à noite, e correm do bicho. Os líderes sobem ao topo, de noite, vêem o “bicho” e fogem. Este é um exemplo. Não há espaço para outra situação. Subir ao topo da montanha de dia, por exemplo. 

Outro ponto: não há meninas. A tese do autor não comporta o elemento complicador das meninas. Somente meninos são violentos? Meninos e meninas juntos seriam mais ou menos violentos? A falada evacuação de meninos britânicos era feito com separação de gêneros? 

O autor quer conduzir o leitor. Isso é muito desagradável. 

Outras falhas. 

Não há destroços do avião. Fala-se em fogo e queda, mas sem destroços. Fala-se em evacuação, bomba atômica, batalhas aéreas em altitudes inusuais (16 km de altitude), mas, de repente, o deus ex-machina: um cruzador da marinha britânica aparece para o resgate. 

Todos os meninos são antipáticos. Ralph adquire alguma empatia no decorrer do romance. Porquinho é odiado sem motivo, ou apenas pelo motivo de sempre, porque é gordinho e inteligente. Porquinho não consegue fazer nenhum amigo. Poucos se ocupam das crianças menores. Ora, não pode existir a “tese” de que, mesmo crianças, tendem a cuidar das crianças menores, a protegê-las? Não é um instinto humano? 

A sobrevivência é utópica para que o autor possa focalizar a rivalidade e a violência. Os meninos se alimentam de frutas, que existem em abundância! Ninguém se desidrata, não há dificuldade em conseguir água, nenhuma criança sofre queimaduras de sol. Em lugar de um romance, temos um estudo científico com ratos em um labirinto.


Resumo. 

Capítulo 1. 

Crianças em uma ilha sem adultos. A queda de um avião que foi atacado. Fala-se em bomba atômica e evacuação. Não há destroços. Meninos antipáticos, Jack e Ralph, os líderes. Porquinho é odiado de forma “natural”, sem razão aparente. 

Capítulo 2. 

Desorganização e tentativa de organização. Fazem fogo no topo da montanha com os óculos de Porquinho, e o fogo se espalha. Porquinho é o “pai”, a voz da razão: ignorado ou odiado. 

Capítulo 3. 

O tempo passou. Não conseguiram uma organização, métodos, regras. Fizeram poucas cabanas precárias. 

Capítulo 4. 

Passou um navio mas o fogo estava apagado; o pessoal de Jack estava caçando. Jack é um irresponsável que desafia a liderança. Jack quer brincar perigosamente de caçadas e de violência. 

Capítulo 5. 

As crianças têm medo de bichos imaginários. Tudo as assusta, é natural. 

Capítulo 6. 

O narrador diz que acontece uma batalha áerea. Um paraquedista morto pousa na ilha, no topo da montanha, de noite. Dois meninos vêem a “coisa”, o paraquedas e o homem na noite, e imaginam um bicho. Iniciam uma expedição para achar o bicho. Jack e seus asseclas ficam brincando na formação rochosa que parece um castelo. 

Capítulo 7. 

Sobem a montanha de noite, vêem o bicho e fogem. 

Capítulo 8. 

O grupo se divide: o grupo violento (caçadores de Jack) no castelo; o grupo racional, com os menores, nas cabanas. 

Capítulo 9. 

Simon descobre que o bicho é um paraquedista morto. Desce para avisar, é confundido com um bicho e é assassinado pelo bando. 

Capítulo 10. 

O grupo de Ralph e Porquinho cada vez menor. São atacados por Jack e seus assassinos, roubam o óculos de Porquinho. 

Capítulo 11. 

Ralph e Porquinho vão até o castelo e tentam fazer prevalecer a razão. Porquinho é assassinado. Ralph foge. 

Capítulo 12. 

Ralph se esconde. Jack e os assassinos procuram por ele para matá-lo. Colocam fogo no mato para desalojar Ralph, começam a cercá-lo. Ele corre desesperado para a praia. Deus ex-machina: um cruzador, um escaler, marinheiros e um oficial britânico. As crianças se tornam crianças de novo. Quem vai pagar pelos assassinatos e pela violência e pela irracionalidade?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Medeia, Eurípides, 431 aEC

Medeia, Eurípides, 431 aEC, 98 páginas, tradução de Mário da Gama Kury, Zahar. Início: 27/01/2021 – Fim: 02/02/2021. Nota 3 (Escala:1 – Ruim, 2 – Regular, 3 – Bom, 4 – Ótimo, 5 – Obra-prima).



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

A peça de Eurípides pode ser lida em poucas horas. Eu levei mais tempo porque fui devagar, degustando. 

O tema da peça é a traição do marido que transforma o amor da esposa em ódio. Traição, depressão, ódio, vingança. Isso acontece até hoje. Na peça, a vingança é adornada com feitiçaria, mas fora esse efeito de magia, é tudo comum aos mortais. Os deuses não participam no desenrolar da tragédia. 

Medeia é casada com Jasão, eles têm dois filhos e vivem em Corinto, cidade grega distante oitenta quilômetros de Atenas. Medeia é repudiada por Jasão, pois ele vai se casar com a filha de Creonte, rei de Corinto. Medeia, inicialmente sucumbe à tristeza. Depois decide se vingar, matando a princesa, o rei e os dois filhos. Depois de executada a vingança, Medeia foge em um carro flamejante de Apolo. Aristóteles criticou esse final com a utilização dessa manobra de deus ex-machina. Todavia, esse recurso não é “a salvação”; funciona mais como recurso de teatro, permitindo uma fuga mais espetacular e permitindo o diálogo final entre Jasão e Medeia. Eurípides poderia ter feito Medeia fugir silenciosamente, à noite, por exemplo, e um mensageiro trazer as notícias para Jasão. 

Resumo. 

Jasão foi enviado à Cólquida, por Pelias, rei de Iolco, para recuperar o velocino de ouro. Lá, ele foi ajudado por Medeia, filha do rei da Cólquida, que estava apaixonada por ele. Medeia domina a arte da feitiçaria e mantém ligação com a deusa Hécate, a deusa da magia e das encruzilhadas. Depois de pegar o velocino, Jasão foge com Medeia no barco Argos. Medeia havia levado com ela o irmão como refém. Para atrasar o pai, ela despedaça o corpo do irmão e joga os pedaços ao mar. 

Em Iolco, Medeia engana as filhas de Pelias e estas matam o próprio pai. Jasão e Medeia fogem para Corinto onde vivem harmoniosamente por dez anos. 

Jasão repudia Medeia porque quer casar com a filha do rei de Corinto. Neste momento, começa a peça. 

Medeia “jaz sem alimento, abandonando o corpo ao sofrimento, consumindo só, em pranto, seus dias todos desde que sofreu a injúria do esposo”. Jasão está afastado dela e dos filhos. Medeia: “filhos malditos de mãe odiosa”. A ama recomenda moderação, conforme preceituava o templo de Apolo: nada em excesso. “Já não existe o lar, tudo acabou”. 

Medeia anseia pela morte. Jasão é pérfido e traidor. As mulheres são as criaturas mais sofredoras neste mundo. Melhor combater nas guerras do que parir. A tristeza de Medeia começa a se tornar fúria. 

O rei Creonte chega e comunica a expulsão de Medeia e dos filhos. Por que? Por medo de Medeia e de suas feitiçarias. “Viver é ter desgostos e eles não nos faltam.” Medeia consegue permissão para ficar mais um dia em Corinto, pois deve conseguir asilo e  recursos para sustentar os filhos; o pai não cuida mais disso. 

Inicialmente, Medeia pensa matar o rei, a filha e Jasão, com a ajuda de Hécate. Jasão e Medeia discutem. Ela recorda que o salvou na Cólquida. Ele diz que ele a trouxe para a Grécia e é melhor estar ali que no fim do mundo. Jasão quer dar parte de suas posses para os filhos e pedir abrigo para ela em outros reinos; ela não aceita. 

Medeia consegue de Egeu a promessa de asilo em Atenas. Ela decide matar a noiva e o rei, e depois matar os filhos para punir o pai. 

Medeia pede a Jasão para que os filhos fiquem em Corinto. Jasão diz que vai tentar. Para favorecer o pedido, Medeia manda os filhos com presentes para a noiva: um véu e um diadema enfeitiçados. Os filhos entregam os presentes e voltam. Medeia ainda duvida conseguir matar as crianças. 

Um mensageiro chega com as notícias: ao colocar o véu e o diadema, a princesa começou a arder em fogo, não conseguia retirar os objetos; sangue, a carne se desprende dos ossos. O rei Creonte tenta ajudar e fica preso nos objetos e morre da mesma forma. 

Medeia firma sua decisão e mata os filhos. Jasão chega, mas os filhos já estão mortos. Medeia aparece sobre a casa em um carro flamejante, enviado pelo Sol (ela é descendente do deus). Ela e Jasão ainda discutem. Ela não permite que ele toque os cadáveres dos filhos nem que os enterre e parte. “Assim termina o drama.”

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

A tempestade, William Shakespeare, 1611

A tempestade, William Shakespeare, 1611, 116 páginas, tradução de Beatriz Viégas-Faria, L&PM. Início: 02/02/2021 – Fim: 04/02/2021. Nota 3 (Escala: 1 – Ruim, 2 – Regular, 3 – Bom, 4 – Ótimo, 5 – Obra-prima). 



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Logo dizer que “A tempestade” emociona porque parece a despedida de Shakespeare. Não podemos saber se foi essa a intenção, mas parece: dois solilóquios de Próspero permitem essa interpretação. 

A peça conta a história de Próspero, duque de Milão e feiticeiro, expulso pelo irmão, Antônio, que tomou o seu lugar; Antônio foi ajudado na conspiração por Alonso, rei de Nápoles. Próspero exila-se em uma ilha, com a filha Miranda, e toma posse do lugar, por meio de seu poder mágico. A ilha pertence de fato ao semi-humano Caliban, filho da bruxa Sicorax com o demônio Sétebos. 

A peça começa quando Próspero produz uma tempestade contra uma frota que passava ao largo. Um dos navios transportava os nobres: o rei Alonso, de Nápoles, e o usurpador duque de Milão, Antônio, entre outros. Após algumas peripécias, piadas, zombarias, e demonstrações do enorme poder de Próspero, este recupera o ducado e sua filha Miranda prepara-se para casar com Ferdinando, filho do rei de Nápoles. 

Bom o leitor deve considerar, de início, que a peça é uma comédia. Muitas cenas são repletas de piadas, trocadilhos e brincadeiras. Apesar da maldade de Caliban, e da maldade de Antônio, Sebastião, Estéfano e Trínculo, não ocorre a vingança, tampouco a punição, no tempo da peça. 

Próspero aventa, no futuro, uma possível punição a Antônio e Sebastião, que conspiraram contra o rei Alonso, na ilha. Não é dito, mas é possível que Caliban enfim torne-se o dono de sua ilha, novamente, embora solitário, visto que Próspero voltará para Milão. 

A peça é leve, plena de magia, de canções e seres fantásticos, uma fantasia. 

Todavia, cabe considerar outros aspectos. 

- Caliban tem toda a razão em odiar Próspero. A ilha pertence a Caliban visto que pertencia à mãe do monstro, a bruxa Sicorax. Próspero diz, em sua defesa, que tentou de tudo para civilizar o semidemônio, mas será que podemos confiar no feiticeiro? Caliban, não apenas como vingança contra Próspero, que o escravizou, tenta violar Miranda e, se conseguisse, diz que iria povoar a ilha de Calibans. 

- Próspero libertou Ariel de uma árvore, na qual o ser etéreo fora aprisionado pela bruxa Sicorax. A bruxa morreu esquecida de Ariel e ele passou doze anos preso. Em compensação por ter libertado Ariel, Próspero também o escraviza; porém, de forma mais suave: Ariel é o executor de feitiços. Já Caliban faz todo o trabalho pesado. Ariel quer a liberdade, que Próspero demora a conceder. 

- Antônio, irmão de Próspero e usurpador do ducado de Milão, é uma natureza malévola. Ao ver o rei de Nápoles dormindo, logo instila a ambição em Sebastião e sugere ao irmão do rei que mate Alonso para assumir o trono. 

- Miranda tem apenas quinze anos. Como Julieta (treze anos), o que essa tolinha sabe sobre amor? Somente viu na vida o próprio pai e Caliban. Ao ver Ferdinando, se apaixona. Experiência zero. Não sei se pelo tom de comédia ou pela época, a virgindade de Miranda é debatida várias vezes. Ferdinando só promete a ela o casamento se ela for realmente virgem. 

Cabe considerar, ainda, o preconceito de que o belo é bom; o feio e deformado é mau. 

Por outro lado, a peça pode, sim, ser vista como uma divertida festa de duas horas de duração, espetáculo de brincadeiras e magia, na qual Shakespeare, na figura de Próspero, anuncia sua despedida do teatro e pede que o libertem. Mesmo sem esse suposto elemento da “despedida”, a peça é uma festa de magia e fantasia, com toques de maldade extrema e de violência, e com um final leve e melancólico. 

 

Resumo. 

Ato 1, cena 1. 

Tempestade. Naufrágio do navio que transporta o rei de Nápoles e o duque de Milão. 

Ato 1, cena 2. 

O feiticeiro Próspero conta a sua filha Miranda que ele é o verdadeiro duque de Milão. Antônio, irmão de Próspero usurpou o ducado e o expulsou em um barco, com a ajuda do rei de Nápoles. Próspero provocou a tempestade para trazer todos a ilha e executar seus planos. 

Ariel é um ser etéreo e poderoso que obedece a Próspero porque este o salvou de um aprisionamento quando chegou na ilha. Caliban é um ser deformado e monstruoso, filho da bruxa Sicorax, antiga dona da ilha. Próspero tomou a ilha de Caliban. Caliban tentou estuprar Miranda. 

Ferdinando, filho do rei de Nápoles, é trazido por Ariel à presença de Próspero. Interesse mútuo entre Miranda e Ferdinando, como Próspero esperava. 

Ato 2, cena 1. 

Na ilha, o rei Alonso deprimido pela possível morte do filho. Gonçalo, nobre que ajudou Próspero em Milão, tenta animar o rei. Antônio, duque de Milão, e Sebastião, irmão do rei de Nápoles, fazem gracejos e zombarias. Gonçalo descreve a sua Utopia, se governasse uma nação. 

Ariel faz todos adormecerem menos Antônio e Sebastião. 

“This is a strange repose, to be asleep

With eyes wide open – standing, speaking, moving –

And yet so fast asleep.” 

Antônio diz que, com forte imaginação, vê uma coroa sobre a cabeça de Sebastião; com isso instila a ambição em Sebastião, como fez Lady Macbeth: e eles combinam de matar o rei Alonso e Gonçalo. Ariel intervém e acorda os dois. 

Ato 2, cena 2. 

Encontro de Caliban, Trínculo (um bufão), e Estéfano (um bêbado). Os três se embebedam; Caliban imagina que eles podem libertá-lo de Próspero. 

Ato 3, cena 1. 

Ferdinando e Miranda trocam juras de amor e promessas de casamento. 

Ato 3, cena 2. 

Caliban incentiva Estéfano e Trínculo a matarem Próspero e tomarem posse da filha dele e da ilha. 

Ato 3, cena 3. 

O grupo de nobres vaga pela ilha em busca de Ferdinando. Seres mágicos preparam um jantar. Ariel, como harpia, desfaz o jantar e fala da traição a Próspero. 

Ato 4, cena 1. 

Próspero concorda com o casamento de Miranda e Ferdinando. Vários avisos sobre a manutenção da virgindade de Miranda. Uma exibição de deusas e ninfas. A visão se esvanece, como a vida humana. Somos feitos da mesma matéria dos sonhos. 

“The cloud-capp’d tow’rs, the gorgeous palaces,

The solemn temples, the great globe itself,

Yea, all which it inherit, shall dissolve,

And like this insubstantial pageant faded

Leave not a rack behind. We are such stuff

As dreams are made on; and our little life

Is rounded with a sleep.” 

“As torres que alcançam as nuvens, os esplêndidos palácios, os templos solenes, o próprio globo imenso, sim, com tudo o que ele contém, tudo se dissolverá, e como este intangível desfile nebuloso, não deixará sequer um vestígio. Nós somos coisas tais como os sonhos são feitos; e nossa pequena vida é cercada pelo sono.” 

Caliban, Estéfano e Trínculo chegam à gruta para matar Próspero, roubam roupas, mas são perseguidos por cães e gnomos. 

Ato 5, cena 1. 

Solilóquio no qual Próspero se despede da Arte (da magia). Soa como a despedida de Shakespeare do teatro. 

“Eclipsei o sol do meio-dia, convoquei os ventos amotinados. [...] Ao meu comando, sepulturas iam despertando os que nelas dormiam. [...] Aqui e agora, renuncio a essa mágica escabrosa [...] quebro minha varinha mágica [...] e afogarei o meu livro.” 

Ariel traz o grupo de nobres para a gruta de Próspero. Este mostra ao rei Alonso que Ferdinando está vivo. Miranda se extasia com o “admirável mundo novo”. 

“O wonder!

How many goodly creatures are there here!

How beauteous mankind is! O brave new world

That has such people in’t!” 

Próspero recupera o ducado. Não há vingança contra Antônio e Sebastião. Caliban também não é castigado. Ariel é libertado. 

Epílogo. 

Solilóquio de Próspero: nova despedida de Shakespeare. Os feitiços estão terminados, ele pede que o público não o deixe confinado na ilha, pede para ser libertado. 

“Libertem-me de minha atroz prisão ainda agora,

Com palmas, com aplauso, com as mãos tão generosas [...].” 

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

O colecionador, John Fowles, 1963

O colecionador, John Fowles, 1963, 343 páginas, tradução de Antônio Tibau, DarkSide. Início: 26/01/2021 – Fim: 30/01/2021. Nota 4 (Escala:1 – Ruim, 2 – Regular, 3 – Bom, 4 – Ótimo, 5 – Obra-prima). 



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Releitura deste romance memorável depois de muitíssimos anos. 

O romance conta, em primeira pessoa, a obsessão de um sujeito limitado culturalmente por uma moça que cursa uma escola de arte. Ele, Frederick Clegg, é funcionário da prefeitura de uma cidadezinha e a vê passar na rua todos os dias. Ela, Miranda Grey, parte para estudar arte em Londres. Mundos culturais totalmente distintos. O sujeito ganha um prêmio de loteria e começa a imaginar como poderia ter a moça como “hóspede”. Ele compra uma casa isolada e um furgão, prepara o cativeiro e sequestra a moça. O leitor acompanha, então, os dias de cativeiro por meio da narrativa enviesada do sequestrador: as tentativas de fuga, as falsas esperanças de liberdade que ele dá a ela, a mente distorcida dele, a gripe dela. 

O nome da moça, Miranda, é também o nome da personagem de “A tempestade”, de Shakespeare. O sequestrador diz a Miranda que seu nome é Ferdinand, e não Frederick, porque Ferdinand é o rapaz que vai casar com Miranda na peça. Todavia, ela passa a chamá-lo de Caliban, o ser meio humano e meio monstro que vive na ilha de “A tempestade” e que tenta estuprar Miranda.   

Depois, o leitor tem acesso ao diário de Miranda, escrito nos dias do cativeiro. Os mesmos acontecimentos, agora narrados pela sequestrada, as tentativas de fuga frustradas, a ilusão de que poderia ser libertada, o horror do cativeiro, do silêncio, da solidão, a variação de atitudes dela (odiar o sequestrador, não colaborar, não comer, sentir empatia pelo monstro, tentar se aproximar dele), e a gripe não tratada que vai levá-la à morte. As recordações de Miranda dos tempos de liberdade, sua família e amigos, seus pensamentos sobre arte. 

O sequestrador narra, então, a sua falta de empenho em tentar ajudar Miranda na grave doença, a sua falta de coragem, a dificuldade em se relacionar com outros humanos e pedir ajuda; tudo isso o torna o assassino dela, por absoluta omissão. No epílogo, o leitor assiste impotente enquanto Clegg inicia a preparação de outro sequestro. 

O romance é fascinante, o leitor torce, se agita, se mexe, quer ler tudo de uma vez, não quer parar de ler, quer saber o final, quer que o livro não acabe; o leitor pressente que o destino de Miranda está determinado, e torce pela personagem, quer que ela fuja de algum modo, frustra-se com as tentativas de fuga infrutíferas, odeia o sequestrador (e diverte-se com a loucura dele, ao mesmo tempo). Um livro tristíssimo e cruel e não dá para não ler.

 

Quase perfeito. 

Não classifiquei o romance como obra-prima por conta de algumas falhas: 

- Deus ex-machina: Frederick Clegg ganha uma fortuna na loteria. Isto facilita o enredo. Este tipo de truque afasta o romance da realidade. O autor poderia ter resolvido a situação de outro modo, economias de Clegg, por exemplo, visto que ele não quase não tinha despesas, e mudança da tia e da prima para a Austrália, e Clegg ficaria com uma casa só para si. 

- Empatia com o sequestrador: talvez o autor tenha feito de forma proposital; o leitor não sente uma total ojeriza pelo monstro. Clegg chega a ser engraçado, o leitor ri da loucura, ri do afastamento dele da realidade. Como quando Clegg culpa Miranda por tudo, pelos castigos que ele impõe a ela, pelo agravamento da própria doença, tudo culpa dela. Quando Clegg fica magoado por alguma grosseria de Miranda. A empatia do leitor com o sequestrador diminui o horror do cativeiro de Miranda, e isso é terrível. É possível que o autor tenha propiciado a empatia do leitor com o criminoso para que fosse possível compreender a empatia que se estabelece, às vezes, entre Miranda e o monstro. A expressão “Síndrome de Estocolmo” surgiu em 1973, dez anos depois da publicação deste romance, mas o leitor percebe que Miranda apresenta muitos momentos de apego ao seu sequestrador. 

- A fixação de Miranda pelo pintor quase fracassado G. P. é enfadonha, muitas vezes, e diminui a força do romance. Os preconceitos de Miranda acerca de arte e de gente também causam irritação: Miranda sabe tudo, sabe qual é a arte “certa” e quais são as ideias “certas” sobre arte e sobre o mundo. Neste sentido, ela se assemelha, sem perceber, ao sequestrador, visto que Clegg tenta sempre falar e se portar da forma “correta”, correta de acordo com as opiniões dos outros, correta de acordo com o padrão da sociedade.

 

A edição da DarkSide. 

Em termos de objeto e design, excelente: capa dura, figuras antigas de borboletas, páginas especiais, tudo bacana. 

Em termos de conteúdo, péssima edição: 

- A tradução tentou atualizar algumas gírias da personagem (1963): exemplo: "eu disse a ele na real o que eu pensava sobre..." Ora, a tradução deveria procurar gírias que estivessem em uso em 1963. 

- A tradução não atentou para o problema dos "seu" e "sua", que em português refletem o gênero da "coisa possuída", enquanto em inglês "his" e "her" refletem o gênero do "dono da coisa". A tradução deveria ter usado mais frequentemente os "dele" e "dela". O texto resultou confuso em muitas partes. 

- A tradução suprime com excessiva frequência os pronomes pessoais "eu" e "ele", e não atenta para o fato de que, por exemplo, "fazia" primeira pessoa e "fazia" terceira pessoa são a mesma palavra e confundem o leitor. 

- Há muitos errinhos que passaram na revisão. 

- As notas, que se apresentam na forma de um posfácio, sem numeração, dirigem-se a leitor de dez anos de idade ou mentalmente incapaz. Por exemplo: as notas dizem que em 1963 não havia "textão das redes sociais" e os pensadores usavam a literatura para "dissecar o mundo". Uau! Anotam também que as referências artísticas do romance são "easter eggs". O pior: que Rembrandt era "fã e precursor do selfie, cinco séculos antes do smartphone". Que pobreza mental explicar Rembrandt dessa forma.

 

Resumo. 

Parte 1. 

O narrador é um funcionário subalterno de um cidade próxima a Londres. Saberemos mais tarde que o nome dele é Frederick Clegg. Ele mora com a tia e a prima, é colecionador de borboletas e nunca teve contato mais íntimo com qualquer mulher. Ele admira uma moça da cidade, Miranda Grey. A moça vai estudar arte em Londres. Clegg ganha um prêmio de loteria (um deus ex-machina que facilita o enredo). A tia e a prima embarcam para a Austrália. Clegg descobre onde Miranda estuda, em Londres, e a observa. Compra um furgão para fotografar e caçar borboletas. Começa a planejar o sequestro de Miranda. Compra uma casa antiga, no campo, afastada de tudo, com um adequado porão. Realiza o sequestro de Miranda. Primeiros dias do cativeiro. Miranda o trata como perturbado, “eu posso te ajudar”, ela diz; ele se ofende. Ele mente e diz que seu nome é Ferdinand (para se referir ao pretendente de Miranda em “A tempestade”). Notícias sobre o desaparecimento da moça nos jornais. Primeira tentativa de fuga. Primeiro banho no andar superior da casa. Discussões, discordâncias, brigas. Ela pergunta se ele é bicha. Miranda diz que ele deveria ser chamado de Caliban, não de Ferdinand. Miranda pede que ele não a estupre com violência; se vier a acontecer, ela não vai lutar. Segunda tentativa de fuga, ela fingia estar com apendicite. Tentativa de mandar um bilhete minúsculo dentro de uma carta para os pais, autorizada pelo sequestrador. Terceira tentativa de fuga: com um prego de quinze centímetros, ela consegue retirar três ou quatro pedras, mas por trás há rocha. Na noite anterior à “libertação”, jantar, vestido, colar e anel, um falso pedido de casamento. Ela tenta fugir pela porta, é sedada, levada para o porão, ele faz fotografias dela com calcinha e sutiã. Na volta do banho, uma machadinha esquecida, ela o ataca, consegue fazer um corte na têmpora, mas é dominada. Outra noite, depois do banho, tenta seduzi-lo, ficam nus, nada acontece, não dá certo. Ele mente e diz que não pode fazer sexo. Ele consegue, desde que seja dentro das fantasias malucas dele. Ela pede para habitar um quarto na casa, para ter ar e luz. Ele faz mais uma falsa promessa. No dia de subir para o tal quarto, ele diz que quer fazer fotos dela, nua, ela não aceita. Ela pegou gripe. Discutem, ele a amarra e faz as fotos. Ela piora da gripe. 

Parte 2. 

É o diário de Miranda. Ela anota seu medo, os dias, seus pensamentos e recordações. Pai, mãe, irmã, amigos e o pintor G. P., um cara mais velho do que ela, uma fascinação, um tipo de mentor; um artista meio fracassado, meio revoltado, inteligente, culto. Ela anota diálogos com Caliban. O diário mostra a variação de atitudes dela frente ao sequestrador. As ilusões dela, o medo, o horror da situação. Ilusão de que ele a deixaria ir embora um dia. As brigas, a tentativa de seduzir o sequestrador. As ideias dela, ou de G. P., sobre arte e sobre pessoas. A ingenuidade dela. É triste acompanhar a saúde dela se deteriorando. 

Parte 3. 

O sequestrador narra os últimos dias de Miranda. As fracas e inúteis tentativas dele em salvar a vida dela. A culpa foi dela. Ele pensa em se matar, um pacto suicida. 

Parte 4. 

Epílogo. O sequestrador não se matou. Enterra o corpo de Miranda. Começa a imaginar que poderia até trazer outra hóspede.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Lady Macbeth do distrito de Mtzensk, Nikolai Leskov, 1865

Lady Macbeth do distrito de Mtzensk, Nikolai Leskov, 1865, 95 páginas, tradução de Paulo Bezerra, Editora 34. Início: 28/01/2021 – Fim: 29/01/2021. Nota 3 (escala de 1 a 5). 



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Este livro me interessou a partir de uma resenha de Tatiana Feltrin (clique aqui). 

Catierina Lvovna é uma personagem com traços de Lady Macbeth, como diz o título, e também de Madame Bovary. Uma mulher jovem cercada por tédio, tédio, tédio – palavra que se repete três vezes no primeiro capítulo – casada com um marido muito mais velho e desinteressado, um comerciante que queria um herdeiro, algo que ele não conseguira com a primeira esposa. Como acontece na época, a culpa da ausência de filhos é de Catierina. A moça conhece um funcionário da propriedade, mulherengo, começam um caso, e iniciam uma série de assassinatos. Catierina é o motor dos crimes, o rapaz a segue, um pouco desinteressado. Às vezes, o rapaz parece despertar a ambição em Catierina. Catierina envenena o sogro que havia descoberto a traição. Ela o faz de moto próprio. Depois, mata o marido e, depois um menino, um possível herdeiro. A ascensão do casal de amantes é rápida, mas não há o tempo da fruição: logo, os crimes são descobertos. Começa a segunda parte da história, na qual Catierina e o amante seguem em longa marcha para a Sibéria. O amante se enrabicha com outras prisioneiras. O final trágico acontece em uma balsa sobre o rio Volga. Um bom livro, vale a pena conhecer a história e o tipo de narrativa que interessava a Leskov, histórias do povo russo. 

No posfácio, Paulo Bezerra conta que episódios da infância de Leskov aparecem nas histórias dele. Como o caso da nora que “despejou lacre fervente no ouvido” do sogro: isto faz recordar de “Hamlet”, porque o rei Hamlet é assassinado pelo irmão com veneno no ouvido. No mesmo caso, Leskov diz que a jovem nora foi torturada na praça e que “todos se admiraram de sua brancura”. 

Catierina não é uma Lady Macbeth diretamente. É algo mais difuso. De Emma Bovary, ela tem o tédio, a vidinha sem graça, e o rapaz bonito que a encanta, que dá um certo romantismo ao cotidiano insípido. De Lady Macbeth, Catierina não tem o aparente arrependimento. Ou seja, Catierina aguenta o tranco de seus crimes, enquanto Lady Macbeth “se quebra”. Catierina não se quebra pelo remorso: ela se quebra pela volubilidade do amante e se vinga. De Lady Macbeth (e da peça Macbeth), temos aqui a frieza nos crimes, a visão dos fantasmas, a rejeição ao filho recém-nascido (aventada por Lady Macbeth, se fosse necessário), a sucessão de crimes, a morte da criança (como o filho de Macduff), e o suicídio. Cabe observar que os fantasmas não afetam Catierina com a intensidade com que afetam os Macbeth: para Catierina, parecem ser um pequeno incômodo. O suicídio de Catierina é mais amplo que o de Lady Macbeth, porque se reveste de vingança, de desistência e de homicídio. 

É curioso notar como Leskov descreve certos detalhes que não afetam o enredo, e que nenhum dos personagens está presenciando ou percebendo: uma alegre matilha de cães que passa na estrada sem nenhuma ruído, um rato que rói uma pena debaixo de uma estufa. 

Resumo. 

Capítulo 1.

O narrador apresenta Catierina, vinte e quatro anos, que casa com Zinóvi, mais de cinquenta anos. Ela casou porque era pobre, não podia escolher muito e ele a pediu em casamento. Zinóvi, viúvo de um casamento de vinte anos sem filhos. Cinco anos de casamento com Catierina e nada de filhos. Catierina é acusada de ser estéril. Tédio absoluto de Catierina na casa da família. 

Capítulo 2. 

A barragem do moinho da família se rompe; Catierina fica sem o marido por algum tempo. Conhece o empregado Serguiêi. 

Capítulo 3. 

Serguiêi vai ao quarto de Catierina. 

Capítulo 4. 

Depois de alguns dias, o sogro descobre o arranjo, prende e chicoteia o rapaz, manda chamar o filho. Descaradamente, Catierina pede que o sogro solte Serguiêi. A petulância da nora, antes submissa, espanta o velho. 

Capítulo 5. 

Catierina envenena o sogro, liberta o amante, faz-se o enterro rapidamente. Ela convive abertamente com Serguiêi na propriedade, frente aos outros empregados. 

Capítulo 6. 

Catierina sonha com um gato que invade o quarto e atrapalha o sono dela. Ela e Serguiêi tomam chá no crepúsculo, sexo ao luar, descrito de forma suave e divertida: “um estridente dueto de gatos; ouviu-se depois um escarro, um bufido raivoso”. 

Capítulo 7. 

O gato do sonho é o sogro assassinado. O marido volta em segredo. Ele entra silenciosamente na casa para tentar flagrar o crime. Mas, Catierina percebe a chegada do marido e, inclusive, “chega até a ouvir-lhe as batidas aceleradas do coração ciumento” atrás da porta do quarto. Esse trecho faz recordar “O coração denunciador”, de Edgar Allan Poe (1843). Após o marido levantar suspeitas, ela traz o amante para o quarto do casal, beija-o e desafia o marido. 

Capítulo 8. 

Os amantes matam o marido de Catierina. Serguiêi enterra o corpo sem que ninguém saiba. 

Capítulo 9. 

Catierina pede autorização para cuidar dos negócios. Surge o menino Fiódor, parente distante, candidato à herança. Catierina está grávida do amante. 

Capítulo 10. 

Serguiêi e Catierina incomodados com o menino. Serguiêi não quer dividir a herança. Ela se prepara para matar Fiódor. 

Capítulo 11. 

Os amantes sufocam o menino. Pessoas que saíam da missa percebem o crime, cercam e invadem a “casa pecaminosa”, “como sombras fantasmáticas”. 

Capítulo 12. 

Os amantes são presos. Serguiêi confessa os crimes; depois dele, Catierina também confessa. Os amantes são açoitados e condenados à deportação para trabalhos forçados. “O carrasco aplicou o devido número de vergões rubro-azuis nas costas brancas e nuas de Catierina Lvovna”. Na prisão, ela tem um bebê, mas o abandona. 

Capítulo 13. 

Catierina e Serguiêi são levados, juntamente com uma leva de prisioneiros, em longa caminhada para a Sibéria. No grupo, há duas mulheres que interessam a Serguiêi: Fiona e Sônia. 

Capítulo 14. 

Serguiêi se enrabicha com Fiona e depois com Sônia. Ele passa uma das noites com Catierina e pede a ela um par de meias. Essas meias, ele dá à Sônia. 

Capítulo 15. 

Na caminhada, Catierina vê Sônia com as meias; ataca e xinga Serguiêi. De noite, ele a ataca com cinquenta chibatadas. Fiona a acolhe. Catierina fica adoentada; a marcha prossegue, é inverno. Balsa sobre o rio Volga, agitado. Nas ondas do rio, ela vê o sogro, o marido e o menino. Catierina agarra Sônia e se joga no rio com ela.

domingo, 31 de janeiro de 2021

Livros lidos em janeiro 2021

Em janeiro 2021, foi concluída a leitura dos seguintes livros:

1. Mrs. Dalloway – Virginia Woolf (leitura iniciada em dezembro). (228 páginas).

2. 1Q84, volume 3 – Haruki Murakami (releitura). (469 páginas).

3. Macbeth – William Shakespeare (releitura). (133 páginas).

4. Mundo Fantasmo – Braulio Tavares. (125 páginas).

5. O amante – Marguerite Duras. (128 páginas).

6. Deuteronômio. (48 páginas).

7. Drácula – Bram Stoker. (638 páginas).

8. A espinha dorsal da memória – Braulio Tavares. (223 páginas).

9. Le Horla – Guy de Maupassant (releitura). (35 páginas).

10. Bartleby, o escriturário – Herman Melville (releitura). (95 páginas).

11. O colecionador – John Fowles (releitura). (343 páginas).

12. Lady Macbeth do distrito de Mtzensk – Nikolai Leskov. (95 páginas).

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Bartleby, o escriturário, Herman Melville, 1853

Bartleby, o escriturário, Herman Melville, 1853, 95 páginas, tradução de Luís de Lima, Rocco. Início: 24/01/2021 – Fim: 24/01/2021. Nota 5 (escala de 1 a 5).



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Eu já havia lido Bartleby na edição da Cosac com tradução de Irene Hirsch, e em inglês. Agora li essa edição da Rocco com tradução de Luís de Lima. 

Como já anotei antes, obra-prima. Um conto excelente, triste, melancólico, desesperado. 

A questão da tradução da frase principal de Bartleby continua. Na maior parte das vezes, Bartleby diz, no original, “I would prefer not to”, ou seja “eu preferiria não fazer isso”. Poucas vezes, mais afirmativo, ele diz “I prefer not to”, “eu prefiro não fazer isso”. Luís de Lima não mantém essa nuance e traduz somente como “Prefiro não fazer”. Perde-se a delicadeza da frase mais usada por Bartleby. 

Nesta segunda releitura, além de se reafirmar como obra-prima, para mim, destacaram-se os seguintes aspectos: Bartleby como duplo do advogado e Bartleby como fantasma. Penso que Melville dá a oportunidade ao leitor de, até mesmo, acreditar que Bartleby não existia, sendo uma criação da mente desesperada do advogado. 

Veja-se o resumo e comentários. 

O narrador se apresenta como um advogado sem ambições e um homem correto. Por coincidência, perceberemos que Bartleby é, também, honesto e sem ambições. O advogado é um homem que sente simpatia (ou empatia) mesmo por seres humanos muito imperfeitos, como seus funcionários. O advogado é maleável demais, não consegue ser firme. 

Os muros ocupam lugar relevante na história: o muro branca, de um lado do escritório, a muro preto, de outro, o muro que se vê pela janela de Bartleby, outra, o muro da prisão e a Wall Street, subtítulo do livro, “Uma história de Wall Street”. 

Bartleby é apresentado como um jovem perdido. O advogado coloca Bartleby dentro de sua sala, e não junto com os outros funcionários. Unidos e separados, ao mesmo tempo, porque um biombo os separa. Bartleby era eficiente, no início, mas somente isso não agrada ao advogado, porque, para o empregador, além de sermos eficientes, é necessário que a gente goste do trabalho. Para mim, isso remete ao mito de Sísifo: nós temos que carregar a pedra no esforço constante e repetitivo e, além, devemos ser forçado a gostar da repetição, gostar da pedra. 

Frente às recusas de Bartleby, “preferiria não fazer”, levanta-se a hipótese de maluco. A alimentação de Bartleby, mínima, não o sustentaria. Levanta-se a hipótese de Bartleby ser um fantasma, uma assombração, uma alma penada. A recusa ao mundo do trabalho só pode nos conduzir ao asilo (de loucos ou de pobres) ou à prisão. 

O advogado descobre que Bartleby passou a morar no escritório. Todo o tempo de Bartleby é passado naquele pequeno e isolado ambiente comercial. É domingo: a imensa solidão e desamparo do escriturário. O advogado imagina “uma perturbação mental incurável”. Bartleby anuncia “desisti de fazer cópias”; desistiu de tudo, na verdade; torna-se um destroço de naufrágio no oceano. 

Apesar de suas recusas e de passar a vida a mirar a “parede sinistra”, Bartleby mantém uma estranha ascendência sobre o advogado. Este não consegue expulsar Bartleby, não tem força e firmeza para isso; então expulsa a si mesmo: muda de escritório. O último objeto a ser retirado é o biombo. Bartleby fica só. O biombo como a capa de um livro indecifrável, ou a carapaça de um bicho mole e pálido. Desprotegido, desamparado. 

Bartleby não deixa o prédio do antigo empregador e incomoda os inquilinos: vive sentado no corrimão e dorme no vestíbulo. O prédio é a última ligação de Bartleby com algo humano, o ex-patrão, o antigo escritório. O advogado tenta encontrar nova ocupação para o escriturário, mas nada ele aceita, apesar de repetir “não sou exigente”. 

Bartleby não sai do prédio e é preso, sem resistir. O advogado o visita na prisão: “Nada tenho a lhe dizer” e “Sei onde estou”, são as frases de Bartleby, e vai contemplar o muro da prisão. Dias depois, nova visita do advogado; Bartleby deitado ao pé do muro, em posição fetal, morto. 

O advogado relata, sem assegurar a verdade do fato, que Bartleby trabalhou na seção de Cartas Mortas dos correios. Cartas mortas, extraviadas, cartas que apressam a morte. Desesperança. Fim.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Drácula, Bram Stoker, 1897

Drácula, Bram Stoker, 1897, 638 páginas, tradução de José Francisco Botelho, Penguin Companhia. Início: 10/01/2021 – Fim: 25/01/2021. Nota 4 (escala de 1 a 5).



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

É revelador ler um livro famoso e constatar que história original é bem diferente daquilo que a cultura popular espalhou. 

O enredo de “Drácula” já foi usado inúmeras vezes, tanto no cinema, quanto na literatura, nos gibis, em todas as formas. 

Resumo bem resumido: Jonathan vai à Transilvânia tratar de negócios com o conde Drácula que havia comprado uma propriedade em Londres. Jonathan fica prisioneiro do conde. O conde se muda para Londres e ataca Lucy. Dois médicos, Jack e Van Helsing, tentam curar Lucy da doença misteriosa, auxiliados por Quincey e Arthur. Mina vai ao encontro de Jonathan em um hospital de Budapeste. Lucy morre, transforma-se em vampira e é morta pelos quatro, Van Helsing, Jack, Arthur e Quincey. Mina e Jonatham se unem ao grupo para combater Drácula. O grupo consegue destruir os planos do conde de se fixar em Londres. O conde foge de volta para seu castelo. O grupo o persegue. Na Transilvânia, próximo ao castelo, o grupo consegue deter e matar o conde. 

A principal diferença entre o Drácula de Stoker e algumas versões açucaradas é esta: o conde não é um romântico, não há nenhuma relação anterior entre ele e Mina, não há nenhum tipo de amor na personalidade do conde. Mina ama o noivo e marido Jonathan. 

Apesar de algumas falhas, é um romance que prende o leitor do início ao fim; é instigante, tenso, revelador. Vale demais ler Drácula de Bram Stoker. 


Erotismo. 

Este é um livro da era vitoriana, mas o erotismo está presente de forma clara. Jonathan, no castelo de Drácula, é atacado por três belas mulheres vampiras e fica em êxtase. É salvo pelo conde. Lucy, quando contaminada pelo conde, varia entre a “pureza” e a lascívia. Lucy, já transformada em vampira, é um ser sexual. Lucy vampira é morta violenta e sensualmente pelo noivo. Mina é atacada e punida pelo conde em uma cena que é a mais erótica do romance. Van Helsing sente excitação ao matar as três vampiras. 


Falhas. 

Bram Stoker não descreve exatamente a forma como Jonathan consegue fugir do castelo Drácula, tampouco as peripécias pelas quais deve ter passado até conseguir chegar em Budapeste, muito doente. 

Não há explicação para a preferência quase exclusiva de Drácula por Lucy. Aparentemente, Lucy é uma moça de pensamento mais “liberal” e isso pode ter atraído o conde. De todo modo, Lucy é punida. 

A preferência é quase exclusiva porque o autor mostra Drácula em Piccadilly interessado por uma moça que passa na rua. Não parece coerente que Drácula tenha viajado da Romênia para a Transilvânia só para morder Lucy e Mina. A própria Lucy suga o sangue de várias crianças nos poucos dias em que permaneceu com vampira. 

Se, como é de se esperar, Drácula experimentou diversas moças, em Londres, isso faz cair por terra todo o esforço de Van Helsing e equipe em destruir o conde para evitar a disseminação de uma estirpe de vampiros. 

Não se explica qual a ligação entre Drácula e Renfield. Há muitas falhas, também, na atuação do grupo para proteger Lucy, e para proteger Mina. A ingenuidade deles favorece e facilita os ataques do conde.

 

Fragmentário. 

A história é narrada por meio de diários, cartas, notícias de jornal. O prefácio diz que a forma fragmentária do romance corresponde ao modo de Bram Stoker para compô-lo, nos intervalos de suas ocupações, nas férias, em momentos roubados ao trabalho. 

A fragmentação da narrativa não torna o romance enfadonho ou difícil de acompanhar. O autor consegue manter o leitor interessado na evolução dos acontecimentos.

 

Drácula e Frankenstein. 

Da mesma forma que Mary Shelley iniciou seu romance a partir de um sonho, conta-se que Bram Stoker também teve um sonho fundador do romance: o sonho tornou-se a cena contida no capítulo 3, que é o ataque das três vampiras a Jonathan e o salvamento efetuado pelo conde. Também de forma semelhante, Stoker desenvolveu o início do romance em um período chuvoso.

 

Drácula e Harry Potter. 

É evidente que J. K. Rowling chupou de Bram Stoker algumas ideias. Por exemplo, o conde frequentou uma escola chamada de Scholomance, nas montanhas da Transilvânia, na qual o diabo ensinava feitiços e sortilégios. 

O conde ganha uma cicatriz na testa, causada por Jonathan. Após o conde contaminar Mina, esposa de Jonathan, Van Helsing tenta protegê-la com uma hóstia. Esta hóstia queima a testa de Mina e deixa uma marca. A partir da contaminação, Mina e o conde mantêm uma conexão, um tipo de comunicação telepática. 

(Além das semelhanças com Harry Potter, a marca na testa faz pensar na marca de Caim, a marca com a qual Iahweh protegeu o assassino do próprio irmão.)

 

Drácula e Mrs. Dalloway. 

Na época de Bram Stoker, Londres foi assolada pelos crimes de Jack, o Estripador. Curiosamente, o doutor Seward, chamado de Jack pelos amigos, era um dos pretendentes de Lucy, e ao ser rejeitado por ela, fica brincando com um bisturi, “revirando-o entre os dedos”, o que deixa a moça nervosa. 

O cacoete de Jack com seu bisturi (quem é que vai pedir uma moça em casamento e leva um bisturi?) me fez recordar Peter Walsh, personagem de Mrs. Dalloway, que tem cacoete semelhante com um canivete; e isso incomoda Clarissa Dalloway. Também se pode pensar em alguma semelhança entre a loucura extrema de Renfield e a de Septimus.

 

O péssimo filme com Gary Oldman.

O Drácula de Coppola é péssimo, um dos piores filmes que já vi. É um crime de lesa-clássico colocar no filme o nome de Bram Stoker. O filme distorce completamente o romance de Stoker. É um filme mal interpretado, caricatural, mal feito, mal montado, mal produzido. Deve ter sido filmado por algum auxiliar de Coppola e ele assinou. O Drácula romântico e apaixonado de Gary Oldman é ridículo. O Van Helsing de Anthony Hopkins é nojento.

 

Resumo: 

Capítulo 1. Jonathan Harker está nos Cárpatos e Transilvânia para visitar o castelo do Conde Drácula, com o qual tem negócios a resolver; o conde comprou um imóvel em Londres. Os habitantes da região tentam evitar que Jonathan vá ao castelo. A caleche do conde intercepta a carruagem. Harker passa por estranhos eventos com lobos e fogos fátuos e chega ao castelo. 

Capítulo 2. Jonathan conhece o estranho conde e seus hábitos bizarros. Conversam sobre a propriedade em Londres. O conde não é refletido pelo espelho. O castelo é uma prisão para Jonathan. 

Capítulo 3. Jonathan vê o conde rastejar pelas paredes externas do castelo como um lagarto. Jonathan adormece em uma parte proibida do castelo, é atacado por três vampiras e é salvo pelo conde. 

Capítulo 4. O conde vai partir para Londres. Jonathan escala as paredes e consegue chegar à cripta, e volta ao seu quarto. Há ciganos e eslovacos acampados no pátio do castelo, mas não o ajudam. Ele volta à cripta, mas não acha uma saída. As carroças com as caixas, e o conde em uma delas, partem do castelo. Ele fica só com as vampiras. 

Capítulo 5. Cartas e diário de Mina, namorada de Jonathan, e de Lucy: trocas de confidências de amor. Lucy reclama que uma mulher não pode se casar com três ou quatro homens. Diário do médico Seward, diretor de um manicômio. O estranho comportamento de um louco, Renfield. 

Capítulo 6. Diário de Mina: o sonambulismo de Lucy está piorando. Seward: o louco come moscas e pássaros. Mina: um estranho navio se aproxima de Withby em noite de tempestade. 

Capítulo 7. Notícias de jornal sobre o navio russo: só havia o capitão, morto e amarrado ao timão; um enorme cão foge do navio. Diário de bordo: havia uma Coisa no navio, os tripulantes foram sumindo um a um. Funeral do capitão. 

Capítulo 8. Lucy, sonâmbula, saiu de casa e foi atacada por uma criatura que fugiu quando Mina se aproximava. Lucy doente e com dois furos no pescoço. Sonambulismo todas as noites e um morcego que bate na janela. Cinquenta caixas de terra que estavam no navio são levadas para a propriedade em Carfax. Lucy melhora com o afastamento do conde. Mina recebe carta: Jonathan está em um hospital em Budapeste. O louco Renfield vai até a capela da propriedade em Carfax, ao lado do manicômio. 

Capítulo 9. Mina casa com Jonathan em Budapeste, no hospital. Não conversam sobre os eventos da Transilvânia. Lucy, agora em Londres, sofre uma piora. Arthur, noivo de Lucy, pede a ajuda de Seward. Este examina Lucy e manda chamar o doutor Van Helsing, que a examina, mas volta para Amsterdam. Lucy piora, Van Helsing volta. 

Capítulo 10. Lucy está exangue; faz-se uma transfusão, sangue de Arthur. Lucy é deixada só no quarto, uma noite, e fica novamente sem sangue. Nova transfusão, sangue de Seward. Van Helsing coloca flores de alho pelo quarto e no pescoço de Lucy. 

Capítulo 11. A mãe de Lucy jogou fora as flores de alho durante a noite. Mais uma transfusão, sangue de Van Helsing. Um lobo fugiu do zoológico. O lobo quebrou a vidraça do quarto de Lucy, uma ventania afastou as flores de alho. A mãe de Lucy morre do susto. As criadas são dopadas com láudano. Lucy está só na casa. 

Capítulo 12. Lucy foi atacada mais uma vez. Nova transfusão, sangue de Quincey. Sem esperanças; Lucy está se transformando em vampira. Mina e Jonathan, herdeiros de Hawkins estão indo para Londres. As caixas de terra foram retiradas da propriedade em Carfax. Lucy morre com aspecto de vampira. 

Capítulo 13. Prepara-se o enterro de Lucy e da mãe. Van Helsing ia cortar a cabeça dela e retirar o coração mas desistiu sem explicação. Mina e Jonathan, em Londres, vêem o conde na rua, de dia. Telegrama avisa Mina da morte de Lucy e mãe. Arthur pensa que “casou” com Lucy ao dar seus sangue a ela. Mal sabe ele que ela “casou” com o sangue de outros três homens. Lucy enterrada em Hampstead. Jornal: crianças sequestradas por uma linda moça em Hampstead, ferimentos no pescoço. 

Capítulo 14. Mina lê o diário de Jonathan. Mina se encontra com Van Helsing e entrega a ele o diário dela e o de Jonathan. Van Helsing diz a Seward que é Lucy quem está sequestrando crianças. 

Capítulo 15. Van Helsing e Seward vão ao cemitério e constatam que o caixão de Lucy está vazio. Vêem o vulto branco retornando ao cemitério com uma criança. Van Helsing convoca Arthur e Quincey. 

Capítulo 16. Vão todos ao cemitério e vêem a Lucy vampira. Na noite seguinte, estaca no coração de Lucy e cortam a cabeça dela. A cena da estaca: quem mata Lucy com a estaca, violentamente, sangue esguichando, é Arthur, o ex-noivo: não seria uma vingança contra a sensualidade de sua noiva? 

Capítulo 17. Mina compila os diários disponíveis e traça a cronologia dos fatos. Jonathan segue a rota das caixas de terra do conde. Formam um grupo contra Drácula. 

Capítulo 18. Mina é apresentada ao louco Renfield. Van Helsing explica para todos sobre as características dos vampiros e de Drácula. Renfield se diz são e pede para deixar o asilo. 

Capítulo 19. O grupo, sem Mina, invade a mansão de Drácula e conta as caixas de terra, vinte e nove. Mina muito fraca, é óbvio que foi atacada pelo vampiro mas ninguém suspeita do óbvio. Curiosamente, Mina compara a aparição em seu quarto com a “coluna de nuvem” que é Iahweh e guia os hebreus. 

Capítulo 20. Jonathan descobre o destino de doze caixas, seis em cada bairro de Londres. Descobre que as nove caixas restantes estão em uma casa de Piccadilly. Seward percebe que Renfield teve contato com Drácula. Mas continuam todos a não notar que Mina está cada vez mais fraca. Renfield é atacado por Drácula. 

Capítulo 21. Renfield gravemente ferido; conta que convidou Drácula para entrar na noite em que o grupo foi à mansão. Drácula esteve com Mina. Correm para o quarto de Jonathan e Mina. A cena mais erótica do livro: Drácula subjuga Mina, ajoelhada na cama, de camisola, Mina chupa o sangue do peito de Drácula. Jonathan paralisado. Conseguem interromper o conde, que foge. Consternação geral, Mina se acusa, “impura, impura”, Jonathan dá uns tremeliques, o relato de Mina: o conde a “sujeitou”, ela não desejava detê-lo, o conde com a boca cheia de gozo, ela sufocava se não engolisse o sangue; o conde diz que aquela é a punição que ela merece. O cabelo de Jonathan ficou branco. Renfield está morto. 

Capítulo 22. A hóstia queima a testa de Mina. Em Piccadilly, o grupo destrói as caixas de terra, mas falta uma. 

Capítulo 23. As caixas das outras casas foram destruídas. Drácula em Piccadilly, o grupo o ataca, ele foge. Mina descobre que possui algum tipo de “telepatia” com o conde. 

Capítulo 24. Informações sobre o navio que estava transportando a caixa com o conde para Varna. O grupo vai para Varna de trem. 

Capítulo 25. Mina, hipnotizada, “sente” onde está o conde. O grupo chega a Varna e aguarda. O navio desvia de Varna e vai direto para Galatz. 

Capítulo 26. A caixa com o conde segue por rios em direção ao castelo. Mina e Van Helsing seguem de trem para Galatz e de coche, de lá para o castelo. Jonathan e Arthur seguem de barco a vapor pelo rio. Quincey e Jack seguem de cavalo acompanhando o rio. 

Capítulo 27. Mina e Van Helsing chegam primeiro ao entorno do castelo. Van Helsing cerca Mina com um círculo protetor de hóstias e evita o ataque das três vampiras. Van Helsing entra no castelo e destrói as três vampiras e o túmulo de Drácula. A caixa com o conde está sendo transportada de carruagem pelos ciganos. Os quatro perseguidores seguem logo atrás a cavalo. Encontro final, a carruagem, os perseguidores, Mina e Van Helsing. Jonathan e Quincey conseguem quebrar a caixa e matar o conde. Quincey é ferido mortalmente pelos ciganos. 

Nota. Sete anos depois. Jonathan e Mina têm um filho e o batizam de Quincey. Eles visitaram a Transilvânia recentemente.