Medeia, Eurípides, 431 aEC

Medeia, Eurípides, 431 aEC, 98 páginas, tradução de Mário da Gama Kury, Zahar. Início: 27/01/2021 – Fim: 02/02/2021. Nota 3 (Escala:1 – Ruim, 2 – Regular, 3 – Bom, 4 – Ótimo, 5 – Obra-prima).



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

A peça de Eurípides pode ser lida em poucas horas. Eu levei mais tempo porque fui devagar, degustando. 

O tema da peça é a traição do marido que transforma o amor da esposa em ódio. Traição, depressão, ódio, vingança. Isso acontece até hoje. Na peça, a vingança é adornada com feitiçaria, mas fora esse efeito de magia, é tudo comum aos mortais. Os deuses não participam no desenrolar da tragédia. 

Medeia é casada com Jasão, eles têm dois filhos e vivem em Corinto, cidade grega distante oitenta quilômetros de Atenas. Medeia é repudiada por Jasão, pois ele vai se casar com a filha de Creonte, rei de Corinto. Medeia, inicialmente sucumbe à tristeza. Depois decide se vingar, matando a princesa, o rei e os dois filhos. Depois de executada a vingança, Medeia foge em um carro flamejante de Apolo. Aristóteles criticou esse final com a utilização dessa manobra de deus ex-machina. Todavia, esse recurso não é “a salvação”; funciona mais como recurso de teatro, permitindo uma fuga mais espetacular e permitindo o diálogo final entre Jasão e Medeia. Eurípides poderia ter feito Medeia fugir silenciosamente, à noite, por exemplo, e um mensageiro trazer as notícias para Jasão. 

Resumo. 

Jasão foi enviado à Cólquida, por Pelias, rei de Iolco, para recuperar o velocino de ouro. Lá, ele foi ajudado por Medeia, filha do rei da Cólquida, que estava apaixonada por ele. Medeia domina a arte da feitiçaria e mantém ligação com a deusa Hécate, a deusa da magia e das encruzilhadas. Depois de pegar o velocino, Jasão foge com Medeia no barco Argos. Medeia havia levado com ela o irmão como refém. Para atrasar o pai, ela despedaça o corpo do irmão e joga os pedaços ao mar. 

Em Iolco, Medeia engana as filhas de Pelias e estas matam o próprio pai. Jasão e Medeia fogem para Corinto onde vivem harmoniosamente por dez anos. 

Jasão repudia Medeia porque quer casar com a filha do rei de Corinto. Neste momento, começa a peça. 

Medeia “jaz sem alimento, abandonando o corpo ao sofrimento, consumindo só, em pranto, seus dias todos desde que sofreu a injúria do esposo”. Jasão está afastado dela e dos filhos. Medeia: “filhos malditos de mãe odiosa”. A ama recomenda moderação, conforme preceituava o templo de Apolo: nada em excesso. “Já não existe o lar, tudo acabou”. 

Medeia anseia pela morte. Jasão é pérfido e traidor. As mulheres são as criaturas mais sofredoras neste mundo. Melhor combater nas guerras do que parir. A tristeza de Medeia começa a se tornar fúria. 

O rei Creonte chega e comunica a expulsão de Medeia e dos filhos. Por que? Por medo de Medeia e de suas feitiçarias. “Viver é ter desgostos e eles não nos faltam.” Medeia consegue permissão para ficar mais um dia em Corinto, pois deve conseguir asilo e  recursos para sustentar os filhos; o pai não cuida mais disso. 

Inicialmente, Medeia pensa matar o rei, a filha e Jasão, com a ajuda de Hécate. Jasão e Medeia discutem. Ela recorda que o salvou na Cólquida. Ele diz que ele a trouxe para a Grécia e é melhor estar ali que no fim do mundo. Jasão quer dar parte de suas posses para os filhos e pedir abrigo para ela em outros reinos; ela não aceita. 

Medeia consegue de Egeu a promessa de asilo em Atenas. Ela decide matar a noiva e o rei, e depois matar os filhos para punir o pai. 

Medeia pede a Jasão para que os filhos fiquem em Corinto. Jasão diz que vai tentar. Para favorecer o pedido, Medeia manda os filhos com presentes para a noiva: um véu e um diadema enfeitiçados. Os filhos entregam os presentes e voltam. Medeia ainda duvida conseguir matar as crianças. 

Um mensageiro chega com as notícias: ao colocar o véu e o diadema, a princesa começou a arder em fogo, não conseguia retirar os objetos; sangue, a carne se desprende dos ossos. O rei Creonte tenta ajudar e fica preso nos objetos e morre da mesma forma. 

Medeia firma sua decisão e mata os filhos. Jasão chega, mas os filhos já estão mortos. Medeia aparece sobre a casa em um carro flamejante, enviado pelo Sol (ela é descendente do deus). Ela e Jasão ainda discutem. Ela não permite que ele toque os cadáveres dos filhos nem que os enterre e parte. “Assim termina o drama.”