Vida querida, Alice Munro, 2012

Vida querida, Alice Munro, 2012, 316 páginas, tradução de Caetano Galindo, Companhia das Letras. Nota 3 (escala de 1 a 5).



Releitura. Boa parte dos contos traz um final aberto. Isso incomoda. Munro poderia ter dado um acabamento melhor. Muita vez parece que a autora não soube concluir. Ou quer que o leitor fique com material para pensar, elaborar, tecer futuros possíveis. Sou preguiçoso, quero que me contem tudo. 

São histórias melancólicas, por vezes tristes, culpas antigas, vidas que seguem, que tentam seguir. Muitos personagens querem apenas ser deixados em paz com seus defeitos, suas culpas. A vida vai continuando apesar dos erros e desejos, tudo passa. 

Breve resumo de cada conto. 

Que chegue ao Japão. Um bom conto, mas o final fica em suspenso. Greta é poeta, o marido é engenheiro. Greta vai de Vancouver a Toronto de trem, conhece um jovem no trem. Em Toronto, mora um homem pelo qual ela tem interesse. 

Amundsen. A jovem professora vai trabalhar em um sanatório para doentes de tuberculose. Ela é pedida em casamento pelo médico que administra o lugar. Final melancólico com certa dose de dúvida. 

Deixando Maverley. Bom. A vida do casal Ray e Isabel segue em paralelo com a vida da jovem Leah. Esta toma decisões inusitadas, que são acompanhadas de longe pelo casal. Há um pouco de ciúme de Isabel, lá longe. O final parece indicar o início de uma nova história. 

Cascalho. A mãe se envolve com teatro, abandona o pai e a vida confortável, e leva os dois filhos. Uma tragédia com a filha mais velha. Feridas permanentes em todos, especialmente no irmão mais novo. Culpa perpétua? 

Recanto. Irmãos: um médico e uma violinista. O médico é um cara rigoroso, autoritário, e parece odiar a irmã que optou pela leveza da arte. 

Orgulho. Um rapaz que teve lábio leporino. Uma moça que foi de família rica. Vidas paralelas que se tocam, mas a moça insiste em um contato mais profundo. O rapaz não quer mudanças em sua vida metódica. 

Corrie. Um bom conto, muita melancolia e certa raiva ao final. Howard, um crápula, engana Corrie, sua amante, durante anos, por meio de uma falsa chantagem. 

Trem. Muito bom. Jackson volta da guerra, mas evita sua cidade natal e a namorada. Instala-se em uma fazenda que pertence à Belle. Anos depois foge de Belle. Depois disso, mais uma fuga. O leitor descobre, com sutileza da autora, os motivos de Jackson. 

Com vista para o lago. É meio uma fantasia, uma rememoração fantasiosa de um episódio, ou com lacunas, por parte de uma mulher que deve estar com demência. Dá agonia e impaciência. Triste. 

Dolly. Bom. Um casal de velhos ativos, ele poeta. Uma antiga namorada que surge, um equívoco, suspense e angústia e o esclarecimento. 

Finale. A autora diz que nesta parte não há “exatamente contos”. São recordações mais ou menos autobigráficas, episódios de infância e começo da adolescência. 

O olho. A criança vai com a mãe ao velório da jovem que cuidava dela. A narradora vê o movimento quase imperceptível do olho da moça morta; um aceno só para ela, a criança. 

Noite. Noites de insônia da menina, pensamentos maus, a casa e os arredores na escuridão. 

Vozes. A menina e a mãe comparecem a um baile na casa de um vizinho e retiram-se às pressas porque uma prostituta também foi ao baile. 

Vida querida. Recordações da casa da família, afastada do centro da cidade, no limite entre campo e cidade. O rigor da mãe, os castigos, a mãe acometida do mal de Parkinson.