O amante, Marguerite Duras, 1984

O amante, Marguerite Duras, 1984, 128 páginas, tradução de Denise Bottmann, Tusquets. Início: 07/01/2021 – Fim: 13/01/2021. Nota 2 (escala de 1 a 5).


Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco.

Não gostei. Entrecortado. Escrito na forma de recordações. Não tem divisões ou capítulos. De acordo com o posfácio, é livro de uma escrita“fragmentária, mais alusiva que representativa”. Para mim, apenas maçante, aborrecido. Um livro curto, a história tem 84 páginas, mas tive dificuldade de terminar. O livro não prende o leitor. 

É a história de uma garota pobre de quinze anos e meio, de origem francesa, que mantém um relacionamento com um chinês rico no Vietnã, quando este país era colônia francesa. A garota mora em um pensionato e estuda em um liceu. A mãe e os irmãos também moram no Vietnã. A garota conhece o chinês em uma travessia de balsa. A garota, antes até de conhecer o chinês, diz se vestir como uma prostituta infantil. A mãe ficou desequilibrada após a morte do marido e de investimentos falidos que fez. A mãe percebe que a garota é que vai “fazer entrar dinheiro em casa”. O chinês leva a família para restaurantes e boates, mas ninguém fala com ele nessas ocasiões. O irmão mais velho é um crápula, desonesto, viciado em jogo. O preconceito contra o chinês é tremendo, mas o pai do chinês também não admite que ele pudesse, um dia, casar com a garota branca. A garota é fria com o chinês, parece estar interessada apenas em sexo e dinheiro. Ou em nada: a garota é apática. Como personagem, o chinês é mais real; a garota é idealizada. Depois de um ano e meio de relacionamento, a garota volta para a França, estuda, casa, tem filho, torna-se escritora. O chinês também se casa. Em uma visita à França, anos mais tarde, telefona para a mulher e diz que a amará para sempre. 

Para conseguir descobrir esse fiapo de história, o leitor deve suportar repetições sobre o encontro na balsa, reminiscências entrecortadas do passado e do futuro. O único personagem com o qual o leitor pode manter uma ligação é o chinês. A garota é perversa ou apática. O irmão mais novo, frágil. O mais velho, um ladrão, e violento. A mãe, quase louca. 

Resumo: 

A narradora sente que envelheceu aos dezoito anos. A principal recordação se refere à época quando ela contava quinze anos e meio. A mãe é desequilibrada: depressão, louca, bipolar, não dá para saber. A garota mora em um pensionato para estudar em um liceu. O fato principal é a travessia de balsa do rio Mekong, a garota usa um chapéu masculino e um sapato de salto alto. Na meia-idade, quando escreve o livro, o álcool a afetava. A mãe era acometida de desânimo de viver. O pai doente morreu pouco antes. A mãe é desesperançosa. A garota na balsa está maquiada. Um homem na limusine observa a garota. É um livro de reflexões e melancolia. A história evolui lentamente, ou nem evolui, ou é fragmentada demais. Aos quinze anos e meio, ela disse à mãe que queria escrever livros, romances. A mãe é semilouca, dá vontade “de prender, de bater, de matar”. A mãe parece compreender que a garota vai “fazer entrar dinheiro em casa”, por isso permite aquela “roupa de prostituta infantil”. A garota vai atrás de dinheiro, pede dinheiro ao homem da limusine. Amor e ódio pela mãe e irmãos. Aos quinze anos e meio na balsa do Mekong, o homem da limusine, repetições. Um ano e meio depois, voltam para a França. A garota se afastou da mãe depois que o irmão mais novo morreu de broncopneumonia. “Não os amo mais, nem sei se os amei”. A mãe ficou em Saigon de 1932 a 1949, o irmão mais moço morreu em 1942. As datas são poucas e a narração vai e vem no passado e no futuro. Na França, a mãe foi morar em um castelo: como, se eram pobres? O irmão mais velho era uma criança grande, incompetente, voluntarioso. O homem da limusine é um jovem chinês rico, dá carona para a garota. Ela tenta saber quantos milhões ele tem. Ele jamais se casaria com a “pequena prostituta branca”. Dias depois, ele a leva a um quarto no sul da cidade. Ele diz que a ama, ela quer ser tratada como puta, ela se diz perversa, eles fazem sexo, ela sente dor e prazer, ela não sabia que sangrava, ele dá banho nela. Falam de dinheiro, ela o deseja com o dinheiro. Quer fazer sexo de novo. Ele brutal, a insulta, puta, nojenta. O amante chinês leva a família da garota para restaurantes e boates, ninguém fala com ele. Extremo preconceito. O amante sabe que ela está com ele por dinheiro, ele é completamente submisso a ela e ao pai. A mãe desequilibrada bate na filha de vez em quando por causa do amante: prostituta. A narrativa muda de repente, sem motivo, para falar de duas mulheres em Paris. O irmão mais velho é um crápula, ladrão e viciado em jogo e adorado pela mãe. O chinês dá banho na garota quando estão no quarto dele. A diretora permite que ela use o pensionato como hotel, sem horários fixos. A garota admira o corpo de Hélène, os seios de Hélène, desejo por Hélène que tem dezessete anos. Ela, já casada em Paris, o irmão a rouba e foge. O irmão mais velho morre aos 65 anos, trabalhava como vigia de uma fábrica. Volta a falar da roupa da desonra. Fala da Dama, uma mulher casada cujo amante se matou, lá no Vietnã. A prostituição flagrante da menina, a mãe louca a defende. A mãe pergunta se ela está com o chinês somente pelo dinheiro. Fotos de família. Telegrama informa a morte do irmão mais novo aos 27 anos. Data marcada para voltar à França, o amante fica sem potência, não consegue mais. Ela embarca no navio e vai embora. Casa, separa. Ele se casa. Em visita à França, telefona para ela e diz que a amará até a morte. Fim. 

Primeiro parágrafo: 

Um dia, eu já tinha bastante idade, no saguão de um lugar público, um homem se aproximou de mim. Apresentou-se e disse: “Eu a conheço desde sempre. Todo mundo diz que você era bonita quando jovem; venho lhe dizer que, por mim, eu a acho agora ainda mais bonita do que quando jovem; gostava menos do seu rosto de moça do que do rosto que você tem agora, devastado”.