domingo, 31 de janeiro de 2021

Livros lidos em janeiro 2021

Em janeiro 2021, foi concluída a leitura dos seguintes livros:

1. Mrs. Dalloway – Virginia Woolf (leitura iniciada em dezembro). (228 páginas).

2. 1Q84, volume 3 – Haruki Murakami (releitura). (469 páginas).

3. Macbeth – William Shakespeare (releitura). (133 páginas).

4. Mundo Fantasmo – Braulio Tavares. (125 páginas).

5. O amante – Marguerite Duras. (128 páginas).

6. Deuteronômio. (48 páginas).

7. Drácula – Bram Stoker. (638 páginas).

8. A espinha dorsal da memória – Braulio Tavares. (223 páginas).

9. Le Horla – Guy de Maupassant (releitura). (35 páginas).

10. Bartleby, o escriturário – Herman Melville (releitura). (95 páginas).

11. O colecionador – John Fowles (releitura). (343 páginas).

12. Lady Macbeth do distrito de Mtzensk – Nikolai Leskov. (95 páginas).

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Bartleby, o escriturário, Herman Melville, 1853

Bartleby, o escriturário, Herman Melville, 1853, 95 páginas, tradução de Luís de Lima, Rocco. Início: 24/01/2021 – Fim: 24/01/2021. Nota 5 (escala de 1 a 5).



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Eu já havia lido Bartleby na edição da Cosac com tradução de Irene Hirsch, e em inglês. Agora li essa edição da Rocco com tradução de Luís de Lima. 

Como já anotei antes, obra-prima. Um conto excelente, triste, melancólico, desesperado. 

A questão da tradução da frase principal de Bartleby continua. Na maior parte das vezes, Bartleby diz, no original, “I would prefer not to”, ou seja “eu preferiria não fazer isso”. Poucas vezes, mais afirmativo, ele diz “I prefer not to”, “eu prefiro não fazer isso”. Luís de Lima não mantém essa nuance e traduz somente como “Prefiro não fazer”. Perde-se a delicadeza da frase mais usada por Bartleby. 

Nesta segunda releitura, além de se reafirmar como obra-prima, para mim, destacaram-se os seguintes aspectos: Bartleby como duplo do advogado e Bartleby como fantasma. Penso que Melville dá a oportunidade ao leitor de, até mesmo, acreditar que Bartleby não existia, sendo uma criação da mente desesperada do advogado. 

Veja-se o resumo e comentários. 

O narrador se apresenta como um advogado sem ambições e um homem correto. Por coincidência, perceberemos que Bartleby é, também, honesto e sem ambições. O advogado é um homem que sente simpatia (ou empatia) mesmo por seres humanos muito imperfeitos, como seus funcionários. O advogado é maleável demais, não consegue ser firme. 

Os muros ocupam lugar relevante na história: o muro branca, de um lado do escritório, a muro preto, de outro, o muro que se vê pela janela de Bartleby, outra, o muro da prisão e a Wall Street, subtítulo do livro, “Uma história de Wall Street”. 

Bartleby é apresentado como um jovem perdido. O advogado coloca Bartleby dentro de sua sala, e não junto com os outros funcionários. Unidos e separados, ao mesmo tempo, porque um biombo os separa. Bartleby era eficiente, no início, mas somente isso não agrada ao advogado, porque, para o empregador, além de sermos eficientes, é necessário que a gente goste do trabalho. Para mim, isso remete ao mito de Sísifo: nós temos que carregar a pedra no esforço constante e repetitivo e, além, devemos ser forçado a gostar da repetição, gostar da pedra. 

Frente às recusas de Bartleby, “preferiria não fazer”, levanta-se a hipótese de maluco. A alimentação de Bartleby, mínima, não o sustentaria. Levanta-se a hipótese de Bartleby ser um fantasma, uma assombração, uma alma penada. A recusa ao mundo do trabalho só pode nos conduzir ao asilo (de loucos ou de pobres) ou à prisão. 

O advogado descobre que Bartleby passou a morar no escritório. Todo o tempo de Bartleby é passado naquele pequeno e isolado ambiente comercial. É domingo: a imensa solidão e desamparo do escriturário. O advogado imagina “uma perturbação mental incurável”. Bartleby anuncia “desisti de fazer cópias”; desistiu de tudo, na verdade; torna-se um destroço de naufrágio no oceano. 

Apesar de suas recusas e de passar a vida a mirar a “parede sinistra”, Bartleby mantém uma estranha ascendência sobre o advogado. Este não consegue expulsar Bartleby, não tem força e firmeza para isso; então expulsa a si mesmo: muda de escritório. O último objeto a ser retirado é o biombo. Bartleby fica só. O biombo como a capa de um livro indecifrável, ou a carapaça de um bicho mole e pálido. Desprotegido, desamparado. 

Bartleby não deixa o prédio do antigo empregador e incomoda os inquilinos: vive sentado no corrimão e dorme no vestíbulo. O prédio é a última ligação de Bartleby com algo humano, o ex-patrão, o antigo escritório. O advogado tenta encontrar nova ocupação para o escriturário, mas nada ele aceita, apesar de repetir “não sou exigente”. 

Bartleby não sai do prédio e é preso, sem resistir. O advogado o visita na prisão: “Nada tenho a lhe dizer” e “Sei onde estou”, são as frases de Bartleby, e vai contemplar o muro da prisão. Dias depois, nova visita do advogado; Bartleby deitado ao pé do muro, em posição fetal, morto. 

O advogado relata, sem assegurar a verdade do fato, que Bartleby trabalhou na seção de Cartas Mortas dos correios. Cartas mortas, extraviadas, cartas que apressam a morte. Desesperança. Fim.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Drácula, Bram Stoker, 1897

Drácula, Bram Stoker, 1897, 638 páginas, tradução de José Francisco Botelho, Penguin Companhia. Início: 10/01/2021 – Fim: 25/01/2021. Nota 4 (escala de 1 a 5).



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

É revelador ler um livro famoso e constatar que história original é bem diferente daquilo que a cultura popular espalhou. 

O enredo de “Drácula” já foi usado inúmeras vezes, tanto no cinema, quanto na literatura, nos gibis, em todas as formas. 

Resumo bem resumido: Jonathan vai à Transilvânia tratar de negócios com o conde Drácula que havia comprado uma propriedade em Londres. Jonathan fica prisioneiro do conde. O conde se muda para Londres e ataca Lucy. Dois médicos, Jack e Van Helsing, tentam curar Lucy da doença misteriosa, auxiliados por Quincey e Arthur. Mina vai ao encontro de Jonathan em um hospital de Budapeste. Lucy morre, transforma-se em vampira e é morta pelos quatro, Van Helsing, Jack, Arthur e Quincey. Mina e Jonatham se unem ao grupo para combater Drácula. O grupo consegue destruir os planos do conde de se fixar em Londres. O conde foge de volta para seu castelo. O grupo o persegue. Na Transilvânia, próximo ao castelo, o grupo consegue deter e matar o conde. 

A principal diferença entre o Drácula de Stoker e algumas versões açucaradas é esta: o conde não é um romântico, não há nenhuma relação anterior entre ele e Mina, não há nenhum tipo de amor na personalidade do conde. Mina ama o noivo e marido Jonathan. 

Apesar de algumas falhas, é um romance que prende o leitor do início ao fim; é instigante, tenso, revelador. Vale demais ler Drácula de Bram Stoker. 


Erotismo. 

Este é um livro da era vitoriana, mas o erotismo está presente de forma clara. Jonathan, no castelo de Drácula, é atacado por três belas mulheres vampiras e fica em êxtase. É salvo pelo conde. Lucy, quando contaminada pelo conde, varia entre a “pureza” e a lascívia. Lucy, já transformada em vampira, é um ser sexual. Lucy vampira é morta violenta e sensualmente pelo noivo. Mina é atacada e punida pelo conde em uma cena que é a mais erótica do romance. Van Helsing sente excitação ao matar as três vampiras. 


Falhas. 

Bram Stoker não descreve exatamente a forma como Jonathan consegue fugir do castelo Drácula, tampouco as peripécias pelas quais deve ter passado até conseguir chegar em Budapeste, muito doente. 

Não há explicação para a preferência quase exclusiva de Drácula por Lucy. Aparentemente, Lucy é uma moça de pensamento mais “liberal” e isso pode ter atraído o conde. De todo modo, Lucy é punida. 

A preferência é quase exclusiva porque o autor mostra Drácula em Piccadilly interessado por uma moça que passa na rua. Não parece coerente que Drácula tenha viajado da Romênia para a Transilvânia só para morder Lucy e Mina. A própria Lucy suga o sangue de várias crianças nos poucos dias em que permaneceu com vampira. 

Se, como é de se esperar, Drácula experimentou diversas moças, em Londres, isso faz cair por terra todo o esforço de Van Helsing e equipe em destruir o conde para evitar a disseminação de uma estirpe de vampiros. 

Não se explica qual a ligação entre Drácula e Renfield. Há muitas falhas, também, na atuação do grupo para proteger Lucy, e para proteger Mina. A ingenuidade deles favorece e facilita os ataques do conde.

 

Fragmentário. 

A história é narrada por meio de diários, cartas, notícias de jornal. O prefácio diz que a forma fragmentária do romance corresponde ao modo de Bram Stoker para compô-lo, nos intervalos de suas ocupações, nas férias, em momentos roubados ao trabalho. 

A fragmentação da narrativa não torna o romance enfadonho ou difícil de acompanhar. O autor consegue manter o leitor interessado na evolução dos acontecimentos.

 

Drácula e Frankenstein. 

Da mesma forma que Mary Shelley iniciou seu romance a partir de um sonho, conta-se que Bram Stoker também teve um sonho fundador do romance: o sonho tornou-se a cena contida no capítulo 3, que é o ataque das três vampiras a Jonathan e o salvamento efetuado pelo conde. Também de forma semelhante, Stoker desenvolveu o início do romance em um período chuvoso.

 

Drácula e Harry Potter. 

É evidente que J. K. Rowling chupou de Bram Stoker algumas ideias. Por exemplo, o conde frequentou uma escola chamada de Scholomance, nas montanhas da Transilvânia, na qual o diabo ensinava feitiços e sortilégios. 

O conde ganha uma cicatriz na testa, causada por Jonathan. Após o conde contaminar Mina, esposa de Jonathan, Van Helsing tenta protegê-la com uma hóstia. Esta hóstia queima a testa de Mina e deixa uma marca. A partir da contaminação, Mina e o conde mantêm uma conexão, um tipo de comunicação telepática. 

(Além das semelhanças com Harry Potter, a marca na testa faz pensar na marca de Caim, a marca com a qual Iahweh protegeu o assassino do próprio irmão.)

 

Drácula e Mrs. Dalloway. 

Na época de Bram Stoker, Londres foi assolada pelos crimes de Jack, o Estripador. Curiosamente, o doutor Seward, chamado de Jack pelos amigos, era um dos pretendentes de Lucy, e ao ser rejeitado por ela, fica brincando com um bisturi, “revirando-o entre os dedos”, o que deixa a moça nervosa. 

O cacoete de Jack com seu bisturi (quem é que vai pedir uma moça em casamento e leva um bisturi?) me fez recordar Peter Walsh, personagem de Mrs. Dalloway, que tem cacoete semelhante com um canivete; e isso incomoda Clarissa Dalloway. Também se pode pensar em alguma semelhança entre a loucura extrema de Renfield e a de Septimus.

 

O péssimo filme com Gary Oldman.

O Drácula de Coppola é péssimo, um dos piores filmes que já vi. É um crime de lesa-clássico colocar no filme o nome de Bram Stoker. O filme distorce completamente o romance de Stoker. É um filme mal interpretado, caricatural, mal feito, mal montado, mal produzido. Deve ter sido filmado por algum auxiliar de Coppola e ele assinou. O Drácula romântico e apaixonado de Gary Oldman é ridículo. O Van Helsing de Anthony Hopkins é nojento.

 

Resumo: 

Capítulo 1. Jonathan Harker está nos Cárpatos e Transilvânia para visitar o castelo do Conde Drácula, com o qual tem negócios a resolver; o conde comprou um imóvel em Londres. Os habitantes da região tentam evitar que Jonathan vá ao castelo. A caleche do conde intercepta a carruagem. Harker passa por estranhos eventos com lobos e fogos fátuos e chega ao castelo. 

Capítulo 2. Jonathan conhece o estranho conde e seus hábitos bizarros. Conversam sobre a propriedade em Londres. O conde não é refletido pelo espelho. O castelo é uma prisão para Jonathan. 

Capítulo 3. Jonathan vê o conde rastejar pelas paredes externas do castelo como um lagarto. Jonathan adormece em uma parte proibida do castelo, é atacado por três vampiras e é salvo pelo conde. 

Capítulo 4. O conde vai partir para Londres. Jonathan escala as paredes e consegue chegar à cripta, e volta ao seu quarto. Há ciganos e eslovacos acampados no pátio do castelo, mas não o ajudam. Ele volta à cripta, mas não acha uma saída. As carroças com as caixas, e o conde em uma delas, partem do castelo. Ele fica só com as vampiras. 

Capítulo 5. Cartas e diário de Mina, namorada de Jonathan, e de Lucy: trocas de confidências de amor. Lucy reclama que uma mulher não pode se casar com três ou quatro homens. Diário do médico Seward, diretor de um manicômio. O estranho comportamento de um louco, Renfield. 

Capítulo 6. Diário de Mina: o sonambulismo de Lucy está piorando. Seward: o louco come moscas e pássaros. Mina: um estranho navio se aproxima de Withby em noite de tempestade. 

Capítulo 7. Notícias de jornal sobre o navio russo: só havia o capitão, morto e amarrado ao timão; um enorme cão foge do navio. Diário de bordo: havia uma Coisa no navio, os tripulantes foram sumindo um a um. Funeral do capitão. 

Capítulo 8. Lucy, sonâmbula, saiu de casa e foi atacada por uma criatura que fugiu quando Mina se aproximava. Lucy doente e com dois furos no pescoço. Sonambulismo todas as noites e um morcego que bate na janela. Cinquenta caixas de terra que estavam no navio são levadas para a propriedade em Carfax. Lucy melhora com o afastamento do conde. Mina recebe carta: Jonathan está em um hospital em Budapeste. O louco Renfield vai até a capela da propriedade em Carfax, ao lado do manicômio. 

Capítulo 9. Mina casa com Jonathan em Budapeste, no hospital. Não conversam sobre os eventos da Transilvânia. Lucy, agora em Londres, sofre uma piora. Arthur, noivo de Lucy, pede a ajuda de Seward. Este examina Lucy e manda chamar o doutor Van Helsing, que a examina, mas volta para Amsterdam. Lucy piora, Van Helsing volta. 

Capítulo 10. Lucy está exangue; faz-se uma transfusão, sangue de Arthur. Lucy é deixada só no quarto, uma noite, e fica novamente sem sangue. Nova transfusão, sangue de Seward. Van Helsing coloca flores de alho pelo quarto e no pescoço de Lucy. 

Capítulo 11. A mãe de Lucy jogou fora as flores de alho durante a noite. Mais uma transfusão, sangue de Van Helsing. Um lobo fugiu do zoológico. O lobo quebrou a vidraça do quarto de Lucy, uma ventania afastou as flores de alho. A mãe de Lucy morre do susto. As criadas são dopadas com láudano. Lucy está só na casa. 

Capítulo 12. Lucy foi atacada mais uma vez. Nova transfusão, sangue de Quincey. Sem esperanças; Lucy está se transformando em vampira. Mina e Jonathan, herdeiros de Hawkins estão indo para Londres. As caixas de terra foram retiradas da propriedade em Carfax. Lucy morre com aspecto de vampira. 

Capítulo 13. Prepara-se o enterro de Lucy e da mãe. Van Helsing ia cortar a cabeça dela e retirar o coração mas desistiu sem explicação. Mina e Jonathan, em Londres, vêem o conde na rua, de dia. Telegrama avisa Mina da morte de Lucy e mãe. Arthur pensa que “casou” com Lucy ao dar seus sangue a ela. Mal sabe ele que ela “casou” com o sangue de outros três homens. Lucy enterrada em Hampstead. Jornal: crianças sequestradas por uma linda moça em Hampstead, ferimentos no pescoço. 

Capítulo 14. Mina lê o diário de Jonathan. Mina se encontra com Van Helsing e entrega a ele o diário dela e o de Jonathan. Van Helsing diz a Seward que é Lucy quem está sequestrando crianças. 

Capítulo 15. Van Helsing e Seward vão ao cemitério e constatam que o caixão de Lucy está vazio. Vêem o vulto branco retornando ao cemitério com uma criança. Van Helsing convoca Arthur e Quincey. 

Capítulo 16. Vão todos ao cemitério e vêem a Lucy vampira. Na noite seguinte, estaca no coração de Lucy e cortam a cabeça dela. A cena da estaca: quem mata Lucy com a estaca, violentamente, sangue esguichando, é Arthur, o ex-noivo: não seria uma vingança contra a sensualidade de sua noiva? 

Capítulo 17. Mina compila os diários disponíveis e traça a cronologia dos fatos. Jonathan segue a rota das caixas de terra do conde. Formam um grupo contra Drácula. 

Capítulo 18. Mina é apresentada ao louco Renfield. Van Helsing explica para todos sobre as características dos vampiros e de Drácula. Renfield se diz são e pede para deixar o asilo. 

Capítulo 19. O grupo, sem Mina, invade a mansão de Drácula e conta as caixas de terra, vinte e nove. Mina muito fraca, é óbvio que foi atacada pelo vampiro mas ninguém suspeita do óbvio. Curiosamente, Mina compara a aparição em seu quarto com a “coluna de nuvem” que é Iahweh e guia os hebreus. 

Capítulo 20. Jonathan descobre o destino de doze caixas, seis em cada bairro de Londres. Descobre que as nove caixas restantes estão em uma casa de Piccadilly. Seward percebe que Renfield teve contato com Drácula. Mas continuam todos a não notar que Mina está cada vez mais fraca. Renfield é atacado por Drácula. 

Capítulo 21. Renfield gravemente ferido; conta que convidou Drácula para entrar na noite em que o grupo foi à mansão. Drácula esteve com Mina. Correm para o quarto de Jonathan e Mina. A cena mais erótica do livro: Drácula subjuga Mina, ajoelhada na cama, de camisola, Mina chupa o sangue do peito de Drácula. Jonathan paralisado. Conseguem interromper o conde, que foge. Consternação geral, Mina se acusa, “impura, impura”, Jonathan dá uns tremeliques, o relato de Mina: o conde a “sujeitou”, ela não desejava detê-lo, o conde com a boca cheia de gozo, ela sufocava se não engolisse o sangue; o conde diz que aquela é a punição que ela merece. O cabelo de Jonathan ficou branco. Renfield está morto. 

Capítulo 22. A hóstia queima a testa de Mina. Em Piccadilly, o grupo destrói as caixas de terra, mas falta uma. 

Capítulo 23. As caixas das outras casas foram destruídas. Drácula em Piccadilly, o grupo o ataca, ele foge. Mina descobre que possui algum tipo de “telepatia” com o conde. 

Capítulo 24. Informações sobre o navio que estava transportando a caixa com o conde para Varna. O grupo vai para Varna de trem. 

Capítulo 25. Mina, hipnotizada, “sente” onde está o conde. O grupo chega a Varna e aguarda. O navio desvia de Varna e vai direto para Galatz. 

Capítulo 26. A caixa com o conde segue por rios em direção ao castelo. Mina e Van Helsing seguem de trem para Galatz e de coche, de lá para o castelo. Jonathan e Arthur seguem de barco a vapor pelo rio. Quincey e Jack seguem de cavalo acompanhando o rio. 

Capítulo 27. Mina e Van Helsing chegam primeiro ao entorno do castelo. Van Helsing cerca Mina com um círculo protetor de hóstias e evita o ataque das três vampiras. Van Helsing entra no castelo e destrói as três vampiras e o túmulo de Drácula. A caixa com o conde está sendo transportada de carruagem pelos ciganos. Os quatro perseguidores seguem logo atrás a cavalo. Encontro final, a carruagem, os perseguidores, Mina e Van Helsing. Jonathan e Quincey conseguem quebrar a caixa e matar o conde. Quincey é ferido mortalmente pelos ciganos. 

Nota. Sete anos depois. Jonathan e Mina têm um filho e o batizam de Quincey. Eles visitaram a Transilvânia recentemente.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Deuteronômio, Bíblia de Jerusalém

Deuteronômio, Bíblia de Jerusalém, 48 páginas, 34 capítulos. 

O nome do livro em hebraico é Debarîn, que significa “são estas as palavras”, “eis as palavras”. É um código de leis dentro de longos discursos de Moisés. Deuteronômio significa “a segunda lei”, em grego. Ou seja, além dos dez mandamentos, este livro lista uma série de regras as mais díspares sobre tudo e alguma coisa, desde como apanhar um ninho de pássaros caído no chão até heranças e empréstimos. Como código de leis, não tem utilidade. Melhor seria que aquele povo tivesse constituído uma estrutura de direito clara e ordenada. Todavia, este foi o código, um dos códigos de leis, que aquela tribo nômade conseguiu estabelecer. 

É um código selvagem, sanguinário, fantasioso e misógino. 

Resumo: 

O povo está do outro lado do rio Jordão, prestes a entrar na terra prometida. Discurso de Moisés recordando os acontecimentos. O peso era grande para Moisés carregar sozinho. Ele organizou o povo e estabeleceu chefes e juízes. Nos julgamentos, deve-se ouvir o grande e o pequeno igualmente. 

Quando o povo chegou em Cades Barnes, o povo quis enviar doze exploradores à terra prometida. Os exploradores disseram: a terra é boa, fértil, mas é ocupada por um povo numeroso e de estatura mais alta. Essa estatura se relaciona com a lenda dos nefilim, gigantes citados Gênesis. Tudo é símbolo. Não são gigantes, mas povos mais fortes, mais bem armados. O povo ficou com medo e não quis entrar na terra. Iahweh arretou-se e disse que “aquela geração não verá a terra que vou dar”. “Iahweh se enfureceu até contra mim”, diz Moisés. Só Caleb e Josué entrarão na terra prometida. O povo mudou de ideia, armou-se e decidiu subir a montanha, sem Iahweh, e foi derrotado. 

Moisés continua o histórico: povos e lugares por onde passaram. Moisés pede autorização para passar pela terra do rei Seon, pagando pelo alimento e pela água, mas não foi concedida. O povo invadiu, lutou e destruiu todas as cidades de Seon, matou todos, ficou com o gado e os despojos. 

O mesmo aconteceu com o rei Og: invasão, combates e conquista, destruição de sessenta cidades fortificadas (exagero evidente), destruíram tudo, mataram todos. O rei Og era “gigante”, descendia dos rafaim (e nefilim), sua cama de ferro media cerca de quatro metros e meio por dois metros (nove côvados por quatro côvados); isso é lenda. Moisés fez a partilha das terras conquistadas na Transjordânia. Moisés pediu a Iahweh que reconsiderasse e permitisse que ele entrasse na “boa terra”. Iahweh, rude como sempre, disse “basta, somente verás a terra, passa as ordens para Josué”. 

Moisés diz que vai repetir os estatutos e as normas. Saibam que “só existe um povo sábio e inteligente”, o povo de Israel. Iahweh revelou a Aliança e as Dez Palavras, que gravou em duas tábuas de pedra. Iahweh passou para Moisés “os estatutos e as normas”, ou seja a segunda lei. Moisés reforça: não fazer imagens, não adorar os astros no céu. 

Iahweh é um deus ciumento, não existe outro deus, somente Iahweh. Determinam-se três cidades de refúgio do outro lado do Jordão: Bosor, Ramot e Golã. 

Moisés recorda a aliança no monte Horeb: eu sou Iahweh. 1. Não terás outros deuses. 2. Não farás imagens. 3. Não pronunciarás em falso o nome de Iahweh. 4. Guardarás o sábado. 5. Honra teu pai e mãe. 6. Não matarás. 7. Não cometerás adultério. 8. Não roubarás. 9. Não darás falso testemunho. 10. Não cobiçarás a mulher, nem a casa, nem o jumento do teu próximo. As leis foram inscritas em duas tábuas de pedra. 

Estatutos e normas. Não fazer alianças com outros povos nem tratá-los com piedade: derrotar e destruir outros povos. Não esquecer de Iahweh. Moisés recorda os pecados do povo, quando o povo enfureceu Iahweh, como no caso do bezerro de metal fundido que resultou na quebra das duas tábuas. 

As duas novas tábuas e uma arca de madeira de acácia. A tribo de Levi designada para cuidar da arca. Antes de cruzar o Jordão, novamente cita os estatutos e as normas. Destruir tudo das nações que irão conquistar. Iahweh vai escolher um lugar para o culto. Não comer o sangue dos animais. Se surgir um profeta de outro deus, deve ser morto. Se o irmão, o filho ou a esposa quiserem seguir outro deus, devem ser mortos, apedrejados. Matar os habitantes da terra que seguirem outros deuses. 

Lista dos animais proibidos de comer, por exemplo, o morcego e o cabrito no leite da mãe (deve ser gostoso cabrito no leite). Não comer animal que morreu por si. Regras sobre o dízimo anual. Dízimo trienal para os pobres, deve ser colocado na porta. Moisés fala dos pobres, mas diz que não haverá pobres, por causa de Iahweh (mas tem até hoje). Não pegar emprestado, mas pode emprestar. 

Todo primogênito pertence a Iahweh, menos se for manco ou cego. Iahweh não gosta das imperfeições que ele mesmo criou. Definição das festas, novamente. 

Estabelecer juízes em cada cidade. Não aceitar suborno. Não sacrificar animais com defeitos, Iahweh não gosta (novamente). Apedrejar aquele que adorar outros deuses. Acerca de questões judiciais, uma testemunha só não serve, devem ser duas ou três. As testemunhas começam o apedrejamento. 

Causas controvertidas devem ser levadas a Jerusalém, o lugar do culto, uma espécie de tribunal superior. Quem não aceitar a decisão do sacerdote-juiz deve ser morto. 

Uma lei para o rei: ele não pode ser estrangeiro. Ele não multiplicará cavalos para si. Não multiplicará mulheres para si (cuidado Davi, cuidado Salomão). Não multiplicará excessivamente seu ouro e prata (o que significa “excessivamente”?). O rei deverá ler esta lei todos os dias (acho que nenhum rei de Israel fez isso). 

Regras para os levitas. Proibição de presságios, oráculos, adivinhações, magia, invocação dos mortos. Iahweh vai enviar profetas. Se aquilo que o profeta falar não se cumprir, é um falso profeta. Define novamente as cidades de refúgio, três mais três, para o homicida involuntário; dá o exemplo do machado que escapa e mata alguém. Se um homicida voluntário for para uma cidade de refúgio, deverá ser tirado de lá e entregue ao vingador do sangue. Novamente, só servem duas ou três testemunhas. 

Capítulo 19,21, muito bom, gostei muito. “Que teu olho não tenha piedade. Vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé.” 

Regra para guerras. Iahweh vai na frente, o povo não deve temer. Covardes devem voltar para casa, para não contaminar os outros. Quando chegar em uma cidade, primeiro propõe a paz. Se aceitarem, todos se tornarão escravos. Se não aceitarem, a cidade deve ser sitiada e Iahweh vai dar a vitória ao povo. Matar todos os homens, ficar com as mulheres, crianças, animais e despojos. As cidades da terra prometida devem ser destruídas e não deixar nenhum ser vivo. 

Se for encontrado um homem morto no campo e não se souber quem o matou, faz-se um ritual mágico (como denominado pela BJ): desnuca-se uma novilha junto a um rio e os anciãos lavam as mãos sobre a novilha pedindo perdão porque aquelas mãos não derramaram o sangue do homem morto. Mas o derramamento de sangue vai desaparecer de Israel por causa de Iahweh (mas não desapareceu até hoje). 

Na guerra, um guerreiro pode pegar uma mulher formosa do inimigo e levar para casa; depois de um mês do luto dela, pode desposá-la; se depois desgostar dela, deve dar-lhe a liberdade, mas não pode vendê-la depois de ter abusado dela. 

Se alguém tiver filho de duas mulheres e gostar de uma e não da outra, mas o primogênito nasceu da outra, aquele deve ser assegurado como primogênito na herança. Se tiver um filho beberrão, desobediente, devasso, o filho deve ser morto por apedrejamento. “A mulher não deve usar um artigo masculino, nem o homem se vestirá com roupas de mulher, pois isso é abominável para Iahweh”. 

Mais um monte de regrinhas tolas para tudo: ninhos de pássaros, construção de casas, tecidos de roupas. 

Se um homem casa e depois afirma que a moça não era virgem, a família deve comprovar a virgindade com os lençóis das núpcias; o homem será multado e deverá continuar casado com a moça. Se a moça não era mesmo virgem, deverá ser morta por apedrejamento. 

Se uma virgem prometida for estuprada na cidade, ela e o homem serão apedrejados; ela por não ter gritado. Se a virgem prometida for estuprada no campo, somente o homem será apedrejado porque não adiantava a moça gritar. Se uma virgem não prometida for estuprada, o homem deve casar com ela. 

Um homem com testículos esmagados ou com o membro cortado não deve ser aceito na assembleia de Iahweh. 

No acampamento de guerra, deve-se fazer cocô fora do acampamento e levar uma pá para cobrir o cocô com terra, porque Iahweh caminha pelo acampamento para protegê-los. Já imaginou se Iahweh pisa no cocô em suas caminhadas noturnas? 

Proíbe-se a prostituição sagrada. Empréstimo com juros somente para os estrangeiros. Na vinha do próximo, pode comer à vontade, mas não pode levar no cesto. Se houver divórcio e a mulher casar de novo e se divorciar de novo ou ficar viúva, o primeiro marido não pode se casar de novo com ela. Mais regras sobre empréstimos e salários. Número máximo de açoites: quarenta. O cunhado deve desposar a cunhada se o irmão morreu, e o filho será do irmão. Se dois homens estão brigando e a mulher de um deles tentar retirá-lo da briga puxando-o pelas vergonhas, corta-se a mão da mulher. Não terás dois pesos e duas medidas. 

Mais regrinhas e maldições. Maldito aquele que extravia um cego no caminho. Maldito aquele que deita com a mulher do pai, que deita com um animal, que deita com a sogra, que deita com a irmã. Bendições e promessas de Iahweh. Novamente, recorda-se a história do povo. Maldições se o povo não for obediente. Moisés tem cento e vinte anos. Quem vai liderar o povo na travessia do Jordão e em Canaã será Josué. A cada sete anos, esta lei deve ser lida em público. 

Reunião de Iahweh, Moisés e Josué na Tenda da Reunião, teofania, Iahweh aparece na forma de uma coluna de nuvem. Iahweh prevê que o povo vai se prostituir, abandoná-lo e adorar outros deuses. Moisés diz ao povo: hoje, eu estou vivo e vocês são rebeldes, imagine depois da minha morte. Cântico de Moisés. Iahweh diz a Moisés que suba no monte Nebo e olhe Canaã; lá Moisés morrerá. Poesia com bençãos de Moisés. 

Moisés sobe ao monte Nebo e vê toda a Canaã como uma visão de drone ou satélite. Sepultaram Moisés no vale mas ninguém sabe onde fica a sepultura. Moisés morreu aos cento e vinte anos, com vista boa e vigor. Nunca mais surgiu um profeta como Moisés. Fim.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Mundo Fantasmo, Braulio Tavares, 1996

Mundo Fantasmo, Braulio Tavares, 1996, 125 páginas, Bandeirola. Início: 06/01/2021 – Fim: 17/01/2021.

Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Livro de contos que se situam no campo da ficção fantástica. Ao final, há um interessante apêndice no qual BT conta como foi a criação de cada conto.

Oh Lord, won’t you buy me. A história de um rapaz bibliófilo que se encontra com alguém, no metrô, e esse alguém diz ser Deus, ou uma manifestação de Deus. 

História de Cassim, o Peregrino, e de um crime perfeito que Deus castigou. Conto que usa o artifício da história dentro da história. Isso me incomodou um pouco, acho que havia material suficiente para duas histórias independentes. A história externa se passa em um lugar que semelha o famoso Caminho de Santiago de Compostela. A história interna conta de um amante que penetra nos sonhos do marido da amada para matá-lo. 

Paperback Writer. Pode ser um futuro qualquer no qual as pessoas vão a um concerto para ver um artista escrever uma história, com recursos de interação com o público. 

Expedição às profundezas do oceano. Boletim de ocorrência no qual um marinheiro relata o crime que cometeu. 

Exame da obra de Giuseppe Sanz. Conto borgiano; um escritor prolífico que canibaliza, copia, distorce, corrompe outros livros para produzir os dele. Foi o conto que mais gostei. 

E assim destruímos o Reino do Mal. Fantasia sobre a luta do bem contra o mal em uma época indeterminada. 

Breves histórias do tempo. A história de um homem reduzido a sua mente, por conta de uma terrível doença, e de sua imensa vida mental e criativa. Um dos que mais gostei.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Contos de terror, de mistério e de morte, Edgar Allan Poe

Contos de terror, de mistério e de morte, Edgar Allan Poe, 1835-1849, tradução Oscar Mendes, Nova Fronteira.


Em janeiro 2021, fiz uma releitura de alguns contos de Poe por conta do Clube de Leitura do qual participo. A releitura me fez apreciar mais e melhor o tipo de escrita do autor. Poe sabe narrar uma história e sabe fazer com que a tensão vá aumentando gradativamente até o ápice do conto que, para ele, sempre se situa no final. Todavia, alguns finais são forçados e alguns são decepcionantes, embora o miolo do conto faça valer a pena a leitura.

Na introdução, diz Oscar Mendes: “Não há conto algum de Poe que seja narrado na terceira pessoa. Ele é quem sempre fala, quem sempre narra ou quem está presente para ouvir a confissão deste ou daquele personagem.”

Para mim, os melhores contos são aqueles em que não há o elemento sobrenatural; aqueles em que a tensão deriva dos terrores mentais dos personagens, ou da crueldade, própria ou alheia. De todo modo, foi curioso conhecer as obsessões do autor: a morte da amada, a morte em geral, a metempsicose, o crime perfeito ou quase perfeito, o duplo. A seguir, brevíssimo resumo de cada conto.

Berenice: o narrador extrai os dentes da morta Berenice.

Morela: o esposo conta que, na hora da morte, Morela dá a luz uma menina que cresce igual a ela, um clone avant la lettre. Quando o narrador vai enterrar a segunda Morela, não há vestígios da primeira. Não fica claro se o narrador fez sexo com a segunda Morela, clone ou filha.

O visionário: um casal de amantes executa um pacto suicida.

O Rei Peste: conto bêbado, muito bizarro; dois bêbados entram em uma sala ocupada por pessoas estranhas e ao final fogem com duas mulheres de lá.

Metzengerstein: conto sobre metempsicose, a transmigração da alma de um corpo para outro; a inimizade entre duas famílias, o jovem de uma família incendeia o estábulo da outra, o proprietário morre e transforma-se em um cavalo que é acolhido pelo jovem; este mesmo cavalo conduzirá o jovem à morte.

Ligeia: a mulher amada e única e inigualável morre (elas sempre são únicas e inigualáveis e marmóreas em Poe); o narrador se casa com uma jovem que morre, mas na longa noite do velório, Ligeia assume o corpo da morta e revive.

A queda da Casa de Usher: o narrador vai passar algumas semanas na mansão a pedido de seu amigo Roderick Usher. Usher e a irmã Madeline sofrem de doenças inexplicadas. Usher acredita que a casa e seu entorno, pântano, musgo, atmosfera, produzem as doenças, “vultos torvos assaltaram o solar”. A irmã morre. Usher decide deixar o corpo em um calabouço durante quinze dias, antes do sepultamento. Existiam “afinidades” mal explicadas entre os irmãos, quem sabe uma sugestão de incesto por parte de Poe. O narrador recorda os quadros de Fuselli, como o famoso “O pesadelo”. Oito dias depois, forte tempestade, Usher vai ao quarto do narrador, a porta se abre violentamente, é Madeline que cai sobre o irmão. O narrador foge em meio ao desmoronamento do solar, engolido pelo pântano.

William Wilson: História de duplos. Desde a infância, na escola, o narrador é perseguido por um indivíduo de mesmo nome e data de nascimento. Por toda a vida, o outro tenta dar conselhos ao narrador, ou revela as atitudes inescrupulosas do primeiro. O outro era o imaginário lado bom do primeiro, na minha interpretação, e não um duplo real.

Eleonora: o narrador promete amar Eleonora por toda a vida e também após a morte dela; todavia encontra novo amor e se casa.

O retrato oval: um pintor faz o retrato da amada e concentra-se tão profundamente no retrato que não percebe que a amada definha e morre.

A máscara da Morte Rubra: acho que é o melhor conto do livro: uma alegoria sobre a peste e a soberba dos ricos. Há muitas histórias sobre “a peste” na literatura. A peste famosa, aquela da Idade Média; a peste sem uma definição específica, uma praga qualquer; a peste como metáfora. Tem o próprio “A peste”, de Camus, tem “A obra em negro”, de Yourcenar, tem “Decameron”, no qual a peste é o motivo para que os personagens fujam da cidade para uma propriedade no campo onde contarão histórias para passar o tempo. E esquecer a peste.

O conto de Poe, “A máscara da Morte Rubra” faz recordar o “Decameron”. A Morte Rubra é uma praga terrível que está se espalhando. Ela mata em meia hora, todo o processo dura meia hora; essa devastação imediata é comum, hoje, no cinema: as epidemias cinematográficas acontecem em alta velocidade.

O príncipe Próspero retira-se para uma abadia fortificada, com um milheiro de cavalheiros e damas, e lá evitava-se qualquer contato com o mundo exterior. Levava-se uma vida de jogos, diversões, vinho e música.

Na abadia, havia sete salões de festa, cada um com um tipo de decoração e uma cor específica. O salão negro com janelas vermelhas continha um relógio de ébano; o salão e o relógio assustava os convidados do príncipe. No sexto mês de isolamento ocorria um grande baile nos sete salões.

Durante o baile, surge um vulto com máscara de cadáver e envolto em mortalhas. O vulto desfila pelos sete salões e termina seu passeio no salão negro. Era a própria Morte Rubra que não respeitara o isolamento e a festa, “como um ladrão noturno”. Os foliões foram morrendo, o primeiro foi o príncipe.

“E o ilimitado poder da Treva, da Ruína e da Morte Rubra dominou tudo.”

Este conto tão atual de Poe retrata fidedignamente o comportamento dos ricos e poderosos do mundo; eles se acham acima das moléstias dos outros mortais e fazem de tudo para escapar a sina, para fugir da peste, para passar por cima dos cadáveres e ser libertados da contaminação.

O coração denunciador: Calvino considera este conto a obra-prima de Poe. É um conto curto e que me fez pensar em “Crime e castigo”, de Dostoiévski (1866). No conto de Poe, o personagem decide matar um velho sem motivo aparente: “Ele nunca me insultara. Ele nunca me fizera mal. Pelo ouro dele eu não nutria desejo.” O assassino declara que não está louco e que, talvez, tenha sido o olho do velho, um olho de abutre, que tenha despertado nele o desejo de matar. Não se revela qual a relação entre o velho e o assassino, talvez um parente ou apenas um criado. O homem entra no quarto do velho todas as noites, planejando o crime. Na noite decisiva, no escuro absoluto, sabe que o velho está acordado, ouve as batidas aceleradas do coração do velho, o velho sabe que chegou sua hora. Após cometer o crime e desmembrar o corpo, o assassino coloca os pedaços sob as tábuas do quarto. No dia seguinte, recebe a visita de policiais, houve uma denúncia de um grito na noite. O assassino está calmo e os policiais de nada desconfiam. Todavia, o assassino vai gradativamente se desesperando porque imagina continuar a ouvir as batidas do coração do velho sob o assoalho. Os policiais não ouvem nada. “Miseráveis!, guinchei, parem de disfarçar! Eu confesso o crime! Arranquem as tábuas! Aqui, aqui! – são as batidas do horrendo coração dele!”

O gato preto: mesmo tipo de conto do anterior, o criminoso se revela, mas involuntariamente. Na narrativa, ele exerce toda a crueldade contra um gato preto.

O poço e o pêndulo: A construção do conto é muito bem executada, cria um aumento constante da tensão, mas o final é do tipo ex-machina, o que sempre me desagrada.

Ex-machina: uma solução inesperada, improvável e mirabolante para terminar uma obra ficcional. O termo refere-se ao surgimento de uma personagem, artefato ou evento inesperado, artificial ou improvável, introduzido repentinamente em uma trama ficcional com o objetivo de resolver uma situação ou simplificar um enredo. O uso de Deus ex machina surgiu no teatro na Grécia Antiga, no qual muitas peças terminavam com uma divindade surgindo metaforicamente no palco, após o ator correspondente ser descido por um guindaste até o local da encenação, para finalizar as histórias contadas até então.

O narrador foi condenado à morte pela Inquisição, em Toledo, Espanha. Não saberemos qual o crime cometido pelo narrador. Na completa escuridão do calabouço, o narrador tenta descobrir o tamanho e a forma do ambiente. Descobre que há um poço no centro da prisão, não caiu nele por acaso. O objetivo é a tortura psicológica, não a morte imediata do condenado. Se caísse no poço, não morreria, ficaria ferido e sofrendo por dias. Como não caiu no poço, acorda amarrado a um catre e vê que um pêndulo com uma lâmina se aproxima lentamente de seu corpo. Consegue se libertar da ameaça do pêndulo. As paredes, de metal e quentes, começam a comprimi-lo de modo a que caia no poço. É salvo de última hora por tropas francesas.

Uma história das Ragged Mountains: Em 1825, August Bedloe é uma pessoa permanentemente doente, não se sabe bem de quê. Ele utiliza morfina para melhorar seu bem-estar. Um dia, caminhando pelas montanhas, enfrenta um nevoeiro e se vê, de repente, em uma cidade da Índia. Ele se junta aos soldados britânicos que enfrentavam uma rebelião e morre com uma flecha na têmpora. Seu espírito faz o caminho de volta às montanhas e ele retorna para sua cidade. O seu médico particular lhe mostra, então, um retrato de um amigo do médico que morreu em 1780 naquela batalha em Benares, na Índia. Chamava-se Oldeb, o amigo. Possivelmente, Bedloe era uma reencarnação de Oldeb, ou Bedloe viajou no tempo e participou como observador da batalha em que Oldeb morreu. De todo modo, Bedloe morre uma semana depois por acúmulo de sangue na cabeça e erro no tratamento.

O enterramento prematuro: um homem sofre de catalepsia e teme ser enterrado vivo.

O caixão quadrangular: em uma viagem de navio, um homem transporta o corpo da esposa morta em uma caixa, sem que os outros passageiros suspeitem.

O demônio da perversidade: o narrador mata um homem e herda a herança, é um crime perfeito, mas ele não resiste e se revela.

Revelação mesmeriana: Franz Mesmer foi um charlatão que acreditava em um tal de magnetismo animal, onde alguém poderia comandar e curar outras pessoas com a força de seu próprio magnetismo; no conto, o narrador mesmeriza um moribundo e faz perguntas a ele.

O caso do Sr. Valdemar: outro conto sobre mesmerização; o narrador mesmeriza um moribundo até a hora da morte e mantém o indivíduo sob magnetismo mesmo após a morte; o cadáver não se decompõe e ainda responde perguntas por sete meses.

O barril de amontillado: o narrador leva um inimigo para sua adega e o empareda; o crime nunca é descoberto.

Hop-Frog: um rei e seus ministros recebem o devido castigo por maltratar os anões da corte.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

A máscara da Morte Rubra, Edgar Allan Poe, 1842

Há muitas histórias sobre “a peste” na literatura. A peste famosa, aquela da Idade Média; a peste sem uma definição específica, uma praga qualquer; a peste como metáfora. Tem o próprio “A peste”, de Camus, tem “A obra em negro”, de Yourcenar, tem “Decameron”, no qual a peste é o motivo para que os personagens fujam da cidade para uma propriedade no campo onde contarão histórias para passar o tempo. E esquecer a peste. 

O conto de Poe, “A máscara da Morte Rubra” faz recordar o “Decameron”. A Morte Rubra é uma praga terrível que está se espalhando. Ela mata em meia hora, todo o processo dura meia hora; essa devastação imediata é comum, hoje, no cinema: as epidemias cinematográficas acontecem em alta velocidade. 

O príncipe Próspero retira-se para uma abadia fortificada, com um milheiro de cavalheiros e damas, e lá evitava-se qualquer contato com o mundo exterior. Levava-se uma vida de jogos, diversões, vinho e música. 

Na abadia, havia sete salões de festa, cada um com um tipo de decoração e uma cor específica. O salão negro com janelas vermelhas continha um relógio de ébano; o salão e o relógio assustava os convidados do príncipe. No sexto mês de isolamento ocorria um grande baile nos sete salões. 

Durante o baile, surge um vulto com máscara de cadáver e envolto em mortalhas. O vulto desfila pelos sete salões e termina seu passeio no salão negro. Era a própria Morte Rubra que não respeitara o isolamento e a festa, “como um ladrão noturno”. Os foliões foram morrendo, o primeiro foi o príncipe. 

“E o ilimitado poder da Treva, da Ruína e da Morte Rubra dominou tudo.” 

Este conto tão atual de Poe retrata fidedignamente o comportamento dos ricos e poderosos do mundo; eles se acham acima das moléstias dos outros mortais e fazem de tudo para escapar a sina, para fugir da peste, para passar por cima dos cadáveres e ser libertados da contaminação.



quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

O amante, Marguerite Duras, 1984

O amante, Marguerite Duras, 1984, 128 páginas, tradução de Denise Bottmann, Tusquets. Início: 07/01/2021 – Fim: 13/01/2021. Nota 2 (escala de 1 a 5).


Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco.

Não gostei. Entrecortado. Escrito na forma de recordações. Não tem divisões ou capítulos. De acordo com o posfácio, é livro de uma escrita“fragmentária, mais alusiva que representativa”. Para mim, apenas maçante, aborrecido. Um livro curto, a história tem 84 páginas, mas tive dificuldade de terminar. O livro não prende o leitor. 

É a história de uma garota pobre de quinze anos e meio, de origem francesa, que mantém um relacionamento com um chinês rico no Vietnã, quando este país era colônia francesa. A garota mora em um pensionato e estuda em um liceu. A mãe e os irmãos também moram no Vietnã. A garota conhece o chinês em uma travessia de balsa. A garota, antes até de conhecer o chinês, diz se vestir como uma prostituta infantil. A mãe ficou desequilibrada após a morte do marido e de investimentos falidos que fez. A mãe percebe que a garota é que vai “fazer entrar dinheiro em casa”. O chinês leva a família para restaurantes e boates, mas ninguém fala com ele nessas ocasiões. O irmão mais velho é um crápula, desonesto, viciado em jogo. O preconceito contra o chinês é tremendo, mas o pai do chinês também não admite que ele pudesse, um dia, casar com a garota branca. A garota é fria com o chinês, parece estar interessada apenas em sexo e dinheiro. Ou em nada: a garota é apática. Como personagem, o chinês é mais real; a garota é idealizada. Depois de um ano e meio de relacionamento, a garota volta para a França, estuda, casa, tem filho, torna-se escritora. O chinês também se casa. Em uma visita à França, anos mais tarde, telefona para a mulher e diz que a amará para sempre. 

Para conseguir descobrir esse fiapo de história, o leitor deve suportar repetições sobre o encontro na balsa, reminiscências entrecortadas do passado e do futuro. O único personagem com o qual o leitor pode manter uma ligação é o chinês. A garota é perversa ou apática. O irmão mais novo, frágil. O mais velho, um ladrão, e violento. A mãe, quase louca. 

Resumo: 

A narradora sente que envelheceu aos dezoito anos. A principal recordação se refere à época quando ela contava quinze anos e meio. A mãe é desequilibrada: depressão, louca, bipolar, não dá para saber. A garota mora em um pensionato para estudar em um liceu. O fato principal é a travessia de balsa do rio Mekong, a garota usa um chapéu masculino e um sapato de salto alto. Na meia-idade, quando escreve o livro, o álcool a afetava. A mãe era acometida de desânimo de viver. O pai doente morreu pouco antes. A mãe é desesperançosa. A garota na balsa está maquiada. Um homem na limusine observa a garota. É um livro de reflexões e melancolia. A história evolui lentamente, ou nem evolui, ou é fragmentada demais. Aos quinze anos e meio, ela disse à mãe que queria escrever livros, romances. A mãe é semilouca, dá vontade “de prender, de bater, de matar”. A mãe parece compreender que a garota vai “fazer entrar dinheiro em casa”, por isso permite aquela “roupa de prostituta infantil”. A garota vai atrás de dinheiro, pede dinheiro ao homem da limusine. Amor e ódio pela mãe e irmãos. Aos quinze anos e meio na balsa do Mekong, o homem da limusine, repetições. Um ano e meio depois, voltam para a França. A garota se afastou da mãe depois que o irmão mais novo morreu de broncopneumonia. “Não os amo mais, nem sei se os amei”. A mãe ficou em Saigon de 1932 a 1949, o irmão mais moço morreu em 1942. As datas são poucas e a narração vai e vem no passado e no futuro. Na França, a mãe foi morar em um castelo: como, se eram pobres? O irmão mais velho era uma criança grande, incompetente, voluntarioso. O homem da limusine é um jovem chinês rico, dá carona para a garota. Ela tenta saber quantos milhões ele tem. Ele jamais se casaria com a “pequena prostituta branca”. Dias depois, ele a leva a um quarto no sul da cidade. Ele diz que a ama, ela quer ser tratada como puta, ela se diz perversa, eles fazem sexo, ela sente dor e prazer, ela não sabia que sangrava, ele dá banho nela. Falam de dinheiro, ela o deseja com o dinheiro. Quer fazer sexo de novo. Ele brutal, a insulta, puta, nojenta. O amante chinês leva a família da garota para restaurantes e boates, ninguém fala com ele. Extremo preconceito. O amante sabe que ela está com ele por dinheiro, ele é completamente submisso a ela e ao pai. A mãe desequilibrada bate na filha de vez em quando por causa do amante: prostituta. A narrativa muda de repente, sem motivo, para falar de duas mulheres em Paris. O irmão mais velho é um crápula, ladrão e viciado em jogo e adorado pela mãe. O chinês dá banho na garota quando estão no quarto dele. A diretora permite que ela use o pensionato como hotel, sem horários fixos. A garota admira o corpo de Hélène, os seios de Hélène, desejo por Hélène que tem dezessete anos. Ela, já casada em Paris, o irmão a rouba e foge. O irmão mais velho morre aos 65 anos, trabalhava como vigia de uma fábrica. Volta a falar da roupa da desonra. Fala da Dama, uma mulher casada cujo amante se matou, lá no Vietnã. A prostituição flagrante da menina, a mãe louca a defende. A mãe pergunta se ela está com o chinês somente pelo dinheiro. Fotos de família. Telegrama informa a morte do irmão mais novo aos 27 anos. Data marcada para voltar à França, o amante fica sem potência, não consegue mais. Ela embarca no navio e vai embora. Casa, separa. Ele se casa. Em visita à França, telefona para ela e diz que a amará até a morte. Fim. 

Primeiro parágrafo: 

Um dia, eu já tinha bastante idade, no saguão de um lugar público, um homem se aproximou de mim. Apresentou-se e disse: “Eu a conheço desde sempre. Todo mundo diz que você era bonita quando jovem; venho lhe dizer que, por mim, eu a acho agora ainda mais bonita do que quando jovem; gostava menos do seu rosto de moça do que do rosto que você tem agora, devastado”.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

1Q84, Haruki Murakami, trilogia, 2009-2010

 


1Q84, volume 1, Haruki Murakami, 2009, 430 páginas, tradução de Lica Hashimoto, Alfaguara. Início: 15/12/2020 – Fim: 24/12/2020.

1Q84, volume 2, Haruki Murakami, 2009, 373 páginas, tradução de Lica Hashimoto, Alfaguara. Início: 24/12/2020 – Fim: 31/12/2020.

1Q84, volume 3, Haruki Murakami, 2010, 469 páginas, tradução de Lica Hashimoto, Alfaguara. Início: 31/12/2020 – Fim: 10/01/2021.

Nota geral 3 (escala de 1 a 5). 

Aviso de spoiler: em geral, escrevo sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Esta foi uma releitura. No total, são 1.272 páginas e eu usei 29 dias para reler tudo, em sessões à noite. 

Esta é uma história de amor, entremeada com sexo, crimes, suspense, violência contra a mulher, e um forte aspecto “fantástico”. 

O livro é bom, prende o leitor que fica querendo saber o que vai resultar de tudo aquilo e que torce pelo sucesso dos personagens principais. A narrativa tem muita gordura e uita repetição, o que cansa um pouco e dá vontade de desistir, às vezes. Cortando a gordura, as partes inúteis e as repetições, dava para ser um volume apenas. 

O enredo. Tengo e Aomame estudaram juntos quando contavam dez anos e nunca esqueceram um do outro. Ambos estão com trinta anos e nunca se reencontraram nestes vinte anos. Estamos em 1984. Aomame é personal trainer e assassina. Tengo é professor de matemática e tenta ser escritor. Aomame, por motivos misteriosos, entra em um mundo diferente do “nosso”, onde há duas luas e uma seita religiosa chamada Sakigake. Tengo também está nesse mundo, mas demora a perceber. A misteriosa e poderosa seita Sakigake fundamenta-se nas orientações de um certo Povo Pequenino. Aomame e Tengo, meio sem querer, interferem nos objetivos de Sakigake e são perseguidos pela seita. Após algumas peripécias e algum suspense, Aomame e Tengo conseguem se reencontrar, se unir e escapar do mundo de 1Q84. O mundo para o qual eles escaparam é uma incógnita, mas ao menos estão juntos. 

O melhor personagem da trilogia é o advogado e investigador particular Ushikawa. Este é um personagem mais denso, complexo, ambíguo do que o casal de protagonistas. Aomame e Tengo são planos, apesar das dificuldades pelas quais passaram na infância. Tengo parece um menino grande e Aomame é mais madura. É curioso como o leitor começa detestando Ushikawa e vai, lentamente, passando a gostar dele e a se interessar pela vida dele, até a torcer por ele. 

No final, apesar de seu destino infeliz, penso que Ushikawa foi, de certo modo, premiado pelo autor. Penso, também, que o autor poderia nos ter dado uma visão de quais as diferenças que Aomame e Tengo encontrariam no novo mundo em que entraram. Note que as diferenças visíveis entre o mundo de 1984 e o de 1Q84 são pequenas, a maior diferença são os eventos fantásticos ou sobrenaturais. O leitor termina o livro a se perguntar como seria o mundo novo no qual eles entraram, visto que se diz não ser possível retornar ao mundo “normal’ de 1984. 

Apesar das inúmeras e cansativas repetições, vale a pena conhecer o mundo de 1Q84. 

A seguir, resumo dos capítulos de cada volume.

 

Volume 1. 

1. Aomame sai do táxi no engarrafamento para descer a escada de emergência. 

2. Tengo recebe de Komatsu a proposta de reescrever a Crisálida de ar, livro da garota Fukaeri. 

3. Aomame nota que uniformes e armas dos policiais mudaram. Vai para um hotel e mata um homem de negócios, Miyama, que costumava usar de violência contra a esposa. 

4. Tengo com Fukaeri no restaurante, a garota é bonita e esquisita, expressa-se em frases curtas e sem entonação. 

5. Aomame vai ao bar de um hotel para relaxar e conseguir um cara para sexo. 

6. Tengo compra um processador e começa a reescrever o livro de Fukaeri. 

7. Aomame vai até a Mansão dos Salgueiros, conversa com o guarda-costas Tamaru e com a velha senhora, que encomendara o serviço. A casa abriga mulheres que sofreram violência. 

8. O domingo de Tengo, a história do pai de Tengo, as cobranças da NHK aos domingos, com o pai. Tengo e Fukaeri vão ao encontro do professor Ebisuno. 

9. Aomame vai à biblioteca pesquisar sobre as mudanças que percebeu, eventos que não haviam ocorrido, ela supõe estar em outro mundo, denomina este mundo novo de 1Q84, onde Q significa “question mark”, ponto de interrogação. 

10. Tengo conversa com o professor Ebisuno sobre o livro e a vida de Fukaeri, ela morava na comuna Sakigake com os pais, e fugiu da comuna. A comuna se dividiu e a outra parte, Akebono, entrou em choque com policiais. Tengo sente o corpo se retorcer quando falam do episódio de Akebono. 

11. Aomame recorda como conheceu a velha senhora nas aulas de defesa pessoal. No bar, conhece a policial Ayumi, elas querem sexo com desconhecidos. 

12. O professor continua a contar a história de Sakigake e de Fukaeri. Tengo volta para casa, recorda uma menina Testemunha de Jeová que conheceu na infância. 

13. Aomame de ressaca depois da noitada com Ayumi. Vai atender a velha senhora. Recorda a história de Tamaki, que casou com um homem violento e se suicidou. Aomame matou o marido de Tamaki com o picador de gelo, mas não se conta como conseguiu. 

14. Tengo e Komatsu conversam sobre o livro. No livro, há duas luas. Tengo recorda um encontro com a namorada casada, ela de camisola branca, como a mãe de Tengo usava em suas lembranças. Tengo recorda que desafiou o pai para não ir mais nas cobranças aos domingos, a professora que o ajudou. 

15. Aomame recorda seu relacionamento com a velha senhora e os serviços. Vai jantar com Ayumi, que vai dormir na casa de Aomame. Ela vê as duas luas. 

16. Tengo tenta preparar Fukaeri para a coletiva de imprensa, pois o livro ganhou o prêmio literário. 

17. Aomame vai jantar com a velha senhora, recorda como começou a participar da “quase loucura” de apagar maridos violentos. A história da velha senhora, a filha que se suicidou e o abrigo para mulheres que sofreram violência doméstica. 

18. Foi um sucesso a coletiva de imprensa com Fukaeri. O professor Ebisuno pretende mexer com o grupo Sakigake por meio da fama do livro de Fukaeri, uma isca. Fukaeri vai dormir na casa de Tengo. 

19. Aomame e a velha senhora com Tsubasa, a menina de dez anos que teve o útero destruído, estuprada pelo líder, em Sakigake. O Povo Pequenino sai da boca da menina, tamanho de dedo mindinho, aumentam para trinta centímetros e para sessenta centímetros, tecem algo, assumem o tamanho que quiserem. 

20. No apartamento de Tengo, Fukaeri recita trecho do Heike Monogatari e ele lê trechos de Tchekov sobre a ilha de Sacalina e os guiliaks. 

21. Aomame pesquisa sobre Sakigake na biblioteca e com a policial Ayumi. 

22. Tengo e a namorada, Fukaeri desapareceu, o livro é primeiro lugar em vendas. 

23. Noites de sexo de Aomame e Ayumi; mais informações sobre Sakigake. Tamaru conta a Aomame que a cachorra do abrigo morreu, explodiu misteriosamente. 

24. Fukaeri envia fita para Tengo, está bem, ele deve ter cuidado com o Povo Pequenino, que é poderoso. Tengo explica pontos de seu livro para a namorada, é um livro sobre outro mundo, parecido com o mundo normal, com duas luas. Tengo não sabe em que mundo está. Fim.

 

Volume 2. 

1. Aomame com a velha senhora, Tsubasa foi embora, sozinha, durante a noite, depois da morte da cachorra. Matar o líder de Sakigake vai ser um serviço difícil, grande recompensa, Aomame vai ter de sumir, fazer plástica, mudar de cidade. Aomame pede uma arma a Tamaru para se matar, se for necessário. 

2. Tengo recebe a visita de Ushikawa que oferece auxílio financeiro de uma suposta fundação, Tengo recusa. 

3. Aomame recebe instruções sobre o serviço de matar o líder de Sakigake; Tamaru dá a ela uma pistola para eventualidades. No jornal, Ayumi foi estrangulada em um hotel. 

4. Tengo pensa em Aomame menina e escreve o romance emperrado. 

5. Aomame recebe a ordem de ir ao hotel encontrar o líder e vai. 

6. O marido da namorada de Tengo telefona e avisa que não vai haver mais encontros. Ushikawa insiste no auxílio financeiro, Tengo recusa. 

7. Aomame no hotel. 

8. Tengo visita o pai no asilo. Conversa estranha, Tengo acha que não é filho biológico daquele homem. 

9. Aomame conversa com o líder de Sakigake. 

10. Tengo volta para casa. Fukaeri vai morar com ele por um tempo. Ushikawa insiste novamente. 

11. Aomame conversa e trata do líder. 

12. Tengo conversa com Fukaeri, a tempestade se aproxima. 

13. Tempestade; Aomame enfia a agulha na nuca do líder. 

14. Tengo, paralisado, faz um sexo estranho com Fukaeri durante a tempestade. 

15. Aomame sai do hotel e vai para o apartamento esconderijo. 

16. Fukaeri diz a Tengo que Aomame pode estar perto deles, no mesmo bairro. 

17. Aomame no novo apartamento, escondida. 

18. Tengo caminha pelo bairro; no parque, sobe no escorregador e vê as duas luas. 

19. Aomame lê a Crisálida. 

20. Tengo no parque. 

21. Aomame vê Tengo no escorregador, desce, ele não está mais lá. 

22. Pai de Tengo está em coma. 

23. Aomame vai para a mesma via expressa do início, não há saída de emergência, o autor diz que Aomame apertou o gatilho da pistola para se matar, mas é mentira. Truque barato. 

24. Tengo com o pai em coma; surge uma crisálida com a menina Aomame dentro.

 

Volume 3. 

1. Ushikawa foi contratado para encontrar Aomame; conversa com os dois rapazes de Sakigake. 

2. Aomame não apertou o gatilho apesar de o autor ter escrito, sem sombra de dúvida, que ela apertou o gatilho. Truque tolo. Aomame vigia o parque para ver Tengo; pede a Tamaru para ficar mais tempo naquele apartamento. 

3. Tengo vai para a cidade litorânea fazer companhia ao pai em coma no asilo. Fukaeri no apartamento, o cobrador da NHK bate na porta insistentemente. 

4. Ushikawa investiga a velha senhora. 

5. Aomame e a visita do cobrador da NHK. 

6. Tengo na cidade litorânea; as três enfermeiras comparadas com bruxas de Macbeth. 

7. Ushikawa investiga Massami Aomame e descobre que ela estudou com Tengo. 

8. Aomame acha que ficou grávida magicamente na noite da tempestade; visita do cobrador da NHK. 

9. Tengo passa a noite com a enfermeira Adachi e experimenta haxixe. 

10. Ushikawa vai a Ichikawa investigar a escola onde Tengo e Aomame estudaram. 

11. Aomame confirma a gravidez e acha que é de Tengo.

12. Tengo volta para o apartamento; Fukaeri foi embora porque tem alguém vigiando. 

13. Ushikawa aluga apartamento no prédio de Tengo para vigiar. 

14. Nova visita do cobrador. Aomame conversa com a velha senhora que está se sentindo mais fraca. 

15. Tengo vai ao parque e olha as duas luas. Komatsu conta que foi sequestrado. 

16. Ushikawa no prédio de Tengo; segue Fukaeri. 

17. Aomame conversa com Tamaru; vê uma criança no parque à noite, mas era Ushikawa. 

18. Komatsu conta como foi o cativeiro. Sakigake quer apenas que não se façam mais edições da Crisálida. 

19. Ushikawa percebe que Fukaeri vai embora do apartamento. Ela tira toda a força vital dele apenas com o olhar. Tengo volta ao apartamento. Sai para passear e Ushikawa o segue. Ushikawa também vê as duas luas. 

20. Aomame vê Ushikawa no parque, desce e o segue. Vê o nome Kawana na caixa do correio e na porta do apartamento, ninguém atende à campainha. Ela avisa a Tamaru. 

21. O pai de Tengo morreu, deixou tudo organizado, cremação, roupa de cobrador da NHK, documentos. Tengo no asilo com as três enfermeiras. 

22. Ushikawa conseguiu fotografar a mulher misteriosa que saiu do prédio. Ele acha que ela é Aomame. Ushikawa pensa na mãe de Tengo: ela abandonou o marido, fugiu com um rapaz e levou baby Tengo; ela foi estrangulada em um quarto de hotel. Como Ayumi, a policial. Não se encontrou o assassino, não se sabe se o assassino foi o rapaz com o qual ela fugiu. Tamaru ataca Ushikawa durante a noite. 

23. Aomame no apartamento medita sobre Tamaru, Tengo, a gravidez mágica. 

24. Tengo e Kumi Adachi na cremação. Kumi Adachi conta a Tengo que se lembra de como morreu em outra vida. Kumi foi estrangulada por um homem que ela desconhecia. Kumi fica com as cinzas do pai de Tengo e ele vai embora. Penso que Kumi Adachi era a reencarnação da mãe de Tengo. Ela prestou a homenagem fúnebre ao pai de Tengo e cuidou das cinzas dele, da mesma forma como o pai de Tengo cuidou da cerimônia fúnebre dela, na outra vida, apesar de ter sido abandonado. 

25. Tamaru mata Ushikawa. Ushikawa era o melhor personagem, mais denso e complexo que os outros. Pena que morreu. Tamaru avisa ao pessoal da Sakigake. 

26. Tamaru avisa a Aomame que Ushikawa já era e que Tengo mora naquele prédio onde estava Ushikawa. Aomame pede que Tamaru avise a Tengo para encontrar com ela no escorregador e que eles vão para bem longe. 

27. Tamaru avisa a Tengo e diz para ele se preparar. Tengo vai ao encontro no escorregador às sete horas da noite. Aomame sobe no escorregador e pega na mão de Tengo. Há duas luas no céu. 

28. Em Sakigake, o corpo de Ushikawa, discussão sobre o que ele estaria fazendo naquele prédio e o que ele teria descoberto. O rapaz capanga lembra que Tengo mora no prédio e parte para lá com o outro. O Povo Pequenino sai da boca de Ushikawa e começa a fazer uma crisálida de ar com uma parte da alma de Ushikawa. 

29. Tengo e Aomame no escorregador. Vão fugir de 1Q84 e da “cidade dos gatos”. 

30. Eles pegam um táxi para o depósito embaixo da rodovia elevada, onde terminava a escada de emergência. No táxi, Aomame conta para Tengo que ficou grávida dele na noite da tempestade. 

31. Existe a escada de emergência e eles sobem para a rodovia. Há somente uma lua, mas o tigre da Esso está invertido. Um outro mundo, quais as alterações? Pegam um táxi. O passageiro que seguia naquele táxi, um homem de meia-idade, mudou para o carro de uma mulher que ele conhecia. Não é dito pelo autor, mas aquela mulher já havia aparecido nos sonhos de Aomame e penso que ela e o homem do táxi poderiam ser versões maduras de Tengo e Aomame, versões que não se encontraram na juventude dos trinta anos. Enfim, Tengo e Aomame vão para um hotel, um quarto no décimo-sétimo andar, com vista da única lua, um novo dia. Pena que não saberemos como funciona esse terceiro mundo no qual eles entraram, nem quão diferente dos anteriores ele é. Fim.