O texto abaixo é de Raul Juste Lores, correspondente da Folha de São Paulo em Nova York, e se encontra em seu blog "Cidades Globais".
O texto se refere ao debate entre candidatos a prefeito de São Paulo mas serve, certamente, para qualquer metrópole, inclusive esta Recife.
.....................
O desânimo contagiante dos candidatos a prefeito - Raul Juste Lores
Como reduzir o
monumental déficit habitacional de São Paulo, onde milhões ainda
moram em barracos, cortiços ou casas improvisadas?
Como transformar o
transporte público, além do metrô (que é competência estadual),
melhorando os corredores de ônibus, exigindo das empresas
concessionárias melhores veículos e menos atrasos, além de mais
ciclovias e melhores calçadas aos pedestres?
O que deveria mudar no
zoneamento da cidade para permitir bairros mais multifuncionais, onde
pessoas possam morar, trabalhar e se divertir em distâncias curtas,
em vez de morarem a horas do local de trabalho, o que sufoca qualquer
opção de transporte público?
Alvarás continuarão
liberados para shoppings e para torres fechadas, sem utilização de
térreos, a cumplicidade com um mercado imobiliário pouco criativo e
sofisticado?
Como adensar o
subutilizado Centrão de São Paulo, que, apesar de décadas de
promessas, ainda é uma área vazia e desperdiçada à noite e nos
finais de semana? O que fazer com o Parque Dom Pedro? E com as
desoladas Marginais? E Cidade Tiradentes e a represa de Guarapiranga?
Teremos mais verde na
cinzenta periferia da cidade? Como? Os CEUs melhoraram a educação
de São Paulo? Seu programa será ampliado, reforçado, modificado?
Quem assistiu ao debate
entre os candidatos a prefeito ontem, ficou sem ter um mínimo de
esperança de que algo mude nos próximos quatro anos.
O debate de ontem foi
das coisas mais desalentadoras que vi na TV em tempos. Além da
maquiagem funérea e da voz nada entusiasmaste de todos os candidatos
(ambos muito reveladores), sobraram platitudes sobre metrô e
segurança (ambas competências estaduais) e um diz que diz de
impostos. Se os prefeitos mal conseguem responder suas competências,
para que ficar falando de áreas em que eles não têm verbas ou
direitos para atuar?
O debate ainda mostrou
o quanto a imprensa está despreparada para falar de cidades em
geral. Coligações, os bastidores partidários, a briga de A com B,
tudo que ocupa 95% do tempo dos políticos e menos de 1% da vida dos
cidadãos, fazem muitos jornalistas salivar. E tome “nacionalização”
do debate que deveria ser municipal.
Os partidos políticos
realmente nacionalizam a eleição porque o único interesse deles é
Brasília, daí as propostas raquíticas sobre a cidade. Mas que
jornalistas caiam nessa armadilha, perguntando de mensalão e de
rivalidades partidárias, que a maioria dos eleitores não tem o
menor interesse, é um desperdício de oportunidade. Será que
melhora até outubro?