Mostrando postagens com marcador o leitor. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador o leitor. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 26 de junho de 2009

o leitor - bernhard schlink - 2


.
"- pegue o outro!
ao lado da torneira estavam dois baldes, ela apanhou um deles e o encheu. eu apanhei e enchi o outro e a segui pela porta. ela levantou o braço, a água jorrou na calçada levando o vômito para a sarjeta. tirou o balde da minha mão e lançou mais água sobre a calçada.
ela se endireitou e viu que eu estava chorando.
- menino - disse admirada - menino.
ela envolveu-me nos braços. eu era pouco mais alto do que ela, senti seus seios no meu peito, cheirei na estreiteza do abraço meu hálito ruim e seu suor fresco e não sabia o que devia fazer com os braços. parei de chorar.
perguntou-me onde eu morava, pôs os baldes na entrada e me levou para casa. andou ao meu lado, uma das mãos segurando a minha pasta e a outra sobre o meu braço. a distância não é grande da bahnhofstrasse até a blumenstrasse. ela andava depressa e com uma decisão que me tornava fácil manter o passo. em frente de nossa casa despediu-se.
no mesmo dia, minha mãe trouxe o médico que diagnosticou a hepatite. em algum momento, contei à minha mãe sobre a mulher. não acredito que a tivesse visitado se não fosse isso. mas para minha mãe era evidente que eu, logo que pudesse, fosse comprar com meu dinheiro um buquê de flores apresentar-me e agradecer. desse modo, fui no fim de fevereiro à bahnhofstrasse."

quinta-feira, 25 de junho de 2009

o leitor - bernhard schlink



"aos 15 anos eu tive hepatite. a doença começou no outono e terminou na primavera. quanto mais frio e escuro o velho ano se tornava, mais fraco eu ficava. só com o novo ano houve uma melhora. janeiro foi quente, e minha mãe instalou minha cama na varanda. eu via o céu, o sol, as nuvens e ouvia as crianças brincando no pátio. em uma tarde de fevereiro ouvi um melro cantando.

em meu primeiro passeio, andei da blumenstrasse, na qual morávamos no segundo andar de um prédio imponente construído na virada do século, até a bahnhofstrasse. foi ali que eu havia vomitado, em uma segunda-feira de outubro, no caminho da escola para casa. já havia alguns dias que eu estava me sentindo fraco, mais fraco do que nunca em minha vida. cada passo me exigia um grande esforço. quando subia escadas em casa ou na escola, minhas pernas quase não me aguentavam. também não queria comer. mesmo quando me sentava à mesa com fome, logo sentia náuseas. de manhã acordava com a boca seca e com a sensação de que os meus órgãos estavam pesados e fora de lugar. envergonhava-me estar tão fraco. envergonhei-me especialmente quando vomitei. isso também nunca me havia acontecido na vida. minha boca se encheu, eu tentei segurar, apertando os lábios, a mão diante da boca, mas saiu tudo por entre os dedos. então me apoiei no muro de uma casa, olhando o que havia vomitado a meus pés, e cuspi um líquido claro e pegajoso.

a mulher que cuidou de mim o fez de um jeito quase bruto. ela pegou meu braço e me levou pela porta escura da casa até o pátio. em cima, havia varais esticados de janela a janela e roupas penduradas. no pátio, armazenava-se madeira. em uma oficina aberta, a serra rangia e as farpas voavam. ao lado da porta para o pátio havia uma torneira. a mulher abriu a torneira, lavou primeiro minha mão e então jogou no meu rosto a água que tinha mantido nas mãos em concha. enxuguei o rosto com o lenço."

quarta-feira, 24 de junho de 2009

o nome dele


.
(o desenho acima parece um mapa, feito com a cruzinha de soma que vem naqueles modelos de letrinhas)
.
H é a inicial do nome dele. na verdade, às vezes o chamo de john, sei que isso é pernóstico, essas coisas em inglês, é muito pernóstico fazer um desenho, por exemplo, e colocar o nome do desenho em inglês, é pernóstico chamar um personagem de john também. pernóstico, diz o dicionário, é presumido afetado pretensioso pedante. vou ter que me policiar para ser menos pernóstico. eu o chamo de H, às vezes de john, se não me engano já chamei de robert também (outro pernosticismo).
H é a inicial do nome dele, que é henry, pernóstico de novo. henry eu escolhi por causa do dentista personagem de roth em -avesso da vida- pois quando nathan está escrevendo sobre seu irmão henry, ele coloca assim: H fez isso, disse isso, etc. durante algum tempo chamei H de john por conta de algumas semelhanças entre ele e john lennon, especialmente a insegurança permanente, a vida sem objetivo, eu estava lendo a biografia de lennon nessa época.
H também poderia se chamar, é uma boa idéia até, ralph. no livro de bernard schlink, "o outro", ralph é o amante de lisa e ralph é o personagem que torna as coisas mais bonitas do que são, torna os acontecimentos mais artísticos, mais literários, mais musicais.
H é algo assim, um ralph, misturando real e ficção, se isso é possível - no sentido de se saber se um "real" existe mesmo, de mermo, de cum força..bernard schlink, outro que está me fixando, ou fixando Henry, dois livros, lemos os dois, "o leitor", "o outro".