.
"- pegue o outro!
ao lado da torneira estavam dois baldes, ela apanhou um deles e o encheu. eu apanhei e enchi o outro e a segui pela porta. ela levantou o braço, a água jorrou na calçada levando o vômito para a sarjeta. tirou o balde da minha mão e lançou mais água sobre a calçada.
ela se endireitou e viu que eu estava chorando.
- menino - disse admirada - menino.
ela envolveu-me nos braços. eu era pouco mais alto do que ela, senti seus seios no meu peito, cheirei na estreiteza do abraço meu hálito ruim e seu suor fresco e não sabia o que devia fazer com os braços. parei de chorar.
perguntou-me onde eu morava, pôs os baldes na entrada e me levou para casa. andou ao meu lado, uma das mãos segurando a minha pasta e a outra sobre o meu braço. a distância não é grande da bahnhofstrasse até a blumenstrasse. ela andava depressa e com uma decisão que me tornava fácil manter o passo. em frente de nossa casa despediu-se.
no mesmo dia, minha mãe trouxe o médico que diagnosticou a hepatite. em algum momento, contei à minha mãe sobre a mulher. não acredito que a tivesse visitado se não fosse isso. mas para minha mãe era evidente que eu, logo que pudesse, fosse comprar com meu dinheiro um buquê de flores apresentar-me e agradecer. desse modo, fui no fim de fevereiro à bahnhofstrasse."