vertigem.
essa é a sensação que suscitou essa nossa conversa ultimamente. boiar em meio a ondas gigantescas, cair por cima de um mar imenso e sem ninguém, lançar aparelhos cheios de gente por cima do espaço aéreo. vertigem.
fui à exposição - enorme (vertiginosa) - de De Chirico na semana passada e estava à procura de uma palavra que definisse a sensação que dà aquela primeira fase dele, chamada de metafìsica, onde ele pintava espaços enormes, e, no meio do espaço, figuras de pessoas como sombras somente; e, acho, essa é a palavra que define a sensação: vertigem. ele torna a monotonia de uma cidade invadida por fàbricas - chaminés ep aredões - e estações de trem em vertigem. nada mais monòtono do que o eterno ronronar de um motor ligado e produzindo partes e peças infinitamente e, produto das linhas de montagem, a vertiginosa falta de sentido da vida humana.
a vertigem pode ser sublime ou angustiante. foz de iguaçu, a vertigem é uma sensação òbvia, mas é sublime a visão que se tem a partir de plataformas seguras à beira da garganta do inferno.
o psicanalista, no "painel", lançou uma ideia assaz interessante. ele disse um pouco isso aì em seguida, mas adiciono reflexões minhas. no avião tenta-se camuflar o perigo, que existe, que é real, da situação maluca de entregar o seu corpo a tal viagem nesse aparelho. veja, camuflam-no com educação, com aeromoças bem vestidas, com vinho, comida quente, janelinhas de onde se vislumbram nuvens e o chão là embaixo. uma vez, lembro de ter visto cabo verde com seus vulcões, um dia limpo, e essa é uma situação irracional, pois, como pode um ser desprovido de asas ir num aparelho que o permite ver um vulcão de cima? tornam, ou tentam tornar, no avião, a vertigem em algo sublime.
é essa a busca do homem, tornar tudo sublime, situações difìceis em oportunidades de se vislumbrar o sublime. serà? não é isto que fazem a arte, a poesia?
organizamos a vida em direção ao sublime.