Aeroporto de Confins próximo a Belo Horizonte, Minas Gerais. Aeroportos e estações de trem, entre outros lugares, sempre têm esses amplos espaços de espera. Em arquitetura, essas enormes salas de espera têm um nome poético: sala ou salão dos passos perdidos. São um tipo de não-lugar, um espaço indistinto que pode estar em qualquer parte do mundo. Ou "lugares intermediários" onde batemos perna, perdendo nossos passos e nosso tempo.
Em um de seus textos, Contardo Calligaris fala sobre esses espaços:
" (...) Seja como for, muitos
de nós passarão um bom tempo naqueles espaços intermediários que
são os saguões, as salas de espera, as salas de embarque, em suma,
os cenários (menos fugazes do que gostaríamos) de nosso trânsito.
Uma bonita expressão
francesa designa esses espaços como "salles des pas perdus",
com ou sem hífen, que significa "salas dos passos perdidos".
Não sei se existe uma etimologia definitiva dessa expressão, mas
parece que, originalmente, salas dos passos perdidos são os átrios
dos tribunais de Justiça, onde as partes, depois de ter exposto seus
argumentos, esperam a decisão da corte em intermináveis idas e
voltas de passos "perdidos", ou seja, movidos só pela
ansiedade e pela incerteza quanto ao futuro.
Hoje, a expressão se
refere também às salas de espera e aos vestíbulos centrais dos
aeroportos e das estações ferroviárias, em suma, a aqueles lugares
onde fazemos a hora batendo pernas, lugares que, simplesmente, não
são nem nossa origem nem nosso destino, mas sempre apenas
transições.
(...) no começo do romance
de W. G. Sebald, "Austerlitz" (Companhia das Letras), o
narrador encontra o professor Austerlitz na sala dos passos perdidos
da estação de Antuérpia. Detalhe: se o professor Austerlitz tem um
interesse muito especial pelas estações de trem, seus átrios e
suas salas de espera, é porque o mundo é uma gigantesca sala dos
passos perdidos, em que estamos todos, sempre, em trânsito ou talvez
(numa veia mais kafkiana) caminhando em círculos, angustiados, na
espera de algum oficial público que nos diga, enfim, qual foi a
decisão da corte. (...)"