"Segundo a física quântica, pode-se abolir o passado ou, pior ainda, mudá-lo. Não me interessa eliminar e muito menos mudar meu passado. Preciso é de uma máquina do tempo para vivê-lo de novo. Essa máquina é a memória. Graças a ela posso voltar a viver esse tempo infeliz, feliz às vezes. Mas, por sorte ou azar, só posso vivê-lo em uma dimensão, a da recordação. O intangível conhecimento (tudo o que eu sei dela) pode mudar algo tão concreto quanto o passado em que ela viveu. Uma canção contemporânea parece dizê-lo melhor que eu: "Quando o imóvel objeto que sou / encontra essa força irresistível que é ela". Os fótons podem negar o passado, mas sempre são projetados numa tela - neste caso este livro. A única virtude que minha história tem é que de fato ocorreu."
Guillermo Cabrera Infante - A Ninfa Inconstante