Estive na Itália recentemente e aproveitei para pedalar um pouco. Não levei minha própria bicicleta, preferi alugar por lá, pois todas as cidades oferecem esse tipo de serviço a um custo relativamente baixo. Pode-se alugar uma bicicleta por dia, por semana, ou por períodos mais longos. Encontrei até mesmo uma loja que vende a bicicleta para o turista e a compra de volta ao final da estadia. Isto pode valer a pena para períodos maiores do que 15 dias.
Em Roma, eu e minha mulher alugamos bicicletas para poder conhecer a Via Appia Antica e o Parco della Cafarella que se situam fora da cidade. Nós alugamos nossas bicicletas na loja Bici & Baci, que se pode traduzir como Bicicletas e Beijos, em português. A loja fica perto da Stazione Termini. Eu fiz reserva das bicicletas pela internet ainda no Brasil, mas pela quantidade de bicicletas que vi na loja penso que não é necessário.
Fomos muito bem atendidos na loja. Preenchemos os formulários e logo eles trouxeram nossas bicicletas, urbanas, um modelo masculino e um modelo feminino, com marchas, paralamas, bagageiros e cesta, tudo funcionando e com correntes e cadeados para prender as bikes. A loja também tem capacetes mas eles não são obrigatórios na Itália. O pessoal da loja também fornece um mapa que indica as áreas da cidade fechadas ao tráfego de automóveis – que são muitas – e também os melhores trajetos para bicicletas.
Uma das dicas mais legais que encontrei no mapinha da Bici & Baci é justamente o que eu mesmo digo aos amigos que me pedem dicas sobre viagens: não tenha pressa, você não vai conseguir ver tudo, Roma (ou outra cidade famosa qualquer) precisa de uma vida para ser conhecida, não siga pelas grandes avenidas retas, vá pelas ruas menores, perca-se na cidade para encontrar os lugares que nem todo mundo vê.
Saímos da loja, seguimos por ruas tranquilas, menos movimentadas que as grandes avenidas romanas, passando por dentro dos bairros. Não seguimos por ciclovias. Os automóveis, em geral, respeitam as bicicletas, passam devagar por elas e cedem a vez. Passamos em frente ao Colosseo e seguimos pela via das Termas de Caracala e Porta San Sebastiano. Acompanhando essas vias há uma excelente ciclovia, mas que começa do nada e termina de repente, sem conexão com outras ciclovias, como acontece na maioria das cidades.
Entramos na Via Appia Antica. A Roma Imperial manteve sua dominação sobre as províncias graças a construção de estradas que permitiam o rápido deslocamento dos exércitos. A Via Appia começou a ser construída em 312 a .C. e ligava Roma à Cápua, com 300km de extensão, sendo sucessivamente ampliada até chegar a Brindisi, no calcanhar da bota.
A Via Appia é estreita, aberta ao tráfego de automóveis que respeitam as bicicletas e os pedestres, em geral. Em alguns trechos, ainda existe o pavimento original usado na Roma Imperial, formado por grandes pedras arredondadas. Não devia ser muito fácil percorrer dezenas de quilômetros com roupas e armas de soldado romano.
Passamos por diversos monumentos ao longo da Via, como por exemplos igrejas, claro, catacumbas e estádios. Na frente desses pontos de interesse, sempre muitas bicicletas estacionadas e acorrentadas nos bicicletários. Encontramos muitos ciclistas e pedestres passeando pela Via. No trecho que fizemos, destaca-se como monumento a Tomba de Cecília Metella, a esposa de um patrício romano que mandou erguer seu túmulo majestoso ainda em vida para ser lembrada post-mortem.
Uma observação importante: não levamos caramanholas nas bicicletas, apenas uma garrafinha de água mineral que enchiamos de vez em quando nas inúmeras fontes romanas, tanto na cidade como ao longo da Via Appia. A água que sai das fontes e dos bebedouros é potável e bem geladinha.
Paramos para um suco em uma lanchonete e osteria a beira da estrada, há poucos lugares para comer ao longo da Via. Iniciamos aí o percurso de volta. Na volta, saímos da Via Appia Antica e entramos por estradas de barro que penetram no Parco della Cafarella. A Via Appia Antica e o Parco formam uma grande área verde e de lazer próxima de Roma. O Parco tem várias trilhas para serem feitas por pedestres e por ciclistas. Há mapas no Centro de Informações do Parco, logo no início da Via Appia, perto da Chiesa do Domino Quo Vadis. Seguimos algumas estradinhas de barro do parque, entre árvores, e voltamos para a via principal.
Seguimos de volta para Roma e, na cidade, resolvemos conhecer a mais extensa ciclovia romana, pelo menos conhecer uma parte dela pois diz-se que tem mais de 30 km . É a ciclovia que acompanha a margem do Rio Tevere. A ciclovia não tem contato com automóveis pois o trajeto é feito na via inferior, junto ao rio, e as vias de automóveis estão acima do rio, há mais de 10 metros de altura. Passamos por baixo de várias pontes do Tevere e enfim resolvemos subir e circular junto com os automóveis.
Seguimos dessa vez por grandes avenidas para chegar ao bairro de Trastevere. Esse é o bairro mais agradável de Roma, na minha opinião. Ruas estreitas, boa parte delas fechadas aos automóveis, belas praças e igrejas. Escolhemos uma osteria em uma ruazinha escondida para almoçar. Prendemos as bicicletas com a corrente em um poste de rua e comemos com alegria e fartamente, acompanhando a comida (saladas e pastas) com o vino rosso della casa. Depois do almoço, passeamos ainda por muitas ruas do Trastevere, com as bicicletas, parando nas praças, nas igrejas e em algumas lojinhas, para os souvenires e em uma tratoria para uma cerveja italiana (birra) geladinha.
Como o sol se põe muito tarde agora em setembro, ainda passamos de novo pelo Colosseo e outros pontos de Roma Antica. Depois fomos devolver as bicicletas e fazer o pagamento do aluguel. Em outros dias e em outras cidades também alugamos bicicletas, tornando nossa viagem muito mais agradável e verdadeiramente inesquecível.