entre dois pontos

todos os manuais para ciclistas urbanos e todos os conselhos e dicas  que encontramos sempre recomendam que o ciclista procure as ruas mais calmas.

o ciclista urbano que utiliza a bicicleta como meio de transporte não deve disputar com os automóveis as vias principais, e sim buscar caminhos por dentro dos bairros, as ruas residenciais e mais tranquilas.
e mesmo buscando caminhos mais longos, o ciclista urbano chegará ao seu destino em menos tempo que os automóveis e mais feliz. o ciclista urbano não deve procurar a menor distância entre dois pontos, deve buscar o caminho mais humano e seguro.

isso é o que procuro fazer desde que há dezenas de anos atrás comecei a usar a bicicleta para ir à faculdade de arquitetura, ainda existia o império romano e a guerra do paraguai ainda não havia começado. usava a bicicleta porque era pobre e não tinha, algumas vezes, o dinheiro para o ônibus. com o passar do tempo, passei a usar a bicicleta apenas por prazer mesmo, para ir à outras faculdades que fiz e aos trabalhos que tive.

mas há uma exceção, que me permito, nessa história de evitar competir com os automóveis. é quando saio à rua de bicicleta nas horas de rush, de trânsito realmente pesado, hora das escolas de manhã, por exemplo. o que acontece nessas horas? o trânsito pára, ou é absurdamente lento. nesses horários, mudo meu trajeto de ruas mais tranquilas e vou pelas principais. os automóveis e ônibus estão quase parados mesmo.

fiz isso hoje de manhã, por exemplo. passei pela avenida rui barbosa, uma das vias mais movimentadas do centro expandido do recife. passava pelos corredores entre os carros, lentamente, sem pressa, fazendo às vezes o barulhinho do trim-trim da campainha para alegrar os motoristas enlatados enlutados entulhados entalados.

curiosamente, mesmo usando ruas mais calmas, ainda se pode melhorar o trajeto de um ciclista urbano. o bicicleteiro deve ter em mente que ele não tem pressa alguma, pois o bicicleteiro sempre vai chegar antes que o automóvel e mais feliz e saudável. então, de uns tempos pra cá, estava me incomodando passar pela rua doutor josé maria entre os bairros do rosarinho e tamarineira, no recife.

a rua doutor josé maria já foi bem mais calma. entretanto, há, nela, hoje uma grande quantidade de enormes edifícios em construção e muitos outros de construção recente. a rua foi ficando cada vez mais apertada e caótica, inclusive com a presença de inúmeras caçambas de recolher entulhos das construções. a rua doutor josé maria está, inclusive, perdendo um tipo de comércio mais simples, substituído por algo mais adequado aos novos moradores. um exemplo é a loja do rei das bicicletas, cujo imóvel encontra-se com placa de vende-se. é uma pena.

no meu caminho, comecei a sentir cada vez mais desagradável e nervosa a rua doutor josé maria. por inércia – tudo é inércia – continuava utilizando-a. até que descobri ruazinhas residenciais, com casas!!, que acompanham a josé maria e me livram de um bom trechozinho de motoristas estressados e pontos negros. vejam na figura:


o trajeto antigo e desagradável está em vermelho. o novo desvio por ruas mais tranquilas está em azul. com isso, consegui também desviar de dois pontos negros, onde motoristas não respeitam bicicletas, o cruzamento com a santos dumont e a saída da general abreu e lima (marcados com um círculo vermelho).

enfim, o ciclista urbano deve estar sempre em busca de novas alternativas mais seguras e mais lentas para se deslocar com segurança.