Por NICOLAS RAPOLD - New York Times
Que significado teria para um animal o fato de ele falar? O que de fato diferencia o animal do homem? Essas perguntas foram levantadas em um documentário novo sobre um chimpanzé chamado Nim Chimpsky que foi o sujeito de um experimento linguístico radical na década de 1970.
O filme, "Project Nim", deve seu nome ao estudo, que começou em 1973 com o chimpanzé Nim, na primeira infância, quando viveu com uma família de Manhattan e terminou, após muitas provações, em um santuário para animais no Texas, onde ele morreu em 2000.
"Como é o caso em biografias, você focaliza uma vida e encontra outras vidas no turbilhão da primeira", disse o diretor James Marsh, cujo documentário de 2008 "O Equilibrista", sobre Philippe Petit, que caminhou sobre um cabo de aço entre as torres gêmeas do WTC, recebeu um Oscar. Assim, "Project Nim" passa a tratar tanto das emoções humanas que cercam seu protagonista quanto do próprio Nim.
Marsh extraiu dos participantes no projeto um relato franco sobre erros e acertos cometidos ao longo da vida do chimpanzé. Entre os participantes estão Herbert Terrace, o ambicioso professor da Universidade Columbia, em Nova York, que fez com que Nim fosse criado como uma criança, e Stephanie LaFarge, antiga aluna que recebeu o primata em sua casa e em sua família de sete filhos e um marido.
Entre as outras personalidades estão Laura-Ann Petitto, a estudante que assumiu a educação de Nim quando ele cresceu demais para viver em um apartamento, e Bob Ingersoll, o companheiro de Nim depois da transferência abrupta dele, em 1977, para o Instituto de Estudos de Primatas da Universidade do Kansas, após a decisão de Terrace de pôr fim ao experimento.
O nome dado a Nim foi uma ironia com o linguista Noam Chomsky, que tinha afirmado que o uso pleno da linguagem é inato apenas nos humanos. Ao fazer Nim aprender a usar a linguagem de sinais, Terrace visava demonstrar que o chimpanzé era capaz de formar frases completas.
As brechas espantosas de preparo cometidas sob a direção de Terrace empurram a ciência para o segundo plano de uma história de hýbris, desejo, altruísmo e poder. Marsh sugere paralelos nos mundos animal e humano. À medida que vai crescendo, Nim vai tornando-se mais agressivo, enquanto Terrace emerge como um líder volúvel e envolvido com Petitto.
"Uma das primeiras coisas que você aprende sobre chimpanzés é que há uma estrutura de poder muito precisa no interior de seus grupos", disse Marsh. Elizabeth Hess, que escreveu o livro lançado em 2008 "Nim Chimpsky, the Chimp Who Would Be Human" (Nim Chimpsky, o chimpanzé que quis ser humano) e foi consultora de "Project Nim", comentou: "Não é uma história bonitinha sobre um chimpanzé. Uma coisa que gostei no filme é que James se recusou a sentimentalizar Nim de qualquer maneira" (o filme está em exibição em Nova York e Chicago, vai estrear na Irlanda e no Reino Unido em 12 de agosto e será exibido pela HBO em 2012).
Um dos defensores mais acirrados de Nim foi Ingersoll, estudante da Universidade do Kansas que trabalhou com o chimpanzé.
"Considero Nim o melhor amigo que tive em toda minha vida", disse Ingersoll por telefone. Em Nova York, Nim chegou à capa da revista "New York", apareceu em "Sesame Street", da televisão, e até mesmo na "High Times", uma revista para fumantes de maconha, graças a um hábito que aprendeu na família de LaFarge.
Mas o comportamento semelhante ao de um humano do chimpanzé ocultava sua existência infeliz: preso em uma terra de ninguém, tendo sido criado como garoto, mas confinado como um animal.
"Terrace diz -não no filme, mas na entrevista-, 'se eu o ensinasse a falar, eu o controlaria'. E isso foi altamente revelador: a linguagem como instrumento de controle, não como comunicação", recordou Marsh (Terrace acabou por argumentar que, em lugar de formar frases, Nim meramente emulava respostas apropriadas).
"Há comédia e sátira implícitas na história", acrescentou Marsh. "Mas não estou certo de quem é o alvo da piada. Acho que, em última análise, foi o chimpanzé."