27/09/2012 - 03h00
Cidade segura
A melhor forma de garantir segurança na cidade é ocupá-la. Quanto mais gente circulando e desenvolvendo as atividades que gosta, melhor.
O foco principal da recuperação de grandes cidades que apresentavam altos índices de criminalidade foi a restauração de áreas degradadas gerando um novo processo de ocupação. Como ocorreu com a região portuária de Barcelona, em 1992, por conta das Olimpíadas.
O Rio de Janeiro está fazendo um grande projeto, com o mesmo conceito: o Porto Maravilha. Vai mudar o Rio.
A cidade é gente na rua. A casa é lugar do indivíduo, da família, da privacidade. A vida de uma cidade é medida pelo movimento das pessoas fora dos edifícios residenciais ou de trabalho.
Parece fácil, mas não ocorre. Por trás está, em primeiro lugar, o velho conceito da primazia do carro. A prioridade é para a fluidez do carro. Depois, é a visão da calçada como ponto rápido de passagem entre o transporte, sobretudo o carro, e os prédios. Em vez de funcionar como local para usufruto e passeio.
A calçada é lugar para o cidadão estar e não para passar com pressa. Por serem vistas como locais de passagem apressada, as calçadas estão no estado que estão.
O círculo vicioso se completa: o estado precário delas nos empurra mais velozmente para os prédios. Ou seja, faz-nos cair fora das ruas rapidamente.
A lógica em que vivemos vai de encontro contra à solução de ocupação que parece óbvia. Troca a dimensão humana pela dimensão das coisas.
Quando se criou a Guarda Civil Municipal, em 1986, sua missão principal, baseada no artigo 144 da nossa Constituição, foi cuidar de bens, serviços e instalações municipais.
Foco nas coisas. É assim que a realidade imposta se contrapõe às necessidades das pessoas na cidade.
A Guarda Municipal deveria ter como objetivo o cidadão. Olhar o movimento das pessoas e verificar como torná-lo mais agradável e seguro. O foco é a qualidade do movimento das pessoas que estão nas ruas.
A Guarda Municipal faz parte de um sistema maior de segurança que inclui programas como Polícia Comunitária, Policiamento Escolar, Operação Delegada e demais ações da PM.
Esse conceito de um todo, de sinergia, é sempre desprezado e perdido. Como no transporte, é substituído por ações isoladas e com gestores diversos.
A pulverização fragiliza.
O mais relevante no conceito de segurança não são o número de policiais da Guarda Municipal ou ações pontuais. É a ocupação da cidade de modo a que as pessoas tenham prazer em estar nas ruas. Possam curtir a cidade como todo turista deseja quando chega a um novo local.
Curtir a cidade não é um privilégio turístico. É um prazer que todos querem ter.
O raciocínio é exatamente o inverso. Não é a cidade que, quando segura, permite que se ande nela. É a ocupação da cidade que possibilita torná-la segura.
O desafio principal é inverter o conceito. Organizar a segurança para facilitar a ocupação das ruas.
A primeira tarefa é acreditar nisso.
José Luiz Portella
José Luiz Portella Pereira, 58, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras. Faz comentários no "RedeTVNews" e na rádio CBN.
Cidade segura
A melhor forma de garantir segurança na cidade é ocupá-la. Quanto mais gente circulando e desenvolvendo as atividades que gosta, melhor.
O foco principal da recuperação de grandes cidades que apresentavam altos índices de criminalidade foi a restauração de áreas degradadas gerando um novo processo de ocupação. Como ocorreu com a região portuária de Barcelona, em 1992, por conta das Olimpíadas.
O Rio de Janeiro está fazendo um grande projeto, com o mesmo conceito: o Porto Maravilha. Vai mudar o Rio.
A cidade é gente na rua. A casa é lugar do indivíduo, da família, da privacidade. A vida de uma cidade é medida pelo movimento das pessoas fora dos edifícios residenciais ou de trabalho.
Parece fácil, mas não ocorre. Por trás está, em primeiro lugar, o velho conceito da primazia do carro. A prioridade é para a fluidez do carro. Depois, é a visão da calçada como ponto rápido de passagem entre o transporte, sobretudo o carro, e os prédios. Em vez de funcionar como local para usufruto e passeio.
A calçada é lugar para o cidadão estar e não para passar com pressa. Por serem vistas como locais de passagem apressada, as calçadas estão no estado que estão.
O círculo vicioso se completa: o estado precário delas nos empurra mais velozmente para os prédios. Ou seja, faz-nos cair fora das ruas rapidamente.
A lógica em que vivemos vai de encontro contra à solução de ocupação que parece óbvia. Troca a dimensão humana pela dimensão das coisas.
Quando se criou a Guarda Civil Municipal, em 1986, sua missão principal, baseada no artigo 144 da nossa Constituição, foi cuidar de bens, serviços e instalações municipais.
Foco nas coisas. É assim que a realidade imposta se contrapõe às necessidades das pessoas na cidade.
A Guarda Municipal deveria ter como objetivo o cidadão. Olhar o movimento das pessoas e verificar como torná-lo mais agradável e seguro. O foco é a qualidade do movimento das pessoas que estão nas ruas.
A Guarda Municipal faz parte de um sistema maior de segurança que inclui programas como Polícia Comunitária, Policiamento Escolar, Operação Delegada e demais ações da PM.
Esse conceito de um todo, de sinergia, é sempre desprezado e perdido. Como no transporte, é substituído por ações isoladas e com gestores diversos.
A pulverização fragiliza.
O mais relevante no conceito de segurança não são o número de policiais da Guarda Municipal ou ações pontuais. É a ocupação da cidade de modo a que as pessoas tenham prazer em estar nas ruas. Possam curtir a cidade como todo turista deseja quando chega a um novo local.
Curtir a cidade não é um privilégio turístico. É um prazer que todos querem ter.
O raciocínio é exatamente o inverso. Não é a cidade que, quando segura, permite que se ande nela. É a ocupação da cidade que possibilita torná-la segura.
O desafio principal é inverter o conceito. Organizar a segurança para facilitar a ocupação das ruas.
A primeira tarefa é acreditar nisso.
José Luiz Portella
José Luiz Portella Pereira, 58, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras. Faz comentários no "RedeTVNews" e na rádio CBN.