As troianas, Eurípides

As troianas, Eurípides, 415ac, 101 páginas, tradução de Mário da Gama Kury, Zahar. 

As troianas é uma peça que demonstra o horror da guerra, em especial para as mulheres. Após a derrocada de Troia, as mulheres troianas são divididas entre os gregos, para servirem de escravas ou amantes. A guerra é um desastre e uma tragédia e, parece-me, a guerra é uma “diversão” e fantasia masculina. Quem sabe, um mundo matriarcal não teria guerras. A peça é tragédia absoluta: só há sofrimento e desesperança. Não há consolo para as troianas, tampouco para nós nestes tempos sombrios que vivemos no país sem esperança. Um libelo contra a guerra e a violência, predominantemente masculina, de todas as épocas.



A peça começa com o lamento de Hécuba pela derrota da cidade. Diferentemente de outras peças, há dois coros (ou semicoros) compostos por mulheres troianas, cada um dos quais tendo como corifeu uma mulher. Há um coro de mulheres jovens e um coro de viúvas. 

“É insensata a criatura que se alegra / com um momento de felicidade e o julga / interminável, pois a sorte, sempre incerta, / é igual ao homem delirante que em seus transes / cai para um lado agora, depois para o outro. / Quem poderá dizer que sempre foi feliz?” 

Cassandra, profetisa e bacante, filha de Hécuba, foi escolhida por Agamenon. Ela sai de sua tenda em estado de delírio e, sendo virgem pois sacerdotisa de Apolo, anuncia suas “núpcias” e profetiza que será assassinada juntamente com Agamenon. A outra filha de Hécuba, Polixena, foi sacrificada em honra de Aquiles. 

Ouvem-se novamente os lamentos de Hécuba. Os coros exaltam Troia e recordam a artimanha do cavalo de madeira. 

Entram Andrômaca, a viúva do herói troiano Heitor, com o filho Astiânax. Andrômaca foi escolhida por Neoptólemo, filho de Aquiles. Ela pensa que partirá com o filho, porém Ulisses aconselhou aos gregos que o menino fosse morto para não se vingar no futuro. O mensageiro Taltíbio vem buscar a criança. 

Menelau chega para buscar Helena. Discute-se o castigo para Helena, a morte, e a sua culpa na guerra. Helena se defende e Hécuba a acusa e pede a morte de Helena. Menelau assegura que Helena será morta na Grécia, mas o futuro dela permanece incerto, por causa de sua beleza e sedução. 

Os coros lamentam Troia e o cativeiro. Taltíbio traz o corpo de Astiânax, que foi arremessado do alto das muralhas de Troia. Hécuba prepara o corpo do neto para o funeral; levam o corpo do menino. 

Troia em chamas, as cativas vão embarcar nos últimos navios gregos. Hécuba e os coros ajoelham-se e batem na terra para invocar os mortos. Depois, caminham para os navios.