Semana que vem, chega-te pelo correio
a lua: puro papelão,
que aos teus dedos transmutará em loiça.
Não fosse a gripe que me assolou esses dias,
não fosse a preguiça, os livros e o sono,
eu te mataria um dragão.
Na entrada da tua vila, deixaria o bicho,
pesado como uma hecatombe
(um hematoma na boca do estômago,
as asas imensas de bomba
imersas numa poça de sangue verde).
Ora, não te assustes,
sei que te acostumei com presentes mais delicados.
Mas não seria preciso guardá-lo: telefonarias
para o Departamento de Limpeza Urbana
avisando que um louco que te ama
deixou um sonho morto
na porta da tua casa.
........................................................
Eucanaã Ferraz nasceu no Rio de Janeiro, em 18 de maio de 1961. É professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Publicou os livros de poemas: Cinemateca em 2008, Rua do mundo 2004, este publicado em Portugal em 2006, Desassombro em 2002, livro que ganhou o prêmio Alphonsus de Guimaraens, da Fundação Biblioteca Nacional e também publicado em Portugal em 2001, também publicou Martelo em 1997. Esteve na antologia Esses poetas de Heloisa Buarque de Hollanda.
Encontrei essa poesia no Blog do Noblat.