ALVARO PUNTONI
ESPECIAL PARA A FOLHA
São Paulo possui 7 milhões de veículos registrados. Se cada um necessita de 25 m² para estacionar, são precisos 175 km² para acomodá-los. Ou seja, quase 20% da área urbanizada de São Paulo, que não ultrapassa 1.000 km².
Não estamos falando de parques, espaços públicos de convivência ou equipamentos, mas de um mero espaço pavimentado para armazenar uma máquina em repouso.
Claro que uma parte dos estacionamentos é construída e sobreposta (em subsolo ou aérea). Mas temos as faixas da rua ao longo das calçadas para os carros estacionarem, ilhando os pedestres entre os automóveis e os muros. Estas vagas absurdas, particulares sobre espaço público, tiram de todos nós espaços caros e necessários à vida urbana de qualidade.
Assistimos agora os estacionamentos dos edifícios em construção serem ocupados antes mesmo da obra onde se situam terminarem. E com o aval da prefeitura, embora as questões de segurança (ou falta dela) que suscitam serem óbvias. Não que esses estacionamentos prejudiquem o espaço de convívio humano da cidade, mas sua existência expressa a atual lógica de disponibilizar cada vez mais espaço para os veículos.
O que vemos, portanto, é o contínuo estimulo à opção do veículo particular, sob a forma de inclusão obrigatória de um número mínimo de vagas nas novas edificações e a ampliação sistemática das vias. Medidas como essas, ao estimular o uso do carro, solução majoritariamente individual, acaba gerando mais trânsito.
Não há solução possível a partir deste raciocínio. Deveríamos discutir o estímulo ao transporte coletivo, aos meios alternativos, ao pedestre.
Especular como seria uma cidade desprovida de estacionamentos sobre a rua, o que possibilitaria a imediata duplicação dos passeios e a implantação de ciclovias, parece ser desejável. Buscar alternativas e redesenhar os espaços de todos colocaria São Paulo no século vigente.
ALVARO PUNTONI é professor da FAU/USP e da Escola da Cidade