Felicidade demais, Alice Munro

 

Releitura. A maior parte dos contos é muito boa, vale a pena conhecer o universo, sempre melancólico, de Munro. Personagens sem nome que narram suas histórias retrospectivamente, eventos marcantes da infância ou da juventude com o olhar da maturidade. 

Dimensões. Doree casa aos dezesseis com Lloyd, bem mais velho, e tem três filhos em sequência. Lloyd é controlador, ciumento, possessivo, paranoico. Mata as três crianças após uma discussão com Doree. Inimputável, louco. Diz ver as crianças vivas em outra dimensão. Doree continua ligada ao louco. O final do conto ensaia uma libertação para ela.

Ficção. Joyce e Jon tem uma vida mediana e agradável. Ele a deixa por sua ajudante, Edie. Anos depois, Joyce está casada novamente, Jon está na terceira esposa, e Joyce conhece uma jovem escritora que está lançando seu primeiro livro de contos. Joyce se reconhece em um dos contos e percebe que a escritora é filha de Edie.

Wenlock Edge. O título do conto é um poema que a personagem lê nua. Uma moça que vai para a universidade e conhece uma moça despanaviada, Nina, que entra em sua vida e na de seu primo Ernie e some no mundo.

Buracos-profundos. Um menino cai em um buraco durante um piquenique com os pais e quebra as pernas. Na juventude, o rapaz desaparece da casa da família, abandona planos e faculdade, some no mundo. Décadas mais tarde é encontrado pela irmã e pela mãe: é um tolo que se acha iluminado desde a queda, quer ajudar os outros e vive na miséria, e tem um discurso ingênuo e irritante, jogou a vida fora.

Radicais livres. A mulher acabou de perder o marido, infarto fulminante, oitenta anos. Um homicida e assaltante invade a casa dela, ela está nervosa, mas consegue conversar com o rapaz.

Rosto. Já aposentado, homem que nasceu com uma mancha em um lado do rosto revê sua vida e a amizade de infância com Nancy, menina que morava em uma casinha no mesmo terreno da casa dele.

Algumas mulheres. Bruce voltou da Segunda Guerra, tem leucemia e está nas últimas. Uma adolescente trabalha na casa da mãe dele, onde ele está com a esposa, durante o verão e acompanha uma disputa surda entre a quiropata Roxanne e a esposa de Bruce.

Brincadeira de criança. Mulher recorda acontecimento fatídico em acampamento de verão durante a infância: Marlene e Charlene reencontram Verna, uma criança especial da qual Marlene não gostava.

Madeira. Conto fraquinho onde Roy adora cortar árvores para fazer lenha e sua esposa Lea está vivendo uma fase de depressão. Lea surge, no final, ativa e diferente sem explicação e sem motivo.

Felicidade demais. Conto confuso no início, mistura épocas e cidades, o leitor fica desnorteado. Depois fica mais cronológico e se dá a entender. História real de uma matemática do século XIX. Tudo muito corrido, seria mais adequado um livro do que um conto.