Frankenstein ou o Prometeu moderno, escreveu a garota de dezenove anos.
Victor Frankenstein tentou criar um novo ser humano, conseguiu, será que conseguiu.
Prometeu criou os primeiros homens, que ele moldou na argila. Privilegiou os humanos na partilha da carne de um touro em detrimento de Zeus. O castigo: Zeus retirou o fogo dos humanos. Prometeu roubou partículas de fogo de Apolo e entregou a sua criação. O castigo: para a humanidade, Zeus enviou Pandora; Prometeu foi acorrentado a uma rocha, uma águia surgia todos os dias e lhe devorava o fígado, que se regenerava. (De fato, o fígado é o único órgão que se regenera, com a capacidade de reconstituir até setenta por cento de seus tecidos, herança de Prometeu ou Zeus). Tempos depois, Prometeu ouviu Zeus falar que ia causar um dilúvio para acabar com a humanidade. Prometeu avisou a Deucalião e sua esposa Pirra e disse-lhes que construíssem uma arca para escapar da inundação. O dilúvio olímpico durou nove dias e nove noites. Quando as águas baixaram, a arca encalhou em uma montanha da Tessália.
Eu e meu amante nos dedicávamos, certa vez, à leitura de Frankenstein. Eu havia chutado o balde, sabia que era loucura, sabia que era sonho, eu acreditava que havia queimado todos os navios. Incendiária, louca, de correr louca. Na casa dele, além da biblioteca de canto a canto, havia uma grande mesa retangular de madeira, no centro do espaço, era pequeno o espaço, mas a exiguidade de móveis, a composição minimalista que ele, meu amado, adotara, tornavam o espaço aconchegante, austero e aparentemente mais amplo. Cada móvel, cada pequena obra de arte, haviam sido escolhidos por sua qualidade estética e simplicidade.
Na
mesa, somente os livros que estávamos lendo e aqueles que se relacionavam às
leituras. Um livro, uma leitura, chamava outras. Mary Shelley, Prometeu, Pandora,
Gênesis, Números, Apocalipse, Ulisses, Virginia. Era o meu particular Olimpo.