Encontrei em Números o fascinante ritual do ciúme, uma forma de julgamento selvagem, ignara, rudimentar. Este tipo de ordálio constitui-se da seguinte forma:
Se a mulher dormiu maritalmente com um homem, às escondidas de seu marido e não foi surpreendida no ato e não há testemunhas, ou se um espírito de ciúme veio sobre o marido, então:
Deve-se levar a mulher ao sacerdote e o marido faz uma oferenda de farinha de cevada. Esta é a oferenda do ciúme. O sacerdote colocará água em um vaso de barro e pó do chão do Tabernáculo na água, que passa a ser chamada de águas amargas. O sacerdote fará a mulher jurar que não cometeu a falta e, depois, ela beberá as águas amargas.
Se a mulher for inocente, nada acontecerá.
Se a mulher for culpada, seu sexo vai murchar e seu ventre vai inchar.
Não está escrito em Números, mas diz-se que, possivelmente, o sacerdote acrescentava, também, algum produto que tornava a água amarga. Diz-se, ainda, que há simbologia no efeito que se obtinha em caso de “culpa”: se a mulher dormiu maritalmente fora do casamento, seu ventre pode inchar, ou seja, ficaria grávida, e seu sexo pode murchar, por conta de alguma doença venérea.
Este registro em Números é o primeiro, ou um dos primeiros, em que se encontra a forma de julgamento por ordálio, que era uma prática judicial consistindo em submeter o acusado a uma provação dolorosa, desagradável ou perigosa. Por exemplo: caminhar sobre brasas. Se o acusado fosse inocente, nada sofreria.