Andaimes, Mario Benedetti, 1996, 246 páginas, tradução de Mario Damato, Mundaréu, releitura.
Início:
05/11/2020.
Fim:
13/11/2020.
Aviso
de spoiler: vou resumir o enredo do livro, continue por sua conta e risco.
Não
é uma biografia, mas tem recordações do autor, exilado também. Muitos diálogos
parecem artificiais. A ligação com Artigas e figuras longínquas da história
uruguaia será real nas pessoas comuns, aqueles que não são personagens
literários? O Brasil não tem isso. Livro fragmentado, muitas conversas
artificiais, as pessoas não falam daquela forma, citando livros e acontecimentos
históricos, os sonhos descritos não tem significação para a história. Há
poemas, cartas, a fragmentação não é o problema, mas a irrelevância de alguns elementos
para a narrativa. Reflexões sobre a cidade de Montevidéu e o país e governos e
democracia e a América. Por que matar Rocío? Não parece necessário à estrutura
do romance, demonstra o acaso das vidas. Foi mais um “castigo” para quem já
fora tão castigada. A fraqueza de Javier em não se impor frente ao pusilânime
Vargas. A injusta morte do pai de Javier e a injusta morte de Rocío.
Apesar
da fragmentação e da irrelevância de alguns capítulos, gostei de ler este livro
que fala da ditadura e da história do Uruguai, fala de amor, casamento,
separação, da amizade, de traumas do passado, de democracia, melancolia,
desilusão.
Resumo
dos capítulos.
1.
Javier voltou ao Uruguai depois de exilado dez anos na Espanha por causa da
ditadura, e vive como anacoreta em uma praia distante. Não procurou os amigos
da luta contra a ditadura, ele fugiu do país, alguns ficaram, outros escaparam.
Conversa com Fermín e recebe notícias breves do pessoal. Separou-se da esposa,
Raquel, que ficou com a filha em Madri. Esquecer ou não esquecer. “Democracia é
amnésia, não sabia?”
2.
Javier recorda como conheceu Raquel, adolescente, em uma praia, “bem instalada
na adolescência, com uma aura de virgindade”.
3.
Javier encontra Gaspar na rua, este fugiu para o Brasil e trabalhou como
fotógrafo. O presídio se chama Libertad; em Recife, a penitenciária fica na
Avenida Liberdade.
4.
Na escola, o menino Javier tentou fazer com que Nieves, a mãe viúva, se interessasse
pelo Professor Ángelo, solteirão, “um dos mais ambiciosos projetos de sua
vida”.
5.
Carta de Raquel, fala da vida em Madri. “Agora, por exemplo, não estou no cio,
mas nunca se sabe.”
6.
Javier no bar, observa a cidade e medita. “Agora, a luta armada é entre
torcedores.” “Então, como éramos? Mais amáveis, menos ásperos? Mais sinceros,
menos hipócritas? Quem sabe fôssemos menos desagradáveis, Ok, provavelmente
ainda hoje somos menos soberbos que os portenhos. Diz Quino que um uruguaio é
um argentino sem complexo de superioridade.”
7.
Memórias de quando Javier exercia o jornalismo. “Um dos enfermeiros confirmou
que estava morta. [...] Não podia deixar de olhar a cabeça da menina, que tinha
ficado inclinada em direção a ele. De repente, viu que aqueles lábios sem cor
esboçavam um sorriso, que os olhos se abriam e lhe davam uma piscada quase
cúmplice. Em seguida se fecharam.”
8.
Reunião dos velhos amigos em torno do Anarcoreta, a primeira vez de cada um.
“[...] o Velho cumpria assim com o seu firme propósito de sempre: não fazer
confidências. Nem políticas nem pessoais. Era o tipo mais reservado do mundo e
seus arredores.”
9.
No videoclube, sábado de manhã, a visita de Egisto. “Contudo, minha
especialidade jornalística não é o esporte, mas sim a corrupção generalizada,
que já adquiriu uma importância olímpica e mundial.”
10.
Reencontro com Professor Ángelo.
11.
Início do relacionamento com Raquel.
12.
Vizinho na praia, cachorro, serviços públicos.
13.
Reencontro com Alejo que conta sobre o tempo na prisão. Arrependimento do que
não leu por prazer. Pensamentos suicidas na prisão.
14.
Rocío visita Javier e iniciam um relacionamento. Nunca havia sido bonita.
Prisão, medo. Classe média. Perder a transformação cotidiana da filha.
15.
Atemporal, na praia, no frio, gaivotas. Uruguai não é Paraguai.
16.
O que prevalece no relacionamento com Rocío. Em busca do tempo perdido. Rocío
nua é mais atraente e desejável do que parece ser quando vestida.
17.
Reflexões sobre o Uruguai.
18.
O amigo Eduardo Vargas convertido em deputado, situando-se na esquerda da
direita.
19.
Sonho com trem e mala, Roma, Montevidéu. Sonho estranho, engana o leitor e
resulta em nada.
20.
Artigo sobre Montevidéu. Menos estresse e menos urgência que em outras
capitais.
21.
Coronel Bejarano quer se encontrar com Fermín. Coordenou torturas, não parece
arrependido, faz ameaças.
22.
Nieves, a solidão, os irmãos, o professor. Os irmãos Gervásio e Fernanda, EUA,
esqueceram da mãe. A doença da mãe é solidão. Ela se interessara pelo
professor, que morreu de solidão.
23.
Fermín recebe o recado do Coronel. Fermín não sabe se quer encontrar o Coronel.
24.
Carta bobinha da filha Camila.
25.
Rocío, Nieves, rádio e medo. Necessidade de mulher e de solidão.
26.
Segunda visita do Coronel. Os norte-americanos não deveriam ter se metido nas
nossas encrencas.
27.
Artigo recusado, países não morrem.
28.
Visita ao Jardim Botânico. Animal urbano. A hora do angelus dá raiva, a morte.
29.
O velho Leandro e sua irmã Teresa. O inferno somos nós mesmo. O Mercosul é uma
jaula com dois linces e uns gatinhos.
30.
Reflexões sobre a história do Uruguai, o Maracanã, o futebol.
31.
Visita dos irmãos “norte-americanos”, interesseiros. Caricatos demais.
32.
Testamento, herança de Nieves, interesse dos irmãos.
33.
Fax de Raquel, está com um namorado galego.
34.
Noite, lua e mormaço, vontade de fazer poesia, amanhã.
35.
Poema sobre o corpo em relação a Raquel e a Rocío.
36.
O testamento, com Nieves e Rocío, a mesquinharia dos irmãos.
37.
Coronel Bejarano se mata.
38.
Carta do Coronel Bejarano para Javier. Até o cão o abandonou.
39.
Outro sonho com trem, maleta e Rita.
40.
Fermín e a carta do Coronel.
41.
Fax de Raquel sobre Roma e Mussolini.
42.
Rocío, memórias do cárcere.
43.
Artigo de Javier sobre as máfias legais, como a Fifa.
44.
Galeria de arte, exposição de Cláudio Merino.
45.
Fax para Raquel: Rocío e ceticismo.
46.
Visita à casa de Fermín, filhos chatos.
47.
Poema para o corpo em relação a Rocío.
48.
O falso mendigo, amigo que decidiu ser mendigo como profissão.
49.
Conversa com Nieves, rancores, Raquel, Camila, Rocío.
50.
Táxi, recordação de tigre no zoológico.
51.
Rocío, impotência contra o mundo gigantesco.
52.
Artigo rejeitado sobre a publicidade.
53.
Acordar desorientado, insônia e sexo na madrugada.
54.
Carta da irmã Fernando, culto ao dinheiro nos Estados Unidos.
55.
O amigo Lorenzo Carrara, medo, insegurança, recordações.
56.
Nieves teve um amante, mas preferiu ficar com o marido.
57.
Mais um sonho com Rita e trem.
58.
Visita o cemitério, túmulo do pai. Um ramalhete de ódios para Aníbal Frutos.
59.
Artigo sobre democracia, mas não seria qualquer forma de governo?
60.
Carta à irmã. Eu não reataria a “amizade”. Hipocrisia.
61.
Restaurante com Nieves, o assassinato do pai por um acaso até.
62.
Amigo do filho de Fermín, metido a besta.
63.
Mais um poema para o próprio corpo.
64.
Balanço do desexílio.
65.
Tucán Velasco, informante, conta do Coronel, Otelo x Scilingo.
66.
Conversa com o barbeiro. Montevidéu, capital, país pequeno, centro político.
67.
A casa de Nieves, Fernanda, senhora Maruja.
68.
Reflexões sobre o Uruguai.
69.
Fax da tola Camila.
70.
Apartamento cedido em Punta del Este com Rocío.
71.
Retorno de Punta, acidente semelhante ao de Camus. Não ceder, ficar.
72.
No hospital.
73.
No hospital, Rocío morreu.
74.
Volta para a casa na praia, os amigos, a mãe, fax de Raquel que virá.
75.
Poema de Hortelan.