Édipo em Colono, Sófocles

Édipo em Colono, Sófocles, século V a.C., 125 páginas, tradução de Mário da Gama Kury, Zahar. Lido entre 17/04/2021 e 20/04/2021. Nota 3 (Bom).

Édipo em Colono – Jean Harriet Fulchran – 1798

Guiado por Antígona, Édipo, envelhecido e cego, chega a Colono, pequena localidade situada a três quilômetros da Acrópole (hoje, Colono é um bairro de Atenas, completamente urbano). Ele faz uma pausa em um bosque sagrado dedicado às Erínias. 

Depois de alguns anos em Tebas, Édipo foi expulso da cidade por seu filho mais velho, Polinices, rei da cidade. Desde então, Édipo vaga como um mendigo, com a ajuda da filha Antígona. 

Etéocles, o irmão mais novo de Polinices, com apoio da população, assume o governo de Tebas. Polinices foge, procura aliados e forma um exército para atacar Tebas. No ínterim, oráculos profetizam que o lugar onde Édipo morrer será favorecido pelos deuses. Éteocles, então, manda o tio Creonte e soldados buscarem Édipo onde ele estiver, à força, se necessário, e trazê-lo para morrer nas imediações de Tebas – a cidade continua proibida para Édipo. 

Toda esta trama se desenrola nas margens da peça e dela nós saberemos aos poucos, pela chegada dos personagens que vêm de Tebas. 

Inicialmente, chega Ismene, a outra filha de Édipo, para avisar que Creonte está vindo para buscá-lo. Creonte chega, captura as duas filhas e tenta levar Édipo. Todavia, Teseu, rei de Atenas, havia colocado Édipo sob sua proteção, e impede a captura de Édipo e traz de volta Antígona e Ismene. 

A seguir, Polinices, que expulsou Édipo, vem pedir a ajuda do pai na luta contra o irmão. Édipo amaldiçoa os dois filhos e profetiza que eles se matarão um ao outro. Nota-se que, a partir de certo ponto de sua vida, Édipo começou a profetizar e a perceber os sinais dos deuses, uma característica dos cegos na mitologia grega. Polinices pede a Antígona que lhe providencie um funeral adequado, quando ele morrer. 

Édipo sente que a morte se aproxima. Acompanhado apenas de Teseu, vai à entrada do Hades e é levado, sem passar pelos padecimentos da morte, aparentemente. A cidade de Atenas fica, então protegida e favorecida por Édipo e pelos deuses. 

As filhas de Édipo iniciam seu retorno a Tebas, para tentar “deter a marcha da carnificina” entre os irmãos. 

A peça tem muitas argumentações sobre a velhice e a culpa. Édipo afirma não ter culpa dos crimes cometidos, visto que agia sem saber a verdade sobre os pais. A peça demonstra que os humanos são marionetes nas mãos dos deuses. As Erínias, as deusas vingadoras, estão presentes na origem e no desenrolar dos acontecimentos. Édipo foi punido durante sua vida após os crimes e, ao final, parece contar com a benevolência de Zeus. 

Cabe um adendo sobre as deusas pavorosas: 

As Erínias desempenham relevante papel na trajetória de Édipo, sem aparecer. Em Colono, Édipo chega ao bosque consagrado a elas, as deusas que não podem ser nomeadas. As Erínias são chamadas, então, de “as Benevolentes”, Eumênides, para evitar o epíteto tenebroso. São as Fúrias dos romanos. Fazem parte do grupo mais antigo de deuses e portanto não reconhecem a autoridade dos deuses mais jovens. Sua função essencial é a vingança dos crimes, especialmente os crimes cometidos contra a família. Neste sentido, desempenham papel importante nas maldições que pesaram sobre Édipo. 

Também castigam a hybris (húbris: excesso) dos humanos (o excesso de orgulho, presunção e arrogância, especialmente contra os deuses) que levam o homem a esquecer que é mortal. Elas impedem os adivinhos e profetas de revelar o futuro com demasiada precisão, impedindo-os de tirar os humanos da incerteza em que se encontram. 

Uma das suas funções essenciais é castigar os assassinos, mesmo os involuntários. Os homicidas são banidos e vagam errantes até o momento em que se aceita purificá-los. 

Enfim, esta peça parece ser menos conhecida que as duas outras da Trilogia Tebana, mas é de fácil leitura, traz profundas discussões, e faz compreender melhor o destino de Édipo e o fechamento da tragédia com Antígona.