O Homem Ilustrado, Ray Bradbury, 1955, 320 páginas, tradução de Eric Novello, Biblioteca Azul. Nota 2 (Regular).
Bradbury juntou vários contos que já publicara e alinhavou com o personagem do Homem Ilustrado, um cara com o corpo cheio de figuras “mágicas”, onde cada figura mostra uma história ao observador. As histórias todas encontram-se no campo da ficção científica.
Livro fácil e rápido de ler, embora irregular, e na maior parte com contos curtos. Há poucos contos realmente bons.
O que mais me incomoda nesses contos de Bradbury é a constância de mulheres subalternas, donas de casa e mães, enquanto os maridos estão na vida. Também a insistência em peles brancas, olhos e cabelos claros nas descrições. E, apesar de serem contos “espaciais”, a Terra não é a Terra e sim apenas os Estados Unidos. Só os Estados Unidos importam. Há uma evidente militarização do espaço, não há cientistas, apenas capitães e tenentes e armas. Em qualquer planeta desconhecido, os machos soldados estadunidenses descem de armas em punho. E todos fumam, claro.
Sob o aspecto da ciência, Bradbury ignora as impossibilidades de vida humana em planetas inóspitos: seus personagens circulam por Marte e Vênus como se estivessem em uma Greenville estadunidense. Ademais, é tudo perto, Marte é um pulo e habitado por marcianos muito semelhantes aos terráqueos.
Muitos contos, é evidente, são metáforas de problemas terrestres, mas isso não os torna melhores. Bradbury diz que “o Homem Ilustrado esconde metáforas prestes a explodir.”
Breve resumo.
Prólogo. Um caminhante encontra-se com o Homem Ilustrado; as figuras foram tatuadas em seu corpo por uma mulher que, diz o Homem, deve ter vindo do futuro.
A savana. Bradbury: “E se você pudesse criar um mundo dentro de uma sala, que quarenta anos depois seria chamado de primeira realidade virtual, e colocasse uma família nessa sala, cujas paredes poderiam afetar suas mentes e induzir a pesadelos?” É um dos bons contos do livro: uma sala de realidade virtual para as crianças da casa. Crianças mal-educadas que se revelam cruéis.
Caleidoscópio. Um foguete é atingido por meteoritos e explode; os ocupantes são arremessados ao espaço em movimento de expansão. Parece que inspirou aquele filme “Gravidade”.
O jogo virou. Negros (dos Estados Unidos) fugiram da Terra (leia-se Estados Unidos) para morar em Marte e agora está chegando o primeiro foguete da Terra com o primeiro branco em décadas.
A estrada. Notícias esparsas de uma distante guerra atômica chegam a um lugarzinho esquecido do mundo.
A longa chuva. Uma chuva constante e enlouquecedora afeta os tripulantes de uma nave que caiu em Vênus.
O homem do foguete. Um homem viciado no espaço. Ele tenta permanecer na Terra mas não consegue, não importam para ele o filho e a esposa.
A última noite do mundo. Todas as pessoas sonharam o mesmo sonho: o mundo vai acabar naquela noite.
Os exilados. A ciência expulsou a magia, a fantasia, os livros foram queimados. Poe, Shakespeare, Dickens estão todos em Marte.
Nenhuma noite ou manhã específica. Em uma nave distante da Terra, o niilismo absoluto: não é possível provar que algo existe.
A raposa e a floresta. Casal de 2155 viaja no tempo para passar férias em 1938, tentam permanecer no passado, mas é obrigatório voltar para casa.
O visitante. Marte é o leprosário da Terra e para lá são enviados aqueles atacados por uma peste, uma espécie de Morte Rubra.
O misturador de concreto. Marte invade a Terra. Metáfora esnobe sobre a alta cultura subjugada e derrotada pela cultura popular estadunidense.
Marionetes, S.A. Marido compra uma cópia mecânica perfeita de si mesmo para ter algum tempo livre enquanto a cópia fica com a esposa dele. Parece que inspirou aquele filme “O sexto dia”.
A cidade. Faz pensar em H. P. Lovecraft. Uma cidade mecânica e inteligente que espera há milênios para se vingar dos terráqueos.
Hora zero. Por meio das crianças, seres incorpóreos promovem a invasão e o extermínio dos humanos.
O foguete. Imaginação e fantasia: um pai constrói um foguete de ferro-velho e leva os filhos para férias espaciais.
O Homem Ilustrado. Conta como o Homem Ilustrado conseguiu suas figuras e as consequências advindas.
Epílogo. O caminhante foge do Homem Ilustrado.