O conto da aia, Margaret Atwood, 1985, 368 páginas, tradução de Ana Deiró, Rocco. Início: 31/01/2021 – Fim: 08/02/2021. Nota 4.
Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco.
Releitura desse magnífico romance distópico.
O livro foi escrito em 1985 e ganhou ainda mais destaque a partir de 2016 por conta de uma série de televisão nele baseada.
A história é narrada em primeira pessoa por uma das aias, da qual nunca saberemos o nome verdadeiro. O enredo trata de uma distopia (lugar ou estado imaginário em que se vive em condições de extrema opressão, desespero ou privação; antiutopia, Houaiss). Gosto de livros que falam de distopias; nosso próprio planeta é uma distopia que não percebemos.
O livro retrata um lugar que era os Estados Unidos e que, na época dos acontecimentos, é um autoritarismo teocrático denominado República de Gilead. As informações nos são passadas, aos poucos, pela narração da Aia, e apreendemos de forma fragmentada a situação e como tudo começou.
Houve uma epidemia de infertilidade, nasciam pouquíssimas crianças, houve um golpe de estado, o presidente e o congresso foram eliminados, bem como a Constituição. Implantou-se um governo autoritário e teocrático inspirado parcialmente na Bíblia. Parcialmente, porque o governo proíbe o acesso à Bíblia e aos livros, e distorce as referências da forma mais adequada ao sistema.
Todas as mulheres perderam seus direitos. As mulheres jovens e férteis foram recrutadas para os serviços de reprodução da nova classe dirigente. O antigo país está dividido e há algumas guerras. A elite dirigente usa um sistema de Olhos, um tipo de espionagem semelhante aos sistemas nazistas e soviéticos.
A Aia Offred, que narra a história, teve sua união anterior declarada ilegal, foi separada do companheiro e da filha. Depois de reeducada, está a serviço, sexual, reprodutivo, de um Comandante e sua Esposa, membros da alta classe governamental.
É um livro muito bom, bem escrito, longo mas não cansativo, um livro que faz pensar. Uma falha do livro é o apêndice, denominado “Notas históricas” que dá algumas informações extras sobre o processo de desintegração social e cultural da época da aia. Penso que é apêndice desnecessário, a história é rica em si mesma, não necessitava desse tipo de “explicação”. Ademais, há um tom de brincadeira no apêndice que não combina com a densidade do romance.
Cabe observar que Margaret Atwood homenageia e faz referências às três distopias mais famosas: “Fahrenheit 451”, “1984” e “Admirável mundo novo”.
Vale a pena ler e reler.
Resumo.
Epígrafe: Gênesis, 30:1-3.
Raquel, vendo que não dava filhos a Jacó, tornou-se invejosa de sua irmã Lia e disse a Jacó: “Faze-me ter filhos também, ou eu morro.” Jacó se irou contra Raquel e disse “Acaso estou eu no lugar de Deus que te recusou a maternidade?” Raquel retomou: “Eis minha serva Bala. Aproxima-te dela e que ela dê à luz sobre meus joelhos por ela também eu terei filhos!” Raquel deu a Jacó, pois, como mulher, sua serva Bala e Jacó uniu-se a ela. Bala concebeu e deu à luz um filho para Jacó.”
Capítulo 1.
A narradora está presa com outras mulheres em um ginásio esportivo, vigiado por soldados.
Capítulo 2.
A narradora descreve o quarto que ocupa, as roupas vermelhas, a touca branca. Desce, vai a cozinha na qual trabalham as Marthas (que se vestem de verde); são duas naquela casa, Rita e Cora. As Esposas se vestem de azul. Ela pega os vales de compras.
Capítulo 3.
Ela se recorda de quando chegou nesta casa. A Esposa do Comandante é Serena Joy; ela a via na televisão antes, Serena cantava em programas religiosos.
Capítulo 4.
Ela sai de casa. O motorista pisca o olho para ela, o que é proibido. Encontra-se com a parceira de compras, Ofglen. Dirigem-se ao centro, passam a barreira de controle.
Capítulo 5.
Estamos na República de Gilead, que está envolvida em diversas guerras com os vizinhos. Há Econoesposas, mulheres que fazem todas as funções, aia, esposa e Martha. Na loja, entra uma grávida, está se exibindo. É Ofwarren. A narradora a conhece do tempo da reeducação, é Janine. Ela está giganorme. A narradora recorda quando tinha uma casa, um marido, uma filha. Passam turistas japoneses, gente normal.
Capítulo 6.
A narradora e Ofglen passam perto da igreja desativada e do Muro. Há seis corpos pendurados, médicos fazedores de anjos. O testemunho de uma única mulher não vale (Deuteronômio).
Capítulo 7.
Recorda-se de Moira, tempo da faculdade. Recorda-se da mãe e um grupo de mulheres queimando livros, quando ela era criança. Pergunta-se se aquilo é uma história que ela está contando, se é uma história na cabeça dela, se é real.
Capítulo 8.
Há três corpos no Muro, um padre e dois homossexuais. Recorda do marido, Luke e da filha. O motorista fala com ela, é proibido. Recorda que houve atentados contra a vida de Serena Joy. O Comandante estava na porta do quarto dela.
Capítulo 9.
A moça que ocupou o quarto antes deixou uma frase escrita no armário: “nolite te bastardes carborundum”. Não permita que os bastardos te esmaguem, não permita que os bastardos te reduzam a cinzas.
Capítulo 10.
Canta “Amazing grace” e uma música de Elvis Presley. Recorda de Moira, Tia Lydia, e assassinatos de mulheres no tempo de antes.
Capítulo 11.
Médico. Ele a assedia, sugere fazerem sexo, o Comandante não saberia de quem seria o filho. Perigo.
Capítulo 12.
Banho, recorda da filha bebê, uma mulher tentou roubar a filha dela no supermercado. Ela foi separada da filha. A menina deve ter oito anos.
Capítulo 13.
Espera,
lavada e alimentada como um porco. Recorda quando Moira chegou no centro de
treinamento. A narradora tentou fugir com a filha, no tempo de antes, mas foi
capturada.
Capítulo
14.
Todos
na sala para a Cerimônia. A tevê mostra que Gilead está em guerra “em vários
lugares ao mesmo tempo”. O nome da narradora em Gilead é Offred. Recorda a
tentativa de fuga de carro, com Luke e a menina, em direção à fronteira.
Capítulo
15.
O
Comandante lê Gênesis, capítulo 30, Raquel e Lia. Moira planeja fugir do
centro, faz a tentativa, apanha, volta com os pés massacrados.
Capítulo
16.
A
Cerimônia continua no quarto. Ela deitada entre as pernas de Serena Joy, o
Comandante faz o serviço.
Capítulo
17.
Noite,
sente vontade de roubar algo, desce à sala, escuridão, Nick a encontra: o
Comandante quer falar com ela amanhã no escritório.
Capítulo
18.
Não
sabe o que pode ter acontecido com Luke, morto? Há resistência?
Capítulo
19.
O
Partomóvel vermelho vai buscar as aias para um parto, é de Ofwarren, Janine.
Somente um entre quatro bebês nascem sem defeitos, o resto é descartado.
Médicos não são permitidos: filhos com dor, Gênesis. Partomóvel azul para as
esposas.
Capítulo
20.
As
aias no quarto com Janine, Tia Elizabeth também. Em um dos filmes que exibiam
no centro, a mãe dela, a favor do aborto, jovem. A mãe, mais velha, visitando a
casa da narradora.
Capítulo
21.
Cânticos.
Aproxima-se o parto, chamam a esposa, uma cadeira acomoda a esposa e a aia,
simulação de parto para a esposa. Nasce o bebê de Janine, é entregue para a
esposa.
Capítulo
22.
Certo
dia, Moira conseguiu fugir do centro.
Capítulo
23.
Escritório
do Comandante para jogar e dar um único beijo, como se quisesse.
Capítulo
24.
Offred
volta para o quarto e dorme no chão.
Capítulo
25.
Visitas
noturnas ao Comandante. Consegue uma loção para as mãos.
Capítulo
26.
Na
noite da Cerimônia, há, agora, vergonha, sentimentos estranhos. Offred se sente
a amante do Comandante.
Capítulo
27.
Ofglen
iniciou uma conversa proibida. Ela fala em “nós”, como algum tipo de
organização.
Capítulo
28.
Offred
recorda como tudo começou: assassinato do presidente e congressistas. Mulheres
relegadas a apêndices do marido; ela perdeu emprego e conta de banco.
Capítulo
29.
O
Comandante diz a Offred o significado da frase em latim. A moça anterior esteve
com o Comandante também; ela se matou.
Capítulo
30.
Pensa
em suicídio, recorda da gata e de como Luke deu um jeito nela antes da fuga.
Capítulo
31.
Ofglen
diz que a senha é Mayday. Serena combina com Offred que ela tente engravidar de
outro homem, Nick.
Capítulo
32.
Conversas
com o Comandante.
Capítulo
33.
Cerimônia
de Rezavagância.
Capítulo
34.
Ainda
a Rezavagância, que é um casamento coletivo.
Capítulo
35.
Tentativa
fracassada de fuga com Luke e a menina, no passado. Serena Joy mostra uma foto
da filha de Offred.
Capítulo
36.
O
Comandante a leva para sair, com roupa de lantejoulas e a capa de Serena Joy.
Capítulo
37.
Casa
de Jezebel: um hotel, com prostitutas, frequentado pelos Comandantes e elite de
Gilead. Vê Moira.
Capítulo
38.
Moira,
depois de fugir, passou meses escondida pela Rota Clandestina Feminina, até que
foi descoberta e presa. Deram-lhe a opção da Casa de Jezebel.
Capítulo
39.
No
quarto do hotel com o Comandante. Recorda quando a mãe sumiu. Moira disse ter
visto a mãe dela em um filme sobre as Colônias.
Capítulo
40.
Serena
Joy facilita para que ela encontre Nick no quarto dele, isolado da casa.
Capítulo
41.
Ela
visita o quarto de Nick diversas vezes.
Capítulo
42.
Cerimônia
de Salvamento: duas Aias e uma Esposa são enforcadas.
Capítulo
43.
Cerimônia
de Particicução: as Aias despedaçam um Guardião com as mãos e a fúria de
bacantes. O cara era da Mayday, de acordo com Ofglen.
Capítulo
44.
Há
uma nova Ofglen. A Ofglen anterior enforcou-se viu a caminhonete dos Olhos
chegando para buscá-la.
Capítulo
45.
Serena
Joy descobriu que Offred usou a capa e a roupa de lantejoulas, e saiu com o
Comandante.
Capítulo
46.
Offred
espera alguma punição, pensa em suicídio. Nick vai ao quarto dela e diz que é
Mayday; ela deve fugir na caminhonete dos Olhos. Serena Joy não chamou os
Olhos. O Comandante já fica indiferente. Offred entra na caminhonete sem saber
se está indo para a morte ou a fuga.
Notas
históricas
Este
apêndice, que é uma palestra sobre Gilead em 25 de junho de 2195, tem um tom de
piada e zombaria. Parece-me inútil, nada acrescenta ao romance. Os
historiadores investigam a autenticidade das gravações de Offred. Não se sabe
se ela conseguiu realmente fugir de Gilead. Nesta época, Gilead já acabou.