O Senhor das Moscas, William Golding, 1954

O Senhor das Moscas, William Golding, 1954, 217 páginas, tradução de Geraldo Galvão Ferraz, Nova Fronteira. Início: 04/02/2021 – Fim: 07/02/2021. Nota 2 - Regular

(Escala:1 – Ruim, 2 – Regular, 3 – Bom, 4 – Ótimo, 5 – Obra-prima). 



Aviso de spoiler: vou escrever sobre todo o enredo do livro, continue por sua conta e risco. 

Um avião cai em uma ilha com um grupo de meninos de várias idades; nenhum adulto sobrevive. Alguns meninos tentam alguma organização. Todavia, há os muito pequenos, há os indolentes, e há os que não aceitam regras e se tornam violentos. A violência só aumenta, dois meninos são assassinados. No ápice da irracionalidade, os meninos são resgatados. 

Não gostei. Acho que a história é muito forçada. O autor quer demonstrar uma tese e constrói um canal: a água só vai conseguir correr por aquele canal da tese. 

A tese do autor é algo como a violência se sobrepõe à civilização; o irracional desbanca a racionalidade; a humanidade é naturalmente violenta; ou, mesmo crianças deixadas em condições precárias se tornam selvagens e assassinas. 

A tese pode ser correta, incorreta, parcialmente correta, não importa. É chato ler romance onde se quer comprovar a tese, porque o narrador força a situação. O autor quer provar que é do modo como ele pensa. Eu penso que, nem sempre, é do jeito que ele pensa. 

Como o autor forçou a narrativa? As crianças menores são medrosas e imaginam bichos. Um paraquedista morto cai no topo da montanha da ilha. Duas crianças vêem o paraquedista e seu paraquedas, à noite, e correm do bicho. Os líderes sobem ao topo, de noite, vêem o “bicho” e fogem. Este é um exemplo. Não há espaço para outra situação. Subir ao topo da montanha de dia, por exemplo. 

Outro ponto: não há meninas. A tese do autor não comporta o elemento complicador das meninas. Somente meninos são violentos? Meninos e meninas juntos seriam mais ou menos violentos? A falada evacuação de meninos britânicos era feito com separação de gêneros? 

O autor quer conduzir o leitor. Isso é muito desagradável. 

Outras falhas. 

Não há destroços do avião. Fala-se em fogo e queda, mas sem destroços. Fala-se em evacuação, bomba atômica, batalhas aéreas em altitudes inusuais (16 km de altitude), mas, de repente, o deus ex-machina: um cruzador da marinha britânica aparece para o resgate. 

Todos os meninos são antipáticos. Ralph adquire alguma empatia no decorrer do romance. Porquinho é odiado sem motivo, ou apenas pelo motivo de sempre, porque é gordinho e inteligente. Porquinho não consegue fazer nenhum amigo. Poucos se ocupam das crianças menores. Ora, não pode existir a “tese” de que, mesmo crianças, tendem a cuidar das crianças menores, a protegê-las? Não é um instinto humano? 

A sobrevivência é utópica para que o autor possa focalizar a rivalidade e a violência. Os meninos se alimentam de frutas, que existem em abundância! Ninguém se desidrata, não há dificuldade em conseguir água, nenhuma criança sofre queimaduras de sol. Em lugar de um romance, temos um estudo científico com ratos em um labirinto.


Resumo. 

Capítulo 1. 

Crianças em uma ilha sem adultos. A queda de um avião que foi atacado. Fala-se em bomba atômica e evacuação. Não há destroços. Meninos antipáticos, Jack e Ralph, os líderes. Porquinho é odiado de forma “natural”, sem razão aparente. 

Capítulo 2. 

Desorganização e tentativa de organização. Fazem fogo no topo da montanha com os óculos de Porquinho, e o fogo se espalha. Porquinho é o “pai”, a voz da razão: ignorado ou odiado. 

Capítulo 3. 

O tempo passou. Não conseguiram uma organização, métodos, regras. Fizeram poucas cabanas precárias. 

Capítulo 4. 

Passou um navio mas o fogo estava apagado; o pessoal de Jack estava caçando. Jack é um irresponsável que desafia a liderança. Jack quer brincar perigosamente de caçadas e de violência. 

Capítulo 5. 

As crianças têm medo de bichos imaginários. Tudo as assusta, é natural. 

Capítulo 6. 

O narrador diz que acontece uma batalha áerea. Um paraquedista morto pousa na ilha, no topo da montanha, de noite. Dois meninos vêem a “coisa”, o paraquedas e o homem na noite, e imaginam um bicho. Iniciam uma expedição para achar o bicho. Jack e seus asseclas ficam brincando na formação rochosa que parece um castelo. 

Capítulo 7. 

Sobem a montanha de noite, vêem o bicho e fogem. 

Capítulo 8. 

O grupo se divide: o grupo violento (caçadores de Jack) no castelo; o grupo racional, com os menores, nas cabanas. 

Capítulo 9. 

Simon descobre que o bicho é um paraquedista morto. Desce para avisar, é confundido com um bicho e é assassinado pelo bando. 

Capítulo 10. 

O grupo de Ralph e Porquinho cada vez menor. São atacados por Jack e seus assassinos, roubam o óculos de Porquinho. 

Capítulo 11. 

Ralph e Porquinho vão até o castelo e tentam fazer prevalecer a razão. Porquinho é assassinado. Ralph foge. 

Capítulo 12. 

Ralph se esconde. Jack e os assassinos procuram por ele para matá-lo. Colocam fogo no mato para desalojar Ralph, começam a cercá-lo. Ele corre desesperado para a praia. Deus ex-machina: um cruzador, um escaler, marinheiros e um oficial britânico. As crianças se tornam crianças de novo. Quem vai pagar pelos assassinatos e pela violência e pela irracionalidade?