A prisioneira, Proust

Primeiro parágrafo de A prisioneira.

Logo de manhã, com a cabeça ainda voltada para a parede, e antes de ver, acima das grandes cortinas da janela, que matiz tinha o alvor do dia, já eu sabia como estava o tempo. Os primeiros rumores da rua haviam-mo informado, segundo me chegavam amortecidos e desviados pela umidade ou vibrantes como flechas na área ressonante e vazia de uma manhã espaçosa, glacial e pura; desde o rodar do primeiro tramway, entendia se ele estava desesperado na chuva ou de partida para o azul. [...] Aliás, foi sobretudo do meu quarto que percebi a vida exterior durante essa época. [...]

Dès le matin, la tête encore tournée contre le mur, et avant d’avoir vu, au-dessus des grands rideaux de la fenêtre, de quelle nuance était la raie du jour, je savais déjà le temps qu’il faisait. Les premiers bruits de la rue me l’avaient appris, selon qu’ils me parvenaient amortis et déviés par l’humidité ou vibrants comme des flèches dans l’aire résonnante et vide d’un matin spacieux, glacial et pur ; dès le roulement du premier tramway, j’avais entendu s’il était morfondu dans la pluie ou en partance pour l’azur. [...] Ce fut, du reste, surtout de ma chambre que je perçus la vie extérieure pendant cette période. [...]