Otelo, o corvo, Shakespeare, Poe

Iago se diverte em cutucar a ferida de Otelo. Ora, diz ele, se Desdêmona “ficar na cama, nua, com um amigo, (...) sem que seja por mal”, sem fazer nada, é apenas um lapso. E Otelo: “Nua na cama?”, é o diabo, é o diabo. E o lenço que ela perdeu não lhe sai da cabeça.

“Pelos céus, eu teria muito prazer em esquecer o lenço. Mas isto vem sobre a minha memória, como faz o corvo sobre a casa infectada, pressagiando mau agouro para todos.”

By heaven, I would most gladly have forgot it. Thou saidst – Oh, it comes o'er my memory, As doth the raven o'er the infectious house, Boding to all – he had my handkerchief.

Não tenho conhecimento suficiente, mas me parece que tal passagem de Shakespeare veio a se insinuar na mente de Edgar Allan Poe (1809 – 1849) e, de forma voluntária ou sub-reptícia, inspirou o célebre poema, no qual o corvo entra na casa sombria para nunca mais sair:

Take thy beak from out my heart, and take thy form from off my door!”
Quoth the Raven “Nevermore.”