Assisti O hospedeiro, do mesmo diretor de Parasita. Oscar e prêmios não valem nada para mim. Gostei de Parasita, mas não acredito que exista algo como o melhor filme de um determinado ano. Há bons filmes, alguns, e milhares de filmes péssimos. Ver dois filmes do diretor Bong Joon-ho fez perceber algumas características das histórias que ele prefere contar.
O que mais me fez pensar foi a semelhança com a estrutura das peças de Shakespeare. Não sou especialista em WS e em nada, mas sei que WS gosta de equilibrar suas tragédias com momentos de comédia. Piadas, trocadilhos, músicas, palhaços, tudo pode entrar em meio à evolução da tragédia. Bong Joon-ho faz algo semelhante.
Em Parasita, a história decorre em clima leve, apesar da miséria da família, e com alguma tensão frente à possibilidade de revelação das artimanhas, mas de repente tudo degringola em violência. De início, pensava até que tudo se resolveria de maneira também cômica, mas as mortes, em especial a inesperada morte da moça tão bonita e esperta, revelam a face da tragédia. O resultado é um filme melancólico e triste.
O hospedeiro, que é anterior a Parasita, também traz o humor misturado com o horror e a tragédia. A gente pensa que o avô e a menina vão se salvar, mas o diretor é impiedoso.
Outros pontos que se destacam nos dois filmes é a forma como ele retrata o povo sul-coreano: muita gente à margem da riqueza e do poder, com existências ignoradas, invisíveis e descartáveis; gente esperta e miserável que tenta sobreviver, mesmo que à custa de pequenos golpes. A imagem que os jornais passam da Coreia do Sul é a de um país rico e desenvolvido. Fico a pensar se os sul-coreanos gostam da forma como são representados naqueles filmes.