A prisioneira, Marcel Proust (1923)

Releitura de A prisioneira. 

Já escrevi aqui minha opinião sobre A prisioneira. Reli o livro. Por que reler se há tantos livros para ler? A releitura me faz aprofundar o conhecimento da obra e do autor. É como estudar. Cada um dos pouquíssimos leitores que existem no Brasil vai ter seu método. Aquele vai ler um livro por semana, até dois. Eu consigo ler um livro médio por semana. Mas será que eu apreendi aquele livro? E há livros tão tão relevantes que merecem um mergulho mais largo do que apenas uma semana. 

Acrescento aqui algumas observações sobre A prisioneira, além do que já escrevi. O volume pode ser lido separadamente, ou seja, mesmo sem ter qualquer conhecimento sobre os outros volumes da obra completa, este livro pode ser lido e compreendido sem dificuldade. 

O enredo conta o período em que Albertine habita a casa de Marcel, em Paris, e termina no dia em que Albertine abandona a casa. Marcel é um rapaz extremamente ciumento que quer manter Albertine longe de qualquer tentação sexual ou amorosa. Quer que a moça esteja sempre disponível para seu deleite e, ao mesmo tempo, fica cansado de ter compromissos com ela. Fora a narração dos dias de Marcel e Albertine, a única variação da trama é a narração da participação de Marcel em uma festa na casa dos Verdurin, uma família rica. 

A história é contada em primeira pessoa, Marcel nos conta o que acontece e o que pensa, e sua vida interior é intensa. Tudo é analisado, autopsiado. Marcel não é um narrador confiável. Só conhecemos Albertine por meio de Marcel e do seu ciúme obsessivo. Tudo é instável, as definições são postas e contrapostas. É um livro impressionista. Albertine é e não é, Marcel ama e não ama. 

Objetivamente, vemos que Marcel foi uma criança frágil, e de saúde frágil, dependente do amor da mãe e da avó, e sofrendo a rigidez do pai. O menino frágil e sentimental se tornou um rapaz frágil e tirano. Egoísta, ciumento e preguiçoso, impedido de agir por suas indecisões, procrastinador e sonhador. No futuro, no dia seguinte, ele vai tomar as decisões necessárias, a ação começará no dia seguinte. 

Tudo é distorcido pelo ciúme e pelo medo de Marcel. Cada um poderá ter sua própria impressão de Albertine, mas não se terá certeza. Para mim, Albertine é uma moça que amava Marcel, compreendia as limitações e temores deles, abdicou de amigos e de diversões para viver do modo que ele desejava, mas nada disso foi suficiente. Ela tentou até o seu limite ficar ao lado de Marcel, mas percebeu que ele nunca mudaria. Marcel não acredita no amor, tampouco tem qualquer intenção de satisfazer o outro, não quer um relacionamento, quer um serviço. Albertine, então, desiste. 

Livro excepcional. Em quase todas as páginas se vai encontrar trechos relevantes e que fazem pensar.