Capítulo 20
Todo mundo é um pouco acumulador. Guardam-se tantos pequenos objetos, ou grandes, pedacinhos de papel, cartões postais, livrinhos bonitinhos de propaganda de uma empresa ou do governo, porque são bonitinhos e faz pena, uma pedrinha de uma praia em que se esteve certo dia, fotografias desfocadas, bibelôs, lembrancinhas, o sapatinho da filha quando bebê. Vai tudo para a lixeira, assim que o dono morre.
Quando se exagera na acumulação, é uma doença, dizem os médicos. Há gente que entope a casa de objetos inúteis e lixo. Há gente que morre soterrada pelo que acumulou.
Contudo, Ordep descobriu que houve a possibilidade de ter se tornado um milionário. Leu no jornal que um cara ficou milionário assim. O irmão do cara era um acumulador e morreu. A casa inteira e duas garagens estavam tomadas de objetos os mais diversos. O irmão vivo ia mandar tudo para o lixo, mas pensou melhor e chamou uma empresa de leilões para selecionar o material. Deve ser um serviço pelo qual as empresas cobram uma pequena taxa, imagina-se. A tal empresa descobriu objetos valiosos, guitarras especiais, gibis raros e mais. O leilão rendeu milhões.
Certa vez, Ordep foi chamado para resolver o destino do lixo do tio, visto que era o parente mais próximo do sexo masculino. Sobrinhas não queriam meter a mão no lixo. O tio era um doido acumulador. Isolara-se de todos os parentes, vivia em condições terríveis em uma casa cheia de objetos.
Havia de tudo quando Ordep visitou a casa. Cães esfomeados e bravos, ratos por cima dos móveis, aparelhos eletrônicos, livros, papéis, caixas de papelão, máquinas quebradas. Os cães, ele chamou a prefeitura para recolher, não se conseguia nem entrar na casa. Depois, teve a paciência de separar um ou outro objeto que parecia mais novo e somente. Enojado, porque havia cocô de ratos sobre tudo. Não suportava o cheiro da casa e a imundície reinante.
Chamou uma empresa de lixo e mandou levar tudo, sem mais qualquer seleção. Saíram da casa três caminhões de porcarias.
Podia ter ficado rico, se tivesse tido paciência. Teria dado um chute na bunda dos patrões. A liberdade.