Capítulo 26 – Desconexões
Em abril de 1954, Albert Camus leu O estrangeiro na Radio France 4 – foram 3 sessões na série Leituras à noite. No início do século XXI, as três sessões foram reunidas em três CDs, cada um com uma hora de duração.
O estrangeiro, Albert Camus, 122 páginas na minha edição da Editora Record que comprei em 1990 por oito dólares (está anotado na folha de rosto), com tradução de Valerie Rumjanek. As pissoa não lê, as pissoa diz que não tem tempo de ler. É mentira. É preguiça. Um livro de 122 páginas pode ser lido em três horas, seguidas ou consecutivas. Tanta gente que gosta mesmo de leitura lê um livro por semana.
Leona caminhou pela praia da cidade, mar de um lado e edifícios do outro, a maré estava baixa, muito baixa, era bom assim, a extensão de areia ficava maior, os prédios ficavam mais distantes, a abóbada parecia maior. Pedras que ela quase nunca via afloraram. Ela caminhava ao sol e pensamentos desconexos se conectavam. Meursault era um indivíduo doente, sofria de enxaqueca, a luz forte entrava em seus olhos e cérebro como lâminas. Meursault era um indivíduo do norte transplantado para a zona tórrida. Um moreno não seria afetado assim pelo sol a ponto de matar friamente por acaso. O mar afastava-se do continente. A Lua se afastava gradativamente da Terra. Quando não houver mais Lua, não haverá maré e o mar ficará sempre no mesmo nível. Em qual nível. Ela alimentava esperanças de que ficasse sempre no ponto mais baixo, assim, mais tranquilo, ela temia o mar e as ondas fortes. Cortázar escreveu uma historinha em que todos se tornam escritores e os livros findam por invadir toda a terra, e depois os oceanos, e os oceanos se tornam uma papa e depois solidificam e se pode caminhar sobre os antigos oceanos. Nabucodonosor, puto da vida com os povos inimigos, preparou um exército de cento e vinte mil homens, que mentira, e ordenou que matassem os inimigos em tal quantidade que os rios se encheriam de cadáveres e transbordariam. Coitado.
Entrou no mar para fazer xixi, ondas fraquinhas e estava rasinho. Depois da caminhada, almoçou, tomou banho e dormiu um pouco, de tarde.
O carro em que Camus estava, corria a
cento e oitenta quilômetros por hora quando Gallimard perdeu o controle e
espatifou o veículo contra uma árvore, depois outra, e Camus morreu tal morte
absurda. Havia um cão no carro, mas ele não foi encontrado depois do acidente.