Capítulo 20.2 – Castigo
No fim e na essência, somos totalmente, absolutamente, completamente livres. Mas não acreditamos de verdade nisso. Podemos fazer qualquer coisa que quisermos, inclusive nos matar, a nós mesmos, e uns aos outros. De fato, já fazemos isso todos os dias.
Crime e castigo, Dostoiévski, explora essa ideia: o personagem afirma ser livre para matar sem qualquer motivo, mas não se revela a altura dos grandes pensamentos que o moveram ao crime; o remorso o corrói, ele sente necessidade de ser descoberto e castigado; consegue seu objetivo e termina na Sibéria com a insossa Sofia.
O conto O coração denunciador, Poe, segue o mesmo caminho: o homem mata sem motivo, mas o coração do morto, batendo e batendo nos ouvidos do assassino, fazem com que se entregue à polícia.
O estrangeiro, Camus, realiza melhor o projeto: não há arrependimento, viver ou morrer é igual, resta somente a indiferença – embora o personagem ainda espere, ao menos, o ódio de seus semelhantes no dia da execução da sentença.